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Novos patamares da suinocultura - Pontos chaves para desmamar mais leitões que o número de tetos

Publicado: 31 de julho de 2024
Por: Órgão Oficial da Associação Paulista de Criadores de Suínos - Edição Junho de 2024 Soraia Viana Ferreira (Gerente de Produtos), Geraldo Shukuri (Diretor Técnico)

Introdução do manejo no Brasil

Com a alta produtividade das matrizes, o manejo de mães de leite passou a ser uma opção para o produtor, para a integração e para a indústria, permitindo uma adaptação inteligente e eficaz, aumentando a produtividade e lucratividade de maneira consistente. No entanto, com o incremento constante de nascidos nas gerações subsequentes, iniciou-se um novo desafio: existe um limite para se trabalhar o percentual de mães de leite? O que fazer?
Com este questionamento em mente, surgiu um novo conceito, uma nova forma de se trabalhar e quebrar paradigmas. Um manejo inovador e que vem apresentando resultados surpreendentes: trabalhar a fêmea afim de desmamar um ou mais leitões em relação ao número de tetos viáveis. Esse manejo visa aproveitar todo o potencial genético das matrizes, como hiperprolificidade, habilidade materna e produção de leite, somado à constante evolução, em algumas linhagens, no que diz respeito ao vigor dos nascidos vivos. Desta forma, produzir mais e gerar um custo menor por animal torna-se cada vez mais uma realidade palpável e acessível aos suinocultores. Lembrando que, possuir um aparelho mamário com inúmeros tetos está distante de ser sinônimo de maior produção leiteira, nem tampouco maior número de desmamados.
No ano de 2018, a Dinamarca registrou a impressionante média de 17,2 leitões nascidos vivos e, durante o mesmo período, os relatórios revelaram que cerca de 12 leitões foram desmamados por fêmea nos rebanhos dinamarqueses. Desde então surgiu a dúvida: Estas matrizes seriam capazes de amamentar mais leitões do que o número de tetos?
Empenhados em responder este questionamento, a SEGES Innovation realizou um estudo, no qual as porcas foram divididas em dois grupos, de acordo com o número de tetos: um grupo de fêmeas de 14 e outro de 15 tetos funcionais. Durante a lactação, todas as leitegadas destas fêmeas foram equalizadas em 15 leitões, independentemente do número de tetos funcionais. Os leitões tiveram acesso à ração seca desde a primeira semana de vida, mas nenhum tipo de sucedâneo lácteo foi adicionado. Os leitões foram destinados às fêmeas no primeiro dia após o parto e desmamados aos 21 dias de idade.
Os resultados deste estudo foram surpreendentes. Não houve diferença estatística (p=0,61) no número de leitões desmamados ou no peso da leitegada ao desmame (p=0,31), quando foram adicionados 15 leitões “ao pé” nas matrizes que possuíam 14 ou 15 tetos viáveis; com a média de peso ao desmame por leitão de 6,5 kg para os dois grupos testados. Sabe-se que o ganho de peso diário da leitegada é influenciado diretamente pela produção de leite da matriz.
A primeira experiência com este conceito no Brasil, portanto, se deu com o povoamento de uma nova granja núcleo (Granja Tívoli), povoada com 100% do rebanho importado, cujo número de leitões ao primeiro parto atingiu marcas superiores a 19 nascidos vivos. E os resultados também foram surpreendentes, 14,8 desmamados “ao pé”.
NOVOS PATAMARES DA SUINOCULTURA – PONTOS CHAVES PARA DESMAMAR MAIS LEITÕES QUE O NÚMERO DE TETOS
Diante destes novos patamares de produtividade, uma série de estudos foram realizados para gerar recomendações assertivas que pudessem preparar as matrizes para de fato, desmamarem mais leitões, iniciando com a preparação da leitoa, o ajuste da condição e composição corporal, da curva de arraçoamento na fase de gestação e no dia do parto e de manejo durante a lactação.

