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OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-BRUCELLA SPP. EM SUÍNOS DE CRIAÇÕES NÃO COMERCIAIS DA REGIÃO DE JABOTICABAL-SP

Publicado: 2 de agosto de 2016
Por: PALOMA RICARDO¹, LUIS G. DE OLIVEIRA¹, LUIS A. MATHIAS¹, HENRIQUE M. DE S. ALMEIDA¹, THAIS G. BARALDI² ¹Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP – Jaboticabal/SP. ²Médica Veterinária Autônoma.
Sumário

O objetivo do estudo foi de determinar prevalência de anticorpos anti-Brucella spp. Em suínos de criatórios de subsistência da região de Jaboticabal, Estado de São Paulo. Sendo colhidas 346 amostras de sangue de suínos de 56 propriedades. As amostras foram submetidas ao teste do antigen acidificado tamponado (AAT), consideradas positivas se apresentassem aglutinação. Quando positivas, as amostras eram submetidas à reação de fixação de complemento (RFC), como teste confirmatório. Dentre todas, duas foram positivas ao AAT e ao proceder o teste confirmatório, apenas uma foi positiva, com título de 1:8, prevalência de 0,29%, considerada baixa, entretanto se mostrando preocupante, visto que é uma zoonose e uma enfermidade altamente contagiosa.

 

Palavras-chave: brucelose; suínos; subsistência.

 
Introdução
A brucelose é uma enfermidade infecciosa de caráter zoonótico, sendo a bactéria Brucella suis a mais patogênica para suínos e classificada em cinco diferentes sorotipos. A infecção por Brucella suis é a segunda mais prevalente no quadro de infecção do gênero Brucella sp. em animais no Brasil, e também a segunda mais patogênica no mundo, perdendo apenas para Brucella abortus e Brucella mellitensis, respectivamente. (OIE 2009; Jesus, et al. 2010). Além disso, resultados apontam que a presença de bovinos influencia na ocorrência da brucelose suína, havendo a possibilidade de transmissão cruzada da brucelose entre estas duas espécies de produção, a exemplo de Brucella abortus, que pode acometer suínos e da B. suis, que pode infectar bovinos (LEITE et al, 2014).
 
É considerada uma enfermidade ocupacional, pois Médicos Veterinários, operários de frigoríficos e funcionários de granjas podem se infectar ao manipularem restos de material de abortos representando risco para a saúde pública (MATOS et al., 2004).
 
A transmissão entre suínos pode ocorrer pela ingestão de alimentos ou água contaminados por descargas vulvares, ou pelo contato com material resultante de abortamentos, como fetos e membranas fetais. Porcas infectadas podem apresentar natimortos, descargas vulvares e abortamento em qualquer fase da gestação. Nos machos, o principal sinal clínico é orquite, mas, secundariamente, outros órgãos genitais podem ser infectados, sendo comum o isolamento bacteriano de sêmen em animais assintomáticos, podendo esta ser mais uma via de transmissão (JESUS et al., 2010).
 
Apesar de sua alta incidência em várias espécies de hospedeiros, a brucelose continua negligenciada ou subpriorizada em muitas áreas, permanecendo como um importante problema, principalmente entre os pequenos criadores (PLUMB et al. 2013). Em suínos, esta enfermidade teve uma redução acentuada na prevalência, devido à tecnificação na exploração comercial da espécie, embora focos esporádicos ainda possam ocorrer mesmo em granjas tecnificadas (MATHIAS, 2008). O abate clandestino de suínos também é outro importante foco de infecções e risco à saúde pública pela exposição coletiva a agentes infecciosos, como a Brucella suis. Portanto, a preocupação constant quanto ao manejo adequado e biosseguridade são pontos extremamente importantes na manutenção de rebanhos sadios (FILIPPSEN et al., 2001).
 
Material e Métodos
A coleta de sangue foi realizada através de punção da veia jugular em 346 suínos de criações não-comerciais de 56 propriedades da região de Jaboticabal no Estado de São Paulo. A coleta procedeu-se com agulhas descartáveis e tubos de ensaio previamente identificados, mantidos em temperatura ambiente por cerca de 30 minutos, para a separação entre soro e coágulo e depois transportadas em caixas isotérmicas para FCAV/UNESP-Jaboticabal. O soro de cada animal foi dividido em alíquotas de 1,5 ml cada e armazenados em microtubos plásticos do tipo Eppendorf®, em duplicata. Estas alíquotas identificadas foram estocadas em freezer a -20ºC até sua utilização para os testes de diagnósticos. O processamento das amostras foi realizado no Laboratório de Diagnóstico de Leptospirose e Brucelose, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da FCAV/UNESP-Jaboticabal, onde se procedeu as análises através do teste do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) seguido da Reação de Fixação de Complemento (RFC) como teste confirmatório para amostras positivas no primeiro teste.
 
