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MORTE SÚBITA DE SUÍNOS DURANTE O TRANSPORTE OU NO MANEJO PRÉ-ABATE

Publicado: 21 de julho de 2016
Por: LUCIANE M. JÜHLICH1, RAQUEL A. S. DA CRUZ2, PAULA R. PEREIRA2, DAVID DRIEMEIER2, GERMANO MUSSKOPF3 & DAVID E. S. N. BARCELLOS1. 1 Setor de suínos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS/RS - Porto Alegre/RS. 2Setor de Patologia Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS/RS – Porto Alegre/RS. 3 Médico Veterinário, Fiscal Federal Agropecuário – FFA – Lajeado/RS.
Sumário

A morte súbita é um evento comum dentro da cadeia de produção suína, por vezes ocorrendo no transporte ou no manejo pré-abate. Com o objetivo de avaliar causas de morte súbita em suínos de terminação durante o transporte ou no manejo pré-abate em meses de verão, foram examinados 106 dos 139 mortos durante o período de 33 dias, em frigorífico na região do Vale do Taquari do estado do Rio Grande do Sul. Com o exame post mortem, 78,11 % das amostras obtiveram diagnóstico, enquanto 21,89 % não foram observadas alterações macroscópicas. As três principais causas de morte diagnosticadas foram úlceras gástricas, insuficiências cardíaca e respiratória. Em alguns casos, a determinação das causas das mortes só pode ser alcançada através da realização de exames histopatológicos.

 

Palavras-chave: suínos; achados de necropsia; mortalidade pré-abate.

 
Introdução
A morte súbita de suínos é um evento comum dentro dos sistemas de produção, afetando geralmente animais saudáveis e determinando impacto econômico, especificamente em animais em idade de abate. A preparação do suíno inicia com o jejum de 12 horas antes do carregamento, seguido do embarque, transporte, descarregamento e descanso no frigorífico. É uma fase crítica para os suínos, pois são submetidos a situações novas que provocam medo, estresse motor, térmico, mecânico, hídrico, digestivo e emocional (COSTA et al., 2005). O período é marcado pela mistura de lotes, que promove alterações de hierarquia social, aumentando agressões, número de suínos cansados, e incremento da mortalidade. Estudos realizados por Abbott et al. (1995); Warriss (1998); Gomide & Ramos et al. (2006) descrevem alguns fatores que podem ter contribuição com a mortalidade no pré-abate, como: animais portadores do gene Halotano, alta densidade, qualidade do veículo utilizado para o transporte, distância percorrida, mudanças bruscas de velocidade, doenças, brigas, susceptibilidade genética, extremos de temperatura e umidade. Nos últimos anos, no Brasil, têm sido observadas melhoras significativas e continuas de manejo a fim de reduzir estresse, proporcionar bem-estar e diminuir perdas econômicas no transporte ou pré-abate. Tem sido implementadas boas práticas de manejo, incluindo o treinamento de equipes, visando entre outras, oferecer boas condições de transporte e utilização de reprodutores livres do gene Halotano. Porém, ainda há poucos estudos sobre causas de morte súbita nessa fase. Dentre aquelas descritas na literatura, incluem-se os problemas cardíacos, respiratórios, gástricos, entéricos e fraturas (ZURBRIGG & DREUMEL, 2013; ZURBRIGG & DREUMEL, 2014). Apesar disso, grande parte das perdas ainda continua sem diagnósticos. Por isso, o objetivo do presente trabalho foi determinar através de avaliação macroscópica causas de mortalidade súbita dos suínos no transporte ou manejo pré-abate.
 
Material e Métodos
Os animais mortos foram examinados em um frigorífico do estado do Rio Grande do Sul, localizado na região do Vale do Taquari, que conta com Serviço de Inspeção Federal (SIF). O período de estudo incluiu os meses de janeiro, fevereiro e março de 2015, totalizando 33 dias de coleta e 117.260 suínos abatidos com idade entre 150 e 180 dias, oriundos de cruzamentos industriais, provenientes de granjas de integração da própria empresa. Os suínos foram carregados e transportados conforme orientações da empresa, respeitando o bem estar animal e densidade recomendada. Durante o período, 139 suínos apresentaram morte súbita, destes, 106 foram submetidos à necropsia, antes do exame post mortem, foram anotadas informações como lote, sexo, peso individual, peso médio do lote, granja de origem, distância percorrida, período do transporte, e temperatura ambiente. Na necropsia, foi avaliado cada órgão separadamente quanto à consistência, cor, tamanho e forma, fotografando cada passo.
 
