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INFLUÊNCIA DO NÍVEL DE FIBRA NO TRANSITO GASTROINTESTINAL DE LEITÕES RECÉM-DESMAMADOS.

Publicado: 20 de abril de 2016
Por: RAFAEL C. NEPOMUCENO1*, PEDRO H. WATANABE1, EDNARDO R. FREITAS1, EMANUELA L. OLIVEIRA1, RAYSSA S. CANDIDO1 1Departamento de Zootecnia - DZ/CCA/UFC – Fortaleza/CE - ; 2 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ/UNESP - Jaboticabal/SP
Sumário

Utilizados 30 leitões, machos castrados, desmamados aos 21 dias de idade e peso médio de 7,48 kg, com objetivo de avaliar o tempo de trânsito gastrointestinal da digesta de leitões alimentados com níveis de fibra em detergente neutro (FDN). Os animais foram distribuídos seguindo um delineamento em blocos casualizados de cinco tratamentos, considerando os níveis de FDN de 8,5; 10,5; 12,5; 14,5 e 16,5%, com seis repetições por tratamento e um animal por unidade experimental. Foi utilizado o método de Zhang et al. (2001) para determinação do tempo de trânsito gastrointestinal da digesta. Foi verificado  efeitquadrático na excreção de cinza ácida insolúvel em função dos níveis de FDN às 15; 18; 21; e 27 horas após fornecimento da ração com redução do tempo de trânsito da digesta nos níveis abaixo de 10,2 ou acima de 13,5% de FDN. Conclui-se que o tempo de trânsito da digesta, em leitões recém-desmamados, é regulado pelo nível de FDN na ração, de modo que níveis abaixo de 10,2 e superiores a 13,5% reduzem o tempo de trânsito da digesta pelo trato digestório.

 

Palavras-chave: fibra dietética; suínos; taxa de passagem.

 

Introdução
A quantidade e a natureza dos carboidratos fibrosos incorporada nas dietas de suínos podem influenciar o tempo que os alimentos levam para percorrer o trato gastrointestinal. Em geral, a fibra solúvel está associado ao incremento na viscosidade da digesta e redução do pH estomacal, que juntos tendem a retardar a passagem da digesta para o duodeno, bem como o trânsito no intestino delgado (DROCHNER et al., 2004). Além disso, por se tratar de um material potencialmente fermentável a fibra solúvel tende a ficar retida por maior tempo no ceco. Dessa forma, a maior ingestão dessa fração da fibra afeta o consumo voluntario, proporcionando maior sensação de saciedade do animal, porém reduz o aproveitamento dos nutrientes, uma vez que o aumento da viscosidade dificultar a ação de enzimas e sais biliares no bolo alimentar, reduzindo a digestão e absorção dos nutrientes (WENK 2001). Por outro lado da fibra insolúvel, caracterizadas por ser pouco viscosa e fermentável, quando ingerida na dieta tende a permanecer intactas ao longo do trato gastrointestinal, exercendo ação mecânica sobre as paredes do trato estimulando o peristaltismo que promove maior motilidade da digesta, acelerando a taxa de passagem (WARNER 1981). Embora vários estudos apontem os efeitos específicos das frações solúveis e insolúveis da fibra, as pesquisas relacionadas ao nível de fibra na dieta especificamente para leitões recém-desmamados são escassas. Nesse sentido o objetivo do presente trabalho foi estudar o tempo de trânsito gastrointestinal da digesta de leitões alimentados com níveis de fibra em detergente neutro.
 
Material e Métodos
Foram utilizados 30 leitões, machos castrados, desmamados com 21 dias de idade e peso médio de 7,48 ± 0,46 kg, durante período de 21 a 42 dias de idade. Os animais foram distribuídos em um galpão de alvenaria divido baias equipadas com comedouro semiautomático, bebedouro tipo chupeta e cortinas laterais, seguindo um delineamento em blocos casualizados de cinco tratamentos, considerando os níveis de fibra em detergente neutro (FDN) de 8,5; 10,5; 12,5; 14,5 e 16,5% com seis repetições por tratamento e um animal por unidade experimental, sendo os pesos iniciais dos animais o critério utilizado para a formação dos blocos. As rações experimentais utilizadas foram formuladas para serem isocalóricas e isonutritivas, considerando-se as exigências nutricionais para leitões de 21 a 32 e 33 a 42 dias de idade, de acordo com Rostagno et al. (2011). Durante todo o período experimental as rações e a água foram fornecidas aos animais à vontade. Para determinação do tempo de trânsito gastrointestinal da digesta, foi utilizado o método descrito por Zhang et al. (2001). Assim, no 32º dia de idade foram ofertadas aos leitões, suas respectivas rações experimentais, marcadas com 0,5% de Celite® 545, sendo as quantidades calculadas com base no consumo e peso metabólico dos animais. Logo após o período de consumo, as sobras de ração foram coletadas e os comedouros abastecidos com as rações experimentais não marcadas. Após 15 horas do fornecimento das rações marcadas as fezes foram coletadas em intervalos de 3 horas durante um período 12 horas, sendo as amostras mantidas congeladas. Posteriormente as fezes foram descongeladas, submetidas à pré-secagem, em estufa com circulação de ar forçada a 55º C durante 72 horas, moídas, digeridas em ácido clorídrico 4N e queimada em mufla conforme metodologia de Van Keulen & Young (1977). A partir destes dados foram determinadas as concentrações de CAI excretadas pelos leitões nos diferentes tempos de coletas. Os dados foram submetidos à análise de regressão, onde os graus de liberdade, referentes aos níveis de FDN nas rações, foram desdobrados em polinômios, para estabelecer a curva que melhor descrevesse o comportamento dos dados.
 
