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Alimentos alternativos para suínos em crescimento e terminação

Publicado: 16 de junho de 2014
Por: Andrea Machado Leal Ribeiro, Professora Associada do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), RS; João Dionísio Henn, Aluno de Doutorado do PPG-Zootecnia, Professor da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ), SC, e Gabriel Luz da Silva, Aluno de graduação do curso de Medicina Veterinária da UFRGS, RS.
Sumário

Esta revisão faz um levantamento dos principais alimentos alternativos ao milho e farelo de soja que podem ser usados nas dietas de suínos em crescimento e terminação e suas limitações nutricionais. São classificados como essencialmente energéticos tais como a raiz de mandioca, a quirera de arroz, o caldo de cana e o glicerol; energéticos com proteína mais elevada do que a do milho, como o farelo de arroz integral, a soja integral e a ervilha; fornecedores de proteína como o farelo de arroz desengordurado, e fornecedores de proteína com baixa energia como os fenos de leucena e de folha de mandioca. Sempre que houver disponibilidade de uso de um alimento alternativo, é necessário conhecer seu valor nutricional, a presença de fatores antinutricionais e suas limitações nas diferentes categorias animais. No uso de subprodutos ou resíduos que envolvam processamento, como é o caso dos DDGS, uma constância nos fatores envolvidos no processo é importante para diminuir a variabilidade do produto final. Como conclusão, a suinocultura conta com várias opções de alimentos alternativos. No entanto, sua utilização dependerá de sua disponibilidade local e regional, do preço e de suas características nutricionais.

Descritores: Ingredientes, Formulação de rações, Nutrição, Suínos.

1. Introdução
Nos últimos anos, a suinocultura brasileira tem experimentado diversos períodos de instabilidade, em função do baixo preço do produto associado aos elevados custos de produção. Os ingredientes mais utilizados nas dietas de suínos, milho e farelo de soja, tiveram elevação de preço, refletindo na margem de lucro do suinocultor. Neste contexto pesquisas envolvendo a utilização de alimentos alternativos são importantes, com destaque para subprodutos ou resíduos, para novas formas de utilização de produtos e subprodutos e para as limitações destes materiais nas diferentes categorias animais. O possível uso dos alimentos alternativos na alimentação de suínos, dependerá do reconhecimento das suas potencialidades e restrições, de modo a manterem produtividade e possibilitarem redução dos custos de produção, com reflexos diretos sobre a viabilidade e lucratividade da atividade. Outro importante aspecto é sua disponibilidade, pois de nada adiantam alimentos alternativos com excelente matriz nutricional se, por motivos culturais ou agronômicos, não se encontram disponíveis.
De acordo com Bellaver & Ludke (2004), as alternativas de alimentação de suínos disponíveis para uso direto nas granjas são restringidas aos macro-ingredientes de origem vegetal, que podem ser:
a) Essencialmente Energéticos: raiz de mandioca (in natura, silagem da raiz, raspa integral, farinha e farelo residual) e caldo de cana. O nível de proteína nesses ingredientes é baixo, exigindo que seja aumentada a proporção das fontes protéicas, o que representa uma importante limitação. A raspa (seca) integral da raiz de mandioca em termos percentuais pode responder por até 50% da dieta. O caldo de cana apresenta em termos comparativos uma energia metabolizável de 3202 Kcal/kg quando expresso com um valor hipotético de 88% de matéria seca. Entretanto, este ingrediente é de difícil manejo e transporte, podendo até mesmo inviabilizar a sua utilização.
b) Energéticos idênticos ao milho: sorgo, milheto, grão de arroz e arroz na forma de quirera. Apresentam a possibilidade de substituição total do milho causando apenas pequenos ajustes na porcentagem dos demais ingredientes da ração. No mesmo grupo podem ser incluídas muitas sementes de gramíneas. Porém, algumas delas (principalmente as tropicais) apresentam valor energético muito menor do que o milho. A silagem de grão de milho úmido pode ser estrategicamente usada visando à redução em até 28 dias no tempo de ocupação da lavoura e a sua inclusão nas dietas de todas as categorias de suínos pode ser realizada via substituição total do milho desde que realizados os ajustes em função do teor de umidade, da maior disponibilidade dos minerais e, proporcionalmente a um mesmo nível de umidade, maior valor de energia metabolizável.
c) Fornecedores de energia com nível de proteína mais elevado do que o milho (pelo menos acima de 14%): farelo de arroz integral (muito sensível à rancificação), semente de girassol e soja integral inativada (tostada, cozida, extrusada). São os ingredientes que apresentam elevado teor de extrato etéreo e por esse motivo apresentam maior densidade energética. São recomendados para substituir entre 75 a 100% da proteína fornecida pelo farelo de soja em dietas para matrizes em lactação. A soja devidamente processada pode ser incluída em até 20% nas dietas nutricionalmente equilibradas a serem fornecidas para os leitões nas dietas pré-iniciais e iniciais. Para suínos em terminação o elevado teor de gordura insaturada afeta a qualidade da gordura na carcaça. A inclusão do farelo de arroz integral em rações para suínos em crescimento e terminação deve ser restringida até um máximo de 30% da dieta.
d) Fornecedores de proteína: farelo de algodão, farelo desengordurado de arroz, farelo de girassol e sementes de leguminosas, em especial o guandú, entre outros. São ingredientes aptos à inclusão em dietas de suínos em crescimento e terminação e fêmeas em gestação, substituindo entre 50 a 75% da proteína oriunda do farelo de soja. Como regra geral as sementes de leguminosas apresentam, em níveis variados, fatores antinutricionais que devem ser adequadamente inativados (exceção feita para a ervilha).
e) Fornecedores de proteína com baixa energia: feno de leucena, feno da folha de mandioca que podem substituir parcialmente o farelo de soja, são ingredientes preferenciais para serem incluídos em proporção definida (no máximo 10%) nas dietas de fêmeas em gestação porque apresentam elevado teor de fibra bruta e baixa densidade energética.
A utilização de qualquer alimento alternativo depende essencialmente da disponibilidade local e regional de ingredientes que tenham preços compatíveis com os preços pagos por quilograma de suíno. O objetivo neste trabalho é apresentar e discutir informações científicas sobre alguns alimentos alternativos disponíveis no Brasil, mesmo que de forma sazonal, para suínos nas fases de crescimento e terminação.
 
