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O novo normal - Estratégias para Redução de Emissões, Mantendo-se a Lucratividade para Aves e Suínos

Publicado: 5 de junho de 2020
Por: Por Alexandre Barbosa de Brito, Médico Veterinário, PhD. em Nutrição Animal
O NOVO NORMAL – tema que está frequentemente sendo associado a atividades econômicas, sociais e pessoais que devemos aplicar após o tema da quarentena imposta pela pandemia que vivemos. Meu interesse aqui, claro, não é falar sobre aspectos socio comportamentais, mas sim, realizar uma associação deste tema com nova práticas que será cobrado dos nutricionistas nas próximas décadas.
Para me ajudar nesta tarefa, gostaria de compartilhar com todos os leitores um excelente material, recentemente publicado pelos meus colegas de empresa, Doeschate & Cordero (2020). Neste artigo, eles trazem uma visão europeia onde abordam um cenário importante sobre estratégias de formulação envolvendo aditivos alimentares. De acordo com os autores, nos últimos anos houver um interesse crescente dos consumidores em relação à forma como os alimentos são produzidos, o que está influenciando o modo como a indústria de alimentação animal tem se comportado. Originalmente, a pressão da sociedade daquele continente era  basicamente um pedido de melhoria do bem-estar animal, mais recentemente o impacto ambiental da produção de alimentos se tornou um novo foco.
A indústria animal e os nutricionistas devem avaliar como melhorar a produção de aves e suínos, não apenas da perspectiva do desempenho, mas também levando em consideração estes novos parâmetros menos familiares. Especificamente, com relação ao impacto ambiental, a métrica mais tradicionalmente usada refere-se à avaliação das emissões quanto ao equivalente de CO2 (CO2e) usando um modelo credenciado com base nos padrões do IPCC.
Esta é uma maneira claramente definida em que diferentes emissões são corrigidas com base em seus fatores poluentes para produzir um único valor. Ao avaliar a emissão de produção de monogástricos usando o padrão do IPCC, observamos que a formulação de rações representa cerca de 75% deste problema, reforçando o papel que os nutricionistas podem desempenhar na redução de emissões de alimentos para animais e consequentemente da produção de aves e suínos. Como a melhoria do desempenho sempre fez parte da responsabilidade dos nutricionistas na formulação de dietas, esta atribuição poderia ser associada ao tema de emissões, pois animais com melhor desempenho, logicamente teriam um peso desejado, consumindo um volume menor de alimento e, consequentemente, com menor impacto ambiental.
Mas o fato é que os animais com desempenho e custo semelhantes podem ter grandes diferenças de CO2e/kg de carne e, portanto, esse impacto ambiental precisa ser visto/mensurado além dos benefícios de desempenho e custo, pois o objetivo principal deverá ser: como podemos melhorar o uso dos nutrientes presentes na dieta.
Quando se utiliza o modelo para comparar diferentes tipos de alimentos, qualquer efeito sobre o CO2e é calculado a partir da combinação de mudanças na composição dos ingredientes e no desempenho do animal. Por exemplo, uma dieta  com menor proteína e menor inclusão de farelo de soja provavelmente possui uma quantidade menor de CO2e por tonelada de ração, se compararmos com outra com níveis tradicionais destes ingredientes. Mas se o desempenho do animal não for tão bom nesta dieta de baixo uso de farelo de soja, o CO2e por kg de frango produzido pode não ser reduzido, ou inclusive piorado. No entanto, se um desempenho equivalente puder ser alcançado, o CO2e por kg de frango produzido será menor. Ao mesmo tempo, também é provável que o custo da dieta tenha diminuído, proporcionando uma situação em que todos saem ganhando (produtor, consumidor e meio ambiente).
Um exemplo específico deste tema é o uso de enzimas na formulação de alimentos. As enzimas são, há muito, reconhecidas como ferramentas nutricionais com objetivo de reduzir o impacto ambiental, melhorar o desempenho dos animais e Um exemplo específico deste tema é o uso de enzimas na formulação de alimentos. As enzimas são, há muito, reconhecidas como ferramentas nutricionais com objetivo de reduzir o impacto ambiental, melhorar o desempenho dos animais e reduzir o custo da alimentação. Mas tradicionalmente, a escolha de matrizes nutricionais e das doses utilizadas seguem conceitos atribuídos em uma época onde se iniciava o uso destes aditivos nutricionais. Desta forma, é comum observamos estratégias conservadoras de formulação que desconsideram o avanço de qualidade destas enzimas, bem como, as novas formas de determinação do volume de seus substratos nos alimentos.
Ao utilizar a matriz completa (aporte de minerais + aminoácidos + energia) para uma associação entre fitases e carboidrase, por exemplo, esta estratégia normalmente resulta em níveis mais baixos de farelo de soja e óleo/gordura na dieta e, portanto, a pegada ambiental da produção de monogástricos pode ser substancialmente reduzida, desde que os animais mantenham um desempenho é equivalente.
