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USO PRUDENTE DE TERAPÊUTICOS NA SUINOCULTURA – UMA VISÃO PRÁTICA

Publicado: 27 de setembro de 2016
Por: Ricardo Lippke - Supervisor Técnico na Boehringer Ingelheim.
O uso de terapêuticos, principalmente antimicrobianos, na suinocultura apresenta grande importância na produção animal, pois tem como objetivo principal a redução da mortalidade, melhoria do desempenho zootécnico, promoção do bem estar animal e diminuição da pressão de infecção frente às bactérias no rebanho.
Deve-se levar em consideração que existe a necessidade de utilizar um terapêutico, quando houve um desequilíbrio da sanidade do plantel que ocorre principalmente pelo aumento do estresse dos animais por erros de manejo ou por problemas de biossegurança que provocam a introdução de algum patógeno novo na granja.
A redução do uso de antimicrobianos, tanto na forma preventiva quanto terapêutica, na produção animal tem sido discutida mundialmente nos últimos anos com foco principal na redução da resistência bacteriana. A proibição do uso de alguns princípios ativos é a forma mais comum de promover essa restrição (Rhouma et al.,2016)
Observa-se, todavia, na prática do dia a dia que mesmo os terapêuticos autorizados são utilizados de forma imprudente gerando diversas consequências como:
- Econômicas - aumento do gasto com medicamentos sem um retorno de investimento positivo.
- Sanitárias e saúde pública  – aumento da resistência à antimicrobianos a médio e longo prazo
- Psicológicas – Julgamentos equivocados com relação à eficiência de um produto ou protocolo.             
 - Falsa impressão que o tratamento ou prevenção com o uso de terapêuticos irá resolver o problema sanitário do animal ou plantel, esquecendo muitas vezes do manejo básico.
Os erros mais comuns encontrados no uso de terapêuticos são:
1 – Via de administração inadequada.
 Existem 3 vias de administração de medicamentos para suínos e cada uma apresenta suas vantagens e desvantagens como é especificado na tabela abaixo:
Tabela 1 – Vantagens e desvantagens da medicação: Injetável, via Ração e via Água:
Via de Administração
Vantagens
Desvantagens
INJETÁVEL
- Rápida ação
 
-Fácil de identificar o animal tratado reduzindo riscos de resíduos
 
-Foco no indivíduo
 
-Garantia da dose administrada
-Necessita maior tempo e mão de obra
 
-Risco da presença de agulhas quebradas
 
-Alguns medicamentos podem causar reação no local de aplicação
RAÇÃO
-Utilizado com frequência na prevenção de enfermidades
 
-Trata grande número de animais
- A via menos eficiente para tratamento de animais doentes
-Alto risco de resíduos
 
-Animais doentes ingerem pouca ração
ÁGUA
-Fácil administração
 
-Trata rapidamente grande número de animais
 
-Eficiente na prevenção e cura de enfermidades
 
-Flexibilidade de uso (pulsos, e medicações de rotina)
- Medicação pode ser perdida por problemas de vazamento e animais brincando nos bebedouros
 
-Alguns medicamentos solúveis tem um custo maior comparado com seu similar via ração
 
-Animais doentes podem não tomar água
 
-Animais sadios são medicados
 
-Sistema hidráulico pode entupir se o medicamento não for totalmente solubilizado.
 
- Alguns sistemas hidráulicos devem ser adequados para medicação via água
Adaptado de Taylor et al. (2006)
Um exemplo de erro comum é a medicação massal (via água ou ração) de lotes com surtos de tosse sem a utilização em conjunto da medicação injetável. Sabe-se que animais enfermos, principalmente em estado febril, reduzem o consumo de ração e ocasionalmente de água (Pijpers et al., 1990). Como consequência, os animais mais acometidos do lote irão ingerir uma subdose do terapêutico ocasionando redução da eficácia do tratamento e promovendo a resistência bacteriana futura.
Algumas vezes também são utilizados certos antimicrobianos, principalmente aminoglicosídeos, que não são absorvidos no trato gastrointestinal (água ou ração) para agentes sistêmicos. Ex. uso da gentamicina ou neomicina oral para tratamento de animais acometidos por Epidermite Exsudativa. 
 
 
2 – Definição do protocolo terapêutico sem diagnóstico do agente etiológico
Muitas vezes define-se um protocolo de uso de terapêuticos com base da “tentativa e erro” sem ao menos diagnosticar o agente etiológico. Certamente algumas vezes é necessário uma definição imediata do protocolo terapêutico devido à demora do resultado do diagnóstico definitivo, todavia esse protocolo deve ser temporário e revisado após ter em mãos a definição dos agentes etiológicos envolvidos.
Outro exemplo de erro é a utilização de antimicrobianos que atuam na parede celular das bactérias (penicilinas e cefalosporinas) que não possuem essa estrutura. Como é o caso do Mycoplasma hyopneumoniae. Simplesmente o medicamento não funcionará para esse agente.
 
