Introdução
O baixo peso ao nascimento é uma realidade na suinocultura atual e é considerado um dos principais fatores que influenciam na mortalidade neonatal e no desempenho dos leitões ao longo da vida. À medida que aumenta o número de leitões em uma leitegada, diminui o consumo individual de colostro dos leitões (QUESNEL, 2011), possivelmente também pelo seu menor peso ao nascimento. A supervisão do parto é um fator importante para a redução da mortalidade de leitões na maternidade. A indução do parto com PGF2α e seus análogos permite sincronizar e concentrar os partos (DE RENSIS et al., 2012), facilitando a supervisão do parto e a assistência aos leitões, o que pode garantir um maior consumo de colostro (KIRKDEN et al., 2013). O efeito que a indução ao parto com PGF2α exerce sobre a produção de colostro em suínos ainda não é totalmente conhecido (QUESNEL et al., 2012), mas tem sido relatado que a indução prematura ao parto pode causar alteração na composição do colostro e na quantidade produzida (JACKSON et al., 1995; DEVILLERS et al., 2007). O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da indução do parto na produção de colostro, na concentração sérica de IgG, na taxa de sobrevivência e desempenho dos leitões.
Material e Métodos
O experimento foi realizado em uma unidade produtora de leitões com um plantel total de 3900 matrizes, localizada no estado de Santa Catarina, Brasil. Foram utilizadas 96 fêmeas Landrace x Large White Agroceres PIC Camborough 25® (Agroceres PIC, Patos de Minas, MG, Brasil), com OP de 3 a 7 (média 4,6). Após a transferência para a maternidade, as fêmeas foram distribuídas aleatoriamente, de acordo com a OP e data de inseminação, em dois grupos: Controle (n= 48), composto por fêmeas que apresentaram parto espontâneo e o grupo Induzido (n= 48) composto por fêmeas submetidas à indução do parto aos 114 dias de idade gestacional, pelo uso de 0,175 mg/kg de PGF2α sintética (Cloprostenol Sódio, Sincrocio®, Ouro Fino, São Paulo, Brasil), administrado pela via submucosa vulvar. Todos os partos foram acompanhados e, ao nascimento, os leitões foram secos com papel toalha, tiveram o cordão umbilical amarrado, cortado e tratado com solução antisséptica e foram pesados. Cada leitão permaneceu cerca de 10 minutos no interior de uma caixa aquecida a 32°C; em seguida, foram colocados próximo ao complexo mamário da fêmea para que pudessem realizar a primeira mamada. Os leitões foram pesados 24h após o nascimento, para estimar seu consumo de colostro, de acordo com a fórmula descrita por Devillers et al. (2004), considerando o intervalo entre o nascimento e a primeira mamada como sendo de 30 min (DEVILLERS et al., 2007; QUESNEL, 2011). Os leitões com mais de 900g foram uniformizados para formar 28 leitegadas de cada grupo, contendo 12 leitões cada, para avaliação de seu peso e ganho de peso. A uniformização dos leitões ocorreu 24h após o parto, entre leitões filhos de fêmeas do mesmo grupo, sendo que nenhuma das fêmeas permaneceu com seus leitões biológicos. Todos os leitões foram pesados novamente nos dias 7, 14 e 20 após o nascimento. As matrizes foram pesadas no primeiro dia após o parto e ao desmame. Amostras de sangue das fêmeas foram coletadas logo após o início do parto e 24h após. Amostras de sangue foram coletadas nos leitões, 24h após o nascimento. A concentração de IgG foi determinada por ensaio imunoenzimático direto (ELISA).
