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Caracterização do sistema de produção de suínos nativos em áreas peri-urbanas do município de Santa Cruz-RN

Publicado: 2 de fevereiro de 2011
Por: Jobson Paulo da Silva (Zootecnista,CCA/Universidade Federal da Paraíba-UFPB); Ludmila da Paz Gomes da Silva; Frankleudo Frantchesco A. de Araújo; Terezinha Domiciano Dantas Martins
RESUMO: Objetivou-se com este trabalho caracterizar as explorações suinícolas e socioeconômica praticada no município de Santa Cruz-RN. Para tanto foram aplicados 192 questionários semi-estruturados aos responsáveis pelas unidades de criação. O questionário abordava questões sobre a mão-de-obra utilizada, o número de suínos criados, características das raças nativas, bem como outras explorações zootécnicas. 98% dos produtores praticavam sistema extensivo com contenção; 0% semi-extensivo e, 2% criavam soltos. Gerou-se dados qualitativos analisados mediante estatística descritiva básica, e quantitativos analisados através de distribuição de freqüência. Conclui-se que os criadores de suínos em áreas urbanas do município de Santa Cruz são na maioria pequenos criadores com condições semelhantes: criam os animais para ajudar na renda per capta, mão-de-obra familiar atuante. As condições de manejo, observadas na maioria das criações de suínos no município de Santa Cruz-RN, indicam precariedade nas formas de criação, sendo necessária a conscientização e informação dos produtores a respeito do assunto. A implantação de políticas públicas, que visem auxiliar os suinocultores, é de suma importância e de necessidade imediata.


PALAVRAS-CHAVE: manejo, produção de suínos, socioeconômico, suinocultura


INTRODUÇÃO


No Brasil grande parte dos suínos é produzido em sistemas extensivo ou semi-extensivo de criação, caracterizando-se uma atividade de subsistência familiar que desenvolve um papel de grande importância sócio-econômica (EGITO et al. 2004).
O conhecimento dos sistemas de produção de suínos tradicionais e das medidas que se adotam para melhorá-los constituem alternativas válidas para a conservação dos recursos genéticos animais (EGITO et al; 2004).

A gravidade das conseqüências do manejo inadequado dos suínos, aliado a falta de infra-estrutura e assistência técnica, dificulta a vida dos pequenos produtores (SILVA et al. 2005). Portanto existe a necessidade urgente da conscientização e de ensinamento de boas práticas de manejo zootécnico para estes animais. É de suma importância o incentivo a realizações de ações e pesquisas no interior do Nordeste brasileiro, carente dessas informações. As condições de manejo observadas na maioria das criações de suínos no município de Santa Cruz-RN, indicam precariedade nas formas de criação, sendo necessária a conscientização e informação dos produtores.

A maioria das criações no Estado do Rio Grande Norte é caracterizada como criação de subsistência por pequenos agricultores e também nas áreas urbanas. Este trabalho foi conduzido com o objetivo de realizar a caracterização do modelo de produção de suínos nativos, no município de Santa Cruz-RN, e a respectiva avaliação dos aspectos socioeconômicos.

MATERIAL E MÉTODOS


A pesquisa foi realizada no município de Santa Cruz situado na região Agreste do Rio Grande do Norte, foram visitados "in loco" 5 criatórios situados nas áreas Peri - urbana da cidade e entrevistados 192 produtores de suínos, que possuíam 1.1224 animais, utilizado um questionário de 10 questionamentos gerais sobre: identificação do produtor, identificação dos animais, destino da produção, dados do plantel, manejo reprodutivo, manejo alimentar, manejo sanitário, instalações, problemas na criação e informações gerais sobre a exploração suinicula, permitindo a caracterização da produção e as tecnologias adotadas, verificando a real situação socioeconômica das famílias produtoras.
O município de acordo com IBGE (2007), possui uma população de 33.736 habitantes, com uma área territorial de 592 km2, e um efetivo suíno estimado em 3.618 cabeças.
Os dados coletados foram analisados por meio de estatística descritiva (quantitativos),da distribuição de freqüência (qualitativos) utilizando a estatística básica. Para a realização da caracterização e tipologia da criação de suínos do município.

