Introdução
O pós-desmame aglomera diversos desafios ao desenvolvimento dos animais, tais como os estresses nutricional, ambiental e social, os quais contribuem para o aparecimento de disturbios digestivos e taxas de crescimento deprimidas. Nesta fase, os animais sofrem alterações estruturais e funcionais no trato gastrintestinal, além da dificuldade em manter um adequado pH gástrico, fato que colabora para a proliferação de bactérias patogênicas no trato gastrintestinal, podendo diminuir as capacidades digestiva e absortiva dos nutrientes dietéticos (LALLÈS et al., 2007). Neste sentido, a utilização de antimicrobianos como aditivos melhoradores de desempenho tem sido amplamente praticada, devido aos seus benefícios sobre o crescimento e desenvolvimento do animal, na redução de mortalidade e morbidade e no desempenho reprodutivo (OLIVEIRA, 2011). Contudo, alguns países têm banido e/ou restringido a utilização de antimicrobianos como aditivos melhoradores do desempenho na produção animal, devido à associação destes com a resistência bacteriana humana e a possível presença de resíduos nos produtos cárneos. Isto trouxe à comunidade científica o desafio pela busca de alternativas, especialmente materiais bioativos naturais capazes de manter a saúde e melhorar o desempenho animal. Dentre estes aditivos alternativos podem-se citar os prebióticos, como os oligossacarídeos obtidos pela parece celular de leveduras, como as mananas e glucanas, que, de modo geral, atuam direta e indiretamente sobre o sistema imune, promovendo meio favorável ao desenvolvimento de bactérias benéficas, as quais geram efeitos benéficos sobre a saúde intestinal do hospedeiro (HEINRICHS et al., 2003). Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho e a microbiologia do intestino delgado de leitões alimentados com dietas contendo mananas e glucanas.
Material e Métodos
Foram utilizados 96 leitões desmamados, machos castrados e fêmeas com 24 dias de idade, os quais foram alojados em baias de alvenaria de 2,55 m2 cada, equipadas com bebedouros tipo chupeta e comedouros semiautomáticos. Os animais foram agrupados num delineamento em blocos completos casualizados para controlar as diferenças no peso inicial, com 4 tratamentos, 8 repetições e 3 animais por unidade experimental. Os dados foram analisados nas seguintes fases: I- dos 24 aos 38 dias de idade; II – dos 39 aos 53 dias de idade e III – dos 54 aos 68 dias de idade. As pressuposições para a análise de variância foram analisadas utilizando-se o teste de Cramer-von Mises para a normalidade dos erros e as médias foram comparadas pelo método de comparações múltiplas (Tukey) a 5% de probabilidade. As análises foram realizadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS modelo 9.2. Os animais, a ração fornecida e as sobras de ração foram pesadas no início e no final de cada fase do experimento, para determinar o ganho diário de peso, em kg/dia; o consumo diário de ração, em kg/dia e a conversão alimentar. As dietas foram formuladas de acordo com as exigências nutricionais descritas por Rostagno et al. (2011) para as fases estudadas, sendo as dietas das fases I e II acrescidas de uma fonte de lactose. As dietas experimentais foram assim compostas: CP: controle positivo (dieta com antimicrobiano – 40ppm de sulfato de colistina - na fase I); CN: controle negativo (dieta isenta de antimicrobiano); N+CA: Controle negativo com adição do Composto A (10% de MOS e 18% de beta-glucano) e N+CB: Controle negativo com adição do Composto B (18% de MOS e 20% de beta-glucano). A inclusão do Composto A foi de 10kg/t e do Composto B 2kg/t. Já aos 43 dias de idade, foi determinado a taxa de passagem da digesta, medindo-se o tempo gasto entre a ingestão do alimento marcado com óxido férrico e o aparecimento das primeiras fezes com a coloração característica do marcador. Os animais receberam ração e agua àvontade durante todo o período experimental.
Resultados e Discussão
Não houve diferenças significativas para as variáveis de desempenho estudadas (P>0,05; Tabela 1). Tais resultados corrobam com o encontrado por alguns estudos (FORTIN et al., 2003; CHE et al., 2011), porém discordam dos achados de outros autores (DAVIS et al., 2004; DRITZ et al., 2002). Da mesma forma, a taxa de passagem da digesta não foi influenciada pelos tratamentos (P>0,05; Tabela 1). Tais respostas inconsistentes relativas à suplementação com mananas e glucanas em dietas de leitões recém-desmamados podem estar associadas às condições ambientais diversas onde os experimentos são realizados, e ao status de saúde dentro dos rebanhos. Neste sentido, Decuypere et al., (1998) fundamentou esta hipótese comparando as taxas de crescimento de suínos alimentados com oligossacarídeos de leveduras (glucanas) vs. dietas controle, em fazendas com diferentes status sanitários. Os autores e demonstraram que apenas os suínos situados na fazenda com menor status higiênico obtiveram desempenho melhorado, quando alimentados com dietas contendo este aditivo. Assim, pode-se concluir que os animais utilizados neste experimento não foram expostos a tais fatores de estresse imunitário ao desmame.
Tabela 1. Médias de ganho diário de peso (kg/d) (GPD), consumo diário de ração (kg/d) (CDR), e conversão alimentar (CA) para as fases I, II e III e taxa de passagem da digesta aos 42 dias de idade dos animais.
Conclusões
Os resultados encontrados neste trabalho permitem concluir que são necessários mais estudos com a adição de mananas e glucanas em dietas para leitões em fase de creche, principalmente em ambientes com desafio sanitário, a fim de se obter resultados mais precisos sobre seus efeitos, e sua possível utilização como alternativo ao uso de antimicrobianos promotores de crescimento.
Referências Bibliográficas
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***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.