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Caracterização da suinocultura em Ceres-GO: Produção, Manejo, Alimentação e Sanidade

Publicado: 7 de dezembro de 2023
Por: Thaynara Alves de Oliveira Barros1, Thony Assis Carvalho2. 1 Estudante no curso de Bacharelado em Zootecnia Instituto Federal Goiano - Campus Ceres. 2 Professor do Instituto Federal Goiano - Campus Ceres.
Sumário

A caracterização da suinocultura local poderá fornecer subsídios para o desenvolvimento da atividade e estratégias de enfretamento dos possíveis fatores limitantes. Sendo assim, objetivou-se caracterizar a suinocultura de Ceres-GO nos aspectos de produção, manejo, alimentação e sanidade. A pesquisa foi desenvolvida mediante aplicação eletrônica de questionário semiestruturado entre suinocultores. Os participantes responderam a questões socioeconômicas e referentes à suinocultura de forma anônima. Os dados foram submetidos à análise descritiva com ênfase na distribuição de frequência. Participaram efetivamente da pesquisa 35 suinocultores. Observou-se predominantemente suinocultores do sexo masculino (77,1%) com idade entre 49 e 64 anos (60,0%), com ensino fundamental concluído (42,9%). Para 80,0% dos participantes a suinocultura não foi elencada como principal atividade desenvolvida. Predominaram propriedades que tinham área de até 10 hectare (ha) (54,3%), com rebanho de até 20 suínos (54,3%). A força de trabalho familiar foi predominantemente aplicada (86,0%), e a dieta dos suínos composta por ração associada a outros tipos de alimentos (60,0%). A origem de água fornecida aos suínos era proveniente, principalmente, de poços artesianos (43,0%). As paredes das instalações eram construídas em alvenaria (51,0%) com piso de concreto (94,0%). A assistência técnica nas criações foi escassa (3,0%) e o uso de medicamentos/vacinas foi frequentemente verificado. Constatou-se a presença de outras espécies coabitantes em 26,0% das propriedades e as carcaças dos animais tradicionalmente eram destinadas ao consumo familiar com venda do excedente, principalmente no próprio estabelecimento. A suinocultura em Ceres-GO apresentou perfil de subsistência, sendo atividade que contribui com a segurança alimentar e diversificação da renda das famílias. A ausência do acompanhamento profissional é limitante e imbuem riscos sanitários à saúde pública e aos suínos.

Palavras-Chave biosseguridade; segurança alimentar; subsistência; suinocultura.

1. INTRODUÇÃO

O crescimento populacional e a demanda por alimentos de origem animal posicionaram o Brasil como quarto maior produtor e exportador de carne suína. Em 2021, o país produziu 4,701 milhões de toneladas, atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos (ABPA, 2022). A carne suína do ponto de vista técnico é produzida com elevados níveis de exigência em qualidade (Bertol et al., 2019), perfazendo a segunda proteína animal mais consumida no mundo, atrás somente da carne de frango (FAO, 2022).
A região Sul do país concentra a maior parcela da produção de carne suína, responsável em 2021, por aproximadamente 71,4% dos abates e 92,3% da exportação nacional. A região Centro-Oeste, por sua vez, no mesmo ano, respondeu por 15,4% dos abates. O estado de Goiás foi o terceiro principal produtor de suínos da região Centro-Oeste. Os abates realizados no referido estado, representou apenas 3,6% (ABPA, 2022), com rebanho que excedeu 1,5 milhões de cabeças (IBGE, 2021).
A maioria dos abates realizados no estado de Goiás, provém de sistemas integrados de produção em que se associa alguma agroindústria (Jorge et al., 2021). A predominância desse sistema no estado é reforçada pela presença de três dos maiores frigoríficos com inspeção federal (BRF, Frigorífico Persa e Nippobras) (ABCS, 2016).
