A “Tabela 1” revela o alto grau de concentração da produção mundial de carne suína. Os dezoito principais produtores, que congregam 41,54% da população mundial, respondem por 87,09% da produção. Os demais 164 países que registraram produção de carne suína em 2008 somavam 48,21% da população mundial e 12,91% da produção total.
Observamos ainda que quando não consideramos a União Européia em conjunto, a posição brasileira é de quinto maior produtor mundial, sendo superada por dois países comunitários, a Alemanha e Espanha.
Na “Tabela 2” é interessante notar que o vigésimo primeiro país produtor de carnes suínas, a Indonésia, tem uma população majoritariamente mulçumana (86,7%), mas os segmentos cristãos e de outras religiões atingem 31,6 milhões de habitantes o que explica essa produção. Há outros países de expressivos segmentos islâmicos em suas populações, como Nigéria (cf.Tabela 3) e Malásia (cf.Tabela 4) que também registram produção de carne suína. Israel que tem uma maioria de praticantes do Judaísmo (75.5%) e do Islamismo (16.8%) registrou em 2008 uma produção de 18.244 tm de carne suína.
Freqüentemente a Índia (cf.Tabela 2) é citada como sendo um país que pratica o vegetarianismo por motivos religiosos e que tal explicaria o baixo consumo de carnes do país. Em realidade a religiões da Índia são o Hinduísmo 80.5%, Islamismo 13.4%, Cristianismo 2.3%, Sikhismo 1.9%, outras 1.8%, unspecified 0.1% (2001 census). Nenhuma das religiões abraâmicas e nem o Sikhismo preconizam o vegetarianismo como preceito, ainda que naquelas saibamos as restrições judaicas e islâmicas ao consumo de carne suína. O Hinduísmo na realidade compreende inúmeras denominações e destas somente uma, o Jainismo5, prescreve um estrito vegetarianismo. Estima-se que 25% da população hindu sejam vegetarianos6. Outras fontes levam esse total a 30%. Assim sendo, em bases demográficas de 2008, entre 238 e 285 milhões de hindus seriam vegetarianos e, além disso, uma parcela significativa dos hindus evita o consumo de carne bovina. Assim sendo, poderíamos estimar que cerca de 1/3 da população da Índia não ingere carne suína, se aos vegetarianos somarmos os 13,4% que praticam a religião mulçumana.
Para verificar o dinamismo de produção, começaremos pelo óbvio, ou seja, quais países que lideraram em toneladas totais o crescimento da produção de carnes suínas entre 1995 e 2008 (cf.”Tabela 6). Buscaremos só traduzir nas tabelas os vinte principais países para tornar este escrito minimamente palatável tanto para o editor quanto para os leitores.
A Tabela 6 traz como novidade a troca de posição entre o Brasil e o Vietnam, este aparecendo como um dos campeões de dinamismo na produção de carnes suínas. Confrontem esta tabela com a Tabela 1 e constatem que países como Polônia, Holanda, Japão e Bélgica, inseridos entre os vinte principais produtores mundiais não figuram nesta lista de mais dinâmicos.
Na realidade, embora os dados revelem um notável crescimento da suinocultura mundial, há importantes países que sofreram decréscimo em suas produções no período e aqui cumpriria listá-los. Entre os vinte e cinco mais importantes em termos de perdas de produção, dezenove são europeus e destes quinze são membros da CEE- 27.
Na Ásia, Cingapura abandonou há muito a política de auto-suficiência em produtos que requerem recursos naturais que o país não dispõe. Em 1995, as importações representavam 23,6% do consumo aparente de carne suína e em 2008 esse percentual atingiu 81,3%
No caso japonês, ainda que o país figure como principal importador mundial de carne suína e as importações tenham respondido em 1995 e 2008 por 40,7% e 51,0% do consumo, os números totais da produção se mantém relativamente estáveis. A política é de que qualquer aumento do consumo seja atendido por importações.
Somente na Holanda a diminuição da produção se explica pela redução de suas exportações (cf. Tabela 8). A grande maioria dos países da União Européia experimentou acréscimo em suas exportações naquele período.
Os números absolutos de produção é uma medida do crescimento de cada país, mas ajuda a melhor identificar os destaques em aumento percentual de produção. Fazer uma apresentação linear poderia induzir a conclusões errôneas, pois pequenas produções nacionais podem registrar percentuais expressivos de crescimentos, mas terem impacto diminuto sobre o contexto mundial da produção suinícola, como exemplificado na Tabela 9. Nela vemos que o quinto e sexto maiores índices percentuais de crescimento representam valores absolutos de pouca expressão.
