Introdução
Com o intuito de aumentar a produção de carne suína, as criações comerciais têm apresentado dificuldades em manter o aspecto sanitário, principalmente o vazio, havendo um crescent aumento na pressão de infecção (MORES, 1993). A utilização profilática e metafilática de antimicrobianos tem sido uma prática comum nas criações de suínos no Brasil, porém não há dados publicados quantificando este uso. Em leitões neonatos é frequente a aplicação de antimicrobianos com o intuito de prevenir infecções entéricas, artrites e encefalites (SCHWARZ et al., 2005). Estudos avaliando o desmame precoce segregado medicado verificaram que apesar do melhor desempenho e condição sanitária dos animais, em longo prazo, houve maior ocorrência de surtos de septicemia por Streptococcus suis e Haemophilus parasuis. Estes surtos poderiam ocorrer como resultado da ausência de colonização por estes agentes enquanto os leitões ainda possuíam imunidade passive (TORREMORELL et al., 1999). Além disso, o antimicrobiano também poderia contribuir no distúrbio da comunidade microbiana inata, permitindo um ambiente adequado para o crescimento excessivo de patógenos associado à produção de suas toxinas. Segundo Niewold (2007) tem sido reconsiderado durante a última década, os mecanismos de ação dos antimicrobianos no intestino, contudo, pouco se conhece a respeito do impacto da administração profilática de antimicrobianos, em leitões recémnascidos sobre a saúde intestinal e os reflexos no desempenho em fases subsequentes. Diante do exposto, o objetivo do estudo foi avaliar o uso profilático do ceftiofur, administrado no primeiro dia de vida sobre o desempenho de leitões recém-nascidos e a frequência de dias por escore fecal durante o aleitamento.
Material e Métodos
Logo após o nascimento, todos os leitões receberam os cuidados iniciais incluindo a desobstrução das vias aéreas, corte e desinfecção do umbigo e mamada do colostro. No primeiro dia de vida as leitegadas foram homogeneizadas e divididas em 2 tratamentos: o ceftiofur (CEF, dose de cinco mg/kg de peso) e o controle (CTR, solução fisiológica tamponada), ambos administrados pela via intramuscular. Durante o período experimental, tanto os leitões como as fêmeas não foram tradados com antimicrobianos. Foi averiguado o peso no 1°, 7°, 14° e 21° dia de idade e o ganho de peso diário nos intervalos (1-7, 7-14 e 14-21). O escore fecal foi classificado em: um (fezes sólidas), dois (fezes pastosas) e três (fezes líquidas) e avaliado diariamente, considerando-se o maior escore por cela de parição O delineamento foi em blocos e os dados foram analisados usando o PROC MIXED (SAS, 2002). Os resultados foram apresentados como média e desvio-padrão e o nível de significância considerado foi de 5%.
Resultados e Discussão
Em relação ao peso dos leitões verificou-se interação (p<0,05) entre tratamento e tempo, sendo observado aos 14 e 21 dias de idade, peso superior para os leitões que receberam o tratamento ceftiofur comparado ao controle, 4,54 kg vs. 4,15 kg e 6,42 kg vs. 5,87 kg, respectivamente (Figura 1). Já no ganho de peso a interação (p<0,05) foi observada apenas no period entre sete a 14 dias de idade, sendo evidenciado maior ganho para os leitões tratados com ceftiofur em relação ao controle, 263,42 g/dia vs. 217,50 g/dia, respectivamente (Figura 2).
Na característica frequência de dias com escore fecal normal, pastoso ou líquido não foi observada interação entre tratamento e tempo, assim como não houve efeito dos fatores em separado nos leitões lactentes (Tabela 1). Foi considerada como fezes alteradas a associação dos escores pastoso e líquido, sendo observada a porcentagem de 3,80 e 10,71%, nos animais do tratamento ceftiofur e 289 controle, respectivamente, diferença (p>0,05) essa equivalente a quase o triplo dos dias com fezes alteradas.
Tabela 1 - Frequência (%) de dias com escore fecal normal, pastoso e líquido nos leitões durante o aleitamento.
T*T – Interação entre Tratamento e Tempo
Há uma limitada literatura referente aos efeitos do uso profilático de antimicrobianos em leitões recém-nascidos e os reflexos dessa utilização na comunidade microbiana e no desempenho subsequente. O melhor desempenho evidenciado tanto pelo peso como pelo ganho de peso nos animas tratados com ceftiofur sugerem que o antimicrobiano foi capaz de reduzir infecções entéricas e talvez minimizar a ocorrência de agentes patogênicos que se aderem à mucosa intestinal. Estes resultados corroboram com os achados de Bosi et al. (2011) que verificaram que os antimicrobianos podem afetar de diferentes maneiras a composição da microbiota intestinal comensal e podem, eventualmente, ter um efeito como promotor de crescimento em leitões desmamados. Associado a isso, também foi verificado nos animais deste tratamento, a menor frequência de dias com fezes alteradas devido à baixa pressão de infecção por se tratar de uma granja experimental, bem como pela própria ação do ceftiofur, colaborando para a redução nos agentes patogênicos.
Conclusões
O uso profilático de ceftiofur melhorou o desempenho de leitões neonatos sem influenciar a frequência de dias com fezes normais.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer a bolsa PNPD/CAPES, Mariana A. Torres, Diego F. Leal, Gisele M. Ravagnani, Victor H. B. Rigo, André P. Poor, Anoã M. Vanelli, Beatriz M. Parra, Fernando T. Miyazato, André F. C. Andrade.
Referências Bibliográficas
1. BOSI, P.; MERIALDI, G.; SCANDURRA, S.; et al., 2011. Feed supplemented with 3 different antibiotics improved food intake and decreased the activation of the humoral immune response in healthy weaned pigs but had differing effects on intestinal microbiota. Journal of Animal Science, v. 89, p. 4043-4053.
2. MORES, N., 1993. Fatores que limitam a produção de leitões na maternidade. Suinocultura Dinâmica, v.2, n.9, p.1-6.
3. NIEWOLD, T. A., 2007. The Nonantibiotic Anti-Inflammatory Effect of Antimicrobial Growth Promoters, the Real Mode of Action? A Hypothesis. Poultry Science, v. 86, p. 605–609.
4. SAS. STATISTICAL ANALISYS SYSTEM. SAS: software. Versão 9.3. Cary: SAS Institute, 2002.
5. SCHWARZ, E.; SAALMÜLLER, A.; GERNER, W.; et al., 2005. Intraepithelial but not lamina propria lymphocytes in the porcine gut are affected by dexamethasone treatment. Veterinary Immunology and Immunopathology, v. 105, p. 125-139.
6. TORREMORELL, M.; PIJOAN, C.; DEE, S. Experimental exposure of young pigs using a pathogenic strain of Streptococcus suis Serotype 2 and evaluation of this method for disease prevention. Canadian Journal of Veterinary Research, v. 63, n. 4, p. 269-275, 1999.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.