No estado de Goiás, a atividade suinícola apresenta heterogeneidade quanto a forma de criação dos suínos, visto que não são todas as propriedades que acompanharam a evolução tecnológica verificada no setor nas últimas décadas. Esta pode ser praticada sob sistemas extensivos ou intensivos (Carvalho e Viana, 2011) a depender, principalmente do capital disponível do produtor (Santos et al., 2021). Essas características, dividem a suinocultura em industrial e de subsistência (Ramires et al., 2021).
A suinocultura industrial se destaca pela participação em mercados nacionais e internacionais, com alto nível de produtividade e tecnologia, tipicamente ligados a produção integrada ou cooperada sob sistema intensivo (ABCS, 2016). Em contrapartida, a suinocultura de subsistência, caracteriza-se pela produção extensiva, com baixo nível tecnológico, ausência de controle sanitário e zootécnico, assistência técnica e tem como principal destino a criação para consumo próprio com venda sazonal do excedente (Horwat, 2019). Esse tipo de criação tem se enfraquecido em decorrência do perfil de compra dos consumidores e do aumento de fiscalização da comercialização de carnes (ABCS, 2016).
Criações de menor porte se fazem presentes em diversos municípios brasileiros (Rocha et al., 2016; Santos et al., 2021; Vargas e Pedrassani, 2020) desempenhando importante papel socioeconômico estando estes associados inclusive a questões de êxodo. Todavia, são escassas informações referentes a caracterização da suinocultura no âmbito estadual e municipal em Goiás.
Nesse sentido, o conhecimento da atividade e a caracterização da suinocultura local poderá fornecer subsídios para o desenvolvimento da atividade e estratégias de enfrentamento dos possíveis fatores limitantes. Sendo assim, objetivou-se caracterizar a atividade suinícola no município de Ceres- Goiás, nos âmbitos da produção, manejo, alimentação e sanidade, para diagnóstico e contribuição no sentido da consolidação dessa atividade no referido município.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os procedimentos executados foram previamente apreciados e aprovados pelo CEP - IF Goiano e recebeu número de protocolo 5.340.805. O estudo foi desenvolvido entre os meses de Abril e Julho de 2022, com participação anônima de 35 proprietários rurais, suinocultores, no âmbito do município de CeresGO.
O município de Ceres está localizado na mesorregião do Centro Goiano, nas coordenadas geográficas de 15º18`28``S e de 49º 35`52``O. O clima local se caracteriza como do tipo Aw de acordo com a classificação de Köppen; Geiger (1928) (quente e semiúmido), com temperatura média de 26 ºC. A precipitação média anual chega a 1500 mm. O módulo fiscal de Ceres-GO é de 20 hectares (INCRA, 2022).
Os dados foram coletados mediante aplicação de questionário eletrônico, envolvendo três etapas em termos de tempo e método. A primeira consistiu na elaboração de questionário semiestruturado, considerando critérios abordados em pesquisas referentes à caracterização da suinocultura em outros municípios brasileiros (Rocha et al., 2016; Horwat, 2019; Santos et al., 2021; Pereira, 2013).
A segunda etapa, de natureza operacional, consistiu na aplicação do questionário, de modo indireto. Após obtenção de endereço eletrônico, o link de acesso ao questionário fora disponibilizado, de modo que não fosse possível identificação. Os participantes colaboraram com a pesquisa após terem ciência dos objetivos e consentimento em participar de forma totalmente anônima (Thoms et al., 2010).
Na terceira etapa os dados obtidos foram organizados, tabulados e submetidos à análise descritiva, com ênfase na distribuição de frequências utilizando-se de ferramentas disponíveis no pacote Office, 2016.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A suinocultura em Ceres-GO é predominantemente exercida por suinocultores do sexo masculino (77,1%; N=35; Tabela 1). Esses dados assemelham-se aos encontrados por Rocha et al. (2016) que verificaram a predominância da participação masculina nas criações de aves e suínos caipiras no município de Senador Canedo-GO. A participação das mulheres no âmbito rural, ainda remete para muitos, como atividade complementar ao trabalho exercido pelo homem, enfatizando a invisibilidade do gênero feminino nas atividades produtivas no campo (Almeida et al., 2014).