2. Arroz (Oryza sativa)
O arroz é mundialmente produzido para ser aproveitado na alimentação humana. Entretanto, quando não estiver dentro das especificações para tal ou quando razões econômicas o permitem, pode ser utilizado na alimentação animal.
Além deste, os subprodutos farelo de arroz gordo, farelo de arroz desengordurado e a quirera de arroz podem ser fontes importantes para as dietas dos suínos.
2.1  Farelo de Arroz Integral (FAI)        
Representa cerca de 13% do peso dos grãos e consiste do pericarpo, gérmen, fragmentos de arroz e pequenas quantidades de casca, com granulometria semelhante ao farelo. Sua composição química é variável em função do tipo de processamento. Proteína, fibra e gordura são superiores ao milho, e o amido e a gordura são as principais fontes de energia deste ingrediente. Sua proteína é rica em aminoácidos sulfurados, porém a lisina e a treonina, dois aminoácidos essenciais, são os mais limitantes. O FAI possui alto teor em vitaminas do complexo B, como tiamina, riboflavina e niacina. Os fatores que limitam o uso do FAI na alimentação de suínos são a presença de casca que possui altos teores de celulose e sílica, os oxalatos e fitatos, que são fatores antinutricionais, além do alto teor de fósforo.
O conteúdo de gordura deste subproduto é alto em ácidos graxos insaturados facilmente peroxidáveis, como o ácido palmítico, linoléico e oléico. A peroxidação da gordura reduz o valor nutricional do alimento, principalmente em relação à energia e às vitaminas. Para contornar o problema, a adição de antioxidantes é fundamental.
Campos et al. (2002) avaliaram o efeito da inclusão do FAI para suínos em crescimento e terminação, concluindo que a inclusão de 30% provocou menor ganho de peso e pior conversão alimentar em relação à testemunha, porém sem alterar as características da carcaça. Por outro lado, Bertol et al. (1990) verificaram que níveis crescente de FAI não prejudicaram o desempenho, tendo o FAI substituído 100% do milho nas dietas de suínos, nas fases de crescimento e terminação. Fireman (2000) suplementou dietas de suínos em crescimento, contendo 50% de FAI, com as enzimas fitase e xilanase, e observou que as enzimas sós ou combinadas, melhoraram a digestibilidade das dietas. Este é mais um campo que a nutrição abre atualmente. O do uso de enzimas exógenas para melhorar o aproveitamento do animal a ingredientes alternativos.
2.2 Farelo de Arroz Desengordurado (FAD)
O FAD representa aproximadamente 82% do peso do farelo de arroz integral. Apresenta teores de proteína e fibra superiores e de gordura e energia digestível inferiores, quando comparado ao milho. Devido ao baixo teor de gordura, não apresenta problemas de deterioração, observados no farelo de arroz integral.
Em regiões orizícolas tradicionais, os subprodutos do arroz são comumente utilizados na alimentação animal. No Rio Grande do Sul, destaca-se a produção de arroz irrigado, com uma produção média anual de 7,8 milhões de toneladas (CONAB, 2009). No beneficiamento para o consumo humano, são obtidos 6,5% de FAD, totalizando assim 507 mil toneladas anuais no estado. O FAD contém aproximadamente 15,5% de proteína, 24,3% de fibra em detergente neutro, 15,8% de fibra em detergente ácido, 1,6% de extrato etéreo e 2530 e 2450 kcal/kg de dieta de energia digestível e metabolizável, respectivamente. Tais valores justificam a inclusão desse subproduto na matriz nutricional de suínos em crescimento e terminação (Rostagno et al., 2005). No entanto, existem algumas limitações no uso do FAD na alimentação de suínos. O alto teor de fibra aumenta a taxa de passagem do alimento no trato gastrintestinal reduzindo a absorção dos nutrientes (Le Goff, 2002). Além disso, Malathi & Devegowda (2001) descrevem que a porção fibrosa do FAD é constituída principalmente por polissacarídeos não-amiláceos estruturais (PNA). Efeitos negativos dos