O AAT foi realizado seguindo as normas do manual técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). O método consiste em homogeinização entre soro teste e antígeno (Brucella abortus amostra 1119/3, na concentração de 8,0% de volume celular, corado com rosa de Bengala, pH 3,65) observando a presença ou não de grumos de aglutinação, resultados positivos e negativos, respectivamente. As amostras positivas foram submetidas ao RFC, no qual utilizou-se a microtécnica com incubação a 37C nas duas fases da reação, o complemento foi diluído de modo a conter 5 unidades hemolíticas 50% conforme recomendam Alton et al. (1988). Como antígeno, foi usada a suspensão de B. abortus amostra 1119/3 inativada pelo calor, e como complemento foi usado soro de cobaia. Considerou-se positivo o soro com pelo menos 12,5% de fixação de complemento na diluição 1:8. As amostras positivas no RFC foram utilizadas para calcular a porcentagem de ocorrência, baseadas no número total de amostras.
 
Resultados e Discussão
Dentre todas as amostras submetidas aos testes, duas se mostraram sensíveis ao AAT, pertencentes à mesma propriedade, localizada no município de Pradópolis. Quando realizada a RFC para confirmação do resultado, porém, apenas uma destas duas amostras foi positive para anticorpos anti-Brucella spp., com título de 1:8. A porcentagem de ocorrência, portanto, foi de 0,29%, um achado considerado importante dentro do plantel em questão, devido ao alto poder zoonótico e infeccioso da Brucelose. Ademais, tal propriedade, de acordo com um questionário realizado, apresenta criação conjunta com bovinos de leite, possuindo funcionários em comum para as duas espécies. Não foram adquiridos novos animais recentemente e nos últimos seis meses problemas reprodutivos nos suínos foram observados, além de problemas reprodutivos nos animais de propriedades vizinhas. Não houve alterações reprodutivas nos bovinos e o leite produzido pelas vacas não era oferecido aos suínos.
 
Algumas pesquisas como a de RIBEIRO et al. (2001), mostram alta prevalência, em 972 amostras (931 matrizes e 41 reprodutores), obtiveram resultados positivos entre 19,5% e 48,6% em cinco diferentes granjas comerciais em cidades da mesorregião da Zona da Mata de Pernambuco. Já FREITAS et al. (2001), em 139 amostras de soros de suínos provenientes de abate clandestino de diversas procedências, encontraram 59 (42,2%) positivas.
 
Outros estudos, assim como este, obtiveram baixa prevalência em seus resultados, no Estado do Piauí houve detecção de 1,04% de anticorpos anti-Brucella spp. (2/192) (BRAGA et al., 2013). No sudoeste do Paraná FILIPPSEN et al. (2001) obtiveram 0% de positividade para Brucelose em 969 animais criados ao ar livre. Em 910 soros de suínos coletados de abatedouros na região central do Estado de São Paulo por ROSA et al.(2012), 2,7% foram reagentes ao AAT, porém não reagiram aos testes confirmatórios de soroaglutinação lenta (SAL) e 2-mercaptoetanol (2-ME), resultando em nenhuma amostra positiva. MOTTA et al.(2010) também chegaram ao resultado de 0% ao analisarem 27.300 amostras de 13 Estados brasileiros, e mesmo apresentando alta prevalência ao AAT, os testes confirmatórios SAL e 2-ME não se mostraram reagentes.
 
Tais resultados com tamanha variação de prevalência corroboram a necessidade de mais estudos de incidência desta enfermidade nos diversos tipos de criações existentes no Brasil. Desta forma, através do mapeamento sorológico nacional, novas e mais intensas medidas poderão ser tomadas localmente para controle desta doença de grande impacto zoonótico e ocupacional.
 
Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo permitem atestar a manutenção da brucelose no rebanho suídeo nacional, principalmente em situações de criações não-comerciais, cuja a ausência de tecnificação na produção, falta de conhecimento técnico e manejo inadequado, permitem a veiculação desta bactéria no sistema de criação. A criação simultânea de suínos e bovinos, como no caso analisado, é uma situação frequente em produção de subsistência, e a possível veiculação através de funcionários e materiais de uso comum pode viabilizar a transmissão de Brucella spp entre os rebanhos. Por isso, mesmo sendo baixa a prevalência encontrada, ainda gera preocupação por a brucelose ser uma enfermidade de importância econômica e social, devido seu poder zoonótico, devendo ser erradicada e, para que isto ocorra, há a necessidade de realização de mapeamento sorológico constante, a fim de se instituir todas as medidas de prevenção e controle necessários.
 