Verificou-se que prevaleceu entre os produtores a idade de 49 a 64 anos (60,0%), escolaridade de ensino fundamental concluído (42,9%) e renda familiar entre cinco e sete salários mínimos (31,0%). Entre os homens, verificou-se que 88,8% apresentavam pelo menos o ensino médio concluído, enquanto, 87,5% das mulheres declararam ter apenas o ensino fundamental completo. Independentemente do sexo, 100,0% dos indivíduos acima de 65 anos, apresentaram ensino fundamental incompleto. O baixo nível de escolaridade dificulta o acesso e compreensão às políticas públicas e dos serviços da assistência técnica no meio rural, refletindo na falta de oportunidades e informações sobre gestão e administração das atividades produtivas (FIDA, 2021).
Em relação à constituição familiar, 57,2% dos suinocultores declararam possuir até três pessoas residentes (Tabela 1).
A suinocultura não foi elencada como principal atividade desenvolvida em 80,0% das propriedades (Tabela 1). Resultados divergentes foram encontrados por Leite (2014) ao observar que 55,0% dos suinocultores de Mossoró-RN exerciam a suinocultura como a principal atividade econômica. Entre os suinocultores que elencaram ter a suinocultura como principal atividade, a renda superior a quatro salários mínimos ocorreu somente entre aqueles com idade superior a 25 anos. Para Rocha et al. (2016) a capacitação dos jovens suinocultores é limitante, sendo esta questão social importante, visto que, podem migrar para os centros urbanos que reflete em questões sociais e de êxodo.
Tabela 1. Caracterização socioeconômica e exercício da suinocultura como atividade principal entre suinocultores de Ceres-GO (n=35).
Tabela 1. Caracterização socioeconômica e exercício da suinocultura como atividade principal entre suinocultores de Ceres-GO (n=35).
Verificou-se que 54,3% das propriedades possuíam área de até 10 hectares (ha), com efetivo médio de rebanho de até 20 suínos (54,3%) (Tabela 2). Resultados semelhantes foram encontrados por Howart (2019) em que 51,6% das propriedades visitadas possuíam menos de 10 ha quando caracterizou a suinocultura na região metropolitana de Curitiba-PR. A área destinada à criação dos suínos foi inferior a 0,1 ha (83,0%). Estes dados são convergentes aos verificados por Pereira (2013) ao observar que 50,0% dos suinocultores do Distrito Federal destinavam área de até 500 m² para a criação de suínos. Foi observado que 43,0% das propriedades detinham até cinco matrizes, enquanto, 23,0% dos suinocultores declararam ter somente animais em fase de crescimento (Tabela 2).
Tabela 2. Caracterização das suinoculturas de Ceres-GO.
Tabela 2. Caracterização das suinoculturas de Ceres-GO.
No tocante a produtividade, em relação ao número médio de nascidos por parto, prevaleceu até dez leitões (63,0%) (Tabela 2). Esses resultados convergem aos encontrados por Pereira (2013) ao verificar que as matrizes dos suinocultores do Distrito Federal apresentaram média de 7,4 leitões por parto. O desempenho reprodutivo dos suínos pode ser definido pelo número de leitões entregue por fêmea ao ano (LEFA) que considera a razão entre o número de leitões comercializados pelo número de fêmeas aptas a reprodução, útil para definição do potencial de uma unidade produtora de leitões (UPL) (Tenfen, 2017). Para Sena (2011) o maior número de leitões nascidos por parto, depende, dentre outros fatores, do manejo reprodutivo das fêmeas, sendo a inseminação artificial (IA) uma prática viável que resulta em adequada fertilidade e prolificidade quando bem executada. Apesar dessa condição, no referido município, verificou-se a ausência do uso da prática da IA nas suinoculturas, prevalecendo a prática de monta natural controlada (67,0%).