PNA sobre a digestibilidade acontecem devido ao aumento da viscosidade do conteúdo intestinal, o que reduz a interação enzima/substrato pela diminuição da taxa de difusão dos nutrientes na luz intestinal e pela complexação com as enzimas digestivas (Bedford, 2000). O FAD ainda contém cerca de 80% de todo o fósforo sob a forma de ácido fítico, o que indisponibiliza além do próprio fósforo, uma série de outros nutrientes, podendo formar sais insolúveis com minerais e complexos com proteínas, além de diminuir a atividade das enzimas proteolíticas (Selle et al., 2000). Em estudo desenvolvido com suínos nas fases de crescimento e terminação, alimentados com dietas contendo 30% de FAD, Ludke et al. (2002) demonstraram uma redução no ganho de peso dos animais. Já Warren & Farrell (1990) afirmaram que as dietas com até 30% de FAD resultam em um aceitável desempenho dos suínos quando o consumo de energia digestível for constante.
Kunrath (2010), em recente trabalho desenvolvido no LEZO-UFRGS estudou o valor nutricional do FAD na alimentação de suínos nas fases de crescimento e terminação.  O valor de EM obtido foi de 2429 kcal/ kg, na fase de crescimento, e de 2293 kcal/kg, fase de terminação, respectivamente. O autor também observou que a metodologia para avaliar a energia e a digestibilidade dos nutrientes pode ser determinante para os valores obtidos, o que traz alguns questionamentos quanto aos valores das tabelas de composição.
De uma forma geral pode-se dizer que o uso do FAD na alimentação de suínos é limitado pelo alto teor de fibra bruta e de fósforo, podendo ser incluído em até 30% nas dietas de crescimento e terminação.
2.3  Quirera de Arroz (QA)
A QA é composta por grãos defeituosos e quebrados após o polimento para consumo humano, representando cerca de 10% do total processado. Pode ser encontrada em graus variados de limpeza e os principais contaminantes são cascas de arroz, sementes de capim-arroz (Equinocloa spp) e angiquinho (Aeschinomene spp).   Possui valor nutricional semelhante ao milho para suínos, podendo ser utilizado sem restrições nas dietas de suínos em crescimento e terminação.
A QA é um produto de alta qualidade que possui níveis protéicos e de energia metabolizável semelhantes aos do milho. Embora apresente um nível de gordura inferior ao do milho, a QA compensa essa característica com elevado teor de amido (Rostagno et al., 2005). Segundo o mesmo autor, o milho apresenta  energia bruta superior à da QA (3925 x 3821kcal/kg), porém o nível de energia metabolizável aparente para suínos é levemente superior na QA (3491 x 3340 kcal/kg), o que denota um melhor aproveitamento do ingrediente pelo animal. Ainda comparada ao milho, a QA apresenta um nível de fibra bruta inferior e de lisina e metionina levemente superiores, permitindo a formulação de dietas com menor nível de aminoácidos sintéticos, reduzindo o custo da ração. Um ponto a ser ressaltado é o nível de triptofano mais elevado. Dependendo dos demais ingredientes, a dieta, em função da quirera, poderá apresentar excesso desse nutriente, desencadeando a liberação de serotonina e inibindo o consumo de alimento.
Uma das grandes vantagens da utilização de QA na dieta dos suínos é a ausência ou o nível muito reduzido de micotoxinas, devido à forma de colheita e processamento do arroz (Butolo, 2002). As aflatoxinas levam à degeneração gordurosa hepática e induzem diversas alterações, principalmente o aumento da atividade das enzimas, coagulopatias e diminuição na produção de proteínas. Marin et al. (2002) sugerem que as aflatoxinas afetam não só o fígado dos monogástricos, mas também o intestino, os rins e o baço.
Kiefer & Quadros (2006) avaliaram o desempenho (Tabela 1) e as características quantitativas da carcaça de suínos (Tabela 2), nas fases de crescimento e terminação, quando alimentados com dietas contendo QA em substituição ao milho.
 
