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A INDUÇÃO AO PARTO NÃO AFETA A PRODUÇÃO DE COLOSTRO E O DESEMPENHO DA LEITEGADA ATÉ O DESMAME

Publicado: 10 de novembro de 2016
Por: LETICIA P. MOREIRA1*, MATEUS A. OTTO1, ANGÉLICA P. MACHADO1, MARIANA B. MENEGAT1 MARI L. BERNARDI2, IVO WENTZ1, FERNANDO P. BORTOLOZZO1. 1Setor de Suínos, Faculdade de Veterinária - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil; 2Departamento de Zootecnia, Faculdade de Agronomia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Sumário

O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da indução do parto na produção de colostro, na concentração de IgG, na taxa de sobrevivência e desempenho dos leitões até o desmame. Porcas de ordem de parto (OP)3 a 7 (n=96) foram distribuídas em dois grupos: Controle - fêmeas com parto espontâneo e induzidas- fêmeas induzidas ao parto aos 114 dias de gestação com análogo da Prostaglandina F2 alfa (PGF2α). Coletas de sangue foram efetuadas nas porcas, no momento do parto e, em ambos, porcas e leitões, nas 24 h após o nascimento. Todos os leitões foram pesados ao nascer e 24h depois para estimar a produção de colostro. Para avaliar o desempenho dos leitões, foram formadas 28 leitegadas com 12 leitões cada. Os leitões foram pesados aos 7, 14 e 20 dias de idade. A indução ao parto não afetou a duração do parto, o número total de leitões nascidos, leitões nascidos vivos, o percentual de natimortos, o peso médio dos leitões, o peso médio da leitegada ao nascimento, a produção de colostro e a concentração de IgG no soro das porcas e dos leitões (P>0,05). O peso médio dos leitões, peso da leitegada e a sobrevivência dos leitões nos dias 7, 14 e 20 foram similares entre os dois grupos (P>0,05). A indução ao parto aos 114 dias de gestação não prejudica a produção de colostro, a concentração de IgG no soro dos leitões e o desempenho da leitegada até o desmame.

 

Palavras-chave: suínos; parto induzido; imunoglobulina G; prostaglandina F2 alfa.

 
Introdução
O baixo peso ao nascimento é uma realidade na suinocultura atual e é considerado um dos principais fatores que influenciam na mortalidade neonatal e no desempenho dos leitões ao longo da vida. À medida que aumenta o número de leitões em uma leitegada, diminui o consumo individual de colostro dos leitões (QUESNEL, 2011), possivelmente também pelo seu menor peso ao nascimento. A supervisão do parto é um fator importante para a redução da mortalidade de leitões na maternidade. A indução do parto com PGF2α e seus análogos permite sincronizar e concentrar os partos (DE RENSIS et al., 2012), facilitando a supervisão do parto e a assistência aos leitões, o que pode garantir um maior consumo de colostro (KIRKDEN et al., 2013). O efeito que a indução ao parto com PGF2α exerce sobre a produção de colostro em suínos ainda não é totalmente conhecido (QUESNEL et al., 2012), mas tem sido relatado que a indução prematura ao parto pode causar alteração na composição do colostro e na quantidade produzida (JACKSON et al., 1995; DEVILLERS et al., 2007). O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da indução do parto na produção de colostro, na concentração sérica de IgG, na taxa de sobrevivência e desempenho dos leitões.
 
Material e Métodos
O experimento foi realizado em uma unidade produtora de leitões com um plantel total de 3900 matrizes, localizada no estado de Santa Catarina, Brasil. Foram utilizadas 96 fêmeas Landrace x Large White Agroceres PIC Camborough 25® (Agroceres PIC, Patos de Minas, MG, Brasil), com OP de 3 a 7 (média 4,6). Após a transferência para a maternidade, as fêmeas foram distribuídas aleatoriamente, de acordo com a OP e data de inseminação, em dois grupos: Controle (n= 48), composto por fêmeas que apresentaram parto espontâneo e o grupo Induzido (n= 48) composto por fêmeas submetidas à indução do parto aos 114 dias de idade gestacional, pelo uso de 0,175 mg/kg de PGF2α sintética (Cloprostenol Sódio, Sincrocio®, Ouro Fino, São Paulo, Brasil), administrado pela via submucosa vulvar. Todos os partos foram acompanhados e, ao nascimento, os leitões foram secos com papel toalha, tiveram o cordão umbilical amarrado, cortado e tratado com solução antisséptica e foram pesados. Cada leitão permaneceu cerca de 10 minutos no interior de uma caixa aquecida a 32°C; em seguida, foram colocados próximo ao complexo mamário da fêmea para que pudessem realizar a primeira mamada. Os leitões foram pesados 24h após o nascimento, para estimar seu consumo de colostro, de acordo com a fórmula descrita por Devillers et al. (2004), considerando o intervalo entre o nascimento e a primeira mamada como sendo de 30 min (DEVILLERS et al., 2007; QUESNEL, 2011). Os leitões com mais de 900g foram uniformizados para formar 28 leitegadas de cada grupo, contendo 12 leitões cada, para avaliação de seu peso e ganho de peso. A uniformização dos leitões ocorreu 24h após o parto, entre leitões filhos de fêmeas do mesmo grupo, sendo que nenhuma das fêmeas permaneceu com seus leitões biológicos. Todos os leitões foram pesados novamente nos dias 7, 14 e 20 após o nascimento. As matrizes foram pesadas no primeiro dia após o parto e ao desmame. Amostras de sangue das fêmeas foram coletadas logo após o início do parto e 24h após. Amostras de sangue foram coletadas nos leitões, 24h após o nascimento. A concentração de IgG foi determinada por ensaio imunoenzimático direto (ELISA).
 