Resultados e Discussão
Foi verificado efeito quadrático na excreção de CAI às 15; 18; 21; e 27 horas após fornecimento da ração em função dos níveis de fibra em detergente neutro (FDN) testados (Tabela 1, Figura 1). Inicialmente, o aumento da FDN na ração promoveu redução na excreção de CAI nas fezes coletadas às 15; 18; 21; e 27 horas após o fornecimento das rações, obtendo-se os menores valores para os níveis de 10,2; 11,0; 11,1 e 13,5% de FDN, respectivamente. Por sua vez, a inclusão de FDN acima desses níveis resultou em maior excreção da CAI.
 
Tabela 1 - Concentração de cinza ácida insolúvel nas fezes de leitões alimentados com níveis fibra em detergente neutro em função do tempo de retenção do alimento
INFLUÊNCIA DO NÍVEL DE FIBRA NO TRANSITO GASTROINTESTINAL DE LEITÕES RECÉM-DESMAMADOS. - Image 1NS – não significativo
 
Considerando que a menor excreção de CAI reflete o maior tempo de retenção do alimento no trato gastrointestinal, constatou-se que níveis FDN abaixo ou acima da faixa de 10,2 a 13,5% resultam na redução do tempo de trânsito da digesta, indicando que a fibra exerce papel regulador da motilidade da digesta no trato gastrointestinal
 
INFLUÊNCIA DO NÍVEL DE FIBRA NO TRANSITO GASTROINTESTINAL DE LEITÕES RECÉM-DESMAMADOS. - Image 2
Figura 1 - Curvas de excreção da cinza ácida insolúvel de leitões alimentados com dietas contendo diferentes níveis de fibra em detergente neutro (FDN).
 
Esse efeito pode estar condicionado a maior inclusão de farelo de trigo, fonte de fibra insolúvel, em substituição aos subprodutos da soja, fonte de fibra solúvel, a mediada que houve aumento do nível de FDN, uma vez que o teor elevado desta fração fibrosa pode exercer ação mecânica no trato gastrointestinal, estimulando o peristaltismo e acelerando o trânsito da digesta, (CUKIER et al., 2005).
 
Conclusões
Conclui-se que o tempo de trânsito da digesta, em leitões desmamados, é regulado pelo nível de FDN na ração, de modo que níveis abaixo de 10,2 e superiores a 13,5% reduzem o tempo de trânsito da digesta pelo trato digestório.
 
Referências Bibliográficas
1. CUKIER, C.; MAGNONI, D.; ALVAREZ, T., 2005 Nutrição baseada na fisiologia dos órgãos e sistemas. São Paulo: Sarvier, 332p.
2. DROCHNER, W.; KERLER, A.; ZACHARIAS, B.; 2004. Pectin in pig nutrition, a comparative review. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition. (88):367-380.
3. FREIRE, J. P. B.; GUERREIRO, A. J. G.; CUNHA, L. F.; et al., 2000. Effect of dietary fibre source on total tract digestibility, caecum volatile fatty acids and digestive transit time in the weaned piglet. Animal Feed Science and Technology. (87):71–83.
4. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.; et al., 2011. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 252p.
5. VAN KEULEN, J.; YOUNG, BA.; 1977. Evaluation of Acid insoluble ash as a natural markers inruminant digestibility studies. Journal Animal Science, (44):82-287.
6. WARNER, A. C. I., 1981. Rate of passage of digesta through the gut of mammals and birds. Nutrition Abstracts & Reviews. (Series „B?), Farnham Royal. (51)789-975.
7. WENK, C.; 2001. The role of dietary fibre in the digestive physiology of the pig. Animal Feed Science and Technology. (90);21-33.
8. WILFART, A.; MONTAGNE, L.; SIMMINS, H.et al., 2007. Effect of fibre content in the diet on the mean retention time in different segments of the digestive tract in growing pigs. Livestock Science, (109):27-29.
9. ZHANG, L.; LI D.; QIAO, S.; et al., 2001. The effect of soybean galactooligosaccharides on nutrient and energy digestibility and digesta transit time in weanling piglets. Australasian Journal of Animal Sciences, (14):1598-1604.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Rafael Carlos Nepomuceno
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