RESULTADOS E DISCURSSÃO

Observou-se que dos 192 criadores entrevistados no município estudado levavam em consideração, em suas criações, as fases de crescimento e terminação, sendo que (26%), realizam o ciclo completo. Os animais são adquiridos em sua grande maioria pelos criadores de outros produtores vizinhos (57%) e de feiras livres (43%).
Baseando-se nos modelos de sistemas de criação extensivos e intensivos (NICOLAIEWSKY et al., 1998), verificou-se que 98% dos produtores praticavam o sistema extensivo com contenção, visto que não se pode considerar o sistema de criação como intensivo apenas pelo fato de estarem os animais presos ou contidos por todo o período de criação. Esse caso, em que os animais são criados sem preocupação com produtividade e sem controles zootécnicos, denomina-se sistema extensivo com contenção.

Para a maioria desses criadores, uma importante fonte de renda familiar, aliada à utilização de restos da agricultura na alimentação dos animais. Apenas 2% afirmaram criar seus animais soltos, caracterizando um grupo diferenciado dos demais.
De acordo com os resultados obtidos em relação ao tempo de permanência na criação de suínos no município pesquisado, 8% representam os criadores que estavam na atividade suinícola no período de até 05 a 10 anos, 12% entre 10 a 15 anos e 80% com criadores de 15 a 50 anos, evidenciando-se um experiência de, no mínimo, 05 anos. Portanto, há que se aproveitar os conhecimentos desses criadores de suínos locais para a manutenção desse patrimônio genético, que vem sendo cultivado, durante muitos anos, tanto pela necessidade, pela sobrevivência de famílias produtoras, quanto, exclusivamente, pelo prazer que muitos afirmaram ter com a criação de suínos, mesmo com as adversidades sociais, comerciais e econômicas do meio.
Verificou-se que 8% dos entrevistados comercializavam diretamente os animais vivos em feiras livres, 88% para o abate (marchante) e 2% entre eles próprios. O processo de abate desses animais geralmente era efetuado nos próprios domicílios.
A comercialização de suínos no universo estudado deixou transparecer uma certa vulnerabilidade, visto que era praticada sem avaliação de custo/benefício ou de mercado, ao mesmo tempo em que os comerciantes intermediários, conhecidos como "marchantes", faziam sua própria lei de mercado, oferecendo aos criadores, também fornecedores, preços muito inferiores aos praticados na venda da carne suína no mercado, acarretando, na maioria das vezes, prejuízo para os criadores, pois esses eram ao mesmo tempo os compradores da carne suína na região.

Em relação à renda principal das famílias produtoras, verifica-se que 51%, 19%, 16% e 5%, provêm da aposentadoria, funcionário público, autônomo e agricultura. Os outros 9% correspondem à renda oriunda de diversas atividades exercidas e/ou fontes, concomitantemente, como a agrícola e a pecuária, mais a aposentadoria e o comércio, atividades dos autônomos. Enfim, diversas atividades de menor expressão percentual no universo estudado, porém não menos importantes financeiramente.
Grande parte dos suínos criados no Nordeste do Brasil caracteriza-se por uma atividade de subsistência familiar que desenvolve um papel de grande importância socioeconômica, sobretudo, para populações que vivem no meio rural, especialmente pela fácil adaptabilidade dos suínos às diversas condições, nem sempre favoráveis à exploração do potencial animal, mas que ainda assim, contribuem para a diversificação de produtos, segundo afirmação de Silva Filha et al. (2006).
Essa atividade poderia deixar de ser apenas uma atividade de subsistência e passar a gerar maiores rendas para as famílias produtoras, se explorada em seu potencial dentro das condições regionais, com melhorias no sistema de criação, assistência técnica e informação aos criadores. Na cadeia da suinocultura, segundo Fávero (2003), o produtor historicamente é o elo mais fraco, o mais desorganizado, o mais descapitalizado e com menor grau de profissionalização.

A suinocultura local, dentro da cadeia produtiva animal, no Nordeste, possui uma importância subestimada pela sociedade. Considerar a criação de suínos como atividade meramente de subsistência é negar a função social e econômica que essa atividade possui. A implantação de uma política publica voltada aos pequenos criadores de suínos, abastecimento de insumos e uma melhoria na organização da produção, poderão garantir uma melhor remuneração e melhores preços para a carne suína, tornando a atividade economicamente viável.