Resultados e Discussão
As fêmeas do grupo Controle apresentaram parto espontâneo entre os días 112 e 118 de gestação, enquanto as fêmeas induzidas concentraram os partos nos dias 114 (4,2%) e 115 (95,8%) de gestação. A duração do parto, o número total de leitões nascidos, o número de leitões nascidos vivos, o percentual de natimortos, o peso médio dos leitões, o peso médio da leitegada ao nascimento e a produção de colostro não diferiram significativamente entre as fêmeas do grupo Controle e Induzidas (P>0,05; Tabela 1). Menor produção de colostro tem sido observada em fêmeas com parto entre 109 e 111 dias de gestação (MILON et al., 1983; JACKSON et al., 1995). É provável que a menor produção de colostro em fêmeas com parto precoce esteja associada ao nascimento de leitões com baixo peso, menor vitalidade e, com isso, menor habilidade em extrair o colostro da glândula mamária (MILON et al., 1983). No presente estudo, a indução do parto não afetou a produção de colostro, provavelmente em função da idade gestacional na qual a indução foi realizada. De fato, Foisnet et al. (2011) consideram pouco provável que a produção de colostro seja afetada pela indução de parto, quando a aplicação de PGF2α ocorre até 24h antes da data prevista do parto espontâneo. Não houve diferença na concentração de IgG no soro das fêmeas e dos leitões entre os grupos Controle e Induzidas (Tabela 1). O peso inicial da leitegada (18,3 vs 18,4 kg), peso ao parto (247,2 vs258,7 kg) e peso ao desmame (256,3 vs261,2)foram semelhantes (P>0,05) entre as fêmeas adotivas dos grupos Controle e Induzidas, respectivamente. O peso da leitegada e o peso médio dos leitões diferiram entre os dias de pesagem, mas não foram afetados pelo tratamento ou pela interação tratamento x dia de pesagem (Tabela 2). Não houve diferença entre os dois grupos na sobrevivencia dos leitões (Tabela 2).
Conclusões
Realizar a indução ao parto com PGF2α, aos 114 dias de idade gestacional, não afeta a produção de colostro, a concentração de IgG no soro dos leitões, a sobrevivência e o desempenho dos leitões até o desmame.
Tabela 1 - Características de fêmeas suínas e de seus leitões de acordo com a indução do parto.
* Foi considerado o peso dos leitões nascidos vivos e natimortos. EPM= Erro padrão da média.
Tabela 2 - Desempenho da leitegada de acordo com a indução ou não do parto das mães adotivas.
abc indicam diferença significativa na coluna (P<0,05), dentro de cada variável.
Todas as leitegadas foram uniformizadas com 12 leitões cada e a lactação teve duração de 20 dias.
Os valores de sobrevivência são apresentados como média (mínimo – mediana – máximo).
Referências Bibliográficas
1. DE RENSIS F.; SALERI R.; TUMMARUK P.; et al., 2012.Prostaglandin F2α and control of reproduction in female swine: a review. Theriogenology, v. 77, p.1–11.
2. DEVILLERS, N.; FARMER, C.; LE DIVIDICH, J.; et al., 2007. Variability of colostrum yield and colostrum intake in swine. Animal, v. 1, p. 1033–1041.
3. DEVILLERS, N.; VAN MILGEN, J.; PRUNIER, A.; et al., 2004. Estimation of colostrum intake in the neonatal pig. Animal Science, v. 78, p. 305-313.
4. FOISNET, A.; FARMER, C.; DAVID, C.; et al., 2011. Farrowing induction induced transient alterations in prolactin concentrations and colostrum composition in primiparous sows. Journal of Animal Science, v. 89, p. 3048–3059.
5. JACKSON, J.R.; HURLEY, W.R.; EASTER, A.; et al., 1995. Effects of induced or delayed parturition and supplemental dietary fat on colostrum and milk composition in sows. Journal of Animal Science, v. 73, p. 1906-1913.
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7. MILON, A.; AUMAÎTRE, A.; LE DIVIDICH, J.; et al., 1983. Influence of birth prematurity on colostrum composition and subsequent immunity of piglets. Annales de RecherchesVétérinaires, v. 14, p. 533–540.
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9. QUESNEL, H.; FARMER, C.; DEVILLERS, N., 2012. Colostrum intake: Influence on piglet performance and factors of variation. Livestock Science, v. 146, p. 105–114.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.