No entanto, a maioria dos nutricionistas relutam em usar os valores completos da matriz descrito por fornecedores de aditivos, aplicando frequentemente margens substanciais de "segurança";. Além disso, embora um valor da matriz para um aditivo possa estar 100% correto, isso não significa que se possa aplicar essa matriz em dietas em que mais de um aditivo esteja em uso: os valores da matriz de combinações de enzimas não são diretamente aditivos!
Isso ocorre porque o primeiro aditivo em uso melhora a utilização de um certo nutriente, o que deixa menos espaço para melhorias no segundo aditivo e assim por diante. Atualmente, as fitase e as carboidrases são amplamente aceitas na nutrição de aves, mas, apesar disso, o modo como as enzimas alimentares são aplicadas às dietas permanece conservador. Historicamente, isso se baseia em uma compreensão tradicional da influência dos substratos enzimáticos e das mudanças que as enzimas podem trazer ao metabolismo e à fisiologia animal. Nos últimos anos, nosso entendimento em cada uma dessas áreas progrediu bastante, como o uso de avaliações NIR para conhecer com exatidão e rapidez o volume de substrato presente nos alimentos. Isso abriu novas oportunidades para explorar todo o potencial da aplicação de enzimas exógenas.
O conceito de usar todos os valores recomendados de liberação de nutrientes foi chamado de Programa de Matriz Máxima ou PMM pela AB Vista. Essa estratégia capitaliza as propriedades do Quantum Blue, uma E.coli fitase aprimorada com alta afinidade pelo fitato, resultando na redução máxima dos efeitos negativos do fitato; além da combinação com um produto Estimbiótico que contém uma xilanase termoestável, bem como xilo-oligossacarídeos fermentáveis (Signis). Assim, os clientes podem receber contribuições nutricionais ainda mais elevadas, mantendo o  desempenho animal, permitindo considerável economia de custos e redução na excreção de nutrientes.
Várias pesquisas foram realizadas para determinar os efeitos desta aplicação enzimática direcionada para degradar o fitato e o PNA das dietas, reduzindo os efeitos antinutritivos de ambos os substratos. Estes objetivos podem ser alcançados devido a estratégia de combinação enzimática de precisão que fornece uma grande degradação do fitato, reduzindo a viscosidade e aumentando a fermentabilidade da fibra. Nos estudos publicados por Lee et al. (2018) e Aftab & Bedford (2018), foi evidenciado que existem efeitos sistêmicos importantes ao usar doses mais elevadas de fitase e xilanase, visando uma forte ação em ambos os substratos (fitato e PNA), reduzindo os efeitos deletérios desses fatores antinutricionais, além de resultar em uma grande oportunidade de formulação de custos com manutenção do desempenho zootécnico.
No Simpósio Europeu de Nutrição Avícola em Gdansk (ESPN 2019), foi apresentado um estudo com objetivo de validar esta abordagem. Neste ensaio de frangos de corte receberam uma dieta controle (DC), a base de milho, trigo, farelo de canola e farelo de soja, formulada com níveis normais de nutrientes, utilizando a liberação esperada de fitase a uma dose tradicional de 500 FTU/kg (Quantum Blue). Uma segunda dieta foi formulada para conter 1500 FTU/kg desta mesma fitase, em associação ao produto estimbiótico SIGNIS (gerando a dose de xilanase de 9600 BXU/kg) combinado com xilo-oligossacarídeos fermentáveis. Para esta dieta (PMM), a liberação nutricional utilizada foi superior aos níveis normalmente utilizados pela maioria dos nutricionistas. A dieta PMM continha um volume substancialmente menor de fosfato monocalcio, farelo de soja e óleo de soja, devido à implementação dos valores desta matriz combinada. Houve também uma redução substancial de custos de formulação (entorno de $€ 11,60/ton), embora, é claro, a redução real de custos dependa muito das condições do mercado e dos preços de ingredientes.
Os resultados (Figura 1) mostram que o desempenho para os dois grupos foi muito semelhante, sem diferenças no ganho de peso ou mesmo conversão alimentar.
Mas o cálculo do CO2e mostrou-se com uma clara diferença a favor do grupo PMM. Houve uma redução de 3,6% no CO2e que foi estatisticamente significante (P< lt;0,05).
O novo normal - Estratégias para Redução de Emissões, Mantendo-se a Lucratividade para Aves e Suínos - Image 1
Figura 01. Efeito do uso da estratégia de uso do programa de matriz máxima (PMM) no desempenho e no volume de CO2e/kg de frangos de corte de 1 a 34 dias de idade, versus dados obtidos junto ao grupo da dieta controle (DC). *(P< lt;0,05)
Outra maneira de analisar a eficiência é calcular a quantidade de fósforo ou proteína (como indicado pela lisina) é necessária para produzir cada kg do frango. Estes dados (Figura 2) mostram uma redução substancial de 12% menos fósforo e 3% menos lisina para a produção do mesmo kg de carne de ave.
O novo normal - Estratégias para Redução de Emissões, Mantendo-se a Lucratividade para Aves e Suínos - Image 2
Figura 02. Efeito do uso da estratégia de uso do programa de matriz máxima (PMM) na utilização de fósforo e lisina (g/kg de ganho) em frangos de corte de 1 a 34 dias de idade, versus dados obtidos junto ao grupo da dieta controle (DC). *(P< 0,05).