CONCLUSÃO

Os suínos locais estudados, mesmo em situações precárias e adversas, fornecem proteína de origem animal e renda aos seus criadores, sendo mais utilizado o sistema de criação extensivo com contenção, que poderá ser melhorado em condições locais. Os criadores de suínos do município de Santa Cruz-RN, criam seus animais em situações precárias de manejo zootécnico, em sua grande maioria, por falta de conhecimento de técnicas que possibilitem, de maneira adequada, uma criação satisfatória, com o mínimo desejado, dentro de suas possibilidades e realidade local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EGITO, A. A; ALBUQUERQUE, M. S. M; SERENO, J. B. R; CASTRO, S. T. R.; MARIANTE, A. S. Situación actual de La Exploración de Cerdos Naturalizados em Brasil. In.: DELGADO, J. V. Biodiversidad Porcina Iberoamericana: caracterización y uso sustentable . Córdoba, España: Universidad de Córdoba, 2004. p.33-47.

FÁVERO. J. A. (Coord.) Produção suínos . Apostila sistema de produção de suínos. Embrapa Suínos e Aves. Versão eletrônica, jul. 2003.

IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA. Cidades@: Disponivel em: , Acesso em: 05/04/2010.

NICOLAIEWSKY, S; WENTZ, I; COSTA, O. A. D.; SOBESTIANSKY, J. Sistema de produção de suínos. In: SOBESTIANSKY, J; WENTZ, I; SILVEIRA, P. R. S.; SESTI, L. A. C. Suinocultura intensiva: produção, manejo e Saúde do Rebanho. Brasília: Embrapa, 1998.
p. 11-26.

SILVA FILHA, O. L; ALVES, D. N.; SOUZA, J. F.; PIMENTA FILHO, E. C.; SERENO, J. R. B.; SILVA, L. P.G.; OLIVEIRA R. J. F; CASTRO, G. Caracterização da criação de suínos locais em sistema de utilização tradicional no estado da Paraíba, Brasil. Archivos de Zootecnia, v.54, n.206-607, p.523-528, 2005.

SILVA FILHA, O. L; SOUZA, JAENE F.; OLIVEIRA, ANGELO S.; PIMENTA FILHO, EDGARD C.; SILVA, LUDMILA P. G.; OLIVEIRA, ROBSON J. F.; SERENO, JOSÉ R. B. Perspectivas produtivas de suínos locais na região do Curimataú, Estado da Paraíba, Brasil. In: SIMPOSIO IBEROAMERICANO SOBRE CONSERVACIÓN Y UTILIZACIÓN DE RECURSOS ZOOGENÉTICOS Y I TALLER HISPANO-BOLIVIANO SOBRE EL USO SUSTENTABLE DE LAS RAZAS CAPRINAS LOCALES EN ÁREAS MARGINALES, 7., 2006. Anais... Cochabamba, Bolívia, 2006.
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Autores:
Jobson Paulo da Silva
Universidade Federal da Paraíba UFPB
Universidade Federal da Paraíba UFPB
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Ricardo Medeiros
17 de julio de 2013

Na verdade, a nível de Rio Grande do Norte a atividade da suinocultura é pouco difundida, predomina a criação em fundo de quintal, os poucos criadores tecnificados não recebem apoio dos orgãos públicos que deveriam dar incentivo, tais como banco do Nordeste e Sebrae!

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Eduardo von Atzingen
S.O.S. Suínos
2 de febrero de 2011

A respeito da criação porcos de subsistência na periferia de cidades no Rio Grande do Norte, devemos nos lembrar primeiro separar duas coisas fundamentais. Vamos falar de suinocultura moderna, tipo carne, confinada com controle sanitário, material genético apropriado, e principalmente com utilização de programas nutricionais específicos, ou vamos falar de porcos criados extensivamente, soltos, em chiqueiros nas periferias das cidades. Se formos falar de suinocultura industrial, estamos falando de um plantel de mais de 35 milhões de cabeças por todo o Brasil. Com relação a criação de subsistência, sem genética definida, sem programa sanitário adequado, e alimentados com restos de alimentos sobras da alimentação humana, existe em todo o Brasil, sim claro. Com maior predominancia nos estados do Norte e Nordeste. Devemos nos lembrar ainda que o plantel de suideos do RGN não passa de 50 mil animais. Grato: Eduardo von Atzingen

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