Introdução
A coccidiose em leitões é causada pelo protozoário da espécie Isospora suis (Mundt, 2005), um dos parasitas mais prevalentes na produção intensiva de suínos, o qual pode causar perdas econômicas significativas devido à diarreia nos leitões jovens e consequente redução no ganho de peso e baixo desempenho (Stuart et al, 1982). O controle da coccidiose é realizado através da administração preventiva de toltrazurila entre o terceiro e quinto dia de vida, para evitar a multiplicação do protozoário nas microvilosidades do intestino delgado e consequentemente a necrose e atrofia destas estruturas (Mundt et al, 2007). Apesar de os leitões nascerem com uma pequena reserva de ferro (Venn et al, 1947) os requerimentos necessários para o seu rápido desenvolvimento esgotam suas reservas em torno de 10 dias de vida, uma vez que o suplemento de ferro oriundo do leite da porca é de apenas 1 mg por dia, sendo a necessidade de 7 mg por dia (McDonald et al, 1988). A falta de ferro irá resultar em anemia ferropriva, sendo a palidez o sinal mais evidente e pode ainda levar à queda no consumo e no ganho de peso. O valor de referência para hemoglobina em suínos adultos é de 9 – 13 g/dL e em leitões considera-se que níveis de hemoglobina abaixo de 8 g/dL indicam anemia, e o valor de 6 g/dL é considerado anemia severa (Kegley et al 2002). A prevenção tradicional da anemia é realizada através da suplementação com ferro pela administração injetável de ferro dextrano aos leitões nos primeiros dias de vida (Lipinski, 2010). Assim, o manejo tradicional para prevenção da anemia e coccidiose, envolve duas intervenções distintas, a administração oral de toltrazurila e a injeção intramuscular de ferro. É sabido que a injeção intramuscular pode estar associada com a transferência de agentes infecciosos, através de agulhas contaminadas, além de ser um procesorelativamente trabalhoso e causador de alto grau de estresse para o leitão. O objetivo do estudo foi trazer uma alternativa para o controle simultâneo e eficaz da coccidiose e da anemia ferropriva através de uma combinação oral de toltrazurila e ferro dextrano, o que irá tornar o manejo menos invasivo e reduzir o número de intervenções, favorecendo o bem-estar animal e a otimização da mão-de-obra nas granjas.
Material e Métodos
Foram utilizados 6.493 letões recém-nascidos, de ambos os sexos, provenientes de 3 granjas comerciais com histórico de coccidiose, sendo 2 localizadas no México e uma no Brasil. O estudo foi conduzido entre setembro e dezembro de 2014. Em todas as granjas os leitões tiveram acesso à suplementação alimentar conforme o manejo padrão de cada uma destas. Todos os leitões dentro de cada leitegada foram pesados no segundo dia de vida e ao desmame (21 dias de vida). Os leitões foram randomizados de acordo com o peso corporal em dois grupos experimentais, denominados Tratado e Controle. Foram incluídos animais saudáveis, com peso acima de 900 gramas no segundo dia de vida. Foi um estudo controlado, randomizado, cego e monitorado por uma organização de pesquisa independente. Os tratamentos foram realizados no terceiro dia de vida, onde, cada leitão do grupo controle recebeu 1 mL do produto contendo 50 mg de toltrazurila por mL (Bayer S.A.) por via oral e 200 mg de ferro dextrano por leitão através de injeção intramuscular. Os leitões do grupo tratado receberam, por via oral, 1 mL do produto contendo a combinação de toltrazurila (50 mg/mL) e ferro dextrano (228 mg de ferro ativo/leitão). Foram coletadas amostras de fezes de 10% das leitegadas no 14° dia de vida, as quais foram submetidas à pesquisa de oocistos. Para a coleta de sangue foram selecionados 2 leitões de cada leitegada, os quais representavam o peso médio da leitegada no dia da inclusão, sendo um do grupo tratado e um do grupo controle. As coletas de sangue foram realizadas no 3° dia de vida (antes de tratamento) e no dia do desmame (dia 21) para avaliação de hemoglobina. A avaliação estatística dos resultados atendeu o critério de não inferioridade, onde o peso esperado ao desmame foi de 6,35 ± 1,29 Kg, com uma margem de não inferioridade pré-definida de 0,12 Kg.
Resultados e Discussão
Avaliou-se a média do peso ao desmame (21 dias) entre os leitões dos dois grupos experimentais, sendo a média final encontrada de 5,85 Kg no grupo tratado (combinação oral de toltrazurila + ferro dextrano) e 5,90 Kg no grupo controle (toltrazurila oral + ferro injetável). Não houve diferença estatística do peso dos leitões ao desmame. Comprovou-se a não inferioridade do produto oral combinado quando comparado ao tratamento convencional (Tabela 1 e Tabela 2).
Tabela 1 – Média do peso corporal dos leitões no segundo dia de vida (dia da inclusão), por grupo e por granja (Kg).
n: número; SD: desvio padrão
Tabela 2 – Média do peso corporal dos leitões ao desmame (21 dias), por grupo e por granja (Kg).
a: inclui apenas leitões com dados completos incluídos na análise; n: número; SD: desvio padrão
Avaliou-se a média dos níveis de hemoglobina ao desmame (21 dias) entre os leitões dos dois grupos experimentais, sendo a média final de 9,55 g/dL no grupo tratado (combinação oral de toltrazurila + ferro dextrano) e de 10,48 g/dL no grupo controle (toltrazurila oral + ferro injetável). Não houve diferença estatística no nível de hemoglobina sérica dos leitões ao desmame. Comprovou-se assim a eficácia desta formulação oral na prevenção da anemia ferropriva (Tabela 3).
Tabela 3 – Nível médio de hemoglobina ao desmame (21 dias), por grupo e por granja (g/dL).
a: inclui apenas leitões com dados completos incluídos na análise; n: número; SD: desvio padrão
Conclusões
Os resultados gerados com este estudo multicêntrico de larga escala demostraram claramente a eficácia e a confirmação de não inferioridade da combinação oral de toltrazurila + ferro na manutenção do ganho de peso dos leitões ao desmame, quando comparada ao tratamento convencional de toltrazurila oral e ferro injetável. A combinação oral foi eficaz na prevenção da coccidiose e da anemia ferropriva em leitões jovens. A formulação oral deste produto combinado se mostrou uma alternativa prática que favorece a redução da mão-de-obra e do manejo estressante dos leitões na primeira semana de vida, elevando o bem-estar animal, sendo capaz de combater efetivamente estes importantes desafios da maternidade suína: a coccidiose e a anemia por deficiencia de ferro.
Solicitação para envio das referências bibliográficas: eliana.dantas@bayer.com
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.