Introdução
Especial atenção tem sido destinada à alimentação de leitões na fase pós-desmame, por tratar-se de um dos períodos mais críticos no sistema de produção de suínos (CORASSA et al., 2007), reunindo diversos fatores que podem prejudicar o desenvolvimento dos leitões e causar prejuízo econômico ao produtor. O emprego de ingredientes fibrosos nas dietas pós desmame de leitões pode constituir-se em interessante estratégia para melhorar a saúde intestinal destes animais, pela possível modulação da microbiota intestinal em favor do hospedeiro. A fração fibrosa dos ingredientes vegetais não é digerida enzimaticamente por suínos, tornando-se disponível à fermentação microbiana no intestino grosso (MOLIST et al., 2009), gerando substratos benéficos aos animais, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). O farelo de abacaxi é um ingrediente fibroso, derivado da prensagem do fruto para a obtenção do suco, sendo considerado rejeito pela indústria. Consiste de 15 a 25% do peso do fruto, sendo composto por talos, coroas, cascas e cilindros. Pela grande disponibilidade e variedade de subprodutos fibrosos que há no Brasil, e pela necessidade de alimentos alternativos e que minimizem os problemas decorrentes do desmame, objetivou-se com este trabalho avaliar a incluso do farelo de abacaxi, em teores crescentes, sobre o desempenho zootécnico e ocorrência de diarreia de leitões desmamados.
Material e Métodos
Foram utilizados 56 leitões recém-desmamados, machos e fêmeas, com 21 dias de idade e peso médio de 5,05 ± 0,89 kg, obtidos de granja comercial, onde foram previamente vacinados contra circovírus. Os leitões foram alojados dois a dois, um macho e uma fêmea, em gaiolas metálicas suspensas a 80 cm do piso e localizadas em duas salas de creche, com pé direito de 3 metros, fechadas por todos os lados com paredes e janelas e dotadas de climatizadores que mantiveram a temperatura entre 25 e 28°C, zona de conforto térmico de leitões. Os bebedouros utilizados foram do tipo chupeta e os comedouros do tipo semiautomático. Foram empregadas quatro dietas experimentais, sendo que a dieta controle (CON) foi composta por milho, farelo de soja, produtos lácteos, plasma sanguíneo, suplementadas com minerais, vitaminas e aminoácidos. Nas demais dietas incluíram-se 3,4 %, 6,8 % e 10,2 % de farelo de abacaxi, sendo tais dietas denominadas A34, A68 e A102. O programa de arraçoamento foi dividido em três fases: I, dos 21 aos 35 dias de vida dos animais; II, dos 36 aos 49 dias; III, dos 50 aos 63 dias. Os animais receberam ração e água à vontade durante todo o ensaio, sendo que efetuou-se pesagem da ração fornecida e das sobras, que foram recolhidas diariamente, para quantificação do consumo diário de ração (CDR). Os animais foram pesados aos 21, 35 e 63 dias de idade, para o cálculo do ganho de peso diário (GPD) e com os valores de CDR e GDP calculou-se a conversão alimentar (CA), obtida pela razão entre o CDR e o GDP dos animais. Nos primeiros 14 dias do experimento, às 8h00 e às 17h00, foram verificadas por análise visual, os aspectos das fezes dos animais de acordo com os seguintes escores: 1 – fezes normais, 2 – fezes pastosas e 3 – fezes aquosas. Os escores 1 e 2 foram considerados fezes não diarreicas e o 3 diarreicas. Estas identificações foram realizadas sempre pelo mesmo observador. Do total dessas observações, foram feitas as porcentagens dos scores 3, obtendo-se, assim, a porcentagem de diarreia. Para as análises estatísticas das características avaliadas utilizou-se o pacote computacional SAS.
Resultados e Discussão
Para todas as variáveis de desempenho e para as de ocorrência de diarreia no período I, para o ganho de peso diário e conversão alimentar no período II e para consumo de ração diário e conversão alimentar no período III não foram observadas diferenças (P>0,05) entre os animais submetidos às diferentes dietas experimentais (Tabela 1). O consumo de ração diário no período II aumentou (P<0,05) linearmente em função do aumento da inclusão de farelo de abacaxi nas dietas dos animais.
Tabela 1 - Desempenho e ocorrência de diarreia de leitões alimentados com dietas com teores crescentes de farelo de abacaxi nos períodos I (21 - 35 dias de idade), II (21 - 49 dias de idade) e III (21 - 63 dias de idade).
*Diferente em relação ao controle pelo teste de Dunnett (5%).
CON- Dieta controle; A34 - 3,4% de farelo de abacaxi; A68 - 6,8% de farelo de abacaxi; A102 - 10,2% de farelo de abacaxi.
Ao se comparar os desempenhos dos leitões submetidos às dietas com farelo de abacaxi separadamente com os dos animais alimentados com a dieta controle, verificou-se que os consumos de ração dos animais A34 e dos A102 foram superiores (P<0,05) aos do controle no período II e que o ganho de peso dos animais A34 foi 40 % maior (P<0.05) do que o dos animais controle no período III. No período total observou-se efeito quadrático (P<0,05) sobre o ganho de peso diário dos suínos, sendo o nível ótimo estimado de inclusão de 7,43 % de farelo de abacaxi.
Conclusões
A inclusão do farelo de abacaxi em dietas para leitões desmamados é viável, sobretudo ao nível de 7,4 %, por proporcionar melhor ganho de peso aos animais em relação aos suínos que não consumiram farelo de abacaxi, sem afetar a ocorrência de diarreia.
Agradecimentos
À FAPESP, pela concessão da bolsa de mestrado (Processo nº 2013/15186-2), ao primeiro autor.
Referências Bibliográficas
1. CORASSA, A.; LOPES, D. C.; PENA, S. M.; FREITAS, L. S.; PENA, G. M. Hidrolisado de mucosa intestinal de suínos em substituição ao plasma sanguíneo em dietas para leitões de 21 a 49 dias. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 36, n. 6, p. 2029-2036, 2007.
2. MOLIST, F.; GOMES DE SEGURA, A.; GASA, A.; HERMES, R. G.; MAMZANILLA, E. G.; ANGUITA, M.; PÉREZ, J. F. Effects of the insoluble and soluble dietary fiber on the physicochemical properties of digesta and microbial activity in early weaned piglets. Animal Feed Science and Technology, Amsterdam, v. 149, n. 1, p. 346-353, 2009
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.