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Comparação das exigências nutricionais para suínos machos castrados recomendadas pelas Tabelas Brasileiras (2011) e pelo NRC (2012)

Publicado: 10 de maio de 2013
Por: Gustavo Julio Mello Monteiro de Lima, Engenheiro Agrônomo, Ph. D. em Nutrição Animal, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves; Lidiane Boareto Scapini, Graduanda em Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná -UFPR-, PR, e Fernando de Castro Tavernari, Zootecnista, D. Sc. em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.
Introdução
O uso de fórmulas nutricionais específicas para cada fase de produção permite ajustar os níveis dietéticos de nutrientes e energia, bem como as suas inter-relações. Assim, as dietas são calculadas para atender às necessidades de mantença e produção, possibilitando que o suíno expresse o máximo do seu potencial genético para deposição de carne.
Além da busca pela otimização da produtividade, é necessário formular dietas viáveis economicamente. Um dos problemas que ocorrem quando os níveis nutricionais são superestimados é a excreção do excesso de nutrientes, especialmente o nitrogênio e o fósforo, nas fezes e na urina com prejuízo ao ambiente. Este desperdício aumenta o custo da produção e afasta o produtor de uma suinocultura sustentável.
Recentemente, foram publicadas duas importantes referências para uso pelos nutricionistas: as Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos: Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais (ROSTAGNO et al., 2011) e o Nutrient Requirements of Swine (NUTRIENT..., 2012). Estas referências pressupõem o uso de animais com alto potencial genético e a criação de animais em estado de saúde adequado, submetidos a condições de conforto térmico.
O objetivo deste estudo foi comparar as exigências nutricionais propostas nas duas publicações para suínos machos castrados em crescimento e terminação.
 
Material e métodos
Analisamos as recomendações das Tabelas Brasileiras (TB, para animais de alto potencial com desempenho médio) e do NRC, considerando apenas suínos machos castrados em crescimento, dos 11 aos 135 kg de peso vivo.
Além da energia metabolizável (EM), as recomendações de aminoácidos digestíveis (digestibilidade ileal verdadeira, no caso de TB, e digestibilidade ileal estandardizada, no caso do NRC), cálcio, fósforo (digestibilidade verdadeira, no caso de TB, e digestibilidade estandardizada para o trato digestório total, no caso do NRC) e sódio foram estudadas. As exigências de cada nutriente foram avaliadas em base percentual de consumo diário de nutriente e quantidade de nutriente por quilo de ganho de peso. As estimativas de consumo diário de alimento do NRC foram corrigidas, uma vez que esta referência acrescenta 5% no consumo por conta do desperdício pelos animais.
 