A preparação da leitoa

O desempenho durante o crescimento da leitoa será fundamental para a vida reprodutiva da futura matriz. Neste sentido, um dos pontos de maior relevância é o equilíbrio nutricional, voltado para uma adequada formação corporal do animal. O crescimento moderado, com menor formação de tecido muscular, proporcionará um percentual de tecido adiposo adequado às demandas para a liberação de hormônios reprodutivos, no momento ideal, permitindo que a fêmea inicie sua vida reprodutiva com o melhor do seu potencial. Desta forma, a alimentação à vontade, quando ajustada de forma precisa, em dietas com teor adequado de proteína bruta e lisina, podem ser mais eficientes do que a estratégia de alimentação restrita.

Escore corporal visual (ECV)

Normalmente, classifica-se o ECV das fêmeas suínas de 1 – 5, no intuito de realizar um nivelamento mais refinado. Fato é que no dia a dia, esta que é por si só uma avaliação subjetiva, se torna ainda menos precisa ao ser dividida em um maior número de categorias. Desta forma, ao se adotar 3 padrões de ECV (M – magra, I – ideal e G – gorda), cria-se uma tendência de menor margem de erro na classificação, desde que os critérios sejam adequadamente nivelados (Figura 1). Mesmo com a utilização de ferramentas, como calipers e ultrassom (ET), por exemplo, entende-se na prática, que a avaliação geral do animal, visual, é imprescindível para o melhor direcionamento dos programas alimentares e ajustes de ECV.
Vale a pena ressaltar que as novas gerações de matrizes com capacidade de produzir elevados nascidos vivos e igualmente alto número de desmamados, necessitarão de parâmetros mínimos de ET na avaliação, espacialmente da leitoa.
Figura 1. Escore corporal visual (ECV)
Figura 1. Escore corporal visual (ECV)

Fase de gestação

Muitas discussões têm sido realizadas ao longo dos últimos anos a respeito dos planos de nutrição para fêmeas suínas, principalmente com o objetivo de aumentar o peso ao nascimento. Entretanto, o plano de nutrição durante a gestação também deve fornecer quantidades adequadas de nutrientes para a mantença, ganho de peso materno, produção de colostro e leite e obviamente, para o crescimento fetal e placentário.
Um estudo realizado no Brasil ressaltou a importância da utilização da estratégia nutricional conhecida como bump feeding, caracterizado como aumento do fornecimento da quantidade de ração no terço final da gestação. Ferreira et al. (2021) demonstraram que o genótipo hiperprolífico foi beneficiado com o aporte extra de nutrientes, resultando em maior número de leitões nascidos totais e leitões nascidos vivos, sem redução do peso médio dos leitões ao nascimento por duas ordens de parto consecutivas. Ademais, as fêmeas apresentaram maiores concentrações de glicose sanguínea, que é o principal nutriente para nutrição fetal. Isso significa que, o aporte extra de ração promoveu o aumento do número de nascidos, sem prejudicar o peso ao nascimento, devido a maior disponibilização de nutrientes aos fetos. As fêmeas que consumiram o plano bump feeding também permaneceram por mais tempo no plantel, ou seja, apresentaram maiores taxas de retenção ao longo de três ordens de parto.
Com este tipo de manejo nutricional, objetiva-se também proporcionar à fêmea nutrientes para uma boa formação de aparelho mamário pré-parto com objetivo de melhorar a produção de colostro e leite após o parto.

Arraçoamento no dia do parto

O dia do parto é particularmente exigente para a fêmea suína em termos de gastos energéticos. 
As necessidades fisiológicas das matrizes gestantes mudam muito rapidamente durante o período de transição (5 a 7 dias antes do parto até 3 a 5 dias após o parto) devido ao crescimento mamário e fetal, que é exponencial; o útero expele os leitões e a placenta durante o parto e regride rapidamente após o término do parto; as glândulas mamárias produzem e secretam colostro e, posteriormente, leite transitório rico em gordura; e a fisiologia do fígado muda drasticamente ao longo do parto (Theil et al., 2022b). Assim, a glicose é um recurso limitado porque é utilizada para as contrações uterinas e para a síntese de lactose e gordura colostral (Feyera et al., 2017).
Sendo assim, o ideal é que o fornecimento de ração no dia do parto seja fracionado em, no mínimo 3 tratos. O objetivo é disponibilizar energia para eventos que ocorrem antes e durante o parto, a fim de evitar partos prolongados e, consequentemente, melhorar a eficiência do processo.