Conforme ABCS (2016) ocorre predomínio de dois modelos na suinocultura brasileira: produção independente ou integrado/cooperado. Os independentes são definidos como aqueles tradicionais, que compram insumos para produção e comercializam seus produtos para agroindústrias sem a necessidade de vínculos contratuais. Por outro lado, no sistema integrado/cooperado os suinocultores recebem os insumos necessários para a produção e destinam a carcaça dos animais exclusivamente a agroindústria a qual se vincula. Sendo assim 43,0% das suinoculturas apresentaram perfil de produção independente, enquanto 40,0% pertenceram ao modelo de subsistência, aqueles que somente destinavam a produção ao próprio consumo (Tabela 2). O modelo de cooperativismo/associativismo apareceu em apenas 3,0% dos casos, assim como o modelo de produção integrada que não ocorreu, decorrente da inexistência de empresa integradora que organizasse a cadeia produtiva no referido município. Em 14,0% dos casos o modelo de parceria foi elencado. Esse modelo caracterizou-se pela obtenção da ração em contrapartida da entrega de cevados terminados entre empresas envolvidas.
A atividade suinícola era desenvolvida principalmente por membros do núcleo familiar (86,0%), seguido do emprego da mão de obra familiar associada à contratada (11,0%). Em menor proporção a utilização da mão de obra contratada representou apenas 3,0% (Tabela 2). Conforme Miele (2022) suinoculturas com gestão de mão de obra familiar, apresenta diversos benefícios, dentre esses destacam-se a autonomia da atividade, redução de gasto com funcionários terceirizados e possibilidade de gerar sucessores.
Dentre os participantes, 66,0% elencaram ter duas pessoas envolvidas no manejo dos suínos, 26,0% uma e 8,0% três pessoas. A restrição do acesso de pessoas à granja é considerada procedimento de biosseguridade para mitigar os riscos de disseminação de patógenos (ABPA, 2022). Morés et al. (2017) mencionam que, assim como os roedores, insetos, veículos e roupas, as pessoas também são consideradas vetores mecânicos de agentes quando entram em contato com diferentes rebanhos sem cumprir protocolos básicos de biosseguridade.
No que se refere ao manejo alimentar dos suínos, observou-se que 60,0% dos suinocultores forneciam ração associada a outros tipos de alimentos e os demais disponibilizavam somente a ração comercial (31,4%) ou hortifruti (8,6%) (Tabela 3). Produtores que produziam em modelo de cooperativismo/associativismo utilizavam somente ração na alimentação dos suínos. Notavelmente, quando os produtores utilizavam somente ração na alimentação dos suínos, prevaleceu apenas o uso de único tipo de ração (44,0%) (Tabela 3). Todavia, quando a ração foi associada a outros tipos de alimentos, mais de um tipo de ração foi utilizada, com prevalência de rações de lactação e terminação.
Tabela 3. Caracterização da alimentação dos suínos de Ceres-GO.
Tabela 3. Caracterização da alimentação dos suínos de Ceres-GO.
O soro de leite foi o principal alimento alternativo associado a ração (50,0%), seguido do uso de restos de alimentação humana (lavagem) e hortifruti na proporção de 24,0% (Tabela 3). A proximidade de agroindústria que processa derivados lácteos favorece a disponibilidade desse insumo in natura. Conforme Barbora et al. (2010) esse fluido é composto por 93,4% de água, 4,9% de lactose, 0,7 % de proteínas; 0,4% de gordura e 1,6% de sais minerais. Ainda assim, por favorecimento logístico o uso desse insumo foi o mais frequentemente associado ao uso da ração. Kummer et al. (2009) afirmaram que o soro de leite desidratado é considerado um dos derivados do leite de maior aporte nutricional, por ser rico em proteínas relacionadas à boa palatabilidade e digestibilidade, além de auxiliar o pH estomacal dos leitões favorecendo a ação de enzimas digestivas. Oliveira et al. (2022) estudando a inclusão de soro na dieta de leitões na fase pré-desmama e creche, verificaram que este foi uma alternativa para reduzir o custo da ração.