Referências Bibliográficas
1. ALTON, G. G.; JONES L. M.; ANGUS R. D.; VERGER J. M. 1988. Techniques for the brucellosis laboratory. Institut Nacional de la Recherche Agronomique, Paris. 190p
2. BRAGA, J. F. V.; TEIXEIRA, M. P. F.; FRANKLIN, F. L. A. A.; SOUZA, J. A. T.; SILVA, S. M. M. S.; GUEDES, R. M. C. Soroprevalência de pseudorraiva, peste suína clássica e brucelose em suínos do Estado do Piauí. Arquivo Brasileiro Medicina Veterinária e Zootecnia, v.65, n.5, p.1321-1328, 2013 EFSA. Porcine brucellosis (Brucella suis). EFSA Journal., 1144: 1-111, 2009.
3. FREITAS, J. A.; GALINDO, G. A. R.; SANTOS, E. J. C.; SARRAF, K. A.; OLIVEIRA, J. P. Risco de brucelose zoonótica associado a suínos de abate. Revista Saúde Pública 35:101-102, 2001.
4. FILIPPSEN, L. F.; LEITE, D. M. G.; SILVA, A. da; VARGAS, G. A. Prevalência de doenças infecciosas em rebanho de suínos criados ao ar livre na região sudoeste do Paraná, Brasil. Ciência Rural, v. 31, n. 2, 2001.
5. JESUS, V. L. T de; PEREIRA R. de C. G.; FLAUSINO W.; MEIRELES G. S. de; RODRIGUES J. da S.; JORGE J. L. B. P. Brucelose suína no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 32(2):101-104, 2010.
6. LEITE, A. I; COELHO, W. A. C.; SILVA, G. C. P.; SANTOS, R. F.; MATHIAS, L. A.; DUTRA, I. S. Prevalência e fatores de risco para brucelose suína em Mossoró-RN. Pesquisa Veterinária Brasileira 34(6): 537-541, jun. 2014.
7. MATHIAS, L. A. 2008. Brucelose animal e suas implicações em saúde pública. Biológico, São Paulo, 70(2):47-48.
8. MATOS, M. P. C.; SOBESTIANSKY, J.; PORTO, R. N. G.; MEIRINHOS, M. L. G. Ocorrência de anticorpos para Brucella sp. em soros de matrizes suínas de granjas que abastecem o Mercado consumidor de Goiânia, Estado de Goiás, Brasil. Ciência Animal Brasileira v. 5, n. 2, p. 105-108, abr./jun. 2004.
9. MOTTA, P. M. C.; FONSECA Jr, A. A.; OLIVEIRA, A. M.; NASCIMENTO, K. F.; SOARES FILHO, P. M.; SERRA, C. V.; JESUS, A. L.; RIVETTI Jr, A.V.; RAMALHO, A. K.; MOTA, P. M. P. C.; ASSIS, R. A.; CAMARGOS, M. F. Inquérito soroepidemiológico para brucelose em suídeos do Brasil.Vet. em Foco 7:141-147, 2010.
10. OIE 2009. OIE Terrestrial Manual 2009, Chapter 2.8.5. Porcine brucellosis. Disponível em http://www.oie.int/fileadmin/Home/eng/Health_standards/tahm/2.08.05_PORCINE_BRUC.pdf Acesso em 24 de Junho de 2015.
11. PLUMB, G.E.; OLSEN, S.C.; BUTTKE, D. 2013. Brucellosis: =One Health‘ challenges and opportunities. Rev. Scient. Tech. Off. Int. Epiz. 32(1):271-278.
12. RIBEIRO, T. C. F. S.; MATOS, R. A.; COSTA, A. N.; LIMA, E. T.; CASTRO JUNIOR, I. F. Inquérito soroepidemiológico da brucelose suína em granjas comerciais da Zona da Mata de Pernambuco. Ciência Animal. 11(2):65-71, 2001.
13. ROSA, D. C.; GARCIA, K. C. O. D.; MEGID, J. 2012. Seropositivity for brucellosis in pigs in slaughter houses. Soropositividade para brucelose em suínos em abatedouros. Pesquisa Veterinária Brasileira 32(7):623-626.
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Paloma Ricardo
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