Introdução
A possibilidade de se aumentar o uso de subprodutos e forragens de elevado teor fibroso na produção de suínos tem sido estudada por diversos pesquisadores. Há uma considerável capacidade de adaptação da morfologia e da microbiota do trato gastrintestinal de suínos às dietas fibrosas, sendo de grande importância para a intensidade de degradação da fibra a sua composição química e origem (TEIXEIRA, 1995). Há, portanto, um potencial considerável para a incorporação de fontes de fibra e subprodutos em estratégias alimentares para suínos com economia e vantagem produtiva.
A alfafa é uma fonte de fibra muito nutritiva, apresentando importantes qualidades como forrageira, como, por exemplo, sua proteína apresenta um bom balanceamento de aminoácidos.
A digestibilidade de uma ração e/ou alimento é definida como a habilidade com que o animal digere e absorve os nutrientes e a energia nela contidos. A determinação da digestibilidade dos nutrientes de um ingrediente é o primeiro cuidado quando se pretende avaliar seu potencial de inclusão em rações para suínos (PEZZATO et al., 2004).
O presente estudo teve por objetivo determinar os coeficientes de digestibilidade do feno de alfafa, o qual poderá ser utilizado para confecção de rações para suínos.
Material e Métodos
O experimento foi realizado na Sala de Metabolismo Animal pertencente ao Instituto de Zootecnia, Centro de P&D em Zootecnia Diversificada, Setor de Suinocultura. Utilizaram-se oito suínos machos castrados, com peso inicial de 23,51 ± 2,87kg, distribuídos em delineamento de blocos casualizados para correção das diferenças iniciais de peso, com dois tratamentos e quatro blocos, e um animal por gaiola metabólica (unidade experimental), semelhante àquelas descritas por PEKAS (1968). Os animais foram pesados antes e ao final do ensaio, que teve a duração de onze dias, sendo seis dias de adaptação às gaiolas e às dietas e cinco dias de coleta. Os animais eram alimentados duas vezes ao dia (8:00h e 16:00h) e em seguida as sobras eram pesadas para a determinação do consumo.
Os tratamentos consistiram em uma ração-referência (RR) e uma ração-teste (RT), a RR foi formulada para atender às recomendações indicadas pelo NRC (1998) e composição dos ingredientes de acordo com (ROSTAGNO et al., 2005). Compôs-se a RT por 85% da RR e 15% de feno de alfafa.
Empregou-se como marcador fecal o óxido férrico (Fe2O3), na proporção de 1,0%, misturado à ração oferecida a cada animal. A coleta de fezes iniciou-se quando as fezes apresentaram coloração avermelhada intensa e uniforme. Após a pesagem das fezes, uma alíquota de 10% do total era armazenada em congelador, terminado o período de coleta, as amostras foram secas em estufa ventilada, a 60ºC, por 72 horas, pesadas e moídas. As amostras de fezes e rações foram analisadas, no Laboratório de Bromatologia e Análises Minerais do Instituto de Zootecnia, para obtenção dos resultados de: matéria seca (%MS), teor de nitrogênio e proteína bruta (%PB); matéria mineral (%MM); extrato etéreo (%EE); fibra bruta (%FB); fibra detergente ácido (%FDA), fibra detergente neutro (%FDN) e energia bruta (EB). O extrativo não nitrogenado foi obtido pela equação ENN = 100 – (%PB+%MM+%EE+%FB).
Para a determinação dos valores de digestibilidade dos nutrientes do feno de alfafa desenvolveram-se os cálculos com os valores médios dos nutrientes digestíveis das rações experimentais:
NDfeno = NDração-referência + {(NDração-teste – NDração referência)/ 0,15}, em que ND indica nutriente digestível e (0,15) indica o nível de inclusão do feno de alfafa.
Resultados e Discussão
A composição química, coeficientes de digestibilidade (CD), nutrientes e energia digestíveis do feno de alfafa estão apresentados na Tabela 1.
Comparando-se os valores das análises bromatológicas (Tabela 1) do feno de alfafa do presente estudo com dados de ROSTAGNO et al. (2005) para alfafa peletizada, verificou-se que alguns valores estão próximos, como a MS, a MM, a FB e o ENN. Os valores encontrados neste experimento para o EE, a PB e a ED foram maiores, isto pode ser devido a inúmeros fatores presentes na confecção do feno (idade e altura de corte, relação caule:folha, variedade, etc).
Mesmo o feno de alfafa apresentando um bom percentual de proteína bruta (23,35%), está tem um menor aproveitamento (CD = 45,27%), devido provavelmente a presença da fibra, que interfere negativamente no ataque enzimático ao alimento e consequentemente na digestibilidade desta fração.
Comparando-se o feno de alfafa do presente estudo com outro alimento rico em fibras e muito utilizado na dieta de suínos em crescimento/terminação, no caso o farelo de trigo (EMBRAPA, 1991), percebe-se que a energia digestível do feno de alfafa (2901,11 kcal/kg) é inclusive superior ao do farelo de trigo (2623,00 kcal/kg). Valores semelhantes são observados para proteína digestível do feno de alfafa e do farelo de trigo (10,57% e 12,70%, respectivamente). Baseado nestes dados pode-se inferir que o feno de alfafa pode ser incluído em dietas de suínos como uma alternativa a alimentos tradicionalmente utilizados (grãos e farelos), visando diminuir a competição com a alimentação humana.
Tabela 1. Composição química, coeficientes de digestibilidade (CD), nutrientes digestíveis e energias digestível do feno de alfafa
Conclusões
O feno de alfafa apresenta-se como um ingrediente alternativo para utilização na ração de suínos sem prejudicar a qualidade desta e aumentando a porcentagem da fibra dietética, em virtude de seu conteúdo nutricional e de suas propriedades físicas. Animais de maior porte (matrizes), provavelmente, se utilizam melhor desse alimento, pelo fato de possuírem um sistema digestivo mais amplo e adaptado.
Literatura citada
EMBRAPA. Tabela de composição química e valores energéticos de alimentos para suínos e aves. 3.ed, Concórdia . 1991. 97p.
NRC. NATIONAL RESERCH COUNCIL. Nutrients requirements of swine. 20.ed. Washington D.C.: National Academy Science, 1998.
PEKAS, J.C. Versatible swine laboratory apparatus for physiologic and metabolic studies. Journal of Animal Science, v.27, n.5, p.1303-1306, 1968.
PEZZATO, L.E.; MIRANDA, E.C.; BARROS, M.M., FURUYA, W.M, QUINTERO PINTO, L.G. Digestibilidade aparente da material seca e da proteína bruta e a energia digestível de alguns alimentos alternativos pela tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). Acta Scientiarum – Animal Sciences, v.26, n.3, p.329-337, 2004.
ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.; GOMES, P.C.; FERREIRA, A.S.; OLIVEIRA, R.F.; LOPES, D.C. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 2.ed. Viçosa: UFV-DZO, 2005. 186p.
TEIXEIRA, E.W. Utilização de alimentos fibrosos pelos suínos. Zootecnia, v.33, n.1, p.19-27, jan./mar. 1995.