Entre os produtores que elencaram produzir em parceria, verificou-se, que o uso de hortifruti associado à ração prevaleceu (37,5%), enquanto o uso de restos de alimentação humana diminuiu (12,5%) (Figura 1). Essa condição contribui para a biosseguridade da criação, visto que a principal fonte de infecção da peste suína clássica (PSC) e peste suína africana (PSA), além do contato direto com suídeos infectados, ocorre através ingestão de produtos cárneos de origem suína (salames e embutidos) contaminados (Gava et al., 2019).
Observou-se que a maioria das paredes eram construídas em alvenaria (51,0%), madeira (46,0%) e menor proporção de tela (arame) (3,0%) (Tabela 4). O piso das criações era predominantemente (94,0%) de concreto, seguido de terra batida (6,0%). Os comedouros do tipo coletivo, com fornecimento manual, sem regulagem, prevaleceram (83,0%), enquanto, comedouros do mesmo tipo, com regulagem de fluxo de ração, representaram apenas 11,0%. Materiais alternativos (pneus, tambores e canos) para fornecimento de ração/alimentos apareceu em 6,0% dos casos. O desperdício de ração pode estar associado a qualidade dos comedouros, com estimativas de desperdício de até 5,0% em granjas de suínos que utilizam equipamentos mal regulados. Na suinocultura, a alimentação é responsável por 70% do custo total de produção e o desperdício de ração contribui com o aumento desse valor, superestimando a conversão alimentar (CA) dos suínos (Manzke et al., 2011; ABCS, 2019).
Figura 1. Tipos de alimentos associados a ração em função do modelo de criação dos suínos de Ceres-GO.
Figura 1. Tipos de alimentos associados a ração em função do modelo de criação dos suínos de Ceres-GO.
O bebedouro do tipo chupeta foi predominantemente utilizado (80,0%) nas criações, seguido do uso de bebedouros coletivos em concreto (11,0%) ou pneus, tambores e canos (9,0%). Conforme Souza et al. (2016), o modelo do bebedouro, a regulagem adequada à idade do animal e a manutenção destes, são fatores que contribuem para que os suínos bebam água na quantidade correta sem desperdícios.
A água fornecida aos suínos era proveniente principalmente de lençóis subterrâneos: poços artesianos (43,0%) e cisternas (23,0%) (Tabela 4). Em pesquisa realizada por Leite (2014) somente 20,0% dos suinocultores utilizavam água clorada para dessedentação dos animais com origem da rede pública. A água é considerada uma das principais via de transmissão de patógenos, quando as amostras violam os parâmetros microbiológicos de potabilidade (ABCS, 2022).
Verificou-se que dos 35 suinocultores somente um (3,0%) afirmou receber com frequência mensal os serviços de assistência técnica na criação (Tabela 5). Resultados semelhantes aos obtidos neste estudo foram encontrados por Santos et al. (2021) em que 100,0% dos suinocultores careciam da prestação de serviços por parte dos técnicos, quando avaliou a importância socioeconômica da criação de suínos no Sertão Paraibano.
Tabela 4. Caracterização das instalações e origem da água de dessedentação dos suínos em Ceres-GO.
Tabela 4. Caracterização das instalações e origem da água de dessedentação dos suínos em Ceres-GO.
Verificou-se que 52,0% dos suinocultores higienizavam as instalações diariamente. O piso deve ser raspado a seco diariamente para reduzir a formação de cascão de fezes e os corredores e demais instalações varridas três vezes por semana para evitar acúmulo de poeira (ABCS, 2020).
O uso de medicamentos/vacinas foi frequentemente verificado, apesar da assistência técnica nas criações terem sido escassas. Verificou-se a prevalência da administração de vermífugos (43,0%), apesar de apenas 6,0% dos suinocultores terem elencado utilizar piso do tipo terra batida (Tabela 4). O uso de vacinas, antibióticos e aplicação de vitaminas/ferro também foram relatados pelos suinocultores, nas respectivas proporções, 36,0; 11,0 e 8,0%. O uso indiscriminado de medicamentos sem orientação técnica é fator de risco a saúde pública, havendo a possibilidade do consumo de alimentos de origem animal com resíduos, por não cumprir período de carência mínimo (ANVISA, 2018). O uso responsável e prudente de medicamentos são as principais medidas preventivas no sentido de preservar a eficácia destes (ABCS, 2020).
