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Coccidiose Suína Controle

Controle estratégico da coccidiose suína

Publicado: 28 de outubro de 2011
Por: Eliana Ottati N. Dantas (Coordenadora Técnica – Unidade Aves, Suínos e Aquacultura – Bayer HealthCare)
A diarréia neonatal é um problema presente na suinocultura e sua importância tem aumentado devido à intensificação e tecnificação dos sistemas de produção de suínos. Diferentes agentes patogênicos podem ser causadores de diarréia em leitões, como por exemplo, vírus como rotavirus e coronavirus, bactérias como Escherichia coli, Clostridium perfringens, salmonelas, entre outros. No entanto, estudos demonstram que acausa mais frequente de diarréia em leitões entre 6 e 15 dias de vida é a coccidiose (comunicação pessoal).
A coccidiose dos leitões é causada pela infecção por Isospora suis. Este protozoário é um parasita unicelular que realiza parte do seu ciclo de vida no interior das células do intestino delgado dos leitões, e a outra parte de seu desenvolvimento ocorre no meio ambiente. Ao final da fase de desenvolvimento do Isospora suis no intestino dos leitões, há a formação de um ovo microscópico, denominado oocisto. Este oocisto de Isospora suis é eliminado com as fezes do animal. Havendo condições ideais de temperatura, umidade e oxigênio no meio ambiente, o oocisto eliminado através das fezes do leitão infectado se desenvolve para formar um oocisto esporulado dentro de 1 a 3 dias. Este oocisto esporulado presente no ambiente de criação é capaz de infectar outros leitões, mantendo a coccidiose na granja.
Oocistos de I. suis são raramente encontrados nas fezes de fêmeas reprodutoras. Os leitões ingerem oocistos eliminados pelas leitegadas que estiveram anteriormente na maternidade. Os suínos infectados excretam mais de 100.000 oocistos por grama de fezes, e apenas 100 oocistos são suficientes para causar a coccidiose clínica.
A sintomatologia da coccidiose clínica ocorre mais frequentemente em leitões entre 2 e 3 semanas de vida, afetando em média, metade da leitegada de uma granja. Porém, a mortalidade é baixa. Os sintomas normalmente começam com diarréia pastosa ou aquosa, fezes de cor branca ou amarela, podendo também ser de cor marrom ou acinzentada. A diarréia dura em média 5 a 6 dias. Na mesma leitegada podem ser encontrados animais com diarréia típica de coccidiose e animais com fezes normais. Os animais afetados apresentam condições físicas deficientes e retardo no crescimento; pode ser observada desidratação.
A diarréia clínica observada nos leitões acometidos pela coccidiose é resultado das lesões causadas à mucosa do intestino delgado (jejuno e íleo). Durante o desenvolvimento intracelular de alguns estágios do parasita, há destruição das células do epitélio intestinal dos leitões, podendo até haver destruição de porções do intestino. As vilosidades intestinais também são acometidas. Como resultado, há comprometimento da função digestiva nas áreas afetadas do intestino, prejudicando tanto a digestão como a absorção de nutrientes. Com isto observa-se diarréia e baixo ganho de peso, e as lesões fazem com que o intestino se torne mais vulnerável a invasão por outros agentes patogênicos, o que pode resultar em infecções mistas, como por exemplo, I. suis associado à Escherichia coli, Clostridium perfringens ou ao rotavirus. Nestas infecções mistas, a diarréia e a desidratação são mais intensas e a mortalidade dos leitões é bastante elevada. No entanto, a mucosa intestinal se regenera relativamente rápido, ocorrendo reepitelização dentro de poucos dias. Porém, as vilosidades regeneradas podem apresentar comprimento reduzido, o que resulta na redução irreversível da área de absorção de nutrientes pelo intestino do leitão, afetando negativamente os parâmetros econômicos na produção.
Para que a integridade intestinal seja preservada, e com isto os índices produtivos sejam satisfatórios, deve-se fazer o controle da coccidiose dos leitões. Como já citado, o Isospora suis realiza parte do seu ciclo de vida no interior das células do intestino delgado dos leitões, e a outra parte de seu desenvolvimento ocorre no meio ambiente. Desta forma, o controle adequado deve compreender o tratamento do ambiente e o tratamento da leitegada.