Tabela 1: Peso inicial (PI), peso final (PF), ganho de peso diário médio (GMD), consumo de ração diário médio (CDM) e conversão alimentar (CA) de suínos nas fases de crescimento e terminação, alimentados com diferentes níveis de QA em substituição ao milho.
Alimentos alternativos para suínos em crescimento e terminação - Image 1
 
Tabela 2: Peso de carcaça quente (PCQ), rendimento de carcaça quente (RCQ), espessura de toucinho (ET), profundidade de músculo (PM) e percentagem de carne magra (CM) na carcaça de suínos alimentados com diferentes níveis de QA em substituição ao milho.
Alimentos alternativos para suínos em crescimento e terminação - Image 2
 
Como conclusão, a QA pode substituir totalmente o milho nas dietas de suínos nas fases de crescimento e terminação, sem prejudicar as características quantitativas da carcaça, com melhorias , inclusive, na conversão alimentar.
 
3.  Trigo (Triticum spp.)
O trigo é uma gramínea de inverno muito importante pela sua tradição milenar de cultivo e consumo humano e por seu valor nutricional como alimento. O trigo e seus produtos podem ser caracterizados da seguinte forma, de acordo com Butolo (2002):
  1. Grão integral de trigo moído: consiste no grão do trigo moído.
  2. Farelo de trigo: é o produto obtido do processamento industrial do trigo.
    Farelo de gérmen de trigo: consiste do gérmen e outras pequenas partículas resultantes do processamento industrial do grão de trigo integral para obtenção da farinha de trigo para consumo humano.
  3. Remoído de trigo: é o produto obtido no processamento do grão de trigo, constituído de uma mistura de farelo, gérmen e farinha de trigo.
  4. Triguilho: são grãos pouco desenvolvidos, mal granados ou chochos, resultantes de lotes cujo peso específico é menor que o exigido para moagem, ou produto resultante da classificação do trigo após a eliminação de impurezas.
Em geral, a composição do trigo é mais variada que a dos cereais. A proteína do trigo é superior à do milho em concentração, qualidade e composição aminoacídica.  A suplementação com lisina e treonina pode reduzir o uso de farelo de soja, nas fases de crescimento e terminação. No aspecto da energia, o amido representa 60% do grão (25% amilose e 75% de amilopectina). Apresenta, segundo Rostagno et al. (2005), teor de energia digestível semelhante ao milho. A energia metabolizável, entretanto, é cerca de 10% inferior. O trigo contém entre 1 a 2% de lipídios, enquanto que o milho tem 3,7%, em média.
Como fatores antinutricionais, o farelo de trigo possui pentosanas (PNA) e inibidores de tripsina e quimiotripsina. Os níveis destes fatores antinutricionais podem limitar sua inclusão na ração de suínos, em substituição ao milho, uma vez que o desempenho dos animais pode ser prejudicado devido ao pior aproveitamento dos nutrientes das rações. Fialho et al. (1998) encontraram a seguinte composição para o farelo de trigo: MS=74,4%; PD=11,38%; ED=2520 Kcal/kg e EM= 2305 Kcal/kg.
Pode-se recomendar a utilização de níveis de até 30% de farelo de trigo nas dietas de suínos em crescimento e terminação.
 
