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Rastreabilidade Salmonella Abate Suínos

Rastreabilidade da salmonella do crescimento ao abate de suínos

Publicado: 25 de fevereiro de 2008
Por: Kich, J.D. ; Coldebella, A.; y Mores, N. (Embrapa- Suínos e Aves. Brasil); e Fratamico, P.M ; Call J.E.; Luchansky, J.B. (Eastern Regional Research Center -ARS-USDA, USA)
A Salmonella é uma das principais causas de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) e os animaisde produção são considerados seu maior reservatório. Os suínos foram indicados como fonte primária desalmonelose humana em 15% dos casos na Dinamarca3 e Holanda2 e em 25% nos USA1. A entradasistemática de animais portadores e excretores de Salmonella nas plantas frigoríficas é a maior causa decontaminação dos produtos cárneos. As boas práticas de produção diminuem os riscos de contaminaçãocruzada durante o abate e processamento, mas o primeiro ponto crítico de controle são os próprios suínos. Avariabilidade de isolados de Salmonella presentes nas granjas e as múltiplas possibilidades de portadores evetores dificultam o relacionamento epidemiológico entre a contaminação do produto e suas fontes deinfecção ao longo da cadeia produtiva. Entre as ferramentas disponíveis para genotipificação e discriminaçãode amostras de Salmonella, a eletroforese em campo pulsado (PFGE) é a eleita como rotina nasinvestigações de surtos humanos6 e usada em estudos epidemiológicos na produção animal8,9. O objetivodeste trabalho foi relacionar epidemiologicamente, por meio da PFGE, isolados de Salmonella provenientesdo ambiente de granja, dos animais excretores, da ração e das baias de espera no abatedouro com osisolados de linfonodos mesentéricos e superfície das carcaças de suínos de 12 granjas de terminação dooeste de Santa Catarina.


MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em 12 granjas de crescimento e terminação que alojavam entre 250 e 800suínos cada uma.

Amostragem: para estimar a prevalência, o n° de animais amostrados considerou o tamanho do lote,prevalência estimada de 50%, nível de confiança de 95% e acurácia de 15%, sendo amostrados, em média,23 leitões/lote.

Coleta no dia do alojamento: antes do alojamento foram realizados cinco suabes de arrasto nasbaias para avaliar a contaminação residual por Salmonella. Assim que os leitões desembarcavam foramcoletadas amostras de fezes (na quantidade mínima de 25g) de 10 animais individuais e mais 5 pools de 5animais para pesquisa de Salmonella.

Coleta de ração: foram amostradas todas as partidas de ração que chegaram na granja durante ocrescimento e terminação do lote.

Coleta de material no pré-abate: no dia do carregamento para o abate, os suínos foram tatuados esangrados na granja. Foram realizados três suabes de arrasto na baia de espera imediatamente antes dosanimais serem descarregados no abatedouro.

Coleta de material no abatedouro: os suínos tatuados na granja foram acompanhados ao abateonde coletou-se os linfonodos mesentéricos (LM). No outro dia, após a refrigeração, cada carcaça foiamostrada com três suabes de 100cm² na região do esterno, papada e pernil próximo a cauda, os quaisforam processados conjuntamente para pesquisa de Salmonella. Foi realizado uma sub-amostragem de 100carcaças, das quais foram coletados linfonodos inguinais e pré-escapulares e suabes da superfície, como jádescrito, antes da refrigeração.

Pesquisa bacteriológica de Salmonella: seguiu a metodologia descrita anteriormente7. Asorotipificação dos isolados de Salmonella foi realizada no Instituto Osvaldo Cruz.

PFGE: 1281 isolados foram submetidos ao protocolo de PFGE para os sorovares não tifóides deSalmonella preconizado pelo Pulse Net (CDC, Atlanta GA). O DNA foi cortado com a enzima XbaI em plugscom 2% de agarose, a eletroforese foi realizada no sistema CHEFmapper XA (Bio-Rad) nas seguintescondições: baixa MW= 30Kb e alta MW=700 Kb; tempo inicial=2,12s; tempo final=63,8s; gradiente= 6-V/cm;ângulo=120°; corrida em tampão 0,5X tris borato EDTA acrescido de 50μM de tiuréia por 18horas a 14°C. Osgéis foram corados com brometo de etídio, as imagens foram digitalizadas (TIFF) sob iluminação ultra violetae documentadas pelo programa Multi-Analist (Bio-Rad). O perfil de restrição, agrupamentos e dendogramasforam analisados pelo programa BioNumerics por meio da correlação de Dice com uma tolerância de 1,7% naposição das bandas5. A genotipificação foi realizada no ERRC-ARS-USDA, Wyndmoor/PA-USA emcolaboração com a Embrapa Suínos e Aves.

Análise estatística: foram utilizados recursos do SPADN10 para realização da análise decorrespondência múltipla (ACM), no intuito de associar a ocorrência dos grupos (pulsotipos) de Salmonellanos diferentes locais de amostragem de cada rebanho.


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi possível realizar a genotipificação de 1.071 isolados de Salmonella provenientes de 1258amostras. Desconsiderando os isolados repetidos na mesma amostra permaneceram 747 isoladosdistribuídos em 163 diferentes perfis de restrição (pulsotipos). O maior número de isolados é proveniente dosLM, porém a maior variabilidade entre pulsotipos foi observada nas amostras de ambiente de granja (piso dasbaias) e baia de espera do frigorífico. Dos 163 pulsotipos, 93 foram observados apenas uma vez, seispulsotipos foram considerados muito freqüentes ocorrendo em 33 isolados ou mais. O pulsotipo maisfreqüente ocorreu em 136 isolados e estava amplamente distribuído em todos os tipos de amostrasestudadas.