Os oocistos são muito resistentes às influências do ambiente externo, podendo permanecer viáveis após 26 dias sob temperatura de congelamento. No solo, permanecem viáveis por 15 meses sob temperatura entre 40 e 45°C. A destruição dos oocistos pode ser alcançada sob temperatura de 65°C durante 15 minutos. Oocistos de Isospora suis são muito resistentes à maioria dos desinfetantes. Straberg e Daugschies (2007) avaliaram a eficácia do desinfetante a base de cresol e os resultados in vitro demonstraram lise dos oocistos esporulados (>95%) 30 minutos após a incubação nas concentrações de 2% e 4%. Fazem a recomendação de 2 horas de contato na concentração 4% durante o processo de higienização durante o período de vazio sanitário das instalações. Os resultados in vivo demonstraram redução de aproximadamente 50% no número de leitegadas positivas mantidas nas baias desinfetadas, tendo a desinfecção sido realizada, ao menos em 2 etapas: durante o vazio sanitário e 1 semana após o parto. Vale ressaltar que se a lavagem do galpão não for realizada de forma adequada, a desinfecção terá efeito consideravelmente reduzido.
Para evitar a destruição do epitélio intestinal, o aparecimento dos sintomas clínicos da doença e a diminuição do peso dos animais, o tratamento dos leitões deve ser iniciado antes que a coccidiose clínica se torne evidente.
Em 1987 estudos foram publicados sobre a ação dos ativos amprólio e furazolidona (Girard e Morin) e do ativo monensina (Doré e Morin) no controle do I. suis e os resultados demonstraram que estes princípios ativos não foram capazes de prevenir a sintomatologia clínica da isosporose, nem a eliminação de oocistos pelos leitões, nem evitar a destruição das vilosidades intestinais. Desta forma, não são princípios ativos indicados para o controle da coccidiose suína.
Resultados de investigações sobre o efeito do emprego da toltrazurila no controle do agente e combate da doença clínica foram publicados (Haberkorn e Mundt, 1989; Koudela et al., 1991) e a toltrazurila se mostrou eficiente no controle da coccidiose, evitando o desenvolvimento da sintomatologia clínica da doença e a destruição das vilosidades intestinais, assim como a redução significativa da eliminação de oocistos pelos leitões. Driesen et al. (1995) publicaram um estudo sobre a eficácia da toltrazurila no tratamento profilático da coccidiose em 1056 leitões através da administração oral de 20 mg de toltrazurila por quilo de peso vivo, dose única. Além de verificar novamente os resultados positivos encontrados pelos autores acima, verificaram a redução do número de tratamentos antibacterianos, redução da severidade da diarreia e aumento no ganho de peso dos leitões dos grupos tratados.
Bach et al. (2003) avaliaram os achados parasitológicos e morfológicos da coccidiose provocada pela infecção experimental com o I. suis em leitões de três dias de vida, e concluíram que a toltrazurila foi efetiva contra todos os estágios de desenvolvimento do protozoário (estágios sexuado e assexuado) nos diferentes tempos de tratamento (2, 3 e 4 dias pós infecção), o que comprova que a droga pode ser indicada tanto na cura quanto na prevenção da doença. No entanto, o tratamento é mais efetivo quando realizado no estágio inicial da multiplicação assexuada. Os resultados do tratamento no segundo dia pós infecção demonstraram ausência de sintomatologia clínica e de excreção de oocistos, e os danos causados ao epitélio intestinal foram reduzidos a grau mínimo em regiões extremamente restritas.
A eficácia da toltrazurila administrada em dose única de 20 mg/kg no 2° dia pós infecção (dpi) experimental, foi comparada à eficácia do diclazuril (2 mg/kg, 2° e 3° dpi) e da sulfadimidina (200 mg/kg no 2°, 3° e 4° dpi) (Mundt et al. 2007). Foram analisados os parâmetros ganho de peso, ocorrência de diarreia, excreção de oocistos e foram realizadas análises histopatológicas do intestino delgado. Diferentemente dos demais grupos, os animais do grupo toltrazurila não apresentaram diarreia; a excreção de oocistos por estes leitões foi estatisticamente menor quando comparada à excreção pelos animais dos grupos controle, diclazuril e sulfadimidina; os leitões do grupo toltrazurila foram os que apresentaram maior ganho de peso; e as análises histopatológicas revelaram que as vilosidades intestinais dos animais do grupo toltrazurila eram significativamente maiores que as dos demais animais. Estes resultados demonstram que a toltrazurila foi o medicamento mais eficaz no ensaio comparativo de eficiência entre vários coccidicidas, tendo sido capaz de controlar a infecção dos leitões pelo I. suis, mantendo a integridade intestinal e consequentemente os benefícios de um intestino saudável.