4.  Triticale (Triticosecale rimpaui Wittm)
O triticale apresenta teor protéico 22% mais alto que o do milho, com um perfil melhor de aminoácidos, principalmente lisina (NRC, 1998). Algumas variedades têm níveis de lisina 50% mais elevados que o milho, diminuindo em até 3% a inclusão de farelo de soja nas dietas de suínos.
Existem algumas limitações para o uso do triticale na alimentação de suínos devido aos polissacarídeos não amiláceos (PNA). No entanto, a adição de complexos multienzimáticos como celulases, hemicelulases e xilanases pode viabilizar a substituição do milho por triticale em rações de suínos. Hauschild e colaboradores (2008) verificaram que a inclusão de até 60% de triticale em dietas para suínos em crescimento, não afetou a digestibilidade dos nutrientes, a energia digestível e metabolizável e o balanço do N, mas reduziu a proteína digestível aparente. Já a adição de enzimas melhorou a digestibilidade da proteína em dietas com 30 e 60% de inclusão de triticale.  
 
5.  Ervilha (Pisum sativum)
O grão de ervilha é uma cultura de inverno pouco utilizada em rações de suínos e aves no Brasil devido à falta de informações sobre o valor nutricional do grão e da pouca disponibilidade para comercialização. Entretanto, essa leguminosa pode se constituir em excelente alimento para os animais, reduzindo o custo das rações. A ervilha apresenta duas características que a tornam altamente desejável: é uma rica fonte de aminoácidos e não apresenta níveis consideráveis de fatores antinutricionais, não requerendo processamento térmico para sua utilização, ao contrário de outras leguminosas, como a soja. Essa vantagem faz da ervilha uma excelente opção de produção de alimento no inverno. Além de proporcionar cobertura do solo e incorporar nitrogênio ao mesmo, a ervilha pode se constituir em fator decisivo para aumento da rentabilidade dos sistemas de produção de suínos, especialmente nas propriedades familiares, constituindo-se em fator importante para aumentar a sustentabilidade desses sistemas.
Vieira et al. (2003) concluíram que o grão de ervilha da sub-espécie hortense, cultivar Alfetta, é uma alternativa viável na alimentação de suínos em fase de crescimento. A inclusão deste grão até o nível de 40% não prejudicou o desempenho animal. Na formulação de rações com ervilha para suínos desta categoria, são sugeridos valores de energia digestível e metabolizável aparentes de 3.968 e 3.723 kcal por kg de matéria seca, respectivamente.
Para Lima et al. (2002), a ervilha tem excelentes possibilidades de ser utilizada em rações de suínos em substituição ao milho (3420 kcal EM/kg e 0,24% de lisina) e ao farelo de soja (3309 kcal EM/kg e 2,77% de lisina), sugerindo valores médios de energia metabolizável de 3256 kcal/kg e de lisina de 1,51%.
 