3 – Uso de terapêuticos com protocolo diferente do definido em bula (off label)
Observado com frequência no uso de antimicrobianos injetáveis que necessitam a aplicação de mais de 1 dose. Sacrifica-se o correto uso desses produtos em detrimento da praticidade.  Ex. O antibiótico “XX” deve ser aplicado 5 dias consecutivos com intervalo de 24 horas. No segundo dia o animal melhora o seu quadro clínico e o tratamento não é completado.
Outro erro é achar que independente da dosagem administrada do produto, a carência continua a mesma. Isso tem especial importância nos produtos utilizados perto da data de abate. Deve-se ter em mente que a carência determinada na bula do medicamento foi definida com a dosagem também determinada em bula. Se por algum motivo a dosagem for aumentada, a carência em alguns produtos poderá sofrer alterações. Por esse motivo é de suma importância questionar o fabricante do produto com relação a essa questão.
 
4 – Achar que somente o terapêutico resolverá o problema sanitário.
Um exemplo frequente é o uso do “Preventivo” (antimicrobianos injetáveis aplicados no primeiro dia de vida no leitão) como forma de prevenir diarréias neonatais, principalmente causadas pela Escherichia coli. As causas reais dessas diarréias não são o não uso de “Preventivos” e sim manejos deficientes. Claro que por algum tempo essa prática pode realmente resolver o problema entérico, todavia o grande erro nesse caso é achar que pelo fato de estar medicando não é necessário a curto e médio prazo realizar melhorias significativas no manejo.
 
5 – Utilizar os terapêuticos sem diminuir os fatores de risco presentes na granja.
É disparado o principal erro encontrado no dia a dia do campo e como consequência desencadeia sucessivos aumentos de uso de terapêuticos na granja causando aumento dos custos e frustrações na eficácia dos produtos.
A utilização de antimicrobianos na forma preventiva e/ou terapêutica em um primeiro momento poderá reduzir os sinais clínicos da enfermidade mesmo com os fatores de risco presentes o que dá a falsa impressão que essa é a solução definitiva. Todavia com o passar do tempo existe uma tendência do aumento da pressão de infecção a ponto da enfermidade tornar-se subclínica (causando perda do desempenho zootécnico) e culminando em alguns casos que mesmo com altas cargas de terapêutico o problema clínico não consegue ser solucionado.
Diversos autores relatam que superlotação, ausência de vazio sanitário, amplitude térmica elevada, número de cochos e comedouros insuficientes, má qualidade da água e ração, níveis elevados de gases nas instalações, mistura de leitões de diversas origens, instabilidade imunológica no plantel de matrizes e falta de biossegurança interna são fatores de risco importantes para que patógenos endêmicos na granja ressurjam, desencadeando a enfermidade clínica (Postma,M. et al.,2015; Nathus, H. et al.,2014 ; Pieters, M et al., 2014)
 
Sugestões práticas para promover o uso mais prudente de terapêuticos:
- Investir em diagnósticos laboratoriais e monitorias passivas (utilizar o mínimo possível a prática do “diagnóstico terapêutico”);
- Educação continuada (teórica e prática) para profissionais da área;
- Treinamento prático para os funcionários de granja (fatores de risco, reconhecimento de animais enfermos e aplicação de medicamentos);
- No caso de produtos injetáveis, migrar o máximo possível para antimicrobianos de dose única;
- Reduzir ao máximo as opções de princípios ativos disponíveis dentro de uma granja;
- Produzir planos de ação COMCRETOS para melhoria dos fatores de risco;
- Investir na prevenção através do uso de vacinas, não apenas pensando no indivíduo, mas também na estabilização da imunidade do plantel e diminuição da pressão de infecção;
- Investir em baias hospital adequadas para garantir que os animais tenham condições básicas para recuperação de enfermidades. Segundo Mores, N. (2007) essas baias bem estruturadas e manejadas podem promover uma taxa de sucesso de até 80%.
- Definição de metas e controles claros e simples para mensurar a redução o PRUDENTE uso de terapêutico (ex. investimento de terapêuticos /suíno abatido);
O Médico Veterinário é o principal responsável pela garantia do uso prudente de terapêuticos na produção animal. O foco desse profissional não deve ser apenas no tratamento e recuperação do indivíduo e melhoria da sanidade do rebanho, mas também na manutenção da saúde pública através de boas práticas na prescrição e utilização de antimicrobianos e redução dos fatores de risco desencadeadores das enfermidades clínicas.
 
 
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS:
PIJPERS, A et al. Feed and water consumption in pigs following A. pleuropneumoniae challenge.11th IPVS, Lausanne, p. 39, 1990
TAYLOR, G et al. Water medication for pigs. http://www.thepigsite.com/articles/1623/water-medication-for-pigs/, 2006.
POSTMA, M et al. Alternatives to the use of antimicrobial agents in pig production: A multi-country expert-ranking of perceive deffectiveness, feasibility and return on investment. Preventive Veterinary Medicine, 119; p.457-466, 2015.
NATHUS, H et al . Herd-Level risk factors for the seropositivity to Mycoplasma hyopneumoniae and the occurrence of enzootic pneumonia among fattening pigs in areas of endemic infection and high pig density, 61; p. 316 – 328, 2014.
 
PIETERS, M et al. Intra-farm risk factors for Mycoplasma hyopneumoniae colonization at weaning age. Veterinary Microbiology, 172; p. 575 – 580, 2014.
 
MORES, N. Sala hospital e recuperação de suínos. XIII ABRAVES, p.120 – 124, 2007
 
RHOUMA, M et al. Resistance to colistin: what is the fate for this antibiotic in pig production? International Journal of Antimicrobial Agents, p.01 – 08, 2016.
 
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