É sabido que a destruição da mucosa intestinal predispõe o intestino à invasão por agentes patogênicos secundários e estudos interessantes demonstram os prejuízos adicionais que são causados em infecções mistas. Mundt et al. (2009) e Westphal et al. (2007) avaliaram a infecção concomitante de leitões pelo I. suis e pelo Clostridium perfringens tipo A e a eficácia do tratamento preventivo da coccidiose com toltrazurila na redução do impacto desta associação. Os animais que não receberam tratamento com a toltrazurila apresentaram diarréia acompanhada de perda de peso, a mortalidade atingiu índices de 38,5%, a destruição do epitélio intestinal foi acentuada e foi comprovado o acúmulo de Clostridium perfringens no epitélio intestinal (Mundt et al. 2009). Os animais que receberam o tratamento profilático com a toltrazurila apresentaram um acréscimo médio de 326 gramas no ganho de peso durante o período da maternidade, o lote apresentou maior uniformidade, a incidência da diarreia foi menor, o uso de antibióticos foi reduzido e a mortalidade caiu 64,3% (Westphal et al. 2007). Estes estudos comprovam que a profilaxia com a toltrazurila previne a infecção pelo I. suis, mantendo a integridade intestinal e assim, reduz a chance de colonização do intestino por bactérias.
Os prejuízos causados pela coccidiose são evidentes quando a doença se torna clínica. No entanto, mesmo na ausência de sintomatologia clínica, o impacto na produção pode ser negativo, o que justifica o uso profilático da toltrazurila nestas granjas. Maes et al. (2007) fizeram um estudo envolvendo 10 granjas sem sintomatologia clínica da coccidiose e verificaram que os animais tratados com 20 mg/kg de toltrazurila em dose única apresentaram acréscimo de 25 gramas no ganho de peso diário quando comparado ao grupo controle, durante o período da maternidade. Este ganho de peso sobrepõe o investimento financeiro da compra do medicamento.
Os efeitos positivos do emprego da toltrazurila em leitões com idade entre 3 e 5 dias de vida também podem ser observados após a desmama. McOrist et al. (2010) realizaram um estudo para avaliar a eficácia da toltrazurila na melhora da saúde intestinal dos suínos de uma granja de crescimento e terminação da Europa. O estudo confirma que a administração da toltrazurila antes da desmama possui efeito protetor contra a coccidiose e também demonstra a baixa incidência de infecções secundárias como Lawsoniaintracellularis e Brachyspira hyodysentariae nos leitões tratados, sugerindo que os danos causados pelo coccídea predispõem o intestino a níveis mais elevados de infecções por estes patógenos, no período após a desmama. Os resultados obtidos dão suporte ao uso preventivo da toltrazurila antes da desmama e ressaltam os efeitos protetores adicionais obtidos contra infecções secundárias após a desmama, resultando em melhor conversão alimentar particularmente da metade ao final do período de terminação.
Concluindo, a manutenção da saúde intestinal é fundamental para animais jovens em desenvolvimento, e sendo a coccidiose uma das causas mais importantes em termos de saúde intestinal, o tratamento profilático da leitegada deve ser realizado. Todos os estudos aqui apresentados e outros disponíveis na literatura indicam que a toltrazurila é a droga mais eficaz no controle e tratamento da coccidiose, e que seu emprego deve ser realizado entre o 3° e 5° dia de vida do leitão para que os índices de problemas relativos à saúde intestinal sejam reduzidos, a manutenção da integridade intestinal seja favorecida, a mortalidade em infecções mistas seja reduzida, o fator de conversão alimentar após o desmame seja melhorado, o ganho de peso diário do leitão seja elevado, e com tudo, que os ganhos na produção sejam favorecidos.
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Eliana Ottati N. Dantas
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Giovani Marco Stingelin
Farmabase
6 de abril de 2021
Bom dia, um breve comentário em relação a epidemiologia do Cystoisospora suis: o ciclo de reprodução do parasita é de 5 dias, ou seja, a partir do quarto dia pós infecção já há lesão considerável do epitélio do intestino (enterocitos). Caso o leitão ingira oocistos do ambiente no primeiro dia de vida, a aplicação de toltrazuril entre o terceiro e quinto dia de vida é tardia e terá resultado menor do que o potencial que a molécula antiparasitária pode entregar, dessa forma, a aplicação não deve ser entre o 3° e 5° dia de vida, e sim, no máximo até 72 horas de vida do leitão, de preferência entre o 2° e 3° dias de vida. Se precisarem de referências sobre esses dados, me coloco à disposição no giovani@farmabase.com
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