Resultado e Discussão
O manejo pré-abate inclui um conjunto de fatores que pode contribuir de forma significativa para o aumento da mortalidade súbita em suínos. Durante o período de estudo, 139 suínos apresentaram morte súbita, 47 durante o transporte (compreende o embarque, o transporte e o desembarque no frigorífico), 92 nas pocilgas de descanso (compreende o desembarque no frigorífico, descanso e subida para o abate), destes, 106 foram submetidos à necropsia. Nesse período, observouse 0,11 % de mortalidade do total de suínos abatidos, similar ao encontrado no Canadá por Zurbrigg (2011), em três frigoríficos com inspeção federal, com mortalidade de 0,07 %. Pelo exame post mortem contatou-se nove diagnósticos como causa de morte, descritos na Tabela 1. Mesmo com observação detalhada de cada órgão, não foi possível o diagnóstico para 23 animais, pela ausência de alterações macroscópicas.
 
Tabela 1- Achados macroscópicos no exame post mortem em suínos com morte súbita durante o transporte ou no manejo pré-abate.
MORTE SÚBITA DE SUÍNOS DURANTE O TRANSPORTE OU NO MANEJO PRÉ-ABATE - Image 1
 
Existem muitos estudos relacionados com úlceras gástricas em suínos, mas poucos relacionados com morte súbita no período pré-abate. Neste estudo, a úlcera gástrica foi a principal causa de morte nos suínos, presente em 19,81 %. Melnichouk (2002) relatou frequência superior (27,0 %). Segundo Almeida et al. (2006), lesões gástricas podem estar ligadas a fatores ambientais, de manejo, nutricionais e estressantes. O seu impacto econômico na suinocultura, se dá pela elevada taxa de mortalidade de suínos adultos. A segunda causa mais frequente foi a insuficiência cardíaca, totalizando 18,86 %. Uma hipótese para explicar o fato seria de que o tamanho do coração dos suínos é pequeno em relação ao volume corporal e também pela sobrecarga que o coração sofre em um curto período de tempo (FRIENDSHIP & HENRY, 1998). Podem também contribuir problemas préexistentes como, pericardite e endocardite. O resultado encontrado foi inferior ao de Zurbrigg & Dreumel (2013), que diagnosticaram insuficiência cardíaca como causa principal de morte súbita, presente em 68 % dos casos. Outra causa encontrada com frequência e também presente em outros estudos foi a insuficiência respiratória, encontrada em 16,03 % dos casos. Melnichouk (2002); Zurbrigg & Dreumel (2013), a descrevem como segunda maior causa, presente em 19 % e 21 %, respectivamente. Outras causas encontradas no presente estudo foram torção de mesentério (5,56 %), enterite hemorrágica (3,78 %) e fratura (0,95 %). Segundo Zurbrigg & Dreumel (2013), fraturas e enterites representaram 8 % do total das mortes em dois frigoríficos do Canadá. Já Melnichouk (2002), encontrou torção de mesentério em 10 % dos animais examinados. No presente estudo, foram diagnosticadas causas pouco usuais e pouco descritas na literatura como causas de morte. A ruptura de fígado representou 5,66 % e ruptura de baço em 0,95 % do total de mortes. Esses achados provavelmente estão relacionados às más condições de manejo no momento do carregamento, manobras bruscas durante o transporte, brigas e pisoteio sobre animais cansados. A identificação das causas envolvidas com mortes súbitas é importante, uma vez que determinam prejuízos econômicos. Além disso, permite direcionar melhorias a serem realizadas durante o transporte ou no manejo préabate para tentar reduzir as mortes entre a saída dos animais das granjas e o abate.
 
Conclusões
Exame post mortem é de extrema importância para identificar causas de morte. A úlcera gástrica foi a principal causa de morte súbita, diagnosticada em 19,81 % dos suínos necropsiados, seguido de insuficiência cardíaca (18,86 %) e respiratória (16,03 %). Em 21,69 % dos casos não foi possível estabelecer o diagnóstico macroscópico, devido a não apresentação de alterações significativas, dependendo de exames histopatológicos para a complementação diagnóstica.
 
Referências Bibliográficas
1. ABBOTT, T. A.; GUISE, H. J.; PENNY, R. H. C.; EASBY, C. Factors influencing pig deaths during transit: an analysis of driver‘s reports. Animal Welfare. v. 4, p. 29-40, 1995.
2. ALMEIDA, M. N. et al. Úlceras gástricas em suínos. A Hora Veterinária. v. 153, p. 62-63, 2006.
3. FRIENDSHIP, R. M.; HENRY, S. C. Cardiovascular System, Hematology and Clinical Chemistry. In: Disease of swine. 7th ed. Iowa State University Press. v.1, p. 3-5, 1992.
4. GOMIDE, L. A. M.; RAMOS, E. M. Tecnologia de abate e tipificação de carcaças. Universidade Federal de Viçosa. Minas Gerais: p. 370, 2006.
5. MELNICHOUK, I. S. Mortality associated with gastric ulceration in swine. Can Vet J. v. 43, p. 225-235, 2002.
6. WARRISS, P. D. The welfare of slaughter pigs during transport. Animal Welfare. v. 7, p. 365-381, 1998.
7. ZURBRIGG, K. The comparison of the percent of hogs shipped weekly that died or were euthanized prior to slaughter in three Ontario packing plants in 2010-2011. