Introdução
A produção eficiente de suínos depende de diversos fatores, entre eles a nutrição oferecida aos animais. No Brasil são escassas as informações sobre os níveis médios de nutrientes das dietas de suínos nas fases de creche, crescimento e terminação que os produtores efetivamente fornecem aos animais, bem como das características dos equipamentos e dos procedimentos utilizados pelos suinocultores para sua produção. O objetivo desse estudo foi determinar o perfil da produção e das características das dietas consumidas por suínos nas fases de creche, crescimento e terminação em rebanhos das região Sul do Brasil.
Detalhes do estudo
O estudo foi conduzido em 130 granjas, da região Sul do Brasil, sendo 52 no Rio Grande do Sul, 38 em Santa Catarina e 40 no Paraná, no período de julho de 1995 a março de 1997. As propriedades eram integradas das sete maiores empresas produtoras de suínos ou independentes, assistidas por técnicos da rede oficial. Os técnicos dessas empresas foram responsáveis pela escolha das granjas, com a orientação de que as mesmas representassem a média das propriedades assistidas em termos de desempenho técnico.
Os produtores foram entrevistados sobre a maneira como produziam suas rações, preenchendo-se um questionário para cada propriedade e coletando-se uma amostra de ração nos cochos utilizados pelos suínos em cada fase estudada.
As granjas tinham como objetivo a produção de leitões de 23 kg de peso vivo (65 granjas) ou de suínos destinados ao abate (65 granjas, sendo 32 no sistema de ciclo completo, 25 no sistema de terminador em parceria com as agroindústrias e oito no sistema de terminador independente), utilizando sistemas confinados.
Resultados obtidos na fase de creche
Observou-se, na maioria das granjas visitadas, que os leitões continuavam recebendo dietas pré-iniciais após o desmame, e que parte dos produtores utilizavam restrição alimentar rotineiramente, mesmo quando não havia ocorrência de diarréia (Tabela 1). Essa informação demonstra a preocupação que há com esse problema, mas a restrição de consumo nessa fase, sem ocorrência de diarréia, pode limitar o potencial máximo de ganho de peso dos animais. Uma quantidade expressiva de produtores (64,6%) relataram que não usavam o óxido de zinco no controle da diarréia dos leitões, mas ao se analisar as dietas verificou-se que 83,1% das amostras apresentaram teor de zinco acima de 300 ppm, sendo que a exigência nessa fase é de 80 ppm. Provavelmente, isso deve-se ao fato de que em todas as granjas eram utilizados núcleos comerciais, cuja composição muitas vezes não era de conhecimento dos produtores. Outro fato importante é que 8,3% das rações pré-iniciais continham mais de 3200 ppm de Zn, caracterizando superdosagem com conseqüência negativa para o desempenho dos leitões. Em 4 das granjas, em que o óxido de zinco era utilizado como ingrediente na prevenção de diarréia, foi adicionado simultaneamente através do núcleo e de um outro produto comercial, caracterizando problema de comunicação entre o fornecedor de núcleo e o produtor, ou desconhecimento por parte dos produtores.
Com relação a ração inicial (Tabela 2) observou-se níveis elevados do óxido de zinco em 20 produtores. Como tecnicamente o óxido de zinco é recomendado para prevenção de diarréia durante no máximo 21 dias após o desmame e a ração inicial é recomendada a partir dos 42 dias de idade, dois fatos podem ter ocorridos: 1) Produtores que desmamavam os leitões em idade tardia não utilizavam rações pré-inicias e forneciam ração inicial contendo óxido de zinco como preventivo da diarréia, ou 2) produtores que usavam o óxido de zinco por um período muito prolongado na fase de creche, incluídas as rações pré-iniciais e iniciais.
A grande maioria dos produtores utilizavam misturadores verticais, mas constatou-se que 12,1% das misturas eram realizadas à mão ou com o auxílio de pás. A situação de preparo de ração na propriedade tornou-se mais preocupante quando constatou-se que apenas 46,6% das propriedades utilizavam balanças de plataforma, adequada para a pesagem de sacos e volumes maiores, enquanto que 10,3% utilizavam balanças de vara, que são imprecisas e limitadas à pesagem de volumes pequenos, e 43,1% dos produtores não pesavam os ingredientes e utilizavam baldes para medir as quantidades a ser incluídos na mistura.
Cerca de 9% dos produtores não se preocupavam com o tempo de mistura e, embora os demais mencionassem o tempo de mistura que utilizavam, a grande maioria dos misturadores não teve o seu tempo ótimo de mistura determinado. Com relação à composição química das dietas (Tabela 2), observou-se que um número considerável de amostras (33,8%) apresentavam altos teores de fibra bruta, cobre (64,6%), ferro (83,1%) e manganês (66,2%). Esses níveis de minerais nas dietas vem aumentar as preocupações com o potencial poluente dos dejetos produzidos pelos animais.
Resultados obtidos nas fases de crescimento e terminação
Os resultados de composição físico-química das dietas de suínos em crescimento e terminação obtidos nas granjas acompanhadas são apresentadas na Tabela 3. Em geral, todos os valores apresentaram-se dentro das recomendações, exceto para o cálcio onde 46,2% e 49,2% das dietas de crescimento e terminação respectivamente, apresentaram níveis fora do recomendado.
Embora o diâmetro geométrico médio das rações nas duas fases estudadas estivesse próximo ao limite mínimo de 500 mm, verificou-se que 32,3% e 23,1% das granjas utilizavam rações com um diâmetro geométrico médio menor do que o recomendado para as fases de crescimento e terminação, respectivamente.
Conclusões e recomendações
Os resultados desse estudo permitem concluir que, em geral, as dietas utilizadas na produção de suínos nas fases de creche, crescimento e terminação estão adequadamente formuladas.
Entretanto foram observados problemas com o nível de zinco nas dietas de creche além de serem verificados excessos de alguns minerais, o que contribui para aumentar o poder poluente dos dejetos e onerar o custo das dietas.
As informações obtidas com relação ao processo de mistura de ração na propriedade, sugerem que esse tema deve ter mais atenção por parte dos técnicos, principalmente, na ênfase do uso de balanças e na determinação do tempo ótimo de mistura para cada equipamento. O óxido de zinco suplementar nas rações pré-iniciais para a prevenção da diarréia no desmame deve ser usado no máximo por 21 dias, (até os 42 dias de idade dos leitões), na dosagem de 2400 ppm de zinco. Os dados obtidos indicam que esta tecnologia não está sendo usada corretamente por vários produtores, com conseqüência sobre o desempenho dos leitões e maior poluição ambiental.
Nesse aspecto, sugere-se que as indústrias que produzem misturadores de ração, determinem o tempo ótimo de mistura dos equipamentos antes de colocá-los a venda no mercado.