INTRODUÇÃO
A soja crua contém vários compostos que retardam o crescimento dos animais, os quais são chamados fatores antinutricionais, responsáveis pela inadequada utilização das proteínas durante a digestão (CERA et al., 1990). Ham & Standstedt (1944), citados por HERKELMAN & CROMWELL (1990), sugeriram que a soja crua continha uma substância inibidora da tripsina, que reduzia o desenvolvimento de galinhas. KUNITZ (1945) identificou esse componente como inibidor da atividade proteolítica dessa enzima. O outro fator antitríptico presente na soja é o fator Bowman-Birck, identificado por BOWMAN (1944) e purificado por BIRK et al. (1945), citados por HERKELMAN & CROMWELL (1990). Uma vez que esses fatores são termo-sensíveis, vários tipos de processamento térmico tem sido estudados para viabilizar a utilização da soja integral na alimentação animal. Contudo esses processos tem alto custo e podem reduzir a digestibilidade dos nutrientes da soja. O presente estudo teve por objetivo avaliar um cultivar de soja sem o fator antitripsina do tipo Kunitz, selecionado na EMBRAPA, em comparação com a soja tradicional em dietas de leitões após o desmame.
MATERIAL E MÉTODOS
Sessenta e quatro suínos cruzados (Landrace x Large White x Duroc), machos castrados e fêmeas, com idade média de 26 dias e peso médio inicial de 9,1 kg foram utilizados para comparar os seguintes tratamentos: T1 - soja crua BR - 36 + farelo de soja + milho, T2 - soja sem o fator antitripsina Kunitz + farelo de soja + milho, T3 - soja BR - 36 tostada + farelo de soja + milho e T4 - soja sem o fator antitripsina Kunitz tostada + farelo de soja + milho. Foi utilizado um esquema fatorial 2 x 2 x 2, sendo dois sexos, dois cultivares (soja x soja sem fator antitripsina Kunitz) e dois tipos de soja (crua x tostada em tostador a gás). O delineamento foi o de tratamentos casualizados em 2 blocos, sendo o bloco definido por uma sala ( 16 baias) durante o período experimental de 42 dias. Os animais foram pesados ao desmame e, imediatamente, passaram a receber as dietas experimentais. Essas foram formuladas para atender ou exceder as exigências mínimas em nutrientes sugeridas pelo NRC (1988) e continham: 3.300 kcal EM/kg, 16,0% de proteína bruta, 1,40% de lisina, 0,77 % de metionina + cistina, 0,84% de treonina e 0,26% de triptofano. As dietas foram fornecidas à vontade aos animais, assim como a água. Os teores de fatores antitrípticos no cultivares de soja BR - 36 e naquele sem o fator antitripsina Kunitz foram de 19,4 e 10,4 mg de inibidores de tripsina/g de soja desengordurada. Utilizou-se tostador a gás de tambor rotativo para tostagem, durante um período de 60 minutos. A tostagem reduziu a atividade ureática de 2,32 e 2,31 para 0,10 e 0,09 unidades de pH, respectivamente, para os cultivares BR – 36 e aquele sem o fator antitripsina Kunitz. Durante os primeiros quatorze dias de experimento, suplementou-se as dietas com óxido de zinco para fornecer 2400 ppm do mineral com o objetivo de promover o crescimento e evitar diarréia. No período restante, o óxido de zinco foi substituído por caulim na fórmulas experimentais. Os animais, em número de dois, foram alojados e baias providas de fonte de aquecimento. Semanalmente, os leitões foram avaliados individualmente quanto ao peso e consumo de ração. Diariamente cada animal teve suas fezes avaliadas quanto à consistência, através de escore visual (0 = fezes normais, 1= pastosa , 2 = diarréia). Os dados foram analisados pelo programa SAS (1988), através de análise de variância seguida de teste t, para comparação das médias duas a duas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As médias de peso, ganho diário de peso, consumo diário de ração e conversão alimentar obtidas no experimento são apresentadas na Quadro 1. Não houve interação significativa entre os fatores bloco, sexo, cultivar e processamento (P>0,30). Por outro lado, as condições sanitárias e o uso do óxido de zinco na dieta previniram o aparecimento de diarréia nos leitões. Verificou-se que houve efeito significativo do processamento da soja (tostagem) sobre o peso final dos animais, ganho diário de peso e conversão alimentar (P<0,003) em todas as fases do experimento. Esses resultados indicam que a tostagem da soja foi eficiente para desativar os fatores antitrípticos presentes nesse alimento e promover maior desempenho. Embora sem apresentar efeito significativo (P>0,15), a tostagem da soja proporcionou incrementos no consumo de ração dos animais, o que pode ter contribuído, em parte, pela melhoria no ganho de peso verificado. Pelos resultados observados verificou-se que a ausência do fator Kunitz não foi suficiente para evitar o efeito deletério dos fatores antitrípticos presentes na soja tradicional sobre o desempenho dos animais. Entretanto, quando se comparou os dois cultivares de soja, aquele com menor quantidade de fatores antitrípticos (ausência do fator de Kunitz), melhorou a conversão alimentar em um dos períodos estudados ( 1 a 28 dias, P<0,07). Ressalta-se que esse estudo foi realizado com animais jovens, os quais necessitam de ingredientes de alta digestibilidade e apresentam maior exigência em aminoácidos do que animais mais velhos. Através desse estudo verificou-se que existe uma quantidade mínima de fator antitríptico dietético capaz de prejudicar o desempenho. À partir desse nível, o acréscimo na quantidade de fator antitríptico na soja não propiciou piora no desempenho. A redução do problema ocorreu apenas quando se empregou a tostagem como processo de inativação dos fatores indesejáveis.
CONCLUSÕES
A tostagem da soja proporcionou melhor desempenho nos animais comparado ao fornecimento de soja crua.
O cultivar de soja sem o fator antitripsina Kunitz proporcionou desempenho similar à soja tradicional. Isso evidencia que, no caso de suínos jovens, a presença de apenas um fator antitríptico é suficiente para prejudicar o desempenho dos animais nos mesmos patamares verificados com a soja tradicional. Esse estudo evidencia a necessidade de novas pesquisas com o uso de soja sem o fator antitripsina Kunitz em dietas de suínos, principalmente, em outras fases do ciclo de produção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
1 - CERA, K.R. MAHAN, D.C. & REINHART, G. A. Evolution of various extracted vegetable oils, roasted soybens, medium-chain triglyceride and an animal-vegetable fat blend for postweaning swine. Journal of Animal Science v. 68, p. 2756 - 2765. 1990.
2 - HERKELMAN, K. L. CROMWELL, G. L. et al. Utilization of full-fat soybeans by swine reviewed. Feedstuffs, p. 17 -20. 1990.
3 - KUNITZ, M. Crystallization of a trypsin inhibitor from soybeans. Science, v. 101, p.668 - 669. 1945.
4 - NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient Requeremente of Swine. 19. ed. Washington, 1988. 93p.
5 - SAS. Statistical Analyses System User's Guide - version 5 th ed. Cary N. C., 1985. 956 p.
Quadro 1. Efeito do cultivar de soja e do processamento sobre o desempenho dos leitões nos diferentes períodos experimentais.