De maneira similar, em outra publicação, Brito et al. (2018) apresentaram resultados semelhantes para performance de suínos de 63 a 124 dias de idade, alimentados com uma dieta controle (DC) a base de milho e farelo de soja formulada para conter 500 FTU/kg da fitase Quantum Blue (ABVista, Marlborough, UK) formulada para conter 0,15% de P.disp + 0,16% de Ca + 0,045% de Na; versus a dieta adaptada ao programa de máxima matriz (PMM) contendo 2.000 FTU/kg da mesma fitase + 9.600 BXU/kg da xilanase Econase XT (ABVista, Marlborough, UK) adaptada para atender um matriz de 0,20% de P.disp + 0,22% de Ca + 0,045% de Na + 0,05% de Lys.d. (entre outros aminoácidos) + 120kcal/kg de EMS.
Os resultados apresentados na Figura 03, demosntram uma manutenção nos aspectos de performance, porém com grande vantagem do nível de CO2e emitido e no custo final de produção para o grupo PMM. Os autores concluíram que o uso de 2000 FTU/kg de fitase + 9.600 BXU/kg de xilanase melhoraram a rentabilidade produtiva por determinar baixo impacto nos índices de performance zootécnica, comparando-se ao grupo DC, mesmo com o uso de uma dieta com custo de formulação U$ 20,00/ton inferior.
O novo normal - Estratégias para Redução de Emissões, Mantendo-se a Lucratividade para Aves e Suínos - Image 3
Figura 03. Efeito do uso da estratégia de uso do programa de matriz máxima (PMM) no desempenho e no volume de CO2e/kg de suínos de 63 a 124 dias de idade, versus dados obtidos junto ao grupo da dieta controle (DC). *(P< 0,05)
Os dados mostram que, se forem utilizados aditivos para a alimentação animal, como enzimas, em estratégias especialmente desenvolvidas para retirar o máximo proveito da ação para com seus substratos, isso gerará uma forte consideração nos valores de liberação de nutrientes. Desta forma, é possível obter reduções significativas nos valores de CO2e, ao mesmo tempo em que reduz o custo da alimentação e mantém o desempenho dos animais. Estes três fatores são positivos para a performance de aves e suínos, rentabilidade dos produtores e para o meio ambiente; sendo este tripé o Novo Normal que buscam os nutricionistas de monogástricos.
Parte da Coluna Bimensal na Engormix (leia mais no Site).
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Autores:
Alexandre Barbosa De Brito
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Juarez Donzele
Universidade Federal de Viçosa - UFV
24 de julio de 2020
Alexandre Barbosa De Brito, parabenizo-o pelo enfoque e qualidade do artigo apresentado. Aproveito a oportunidade para fazer uma consideração, que penso ser oportuna, considerando a possível consistência com matéria apresentada. Me refiro aos estudos que nossa equipe de trabalho desenvolveu com suínos , de diferentes sexos, dos 63 aos 155 dias de idade, correspondente as fases de crescimento 1 e 2 e de terminação.. O objetivo dos trabalhos foi o de avaliar a possível possibilidade de aproveitar, a reconhecida capacidade dos suínos de apresentarem ganhos compensatórios ,apos uma fase de restrição nutricional..Em todos os estudos , sem exceção , ficou comprovado que suínos abatidos com peso acima de 105 Kg, poderia ser alimentados com rações com menor aporte de lisina,. Embora o desempenho dos animais ficassem comprometidos nas fases de crescimento 1 e 2,, eles recuperavam com crescimento de peso e de carne compensatórios o suficiente para não ocorrer comprometimento do desempenho , quando se analisava o peso e a carcaça dos animais no final ,aos 155 dias de idade . A coerência com sua matéria estaria relacionado ao menor gasto do farelo de soja na produção dos suínos , com consequente diminuição na carga poluente dos dejetos, com menor produção de CO2, conforme sua materia, e com menor custo de produção. Entendo, pela minha experiência profissional, a dificuldade de adoção de praticas de produção não convencionais , pela natural insegurança. Ainda mais no enfoque destes estudos que a principio ,vai contra a ideia de que necessitamos maximar o desempenho dos animais,, em cada fase de produção, para se obter o melhor retorno.. Inclusive, informo que ,alguns desses estudos estão publicados aqui na ENGORMIX . .Informo também que uma tese desenvolvida sob a orientação de um professor da UFMG, conduzido em granja comercial , com suínos machos castrados e fêmeas , utilizando desse desenho experimental , também obtiveram resultados similares aos que anteriormente havíamos verificados.. Outro ponto importante a ser também considerado ,é que a qualidade da carne melhora , em razão do aumento do marmoreio, quando se produz suínos com menor aporte de lisina. Na literatura disponível , encontram-se fundamentos para justificar a correlação positiva da qualidade da carne devido a redução do aporte de lisina.
Massaruti Gilberto Julio Julio
4 de septiembre de 2021
Eu nesse momento tenho aves landim e já estão a chocar ovos, e como ela pode incubar até ter pintos? Já tem 44 ovos do com uma ave.
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