Resultados e Discussão
As fêmeas do grupo Controle apresentaram parto espontâneo entre os días 112 e 118 de gestação, enquanto as fêmeas induzidas concentraram os partos nos dias 114 (4,2%) e 115 (95,8%) de gestação. A duração do parto, o número total de leitões nascidos, o número de leitões nascidos vivos, o percentual de natimortos, o peso médio dos leitões, o peso médio da leitegada ao nascimento e a produção de colostro não diferiram significativamente entre as fêmeas do grupo Controle e Induzidas (P>0,05; Tabela 1). Menor produção de colostro tem sido observada em fêmeas com parto entre 109 e 111 dias de gestação (MILON et al., 1983; JACKSON et al., 1995). É provável que a menor produção de colostro em fêmeas com parto precoce esteja associada ao nascimento de leitões com baixo peso, menor vitalidade e, com isso, menor habilidade em extrair o colostro da glândula mamária (MILON et al., 1983). No presente estudo, a indução do parto não afetou a produção de colostro, provavelmente em função da idade gestacional na qual a indução foi realizada. De fato, Foisnet et al. (2011) consideram pouco provável que a produção de colostro seja afetada pela indução de parto, quando a aplicação de PGF2α ocorre até 24h antes da data prevista do parto espontâneo. Não houve diferença na concentração de IgG no soro das fêmeas e dos leitões entre os grupos Controle e Induzidas (Tabela 1). O peso inicial da leitegada (18,3 vs 18,4 kg), peso ao parto (247,2 vs258,7 kg) e peso ao desmame (256,3 vs261,2)foram semelhantes (P>0,05) entre as fêmeas adotivas dos grupos Controle e Induzidas, respectivamente. O peso da leitegada e o peso médio dos leitões diferiram entre os dias de pesagem, mas não foram afetados pelo tratamento ou pela interação tratamento x dia de pesagem (Tabela 2). Não houve diferença entre os dois grupos na sobrevivencia dos leitões (Tabela 2).
 
Conclusões
Realizar a indução ao parto com PGF2α, aos 114 dias de idade gestacional, não afeta a produção de colostro, a concentração de IgG no soro dos leitões, a sobrevivência e o desempenho dos leitões até o desmame.
 
Tabela 1 - Características de fêmeas suínas e de seus leitões de acordo com a indução do parto.
A INDUÇÃO AO PARTO NÃO AFETA A PRODUÇÃO DE COLOSTRO E O DESEMPENHO DA LEITEGADA ATÉ O DESMAME - Image 1* Foi considerado o peso dos leitões nascidos vivos e natimortos. EPM= Erro padrão da média.
 
Tabela 2 - Desempenho da leitegada de acordo com a indução ou não do parto das mães adotivas.
A INDUÇÃO AO PARTO NÃO AFETA A PRODUÇÃO DE COLOSTRO E O DESEMPENHO DA LEITEGADA ATÉ O DESMAME - Image 2abc indicam diferença significativa na coluna (P<0,05), dentro de cada variável.
Todas as leitegadas foram uniformizadas com 12 leitões cada e a lactação teve duração de 20 dias.
Os valores de sobrevivência são apresentados como média (mínimo – mediana – máximo).
 
Referências Bibliográficas
1. DE RENSIS F.; SALERI R.; TUMMARUK P.; et al., 2012.Prostaglandin F2α and control of reproduction in female swine: a review. Theriogenology, v. 77, p.1–11.
2. DEVILLERS, N.; FARMER, C.; LE DIVIDICH, J.; et al., 2007. Variability of colostrum yield and colostrum intake in swine. Animal, v. 1, p. 1033–1041.
3. DEVILLERS, N.; VAN MILGEN, J.; PRUNIER, A.; et al., 2004. Estimation of colostrum intake in the neonatal pig. Animal Science, v. 78, p. 305-313.
4. FOISNET, A.; FARMER, C.; DAVID, C.; et al., 2011. Farrowing induction induced transient alterations in prolactin concentrations and colostrum composition in primiparous sows. Journal of Animal Science, v. 89, p. 3048–3059.
5. JACKSON, J.R.; HURLEY, W.R.; EASTER, A.; et al., 1995. Effects of induced or delayed parturition and supplemental dietary fat on colostrum and milk composition in sows. Journal of Animal Science, v. 73, p. 1906-1913.
6. KIRKDEN, R.D.; BROOM, D.M.; ANDERSEN, I.L.,2013. Piglet mortality: The impact of induction of farrowing using prostaglandins and oxytocin. Animal Reproduction Science, v. 138, p. 14-24.
7. MILON, A.; AUMAÎTRE, A.; LE DIVIDICH, J.; et al., 1983. Influence of birth prematurity on colostrum composition and subsequent immunity of piglets. Annales de RecherchesVétérinaires, v. 14, p. 533–540.
8. QUESNEL, H., 2011. Colostrum production by sows: variability of colostrum yield and immunoglobulin G concentrations. Animal, v. 5 (10), p. 1546-1553.
9. QUESNEL, H.; FARMER, C.; DEVILLERS, N., 2012. Colostrum intake: Influence on piglet performance and factors of variation. Livestock Science, v. 146, p. 105–114.
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
Tópicos relacionados:
Autores:
Ivo Wentz
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Fernando Bortolozzo
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Letícia P. Moreira
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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