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Aglutinação espermática em doses inseminantes de reprodutores suínos de acordo com a capacidade de preservação a 17 ºC e seus impactos reprodutivos

Publicado: 23 de junho de 2022
Por: Matheus S Lucca, Rafael Gianluppi, Rafael Ulguim, Fernando Bortolozzo, Ana P Mellagi e Danielle Fermo
Introdução
A aglutinação espermática é um fenômeno comumente encontrado no sêmen suíno, a qual se dá geralmente pelo contato cabeça a cabeça (2). Existem evidências da relação da aglutinação às alterações espermáticas durante a capacitação (8), presença de partículas, células de descamação e armazenamento prolongado (10). Ainda que a aglutinação tenham um efeito negativo claro sobre a motilidade espermática (1), Schmidt (7) afirma que as aglutinações no sêmen suíno são relevantes apenas quando excessivas, visto que grande parte dos ejaculados possuem sinais de aglutinação, mas sem influência na capacidade fecundante. Dada a escassez de informações a respeito da ocorrência e implicações reprodutivas, o presente estudo objetivou avaliar a frequência e impacto da aglutinação espermática no desempenho reprodutivo em reprodutores classificados como de baixa ou alta preservação ao resfriamento do sêmen a 17°C em doses armazenadas em distintos diluentes.
Material e métodos
Um total de 12 reprodutores foi selecionado e classificado, de acordo com a motilidade progressiva (MP = média±SD), com sistema CASA AndroVision® (Minitüb, Alemanha) aos 10 dias de armazenamento, em machos de alta preservação (n= 6; MP= 83,93±1,14%) ou baixa preservação (n=6; MP= 64,55±2,48%) ao resfriamento a 17°C. Todos os selecionados tinham ejaculados com menos de 20% de alterações morfológicas. Após a seleção os ejaculados foram coletados semanalmente pelo método da mão enluvada durante seis semanas. As doses inseminantes (DI) foram preparadas, em split sample, com diluentes de curta (BTS) ou longa ação (Androstar® Plus; Minitube), contendo 1,5×109 espermatozoides em 50 mL de volume total e foram armazenadas a 17°C. Análises de MP e aglutinação foram realizadas nos dias 1, 3, 5 e 10 de armazenamento. Na avaliação de aglutinação atribuiu-se os escores 0 (não foram observadas aglutinações); 1 (foram observadas 1 ou 2 aglutinações); 2 (foram observadas 3 a 5 aglutinações); 3 (foram observadas 6 ou mais aglutinações) em oito campos e aumento de 200× (2). Para o desempenho in vivo, fêmeas foram selecionadas (n=724) de acordo com a ordem de parto (1 a 7), duração da lactação (18-23 dias), nascidos totais (NT) do parto anterior (≥9), número de desmamados (≥9) e escore de condição corporal (≥2,5 a < 4). As fêmeas foram inseminadas com protocolo de IATF, com Ovugel® e distribuídas em um arranjo fatorial (2×2), considerando a classe do reprodutor (baixa e alta preservação) e diluente (curta e longa ação). As DI utilizadas para as inseminações foram armazenadas por período inferior a 72h. Análises estatísticas foram realizadas usando SAS (versão 9.4), com procedimento GLIMMIX e comparação de médias pelo teste Tukey (P≤0,05).
Resultados e discussão
A ocorrência de aglutinação nas DI, independente do grau, foi de 18,8%, 44,4%, 72,2% e 89,6% nos dias 1, 3, 5 e 10, respectivamente, demonstrando que houve aumento da aglutinação ao longo do armazenamento. Ocorreu redução (P< 0,01) da motilidade progressiva em amostras com aglutinação, em todos os momentos analisados. Apesar de ambas as classes apresentarem aumento gradual na frequência de aglutinações, essa foi mais intensa em reprodutores de baixa preservação (P< 0,01), quando comparado aos reprodutores de alta preservação nos dias 1 (35% vs. 3%), 3 (68% vs. 22%) e 5 (85% vs. 60%). No 10° dia de armazenamento não houve diferença entre os reprodutores (96% vs. 83%; P> 0,07).
Ao analisar a razão de chance dentro da classe de reprodutores e do tipo de diluente utilizado, foi identificado que machos de baixa preservação tiveram 18,7, 8,3, 5,3 e 7,9 vezes mais chance (P< 0,01) de apresentar aglutinação após a diluição nos dias 1, 3, 5 e 10, respectivamente. Especula-se que essa maior frequência de aglutinação seja devido a um efluxo de colesterol que leva à assimetria da membrana plasmática, a qual pode ter envolvimento com eventos de adesão (9), sendo machos de baixa preservação mais sensíveis, devido à menor resistência ao resfriamento.
Somente nas 120h após a diluição se observou 2,1 vezes mais chance de aglutinação em DI armazenadas no diluente de curta ação (P< 0,01) comparado às armazenadas em diluente longa ação. Embora a composição não seja totalmente revelada, especula-se que protetores de membrana como o EDTA possam estar presentes nestes diluentes. O EDTA atua impedindo a capacitação prematura dos espermatozoides, sequestrando Ca2+, íon que desempenha papel crucial na capacitação espermátic (4). Dubé et al. (3), ao comparar um diluente de longa ação ao de curta ação durante 12 dias, demonstraram que alterações semelhantes à capacitação ocorreram mais cedo (identificadas já no segundo dia de diluição) no diluente de curta ação. Considerando estudos prévios que associam a aglutinação ao processo de capacitação espermática (5, 6), o resultado observado indica que o BTS mantém por menos tempo a integridade da membrana, propiciando maior ocorrência de aglutinação.
Não foi observada diferença estatística na taxa de parto em doses com aglutinação, em ambas as classes dos reprodutores. Houve uma interação (P< 0,01) entre a classe do reprodutor e a ocorrência de aglutinação (independente do grau) para NT, em que a ocorrência de aglutinação nas DI de machos de baixa preservação foi menor que as doses dos mesmos reprodutores na ausência de aglutinação (13,2 vs. 14,5). Contudo os reprodutores classificados como longa preservação apresentaram NT ≥ 15 mesmo em doses aglutinadas. Isso provavelmente se deve a redução da MP da DI na presença de aglutinação, afetando a capacidade de fecundação. Bollwein et al. (1) não encontraram efeito (P> 0,05) da aglutinação sobre a fertilidade, ainda que tenham demonstrado que as aglutinações exercem efeito negativo sobre a motilidade espermática. Os autores relatam que esse efeito não foi encontrado pois as aglutinações foram desfeitas após a diluição. Cabe ressaltar que no estudo de Bollwein et al. (1) foram realizadas múltiplas inseminações com elevado número de espermatozoide por DI por fêmea, o que pode ter mascarado o efeito da aglutinação
Conclusão
A análise de aglutinação espermática na DI se mostra importante para a garantia da eficiência reprodutiva, sendo importante a realização de novos estudos que ampliem o entendimento da relação entre a aglutinação de espermatozoides e a fertilidade em suínos.
Esse artigo foi originalmente publicado em SINSUI 2021 13º Simpósio Internacional de Suinocultura | https://static.conferenceplay.com.br/conteudo/arquivo/anais-trabalhos-cientaficos-sinsui2021-1635776553.pdf.