6.  Glicerol
O glicerol é uma substância solúvel em água, viscosa, sem odor e com sabor doce. É derivado tanto de fontes naturais (constitui cerca de 10% dos triglicerídeos das gorduras animais e dos óleos vegetais), quanto da indústria petroquímica. É obtido de triglicerídeos a partir do processo de produção de sabões, com o isolamento dos ácidos graxos e, atualmente, pela transesterificação, durante a obtenção do biodiesel. Para cada litro de biodiesel produzido, aproximadamente 80 g de glicerol são obtidos (Kerr et al., 2008).
A eficiência do processo de produção de biodiesel estabelece, de maneira indireta, variações nos valores de energia bruta do glicerol. Quanto melhor o processo, menor a concentração de energia do mesmo. Além das variações na energia, deve-se dar atenção aos teores de sódio e metanol. O resíduo de metanol pode ser um problema, quando encontrado no glicerol. No metabolismo, o metanol se transforma em formiato, que afeta o sistema nervoso central, causando vômito, severa acidose metabólica, cegueira e ação sobre o sistema motor. Kerr et al. (2008) incluíram na dieta 10% de glicerol com 0,32% de metanol (320 ppm de metanol) não encontrando sintomas de intoxicação por formiato.
Os estudos desenvolvidos com suínos na fase de engorda indicaram que o glicerol é altamente palatável e digestível, podendo ser adicionado em até 10% da ração sem comprometer desempenho (Kijora et al., 1995; Kerr et al., 2008; Berenchtein, 2008; Henn & Zanin, 2009).  Além disso, pode trazer benefícios à qualidade da carne dos animais, particularmente, pela maior capacidade de retenção de água no músculo Longissimus dorsi  (Berenchtein, 2008;  Mourot et al.,1994).
Holtkamp et al. (2007) relataram que o glicerol proveniente da produção de biodiesel contém aproximadamente 85% de glicerol, 10% de água e 3 a 7% de sais. Possui energia bruta na faixa de 3600 a 3750 kcal/kg, dependendo de sua pureza (glicerol puro contém 4305 kcal/kg de energia bruta).  Para suínos em crescimento, Lammers  et  al.  (2008)  obtiveram,  para  uma  glicerina com 87% de glicerol, EM de 3207 kcal/kg. Estes autores realizaram 5 ensaios, cujos resultados estão resumidos na Tabela 3. No ensaio com leitões (11 kg), houve efeito do nível de inclusão da glicerina na EM (5% - 3601 Kcal EM/Kg; 10% - 3239 Kcal EM/Kg e 20% - 3579 Kcal EM/Kg), isto é, o nível de inclusão altera a EM do ingrediente, o que torna-se um fato complicador no uso deste ingrediente.
 
Tabela 3: Valores para a energia metabolizável (EM) do glicerol para suínos de diferentes pesos (Lammers  et  al. 2008)
Alimentos alternativos para suínos em crescimento e terminação - Image 3
 
7.  DDGS (dried distiller grains with solubles)
A produção de etanol está aumentando consideravelmente no mundo todo, a partir da fermentação de açúcares de diversas matérias primas. Os resíduos secos e solúveis de destilaria (DDGS) são os subprodutos resultantes desse processo (Fialho et al., 2009), correspondendo a aproximadamente 30% do cereal empregado. Alimentos ricos em açúcar ou amido apresentam maior rendimento para a produção de etanol. Nos Estados Unidos, atual maior produtor de etanol, o milho é o principal alimento usado como substrato. No Canadá e na Europa, usa-se mais o trigo e a cevada. No Brasil, segundo maior produtor mundial de etanol, a produção se dá à base da cana-de-açúcar. Entretanto, comparada aos grãos utilizados em outros países, a cana-de-açúcar, após produção de álcool, apresenta baixo valor nutritivo para os suínos.
Um aspecto importante na avaliação de DDGS é a sua composição em macro e microelementos. Como o DDGS corresponde a aproximadamente 1/3 do valor total do milho, tendo os outros 2/3 sido transformados em etanol e dióxido de carbono, as concentrações de minerais deveriam ser aproximadamente três vezes àquelas do grão de milho, o que pode tornar-se uma limitação no seu uso.         Os DDGS de alta qualidade apresentam valores de energia digestível e metabolizável semelhantes aos do milho. De acordo com o NRC (1998), os valores de ED e EM do DDGS de milho para suínos são 3200 e 2820 kcal/kg, respectivamente.
O efeito da inclusão de DDGS de milho em dietas de suínos em crescimento e terminação foi estudado por Withney et al. (2006). As dietas tiveram níveis similares de lisina, cálcio e fósforo, sendo que os DDGS foram incluídos em 0, 10, 20 e 30%. Os níveis de 20 e 30% de inclusão comprometeram o ganho de peso, mas não afetaram o consumo de alimento. Entretanto, o nível de 30% comprometeu a eficiência alimentar, a espessura de lombo e a firmeza da carcaça. Por outro lado, espessura de toucinho e percentagem de carne magra não foram afetados pelos níveis de DDGS.  
Em termos de limitações deste ingrediente, podemos citar que as micotoxinas presentes na matéria-prima serão concentradas no DDGS e que a pequena qualidade das proteínas do DDGS exige uma atenção especial  aumentando a suplementação de aminoácidos e assim o custo da alimentação total.
 
