Apesar de ser a carne mais consumida no mundo, com cerca de 39% do consumo total de carnes, o comércio internacional, anualmente, participa com menos de cinco milhões de toneladas, sendo ultrapassada em volume pelas carnes de aves e bovinos.
A China é hoje o país com a maior produção de carne suína, detendo praticamente metade da produção mundial, porém os maiores exportadores são os Estados Unidos e União Européia. O Brasil, por sua vez, é o quarto maior produtor da carne, com um total de 3,1 milhões de toneladas produzidas em 2008, e também o quarto maior exportador, responsável por 530 mil toneladas exportadas neste mesmo período, segundo números do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior, divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína (ABIPECS).
A produção industrial brasileira tem passado por inúmeros avanços nesses últimos anos. Tecnologias como a inseminação artificial, melhoramento genético, biossegurança, sanidade, nutrição entre outros, têm sido cada vez mais incorporados na suinocultura, contribuindo para o crescimento do rebanho e aumento da produtividade (Miele, 2007, Barcellos, 2008). Trata-se de uma cadeia produtiva bem organizada, com boa coordenação das agroindústrias, que têm cada vez mais se desenvolvido e equiparando-se às dos países desenvolvidos.
No âmbito das exportações, o Brasil ainda se recupera da crise sofrida em 2005 por conta dos focos de febre aftosa. Após forte queda em 2006, com 528 mil toneladas exportadas, o Brasil conseguiu fechar o ano de 2007 com 607 mil toneladas, correspondentes a 12% das exportações mundiais e representando uma retomada frente ao mercado internacional. Segundo a ABIPECS, não fosse o fator aftosa, o Brasil poderia participar de mais de 62% do mercado mundial de carne suína, já que os estados que estiveram envolvidos com a doença tiveram dificuldades em abrir novos mercados e ampliar as exportações. Outro dado que pode ser observado é o aumento do preço médio da carne, de 33,2% nos últimos três anos. Este fato pode ser parcialmente explicado pela mudança do perfil da carne exportada, de meia carcaça para cortes e industrializados nobres.
O principal destino das exportações brasileiras ainda é a Rússia, que sozinha é atualmente responsável por 45% do total exportado, seguida por Hong Kong com 18%, Ucrânia com 9%, Cingapura e Argentina ambas com 5% e demais países. O mercado Russo no ano de 2002 atingiu a impressionante participação de 80% das compras de carne suína brasileira, caindo drasticamente nos anos posteriores devido à fixação de cotas no mercado externo, forçando o Brasil a buscar novos mercados, obtendo êxito nesta expansão.
O expressivo crescimento do Brasil no cenário internacional da carne suína é reflexo do aperfeiçoamento de toda cadeia produtiva, com a devida adequação frente aos países consumidores e a conquista gradativa de mais mercados.
Contudo o grande filão do mercado ainda é o comércio interno, responsável pelo consumo da maior parte da carne produzida, totalizando 80% dos 3,1 milhões de toneladas produzidas, sendo a maior parte produtos industrializados e embutidos (cerca de 65%). Comparado a outros países, porém, o consumo per capita no Brasil é muito baixo. Enquanto o país consome 13 kg/hab./ano, outros países registram taxas muito maiores, como: Áustria 73,1 kg, Espanha 67,4 kg, Alemanha 66,4 kg, Dinamarca 64,7 kg, Itália 42,9 kg. Além da carne suína enfrentar a concorrência de outros tipos de carne, com preços mais atrativos, como a carne de frango e a bovina, o consumidor brasileiro, segundo pesquisas recentes, ainda possui receio quanto à "quantidade de gordura e colesterol" e seus "malefícios à saúde".
A concentração da produção interna de carne suína está situada na região sul do país, representante da maior parte da produção brasileira. Santa Catarina lidera com aproximadamente 25,6% do total de carne produzida, seguida pelo Rio Grande do Sul com 16,3% e Paraná com 14,8%. Todavia, recentemente, temos observado a difusão da produção para as regiões sudeste e principalmente centro-oeste do país, fato provavelmente explicado pela maior oferta de milho e soja, propriedades com maior área, melhor utilização de dejetos e maior eficiência logística no centro-oeste contrastando com a saturação do sistema de integração na região sul.
