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Nutricionais Diarréria Pós-desmame

ASPECTOS IMUNOLÓGICOS E NUTRICIONAIS DA DIARRÉIA PÓS-DESMAME

Publicado: 7 de novembro de 2011
Por: Luiz W. O. Souza
INTRODUÇÃO
A questão do desmame e seus efeitos na saúde do leitão é bastante antiga e discutida. Contudo, após tanto tempo, o problema ainda é de grande preocupação na sanidade dos suínos durante as primeiras semanas de vida. Estudos indicam que a diarréia pós-desmame é uma síndrome multifatorial, envolvendo fatores de manejo (movimentação, mudança de alojamento), comportamentais ou psicológicos (ausência materna, disputas entre leitões), ambiente (conforto térmico, pressão de patógenos), nutrição (alteração na dieta) e imunidade (redução da resistência por estresse). Isto dificulta ao profissional estabelecer uma causa primária para que se realize um combate mais eficaz. Assim, dentre as possíveis visões do problema, podem-se focar os aspectos imunológicos e nutricionais, os quais, realmente, estão intimamente ligados. O intuito deste artigo é apresentar uma rápida visão de alguns eventos imunológicos da diarréia pós-desmame, relacionando-os com a nutrição.
RESPOSTA IMUNE INTESTINAL
O desmame precoce sempre foi um evento estressante na vida do suíno por causa das diversas alterações no seu ambiente, incluindo a mudança abrupta de uma dieta composta basicamente pelo leite da porca para uma dieta seca, sólida contendo milho e soja, além de outros ingredientes específicos. Miller et al. (1984a) observou que as mudanças abruptas no tipo de dieta imposta aos leitões por ocasião do desmame podem resultar em uma resposta imune anormal. Antígenos presentes na soja, particularmente a glicinina e a beta-conglicinina, são responsáveis por uma reação de hipersensibilidade que resulta na produção indesejável de anticorpos contra a soja antes que o sistema imune alcance a tolerância imunológica (Miller et al., 1994b). Alterações enteropáticas podem ocorrer mesmo na ausência do envolvimento de agentes microbianos. Contudo, devido ao fato da proliferação da Eschericia coli ser comumente observada após tais alterações, foi sugerido que a bactéria pode ser mais um oportunista do que um agente primário (Miller et al., 1994c). De forma geral, os principais agentes envolvidos na diarréia pós-desmame são E. coli, rotavírus, coronavírus, Isospora suis, Treponema hyodysenteriae, Trichuris suis (Glock, 1981), Cryptosporidium sp (Links, 1982) e suas associações. Entretanto, acredita-se que os agentes mais frequentemente envolvidos são a E. coli e o rotavírus (Barcellos & Stepan, 1991).
A resposta de hipersensibilidade intestinal aos antígenos da soja pode ter um efeito cascata sobre o intestino delgado imaturo do leitão recém-desmamado, afetando o desempenho do crescimento de maneira variável dentro das primeiras semanas subsequentes ao desmame. Assim, o fornecimento de um novo antígeno dietético (e.g., fatores antinutricionais da soja) pode produzir distúrbios transitórios relacionados com uma resposta inflamatória. Este processo inflamatório resulta em parte da ação da citocina “Tumor Necrosis Factor alpha” (TNF-α), liberado a partir de células T proteína-específicas na parede intestinal, causando redução das “tight junctions”, distúrbios e disfunção da barreira intestinal, e translocação bacteriana (e.g., E. coli) (Heyman et al., 1994; Robinson et al., 2001; Schulzke et al., 2009). Contudo, relatos na literatura científica indicam que o TNF-α sérico está associado à diarréia patógeno-induzida, correlacionando-se com a exposição ao patógeno, mas não com os sintomas (Robinson et al., 2001; Beck et al., 2008). Eosinófilos também desempenham um papel importante na fisiopatologia das desordens funcionais gastrointestinais, já que evidências apontam para uma número aumentado de eosinófilos duodenais em resposta à tais desordens. O gatilho para esta reação de hipersensibilidade pode ser um tanto um patógeno quanto um alergeno dietético na mucosa intestinal, convocando eosinófilos e outros componentes do sistema imune no intuito de combater o antígeno (Walker and Talley, 2008).
ASPECTOS NUTRICIONAIS
Leitões desmamados sofrem comumente de alterações na atividade enzimática na borda em escova do epitélio intestinal (Hedemann et al., 2003; Marion et al., 2005), atrofia das vilosidades (Hedemann et al., 2003; Castillo et al., 2008), alterações de permeabilidade na parede intestinal (Lalles et al., 2004) e alterações qualitativas e quantitativas na microbiota (Spreeuwenberg et al., 2001). A redução tanto da capacidade digestiva quanto absortiva podem levar uma síndrome de má-absorção imediatamente após o desmame (Miller et al., 1984a).
Redução na ingestão de alimentos é, com frequência, o principal problema que pode levar à redução no ganho de peso ou mesmo perda de peso por vários dias após o desmame (Barnett et al., 1989), com consequente desempenho insatisfatório dos animais. Plasma suíno desidratado tem sido utilizado com sucesso quando adicionado às dietas de desmame precoce porque é uma fonte de proteínas de alta qualidade e de anticorpos específicos contra E. coli enterotoxigênica. Como resultado, é efetivo na redução da diarréia pós-desmame e na manutenção do crescimento (Grinstead et al., 2000; Jiang et al., 2000; Van Dijk et al., 2002). Títulos de anticorpos específicos têm sido observados na gema de ovos de galinhas imunizadas com antígenos fimbriais K88/F18 de E. coli (Owusu-Asiedu et al., 2003). Dados de desempenho de leitões alimentados com dietas contendo imunoglobulinas provenientes desta gema mostraram melhoria no ganho de peso médio diário em relação à animais ingerindo dietas convencionais, durante os primeiros 7 dias pós-desmame (Owusu-Asiedu et al., 2002; Owusu-Asiedu et al., 2003). Estes dois ingredientes, independentemente de serem convencionais ou experimentais, sinalizam a importância do sistema imune na patofisiologia da diarréia pós-desmame e indicam a probabilidade de se modular o sistema imunológico intestinal usando como ferramenta a nutrição. Assim, além do plasma desidratado e outros ingredientes, recentes avanços na nutrição de suínos podem contribuir com a sanidade intestinal, como os probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos, mananoligossacarídeos, leveduras e nucleotídeos.
CONCLUSÃO
Além dos aspectos ambientais, sanitários e de manejo, o sistema imunológico intestinal é ponto imprescindível no combate à diarréia pós-desmame, podendo ser trabalhado através da nutrição. A busca por redução redução no processo alérgico aos antígenos da soja e o uso de ingredientes que possam trazer algum benefício à barreira intestinal, além do valor nutricional, deve ser foco de grande atenção no momento da formulação de dietas para leitões.
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Autores:
Luiz Souza
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