(1) Bollwein H.; Petschow K.; Weber F. et al. The incidence of agglutination and its influence on sperm quality and fertility of boar semen. Berliner und Munchener tierarztliche Wochenschrift; v. 117, n. 7-8, p. 327-333, 2004.

(2) Bortolozzo F.P.; Wentz I.; Ferreira F.M. et al. Exame do ejaculado. In: Suinocultura em Ação: Inseminação artificial na suinocultura tecnificada. 1° ed. Porto Alegre: Palloti,v. 2. cap. 7, p.69-89, 2005.

(3) Dubé C.; Beaulieu M.; Reyes-Moreno C. et al. Boar sperm storage capacity of BTS and Androhep Plus: viability, motility, capacitation, and tyrosine phosphorylation. Theriogenology; v. 62, n. 5, p. 874-886, 2004.

(4) Fantinati P.; Zannoni A.; Bernardini C. et al. Evaluation of swine fertilisation medium (SFM) efficiency in preserving spermatozoa quality during long-term storage in comparison to four commercial swine extenders. Animal; v. 3, n. 02, p. 269-274, 2009.

(5) Harayama H.; Miyake M.; Shidara O. et al. Effects of calcium and bicarbonate on head-to-head agglutination in ejaculated boar spermatozoa. Reproduction, Fertility and Development; v. 10, n. 5, p. 445-450, 1998.

(6) Harayama H.; Okada K.; Miyake M. Involvement of Cytoplasmic Free Calcium in Boar Sperm: Head-to-Head Agglutination Induced by a Cell-Permeable Cyclic Adenosine Monophosphate Analog. Journal of Andrology; v. 24, n. 1, p. 91-99, 2003.

(7) Schmidt D. Künstliche Besamung beim In: Künstliche Besamung bei Nutztieren: ed. Stuttgart: VEB Gustav Fischer Verlag. p.388, 1982.

(8) Setchell B.P. Anatomy, vasculature, innervation, and fluids of the male reproductive tract. In: The physiology of reproduction. 3° ed. St. Louis, USA: Raven Press. cap. 17, p.1063-1175, 2006.

(9) Waterhouse K.; De Angelis P.; Haugan T. et al. Effects of in vitro storage time and semen-extender on membrane quality of boar sperm assessed by flow cytometry. Theriogenology; v. 62, n. 9, p. 1638-1651, 2004.

(10) Yeste M.; Briz M.; Pinart E. et al. Boar spermatozoa and prostaglandin F2α: Quality of boar sperm after the addition of prostaglandin F2α to the short-term extender over cooling time. Animal Reproduction Science; v. 108, n. 1, p. 180-195, 2008.

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Autores:
RAFAEL D.F.GIANLUPPI
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Rafael Ulguim
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Fernando Bortolozzo
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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