Do ponto de vista da organização da cadeia produtiva, os suinocultores são divididos em integrados e independentes (cerca de 40% integrados e 60% independentes). O sistema de integração é aquele no qual o produtor possui vínculo contratual com a agroindústria, chamada de integradora, podendo seguir diversos modelos de relacionamento. Já os independentes não possuem integração com a agroindústria, executando todas as fases da produção. Faz parte também deste último grupo os produtores que adquirem animais de terceiros para posterior engorda ou venda, recebendo a denominação de mini-integradores.
Quanto ao aspecto tecnológico a produção é dividida em suinocultura industrial e de subsistência. Constitui a suinocultura industrial os produtores tecnificados (integrados ou independentes), ou seja, aqueles que incorporaram na produção os avanços tecnológicos em genética, sanidade, nutrição, manejo e etc. A suinocultura de subsistência é formada pelos produtores que estão à margem destes avanços tecnológicos, produzem para o auto consumo e comercializam os excedentes.
No Brasil a maior parte da produção é realizada aos moldes do sistema de integração, sendo as grandes integradoras empresas como Sadia, Perdigão, Aurora, Alibem, Seara, entre outras. Frente ao crescimento da produção industrial a suinocultura de subsistência vem apresentando queda nos últimos anos. Enquanto o setor industrial cresceu à taxa de 9,4% no período de 2002 a 2007 o setor de subsistência recuou em 41,4% no mesmo período, sendo responsável em 2007 por apenas 10% da produção no país. Isto indica a modernização que o setor industrial vem passando, desigualando a competitividade entre os sistemas de produção.
Exemplo da modernização do setor, o vasto uso do melhoramento genético influenciou os rumos da suinocultura. Seguindo as tendências do mercado, foram selecionados animais com menor espessura de toucinho e gordura, gerando carnes mais magras, conservando seu sabor. Entre os outros fatores visados no desenvolvimento genético estão também: a maior resistência às doenças, melhor absorção dos alimentos, melhoria da qualidade da carne e melhoria da prolificidade (Santini et al., 2004).
Relacionada diretamente ao melhoramento genético, a inseminação artificial é hoje bastante difundida pelos plantéis tecnificados do país, sendo responsável por cerca de 660.000 fecundações, o que representa um total de 51% das matrizes industriais (Wentz et al., 2000). A inseminação permite a rápida difusão das características desejáveis no rebanho, padronização da produção, melhor aproveitamento de cachaços superiores, entre muitas outras vantagens.
A nutrição também apresentou grande progresso ultimamente, com diversas técnicas de análise alimentar, sendo hoje ferramenta fundamental para a suinocultura. A base da alimentação dos suínos no Brasil é o milho e a soja, suplementados por minerais e vitaminas. Uma grande vulnerabilidade na suinocultura é a oscilação dos preços dos cereais usados como base na nutrição, pois a alimentação representa por volta de 70% do preço total da produção. Um exemplo disso é o milho que entre novembro de 2006 e 2007 sofreu reajuste de 44%, enquanto o suíno vivo teve aumento de apenas 28%.
Concluindo, o mercado de hoje exige, assim como em outras cadeias, novas preocupações como: o bem estar animal, a preservação ambiental, a rastreabilidade, a qualidade da carne, a segurança alimentar e outras já citadas. Sendo assim o Brasil deve estar atento aos novos paradigmas, estando apto a seguir novas exigências internacionais, para assim consolidar seu mercado externo. Entretanto devemos também nos preocupar com nosso maior consumidor: o mercado interno. Com grande potencialidade de crescimento, o mercado interno pode ser uma alternativa ao protecionismo internacional, diminuindo o risco do Brasil estar à mercê de sanções e embargos impostos por outros países.