Introdução
Com o aumento na produção e uso do biodiesel no Brasil, é crescente o interesse no aproveitamento da glicerina.
A glicerina é um co-produto da produção do biodiesel, correspondendo a aproximadamente 10% do volume total de biodiesel produzido. A glicerina purificada é um produto adocicado e levemente viscoso, utilizado entre outros, na formulação de medicamentos, na indústria de cosméticos, tabaco e produtos alimentícios.
Já a glicerina semipurificada também chamada de glicerina loira, possui em sua composição água, resíduos de ácidos graxos e metanos além de teores variáveis de cloreto de sódio (NaCl). Pode ser utilizada na alimentação animal, sendo uma fonte alternativa de energia na formulação das rações para suínos em todas as fases de produção (Menten et al, 2009). Pesquisas demonstram que é possível incluir a glicerina na dieta de suínos sem prejudicar o desempenho, deixar resíduos na carne e dificultar o preparo das rações, pois não solidifica como outras gorduras. Da mesma forma não causa intoxicação, pois a glicerina semipurificada apresenta teor de metanol e NaCl reduzidos em relação à glicerina bruta.
No Brasil desde maio de 2010 o uso da glicerina está liberado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, cujos padrões mínimos de qualidade da glicerina são: glicerol (valor mínimo de 800 g/Kg), umidade (valor máximo de 130 g/Kg), metanol (valor máximo de 150 mg/Kg), sódio (valor mínimo em g/Kg será garantido pelo fabricante e pode variar em função do processo produtivo) e matéria mineral (valor máximo em g/Kg será garantido pelo fabricante e pode variar em função do processo produtivo). Entretanto a glicerina utilizada na alimentação animal é classificada como emulsificante, umectante estabilizante e espessante. Ainda não há padronização do seu valor energético sendo muito variável entre as diferentes fontes de glicerina.
Pesquisas a Campo
No programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), foram desenvolvidos estudos voltados à avaliação do uso das glicerinas na alimentação de suínos.
Desde 2009 foram realizadas pesquisas a campo e em laboratório, para avaliação de duas diferentes glicerinas semipurificadas, uma de origem vegetal (óleo de soja) e outra de origem mista (óleo de soja + gordura animal). Para tanto foram realizados experimentos para avaliar a digestibilidade das duas glicerinas (Carvalho et al, 2010) e o desempenho dos animais nas fases inicial (15-30 Kg), crescimento (30-60 Kg) e terminação (60-90 Kg), sendo estes últimos abatidos para a avaliação das carcaças.
Estudos em laboratório demonstraram que as glicerinas semipurificadas utilizadas nos experimentos possuem valor energético (3.760 Kcal/Kg) semelhante ao milho (3.800 Kcal/Kg).
Na fase inicial (Piano et al, 2010) foram utilizados quatro diferentes níveis de inclusão de cada glicerina semipurificada na dieta dos leitões: 3, 6, 9 e 12% de inclusão, além de uma ração testemunha, formulada a base de milho e farelo de soja, sem adição de glicerina (0%). Os resultados (Tabela 1) observados indicam que é possível incluir até 12% de glicerinas semipurificadas vegetais e mistas na alimentação de leitões, sem prejudicar o desempenho.
Nas fases de crescimento e de terminação (Piano et al, 2011b) também foram utilizados quatro diferentes níveis de inclusão na dieta para cada glicerina semipurificada: 4, 8, 12 e 16% de inclusão, além da ração testemunha (0% de glicerina). Os resultados (Tabela 1) indicam que se pode utilizar até 16% de glicerinas semipurificadas vegetais e mistas para suínos em crescimento e terminação sem problemas no desempenho. No inicio do fornecimento da ração com inclusão da glicerina, alguns animais podem apresentar diarréia, desta forma é necessário um período de adaptação com inclusões diárias crescentes.
Estudos avaliando a carcaça dos animais (Piano et al, 2011 a) indicaram que o uso das glicerinas semipurificadas de origem vegetal e mista não influencia as características de carcaça (Tabela 2), como por exemplo, a espessura de toucinho, área de olho-de-lombo, quantia de carne magra na carcaça, porcentagem de carne magra na carcaça, relação carne:gordura (características quantitativas), pH, perdas de água por gotejamento, marmoreio, consistência e cor (características qualitativas).
Com relação ao preparo das rações a campo, mesmo em baixa temperatura ambiente as glicerinas semipurificadas não solidificam como ocorre com as glicerinas brutas, assim, não prejudica a mistura dos ingredientes. Entretanto no caso das rações com 16% de inclusão de glicerina, o misturador mais adequado é o modelo horizontal, pois há maior quantia de líquidos na formulação. A ração depois de pronta pode apresentar leve empelotamento, que se desfaz facilmente.
Considerações finais
O produtor deve avaliar os preços do mercado para decidir se é vantajoso substituir parte do milho pela glicerina semipurificada. O preço da glicerina semipurificada no mercado Brasileiro hoje está em torno de R$ 0,30/Kg e o preço do milho está em torno de R$ 0,50/Kg. Nesta situação, a glicerina semipurificada é uma fonte alternativa de energia e de redução de custos na fabricação de rações para suínos.
Os experimentos realizados demonstraram que as glicerinas semipurificadas podem ser utilizadas em até 12% na alimentação de leitões e em até 16% na alimentação de suínos em crescimento e terminação, sem prejuízos ao desempenho dos animais e sem alterar a qualidade da carne, além de reduzir os custos na alimentação.
Tabela 1 - Consumo diário de ração (CDR), ganho diário de peso (GDP) e conversão alimentar (CA) de suínos nas fases inicial, crescimento e terminação, alimentados com rações contendo diferentes níveis de glicerina semipurificada vegetal (GSPV) e glicerina semipurificada mista (GSPM)
Tabela 2 - Efeito das dietas contendo diferentes níveis de inclusão de glicerina semipurificada vegetal (GSPV) e glicerina semipurificada mista (GSPM), sobre as características quantitativas e qualitativas da carcaça de suínos (60-90 kg)
Referências Bibliográficas
CARVALHO, P.L.; MOREIRA, I.; PIANO, L.M.; et al. Valor nutricional da glicerina bruta e semipurificada na alimentação de suínos na fase de crescimento. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 47, 2010, Salvador. Anais... Salvador: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2010.
MENTEN, J.F.M.; MIYADA, V.S.; BERENCHTEIN, B. Glicerol na alimentação animal. 2009. Disponível em: Acesso em: 19/09/2011.
PIANO, L.M.; MOREIRA, I.; CARVALHO, P.L.; et al. Características quantitativas e qualitativas de carcaça de suínos alimentados com glicerinas semipurificadas. In: XV CONGRESSO DA ABRAVES, 2011, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Abraves, 2011 a. (CD-ROM).
PIANO, L.M.; MOREIRA, I.; CARVALHO, P.L.; et al. Glicerinas semipurificadas na alimentação de suínos na fase de crescimento-terminação (30 - 90 Kg). In: XV CONGRESSO DA ABRAVES, 2011, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Abraves, 2011 b. (CD-ROM).
PIANO, L.M.; MOREIRA, I.; CARVALHO, P.L.; et al. Glicerinas semi-purificadas na alimentação de suínos na fase inicial (15 a 30 kg). In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 47, 2010, Salvador. Anais... Salvador: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2010.