Resultados e discussões
O consumo diário de alimento e a energia metabolizável da dieta sugeridos nas TB foram maiores em todas as fases de criação em comparação àqueles considerados no NRC (Tabela 1; Figura 1). Este mesmo tipo de resposta foi observado para as exigências dos quatro aminoácidos digestíveis limitantes (Lys, Met, Thr, Trp), cálcio total e fósforo digestível, sem deixar de considerar que há diferenças metodológicas para obtenção das recomendações entre as duas tabelas.
O ganho de peso diário (g/dia) recomendado pelas TB foi maior em todas as fases de criação quando comparado com o ganho de peso do NRC (Tabela 1). Os valores sugeridos nas duas referências diferiram ao longo da fase considerada em 16%, em média.
Considerando apenas a lisina digestível, as médias gerais de consumos diários em toda a fase de crescimento e terminação foram de 19,55 e 15,68 g/dia para as TB e o NRC, respectivamente, representando uma diferença média de 24,68% entre elas. Este mesmo nutriente apresentou, na média, uma diferença de 1,16% em base percentual e de 6,53% em g de lisina digestível/kg de ganho de peso para as recomendações das TB e do NRC, sendo maiores os valores sugeridos nas TB (Figura 2). Da mesma forma, foram verificadas diferenças entre as recomendações da relação de cada aminoácido com a lisina, em base digestível, especialmente para treonina, arginina, e fenilalanina (Tabela 1). O mesmo tipo de diferença também aconteceu para os três aminoácidos digestíveis limitantes (metionina, treonina e triptofano). As recomendações da exigência em metionina diferiram entre as duas referências em cerca de 2,10% e 11,05%, em média, em base percentual e de g/kg de ganho de peso, respectivamente. No caso da treonina e do triptofano, observou-se esse mesmo tipo de resposta entre as recomendações das TB e do NRC, observando-se diferenças da ordem de 5% em base percentual e de cerca de 11% em base de g do aminoácido/kg de ganho de peso para os dois aminoácidos.
Tabela 1. Peso vivo (PV) e recomendações de consumo, energia metabolizável (EM), ganho de peso (GP), cálcio (Ca), fósforo (P), sódio (Na), relações, em base digestível, dos aminoácidos em relação à lisina, período da fase de criação e consumo de ração (CR) para TB e NRC
Comparação das exigências nutricionais para suínos machos castrados recomendadas pelas Tabelas Brasileiras (2011) e pelo NRC (2012) - Image 1
Para o sódio, as duas referências estudadas apresentaram exigências similares na fase inicial (1,9% de diferença). Entretanto, para as demais fases (suínos a partir de 25 e 30 kg) os níveis sugeridos de sódio apresentaram diferenças marcantes entre as referências (Figura 3), chegando a valores 50% maiores nas TB. A exigência do sódio diferiu em 26,47% e em 41,71% em base percentual e em g/kg de ganho de peso, respectivamente, entre as duas referências. Estas diferenças em exigências em sódio predispõem a maiores consumos de água e, consequentemente, maiores volumes de dejetos.
Os níveis médios de cálcio total e fósforo digestível, recomendados pelo NRC, foram ao redor de 18 e 22% menores quando comparados aos propostos nas TB (Figura 4). Em base percentual e em g/kg de ganho de peso, as diferenças para cálcio total e para fósforo digestível foram de 2% e 2,4%; e 1,2% e 6%, respectivamente.
Figura 1. Curvas de consumo e exigências de EM sugeridas pelas TB e pelo NRC
Comparação das exigências nutricionais para suínos machos castrados recomendadas pelas Tabelas Brasileiras (2011) e pelo NRC (2012) - Image 2
Figura 2. Curvas de consumo de lisina digestível em bases de consumo diário, percentagem e em g/kg de ganho de peso, sugeridas pelas TB e pelo NRC
Comparação das exigências nutricionais para suínos machos castrados recomendadas pelas Tabelas Brasileiras (2011) e pelo NRC (2012) - Image 3
Figura 3. Curvas de consumo de sódio sugeridas pelas TB e pelo NRC
Comparação das exigências nutricionais para suínos machos castrados recomendadas pelas Tabelas Brasileiras (2011) e pelo NRC (2012) - Image 4
Figura 4. Exigências de cálcio e fósforo sugeridas pelas TB e pelo NRC
Comparação das exigências nutricionais para suínos machos castrados recomendadas pelas Tabelas Brasileiras (2011) e pelo NRC (2012) - Image 5
 
Considerações finais
Mesmo levando-se em conta que há diferenças metodológicas na obtenção das recomendações de aminoácidos e fósforo, existem diferenças marcantes entre as exigências nutricionais de suínos machos castrados em crescimento e terminação sugeridas pelas TB e o NRC.
As duas referências de exigências em nutrientes e energia pressupõem faixas de peso ligeiramente diferentes e índices zootécnicos distintos, devendo ser consideradas ao se analisar as diferenças verificadas.
Dietas formuladas com base em uma ou outra referência poderão acarretar em diferenças consideráveis no desempenho, rentabilidade e impacto ambiental.
Diante das constatações observadas, novos estudos permitirão fornecer subsídios para a melhor decisão por parte dos nutricionistas.
 
Referências
NUTRIENT requirements of swine. 11. ed. Washington, D.C.: National Academy of Sciences, 2012. 400 p.
ROSTAGNO, H. S. (Ed.). Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3. ed. Viçosa: UFV / DZO, 2011

***O trabalho foi originalmente publicado pela Embrapa Suínos e Aves / Comunicado Técnico 508; Dezembro, 2012.
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Autores:
Gustavo Lima
Embrapa Suínos e Aves
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Lidiane Boareto Scapini
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Fernando de Castro Tavernari
Embrapa
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