Lactação

Com a matriz chegando ao parto com ECV/ET adequados, seguido por um parto eficiente, estima-se que, a princípio, sua produção de leite irá suprir um maior número de leitões em relação ao número de tetos, de acordo com o potencial observado em estudos (Dinamarca e Brasil) e na prática (granjas brasileiras).
Além disso é importante seguir as orientações da genética para o fornecimento de ração, bem como os níveis nutricionais para o pós-parto, além de realizar os estímulos para consumo de água, como levantar a fêmea e conferir a vazão da água nos bebedouros.

Resultados de granjas brasileiras

Desmamar mais leitões que o número de tetos tem sido uma realidade em muitas granjas no Brasil.
Com a adaptação deste manejo e desta nova forma de se trabalhar as fêmeas hiperprolíficas, os resultados a campo no ano de 2023 foram expressivos. Na Figura 2, pode-se observar que, por mais que o número de tetos médio fosse 14, a média de desmamados das 10 melhores granjas de DFA atingiu a média de 15,23 desmamados por parto.
Figura 2. Média de desmamados por parto em granjas brasileiras no ano de 2023 em fêmeas com 14 tetos 
 Figura 2. Média de desmamados por parto em granjas brasileiras no ano de 2023 em fêmeas com 14 tetos

Considerações Finais

O manejo de desmamar mais leitões que o número de tetos tem sido uma realidade em muitas granjas brasileiras e expressa a eficiência da fêmea suína hiperprolífica, também dentro das condições comerciais brasileiras, onde se busca produzir mais e com o menor custo por animal produzido, pela sua capacidade de entregar um maior número de leitões ao desmame, com desempenhos em fases subsequentes que evoluem ano após ano.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NA REVISTA SUÍNO PAULISTA, EM JUNHO DE 2024. ACESSO DISPONÍVEL EM: www.apcs.com.br. 
Órgão Oficial da Associação Paulista de Criadores de Suínos - Edição Junho de 2024
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Com este questionamento em mente, surgiu um novo conceito, uma nova forma de se trabalhar e quebrar paradigmas. Um manejo inovador e que vem apresentando resultados surpreendentes: trabalhar a fêmea afim de desmamar um ou mais leitões em relação ao número de tetos viáveis. Esse manejo visa aproveitar todo o potencial genético das matrizes, como hiperprolificidade, habilidade materna e produção de leite, somado à constante evolução, em algumas linhagens, no que diz respeito ao vigor dos nascidos vivos. Desta forma, produzir mais e gerar um custo menor por animal torna-se cada vez mais uma realidade palpável e acessível aos suinocultores.

Os resultados deste estudo foram surpreendentes. Não houve diferença estatística (p=0,61) no número de leitões desmamados ou no peso da leitegada ao desmame (p=0,31), quando foram adicionados 15 leitões “ao pé” nas matrizes que possuíam 14 ou 15 tetos viáveis; com a média de peso ao desmame por leitão de 6,5 kg para os dois grupos testados. Sabe-se que o ganho de peso diário da leitegada é influenciado diretamente pela produção de leite da matriz.

O crescimento moderado, com menor formação de tecido muscular, proporcionará um percentual de tecido adiposo adequado às demandas para a liberação de hormônios reprodutivos, no momento ideal, permitindo que a fêmea inicie sua vida reprodutiva com o melhor do seu potencial. Desta forma, a alimentação à vontade, quando ajustada de forma precisa, em dietas com teor adequado de proteína bruta e lisina, podem ser mais eficientes do que a estratégia de alimentação restrita.

O crescimento moderado, com menor formação de tecido muscular, proporcionará um percentual de tecido adiposo adequado às demandas para a liberação de hormônios reprodutivos, no momento ideal, permitindo que a fêmea inicie sua vida reprodutiva com o melhor do seu potencial.

Com este tipo de manejo nutricional, objetiva-se também proporcionar à fêmea nutrientes para uma boa formação de aparelho mamário pré-parto com objetivo de melhorar a produção de colostro e leite após o parto.

Sendo assim, o ideal é que o fornecimento de ração no dia do parto seja fracionado em, no mínimo 3 tratos. O objetivo é disponibilizar energia para eventos que ocorrem antes e durante o parto, a fim de evitar partos prolongados e, consequentemente, melhorar a eficiência do processo.
Autores:
Ariel Mendes
UNESP - Universidad Estatal Paulista
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