A suinocultura semi-intensiva está ultrapassada, sendo apenas uma atividade complementar, típica de produtores pouco tecnificados que criam animais tipo banha, sem nenhum valor comercial. Certo? Nada disso. A fase de gestação ao ar livre pode trazer uma série de vantagens, incluindo a redução de custos com instalações, animais menos estressados e menor incidência de doenças nas granjas e maior longevidade.
O sistema semi-intensivo foi implantado experimentalmente em 1966/67 na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapeva que teve sua origem como Posto de Monta em 1942, sendo elevado a Posto de Suinocultura em 1966/67 e a Estação Experimental de Zootecnia de Itapeva em 1997. Localizada no Sudoeste Paulista, região classificada edafoclimaticamente como classe A (sem restrições climáticas) para a criação suinícola.
Desde então, vem sendo possível verificar os bons resultados obtidos na fase de gestação, utilizando o sistema semi-intensivo, com as fase de maternidade e creche crescimento e terminação em confinamento.
Ao ar livre, as fêmeas gestantes desenvolvem a gestação com mais saúde, proporcionando menos despesas com medicamentos, inevitáveis no confinamento, onde o ambiente fechado favorece a formação da amônia, que nada mais é do que o esterco fermentado. Por causa disso, invariavelmente boa parte dos animais dos plantéis acabam tendo problemas respiratórios, como rinite atrófica por exemplo. A pneumonia, causada pelo piso de concreto, conseqüência do stress, também são problemas comuns, como a inflamação dos cascos.
.A unidade de pesquisa foi dimensionada para abrigar 60 matrizes produtivas, com esquema de inseminação semanal, o que garante um fluxo continuo de produção de leitões. Cada animal adulto precisa, em média, de 300m² dentro de um piquete, que é demarcado por uma cerca de arame liso, com sistema de balancins nos vãos.
Outra vantagem do sistema semi-intensivo é uma significativa redução dos problemas de cascos nas matrizes, tão comuns nos sistemas de produção intensivos. Já do ponto de vista econômico, o custo inicial do investimento é reduzido em até 20%, já que o produtor fica dispensado de erguer instalações específicas para a gestação, com gaiolas, podendo estas serem substituídas por box para alimentação feitos com madeira.
Porém para que o sistema semi-intensivo apresente produtividade semelhante ao sistema confinado devem ser adotados alguns procedimentos de manejo, como por exemplo após o processo de inseminação a matriz deve permanecer por um período de 30 dias em baias coletivas ou gaiolas, para que ocorra a fixação dos embriões no útero, nesse período ela não deve ser submetida a exercícios físicos intensos.
Após esse período de 30 dias a matriz pode ser solta nos piquetes, local onde permanece até os 105 dias de gestação, quando só então é trazida para as baias coletivas, onde é lavada, vermifugada para controle de endoparasitas, pulverizada para o controle de ectoparasitas, pesada e recolhida na maternidade de gaiolas.
Manejo das matrizes na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapeva
Manejo das matrizes na pré-cobrição
- As fêmeas desmamadas e marrãs são agrupadas em lotes de cinco a sete animais, em baias de pré-cobrição, localizadas próximas a baia do macho rufião;
- São utilizados métodos para reduzir as agressões tais como: agrupar as porcas por tamanho e lavá-las com água e creolina; introduzir macho junto com as porcas por um ou dois dias e reduzir o estresse;
- O cio das fêmeas é estimulado duas vezes ao dia, com um intervalo mínimo de 8 horas, colocando-as em contato direto com o macho rufião;
- É realizado o fornecimento de ração de lactação 2 vezes ao dia, do desmame até a inseminação;
- É dispensada atenção especial para as fêmeas desmamadas que demorarem mais de 6 dias para manifestar o cio após o desmame.
Manejo das matrizes na inseminação e inicio da gestação
- São realizados manejos para verificação de cio, e obedecidos protocolos para realização da inseminação, tais como higienização do aparelho reprodutor externo, 3 inseminações, duração de 8 minutos por inseminação e intervalo mínimo de 11 horas entre uma inseminação e outra;
- As fêmeas inseminadas permanecem por um período de 30 dias em baias coletivas, somente após esse período são soltas nos piquetes;
Manejo do Parto e lactação
O parto e a lactação são as fases mais críticas da produção de suínos. Portanto, todos os esforços dedicados nas fases anteriores podem ser perdidos se atenção e cuidados especiais não forem dedicados aos recém-nascidos. Por melhor que seja o ambiente fornecido aos leitões após o parto, nunca será melhor do que aquele oferecido pelo útero da mãe. Na maternidade, portanto, encontra-se um verdadeiro desafio para garantir bons resultados na atividade. Os principais pontos de manejo seguidos nesta fase de criação são os seguintes:.
- A sala da maternidade é manejada segundo o sistema “todos dentro, todos fora”, ou seja, entrada e saída de lotes fechados de porcas, e proporcionado o vazio sanitário considerando o planejamento de uso das instalações da granja;
- As porcas são alojadas na maternidade cerca de sete dias antes da data prevista do parto (considerara data média de previsão de parto do lote);
- A sala de maternidade deve fornecer dois ambientes distintos: para as porcas, manter a sala com temperatura interna o mais próximo possível de 18ºC, usando como referência um termômetro localizado ao centro da sala; para os leitões, os escamoteadores com a temperatura interna próximo de 34,0°C na primeira semana, reduzindo-se 2,0°C por semana até o desmame, a qual deve ser controlada por um termostato instalado no interior de um escamoteodor da sala sala;
Arame liso, ao invés do farpado, elimina os casos de ferimentos
A cerca até pode provocar ferimentos ocasionais no plantel, mas este problema é eliminado na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Itapeva com a utilização de fios de arame liso, ao invés do farpado, na base da cerca, instalando-se balancins entre os palanques. O modelo utilizado foi desenvolvido na própria unidade. Animais sadios, criados ao ar livre, também conseguem uma boa conversão alimentar ( 2,5Kg de ração por um de carne).
Gestação a campo (30 a 105 dias)
Foto: Gestação a campo – UPD de Itapeva
Referências Bibliográficas
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