Na Fig. 1 é apresentado o mapa da análise de correspondência múltipla entre os perfis. Observa-seno lado direito do mapa, que a presença do pulsotipo na granja e nos excretores no alojamento estárelacionada com a presença do mesmo pulsotipo nos linfonodos inguinais e pré-escapulares. Esta relaçãosugere o efeito do tempo, ou seja os pulsotipos que já infectavam os leitões no período de creche e início docrescimento tiveram mais tempo para alcançar os linfonodos profundos. No lado esquerdo inferior do mapa,observa-se a relação entre os pulsotipos da baia de espera com aqueles encontrados na carcaça antes edepois da refrigeração. Esta relação é esperada uma vez que os animais entraram em contato com estespulsotipos, contaminaram-se e lavaram os mesmos para dentro do frigorífico. A baia de espera recebepulsotipos de todo sistema de produção e os animais se concentram neste local no pré-abate, tornando-seum ponto crítico de contaminação.

Embora a ração possa ser uma fonte de infecção, a observação da Fig. 1 mostra que ela tem poucarelação com a infecção de linfonodos e contaminação de carcaça nesse estudo. Embora tenha sidoobservado o mesmo pulsotipo exclusivamente na ração e LM, isso ocorreu raramente e não aparece nomapa (Fig.1). Isto pode ser explicado pelas múltiplas fontes de infecção e pela diversidade entre as amostrasde Salmonella que contaminam os LM e carcaças, a relação com a ração acaba sendo menor do que com asdemais fontes.

Nos 12 lotes estudados foram observados 73 pulsotipos diferentes de Salmonella nos LM. Foramobservadas, em diferentes ocasiões, o mesmo pulsotipo sendo excretado no alojamento, o que representacontaminação na fase de creche, no ambiente da granja que representa contaminação residual ourecontaminação após o vazio sanitário, na ração e baia de espera no frigorífico. A falta de maior relação comuma fonte de infecção específica é ilustrada pela posição dos LM na Fig. 1, próxima a origem dos eixos domapa.

As contaminação da carcaça parece estar mais relacionadas com a dinâmica de contaminação dodia de abate, que abrange mais possibilidades do que as fontes de infecção do lote amostradoespecificamente. Foi observado, em dois frigoríficos com prevalência de 26% e 70% de carcaçascontaminadas, que no primeiro 25% das carcaças possuíam amostras do próprio animal, 47% de suínosabatidos anteriormente e 28% de amostras da planta (pessoal e equipamentos) e no segundo que 4% dascarcaças contaminadas possuíam amostras do próprio animal, 70% de suínos abatidos anteriormente e 26%de planta. Este trabalho comprovou a diferença entre as plantas e que no segundo frigorífico a contaminaçãocruzada foi mais importante do que no primeiro4.


CONCLUSÕES

Os leitões excretores no alojamento, o ambiente da granja e as baias de espera no frigorífico são asprincipais fontes de infecção de Salmonella para linfonodos mesentéricos e contaminação da superfície decarcaças de suínos na fase de crescimento e terminação.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Bean, N. H. and Griffin, P.M. Foodborne disease outbreaks in United states. 1973-87: Pathogens, vehiclesand trends. J. Food Protec., v.53, p.804-817, 1990.

2. Berends B. R. et al. Impact on human health ofSalmonella spp. on pork in The Netherlands and anticipated effects of some currently proposed controlstrategies. Int. J. Food Microbiol., v.44, p. 219-229, 1998.

3. Borch, E., Nesbaskken, T, Christensen, H.Hazard indentification in swine slaughter with respect to foodborne bacteria. Int. J. Food Microbiol., v.30, p. 9-25, 1996.

4. Botteldoorn, N. et al. Phenotypic and molecular typing of Salmonella strains reveals differentcontamination sources in two commercial pig slaughterhouses, Appl. and Environ. Microbiol., v.70, p.5305-5314, 2004.

5.Carriço, J. A. et al. Assessment of band-based similarity coefficients for automatic type anssubtype classification of microbial isolates analyzed by pulsed-field gel electrophoresis. J. Clin. Microbiol.V.43, n.11, p.5483-5490, 2005.

6. Centre for Diseases Control and Prevention: www.cdc.gov/PULSENET.

7.Michael,G. B. Comparision of different seletive enrichment steps to isolate Salmonella sp. from feces offinishing swine. Braz. J. Microbiol., v. 34, p.138-142, 2003.

8. Refsum T., et al. Molecular epidemiology ofSalmonella enterica serovar Typhimurium isolates determined by pulsed-field gel electrophoresis:comparasion of isolates from avian wildlife, domestic animals, and the environment in Norway. App. Environ.Microbiol., v.68, n.11, p5600-5606, 2002.

9. Sandvang, D. et al. Persistence of a Salmonella enterica serotypeTyphimurium clone in Danish pig production units and farmhouse environmet studied by pulsed-field gelelectrophoresis (PFGE). Microbiol. Letters, v.187, p.21-25, 2000.

10. SPADN- site SPAD version 3.7 (1998)

Rastreabilidade da salmonella do crescimento ao abate de suínos - Image 1
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Figura 1. Mapa dos perfis de PFGE pela análise de correspondência multipla.

Artigo apresentado durante o XIII Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos

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