Introdução
A quantidade e a natureza dos carboidratos fibrosos incorporada nas dietas de suínos podem influenciar o tempo que os alimentos levam para percorrer o trato gastrointestinal. Em geral, a fibra solúvel está associado ao incremento na viscosidade da digesta e redução do pH estomacal, que juntos tendem a retardar a passagem da digesta para o duodeno, bem como o trânsito no intestino delgado (DROCHNER et al., 2004). Além disso, por se tratar de um material potencialmente fermentável a fibra solúvel tende a ficar retida por maior tempo no ceco. Dessa forma, a maior ingestão dessa fração da fibra afeta o consumo voluntario, proporcionando maior sensação de saciedade do animal, porém reduz o aproveitamento dos nutrientes, uma vez que o aumento da viscosidade dificultar a ação de enzimas e sais biliares no bolo alimentar, reduzindo a digestão e absorção dos nutrientes (WENK 2001). Por outro lado da fibra insolúvel, caracterizadas por ser pouco viscosa e fermentável, quando ingerida na dieta tende a permanecer intactas ao longo do trato gastrointestinal, exercendo ação mecânica sobre as paredes do trato estimulando o peristaltismo que promove maior motilidade da digesta, acelerando a taxa de passagem (WARNER 1981). Embora vários estudos apontem os efeitos específicos das frações solúveis e insolúveis da fibra, as pesquisas relacionadas ao nível de fibra na dieta especificamente para leitões recém-desmamados são escassas. Nesse sentido o objetivo do presente trabalho foi estudar o tempo de trânsito gastrointestinal da digesta de leitões alimentados com níveis de fibra em detergente neutro.
Material e Métodos
Foram utilizados 30 leitões, machos castrados, desmamados com 21 dias de idade e peso médio de 7,48 ± 0,46 kg, durante período de 21 a 42 dias de idade. Os animais foram distribuídos em um galpão de alvenaria divido baias equipadas com comedouro semiautomático, bebedouro tipo chupeta e cortinas laterais, seguindo um delineamento em blocos casualizados de cinco tratamentos, considerando os níveis de fibra em detergente neutro (FDN) de 8,5; 10,5; 12,5; 14,5 e 16,5% com seis repetições por tratamento e um animal por unidade experimental, sendo os pesos iniciais dos animais o critério utilizado para a formação dos blocos. As rações experimentais utilizadas foram formuladas para serem isocalóricas e isonutritivas, considerando-se as exigências nutricionais para leitões de 21 a 32 e 33 a 42 dias de idade, de acordo com Rostagno et al. (2011). Durante todo o período experimental as rações e a água foram fornecidas aos animais à vontade. Para determinação do tempo de trânsito gastrointestinal da digesta, foi utilizado o método descrito por Zhang et al. (2001). Assim, no 32º dia de idade foram ofertadas aos leitões, suas respectivas rações experimentais, marcadas com 0,5% de Celite® 545, sendo as quantidades calculadas com base no consumo e peso metabólico dos animais. Logo após o período de consumo, as sobras de ração foram coletadas e os comedouros abastecidos com as rações experimentais não marcadas. Após 15 horas do fornecimento das rações marcadas as fezes foram coletadas em intervalos de 3 horas durante um período 12 horas, sendo as amostras mantidas congeladas. Posteriormente as fezes foram descongeladas, submetidas à pré-secagem, em estufa com circulação de ar forçada a 55º C durante 72 horas, moídas, digeridas em ácido clorídrico 4N e queimada em mufla conforme metodologia de Van Keulen & Young (1977). A partir destes dados foram determinadas as concentrações de CAI excretadas pelos leitões nos diferentes tempos de coletas. Os dados foram submetidos à análise de regressão, onde os graus de liberdade, referentes aos níveis de FDN nas rações, foram desdobrados em polinômios, para estabelecer a curva que melhor descrevesse o comportamento dos dados.
Resultados e Discussão
Foi verificado efeito quadrático na excreção de CAI às 15; 18; 21; e 27 horas após fornecimento da ração em função dos níveis de fibra em detergente neutro (FDN) testados (Tabela 1, Figura 1). Inicialmente, o aumento da FDN na ração promoveu redução na excreção de CAI nas fezes coletadas às 15; 18; 21; e 27 horas após o fornecimento das rações, obtendo-se os menores valores para os níveis de 10,2; 11,0; 11,1 e 13,5% de FDN, respectivamente. Por sua vez, a inclusão de FDN acima desses níveis resultou em maior excreção da CAI.
Tabela 1 - Concentração de cinza ácida insolúvel nas fezes de leitões alimentados com níveis fibra em detergente neutro em função do tempo de retenção do alimento
NS – não significativo
Considerando que a menor excreção de CAI reflete o maior tempo de retenção do alimento no trato gastrointestinal, constatou-se que níveis FDN abaixo ou acima da faixa de 10,2 a 13,5% resultam na redução do tempo de trânsito da digesta, indicando que a fibra exerce papel regulador da motilidade da digesta no trato gastrointestinal
Figura 1 - Curvas de excreção da cinza ácida insolúvel de leitões alimentados com dietas contendo diferentes níveis de fibra em detergente neutro (FDN).
Esse efeito pode estar condicionado a maior inclusão de farelo de trigo, fonte de fibra insolúvel, em substituição aos subprodutos da soja, fonte de fibra solúvel, a mediada que houve aumento do nível de FDN, uma vez que o teor elevado desta fração fibrosa pode exercer ação mecânica no trato gastrointestinal, estimulando o peristaltismo e acelerando o trânsito da digesta, (CUKIER et al., 2005).
Conclusões
Conclui-se que o tempo de trânsito da digesta, em leitões desmamados, é regulado pelo nível de FDN na ração, de modo que níveis abaixo de 10,2 e superiores a 13,5% reduzem o tempo de trânsito da digesta pelo trato digestório.
Referências Bibliográficas
1. CUKIER, C.; MAGNONI, D.; ALVAREZ, T., 2005 Nutrição baseada na fisiologia dos órgãos e sistemas. São Paulo: Sarvier, 332p.
2. DROCHNER, W.; KERLER, A.; ZACHARIAS, B.; 2004. Pectin in pig nutrition, a comparative review. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition. (88):367-380.
3. FREIRE, J. P. B.; GUERREIRO, A. J. G.; CUNHA, L. F.; et al., 2000. Effect of dietary fibre source on total tract digestibility, caecum volatile fatty acids and digestive transit time in the weaned piglet. Animal Feed Science and Technology. (87):71–83.
4. ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; DONZELE, J.L.; et al., 2011. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 252p.
5. VAN KEULEN, J.; YOUNG, BA.; 1977. Evaluation of Acid insoluble ash as a natural markers inruminant digestibility studies. Journal Animal Science, (44):82-287.
6. WARNER, A. C. I., 1981. Rate of passage of digesta through the gut of mammals and birds. Nutrition Abstracts & Reviews. (Series „B?), Farnham Royal. (51)789-975.
7. WENK, C.; 2001. The role of dietary fibre in the digestive physiology of the pig. Animal Feed Science and Technology. (90);21-33.
8. WILFART, A.; MONTAGNE, L.; SIMMINS, H.et al., 2007. Effect of fibre content in the diet on the mean retention time in different segments of the digestive tract in growing pigs. Livestock Science, (109):27-29.
9. ZHANG, L.; LI D.; QIAO, S.; et al., 2001. The effect of soybean galactooligosaccharides on nutrient and energy digestibility and digesta transit time in weanling piglets. Australasian Journal of Animal Sciences, (14):1598-1604.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.