Foi constatado que 11,0% dos suinocultores compartilhavam o espaço de criação dos suínos com gatos domésticos. Rached (2009) além de ter observado em 57,0% das propriedades a presença de cães e gatos juntos as áreas dos suínos, também relatou a existência de roedores nas criações suinícolas localizadas no estado de São Paulo. Os felinos podem ser hospedeiros de diversos agentes patogênicos, como por exemplo o da Toxoplasmose, causando a toxoplasmose suína, zoonose de distribuição mundial (ABCS, 2020).
Os suinocultores destinavam a carcaça dos animais mortos, principalmente no solo, a céu aberto (48,0%). Outros 43,0% enterravam e em menor proporção dos indivíduos (9,0%) incineravam as carcaças. A disposição de animais mortos no ambiente, apesar de ser um método fácil e econômico, apresenta risco de contaminação do solo, água e ar, além da possibilidade de disseminação de agentes patogênicos colocando em risco a saúde pública e dos animais (Mauro e Silva, 2019). No Brasil, a compostagem é um dos métodos de descarte mais empregados em granjas de suínos e aves (Morés et al., 2018).
Tabela 5. Assistência profissional, biosseguridade, manejo sanitário empregado nas criações e aspectos de comercialização da carne.
Tabela 5. Assistência profissional, biosseguridade, manejo sanitário empregado nas criações e aspectos de comercialização da carne.
A carcaça dos animais era tradicionalmente direcionada para o consumo familiar e venda do excedente (65,0%). Outros 20,0% afirmaram ter como finalidade somente a comercialização da produção. Apesar de 40,0% dos produtores terem elencado o sistema de produção como sendo de subsistência (Tabela 4), apenas 15,0% não comercializavam a produção (Tabela 5). A comercialização ocorria principalmente no próprio estabelecimento (41,0%) e no mercado local (34,0%). As feiras livres também foram uns dos canais de comercialização utilizados pelos suinocultores (25,0%). Segundo Ayres et al. (2020), as feiras são comumente usadas pelos agricultores familiares e cumprem importantes espaços para a economia local. As más condições higiênicosanitárias das instalações e feirantes, tornam esses locais propícios para a proliferação de microrganismos nos alimentos (Matos et al., 2015). Alguns municípios detêm de legislação para fiscalizar produtos de origem animal comercializados em feiras livres como em NatalRN, através do Decreto 7676/05 que estabelece parâmetros de qualidade dos alimentos, da infraestrutura do local e higiene do manipulador (Carvalho et al., 2017).

4. CONCLUSÃO

A suinocultura de Ceres-GO apresenta perfil de subsistência com emprego da mão de obra familiar. A criação é desenvolvida em pequena escala, conduzida em pequenas propriedades. A atividade contribui com aspectos de segurança alimentar e a diversificação da renda. A ausência do acompanhamento profissional é limitante, permanecendo manejos e tecnologias obsoletas.
As instalações, bem como o manejo reprodutivo dos suínos, demostraram limitada tecnificação. Esses aspectos em consonância, imbuem riscos sanitários aos suínos e à saúde pública.
PUBLICADO ORIGINALMENTE Científic@ Multidisciplinary Journal– V.10 N.2 – (2023) 1 – 13. ACESSO DISPONÍVEL EM: CARACTERIZAÇÃO DA SUINOCULTURA EM CERES-GO: PRODUÇÃO, MANEJO, ALIMENTAÇÃO E SANIDADE (researchgate.net)

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A suinocultura de Ceres-GO apresenta perfil de subsistência com emprego da mão de obra familiar. A criação é desenvolvida em pequena escala, conduzida em pequenas propriedades. As instalações, bem como o manejo reprodutivo dos suínos, demostraram limitada tecnificação. Esses aspectos em consonância, imbuem riscos sanitários aos suínos e à saúde pública.
Autores:
Thony Assis Carvalho
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