8.  Sorgo (Sorgum vulgare)
O sorgo encontra-se entre os cereais mais cultivados no mundo, usado na produção de amido industrial, farinha, cerveja e óleo comestível. Também é usado na alimentação animal, onde nas dietas de suínos pode substituir parcial ou totalmente o milho como fonte energética. O grão de sorgo apresenta teor de proteína de 8 a 9%, geralmente um pouco superior ao do milho. De acordo com Fialho et al. (2009), o sorgo apresenta menor digestibilidade, uma vez que a proteína e o amido do endosperma estão ligados às prolaminas e que possui 5,6% de polissacarídeos não-amiláceos (PNA), divididos entre os arabinoxilanos (4,6%) e os ß-glucanos (1,0%). Entretanto, como o custo do sorgo é cerca de 20% menor em relação ao milho, com valor biológico de 95% do segundo, o sorgo pode substituir em até 100% o milho nas dietas de suínos, sem prejudicar o desempenho dos animais. Segundo Marques et al. (2007), a substituição em até 50% do milho não influi na digestibilidade das dietas e no metabolismo dos animais.
O sorgo produz compostos fenólicos que servem como proteção para a planta contra infecções e pássaros. Um desses compostos é o tanino, o qual apresenta-se como um fator anti-nutricional especialmente para monogástricos. O tanino é responsável pela inibição de algumas enzimas presentes no sistema digestivo, diminuindo assim a absorção dos nutrientes através da parede intestinal (Fialho et al., 2009).  O tanino, presente no pericarpo dos grãos de sorgo,  apresenta-se de duas formas: condensado e hidrolisável. Os primeiros são resistentes à hidrólise  e esta característica é que é responsável pela inibição de enzimas no sistema digestivo. O maior problema que o tanino pode causar, quando presente, é a complexação com proteínas, o que acaba prejudicando a digestibilidade, e também modifica a palatabilidade (sabor adstringente). Segundo Fialho et al. (2009), o milho pode ser substituído na proporção de 100% e 85% pelo sorgo de baixo tanino e alto tanino respectivamente. Se estiver disponível na região, em rações de mínimo custo, a substituição do sorgo pelo milho é viável quando o preço do sorgo for 15% a 20% inferior ao do milho.
 
9.  Milheto (Pennisetum glaucum L.)
O grão de milheto tem sido estudado e utilizado em substituição ao milho na alimentação de suínos, tendo em vista o crescimento desta cultura no Brasil e sua boa adaptação às condições climáticas brasileiras. Embora o milheto apresente menor valor de energia digestível que o milho, sua inclusão em rações para suínos tem sido considerada opção viável economicamente. O teor protéico do milheto é um fator bastante interessante do ponto de vista econômico, uma vez que é superior ao milho e ao sorgo (Adeola & Orban, 1995). Estes autores obtiveram valores de proteína bruta de 11,4% para o milho e 15,0 e 16,6% para as duas variedades de milheto testadas, valores 33 e 48% mais elevados. O milheto possui ainda maior quantidade de aminoácidos essenciais que o milho, inclusive a lisina, principal aminoácido limitante nas dietas compostas por milho e farelo de soja.  
Segundo Bastos et al. (2002), a inclusão de até 60% de milheto em rações para suínos, nas fases de crescimento e terminação, não provocou redução no desempenho, nem alterou as características de carcaça. Bastos et al. (2006)   concluíram que quando o custo do milheto corresponde a 70% do valor do milho, a inclusão do milheto em níveis de até 75% em rações para suínos nas fases de crescimento e terminação é  economica e nutricionalmente viável.
 