Adotamos então o critério de classificar esses índices percentuais de crescimento por países cujo aumento absoluto de produção representasse pelo menos 0,5% (≥ 122.813,5 ton.) do crescimento mundial entre 1995 e 2008 e que estão apresentados na Tabela 10. Surgem aí como os cinco melhores colocados no ranking dois países asiáticos, dois sul-americanos e um africano. É muito significativo o crescimento do Vietnam, Brasil e Espanha quando somamos os dois critérios, delta quantitativo e delta percentual.
Os números absolutos do Planeta China impressionam como sempre, mas a exemplo de outro grande produtor mundial, a Alemanha, o crescimento percentual de ambos se situa acima da média mundial, mas não de forma retumbante. Quanto a outra das potências mundiais em carne suína, os Estados Unidos, seu crescimento percentual se igualou à média mundial. A Rússia, país que tem feito um notável esforço no sentido da auto-suficiência, seu percentual de expansão foi mui pouco expressivo no período, mas registra aceleração, pois entre 2005 e 2008 sua produção se expandiu 34,3% (11º lugar no ranking do período) enquanto a média mundial ficou em 5%.
Na Tabela 11 complementamos a análise anterior com países que tiveram crescimento absoluto de pelo menos 0,2% do total mundial, mas cujo índice de crescimento percentual ficou acima da média mundial.
Encerraríamos essas apresentações de dados com um enfoque sobre a expansão per capita de produção no período aqui analisado. Nos dez primeiros há uma dominação de países europeus, com o Chile ocupando um honroso e merecido segundo lugar.
Volta o Vietnam ocupar lugar de destaque, Planeta China vem em 14º e duas outras potências mundiais, Brasil e Estados Unidos, têm uma posição mais discreta.
Outro dia um grande amigo e companheiro de lides há uns 30 anos me falou que uso dados demais. Contra-argumentei em minha defesa que ninguém era obrigado a lê-los ou a usá-los e servi-me de um ditado gaúcho: “Pode-se levar o cavalo ao rio, mas não se pode obrigá-lo a beber”. Estava eu aqui a escrever esse artigo e minha filha que mora na França me disse que o ditado não era gaúcho e que ele também existia por lá na versão “on peut mener le cheval à l’eau mais on ne peut pas le forcer à boire”.
Antes de deserdá-la fui procurar num livro de provérbios8. Não encontrei. Pesquisei na internet e não encontrei, até que decidi pesquisar em inglês e lá me surge o “You can lead a horse to water, but you can''''''''''''''''t make it drink”.
Bá, tchê, foi um choque que durou uns poucos minutos antes que viesse a explicação tranqüilizadora. Trata-se da prova de que a cultura gaúcha está em franca expansão e dominará o mundo. As churrascarias nos Estados Unidos, Europa e Japão foram só a ponta do iceberg e já estamos influenciando francófonos e anglófonos. Daí a surgir o primeiro CTG e o primeiro desfile pelos Champs Elysées e pela Trafalgar Square no 20 de setembro é um pulo.
Findo o intervalo para o recreio, voltemos ao tema. Sou discípulo de Vicente Falconi e dos seus “dados e fatos”. Culturalmente temos a tendência ao intuitivo, ao “eu acho”, “eu penso que”, “estou convencido que”, “ninguém me prova o contrário”, e outras manifestações empíricas. Não é objetivo deste escrito discutir as causas ou as origens dessa nossa característica, mas creio que uma forma de mudá-la está na disponibilização de dados e em analisá-los de forma a que o leitor eventual possa avaliar o quanto os números podem nos “falar” e trazer-nos a uma cultura de pesquisar, base de partida para o planejamento.
Ao avaliar os dados anteriores creio que aprendi algo sobre onde há dinamismo na produção de carne suína. Há vários países que merecem um acompanhamento mais atento, como Vietnam, Chile, Mianmar e vários países africanos. Surpreendeu-me que o México que tanto aprecio tenha amainado seu dinamismo que já foi explosivo. É interessante notar que vários países europeus e, sobretudo membros da CEE não perderam majestade, num contraditório aparente já que também são europeus países que lideram em redução de produção. Chamou-me a atenção a Rússia que vem acelerando seus ganhos em produção e o quanto impacta positivamente a produção de um país quando este logra status sanitário para exportar para mercados como o japonês e o norte-americano.
Sem qualquer patriotada ou bazófia, o Brasil tem uma bela perspectiva futura para sua produção de carne suína e creio que nos serão úteis as constatações de várias das tabelas, onde não figuramos como os campeões dos campeões a ensejar uma postura de “já ganhou”. Há trabalho por fazer. Com dados orientando planejamento e este precedendo a execução, creio que poderemos fazer um melhor trabalho e sermos mais efetivos.