10.  Germe de milho desengordurado
Este alimento é um subproduto da industrialização do milho para retirada do amido por via úmida. Durante o processo, o milho é umedecido para amaciar a semente e facilitar a separação do glúten, proteína e gérmen. Após a remoção do gérmen, restam apenas o glúten, o amido e a casca do milho (Patience et al., 1995). Aproximadamente, 25% da composição do germe de milho é óleo (Ohiocorn, 2000). Logo, o farelo de gérmen de milho desengordurado é obtido da extração do óleo. Segundo Honeymann (1989), citado por Trindade Neto et al. (1995), para cada 100 kg de milho em grãos, são produzidos 62 a 68 kg de amido, 3 kg de óleo, 3,2 kg de farelo de germe, 20 kg de glúten e 4,5 kg de farelo de glúten.
Buttolo et al. (2000), trabalhando com frangos de corte, determinaram que a EM do germe foi de 2393 kcal/kg, cerca de 68% do valor do grão de milho. Moreira et al. (2002) observaram ED e EM, para suínos em crescimento e terminação, de 3060 kcal/kg e 2949 kcal/kg, respectivamente.  
Soares et al. (2004), utilizando suínos nas fases de crescimento e terminação, verificaram que a inclusão de germe em até 30% não afetou o desempenho e características de carcaça.  Segundo Moreira et al. (2002) se o preço do germe for 80% do preço do milho, o nível de 15% de inclusão será o mais econômico, tanto para a fase de crescimento quanto para a fase de terminação. 
   
11. Farinha de Bolacha  
A farinha de bolacha é um subproduto da indústria alimentícia humana. Seu uso tornou-se possível devido ao seu valor energético e sua palatabilidade.   Santos et al. (2005) analisaram uma farinha de bolacha que continha 89% de MS, 8,2% de PB e 4350 kcal/kg de EB.  Em um ensaio de metabolismo, Barbosa et al. (1999), usando suínos machos castrados, determinaram 3363 e 3315 kcal/kg de ED e EM para o resíduo de Bolacha Maisena, mostrando-se desta forma um potencial substituto do milho.
 
12. Considerações Finais
Sempre que houver a possibilidade de uso de um alimento alternativo, em função de disponibilidade, baixo custo, facilidade de transporte, é necessário conhecer seu valor nutricional e a presença de fatores anti-nutricionais. Sempre que houver processamento de algum sub-produto, envolvendo temperatura, pressão e tempo de atuação dos dois primeiros fatores, deve-se pensar em variabilidade na composição nutricional do ingrediente. Neste caso, análises tanto bromatológicas, e in vivo (ensaios de digestibilidade) devem ser exigidas. A padronização de processos, portanto, é uma meta a ser buscada e a fidelização entre fornecedor da matéria prima e produtor pode vir a ser um fator decisivo para a melhoria continua dos processos. A forma como o ingrediente se encontra também é outro fator decisivo na utilização de ingredientes alternativos. Alta umidade e alta gordura são fatores que levam facilmente à deterioração dos ingredientes e  nos respectivos casos secagem extra e uso de anti-oxidantes  precisam entrar no cálculo do custo de utilização.
Concluindo, alternativas ao milho e à soja há. Mas a decisão de usá-los depende de inúmeros fatores difíceis de serem incluídos numa equação simplificada.
 
14.Bibliografia Consultada
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Autores:
Andréa Machado Leal Ribeiro
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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Eraldo Rodrigues
5 de julio de 2020
BOA TARDE POR FAVOR POSSO USAR FOLHAGEM NA ALIMENTAÇÃO DE PORCOS E QUAL A QUANTIDADE SOU DE MOGI DAS CRUZES SP eraldorod@hotmail.com obrigado
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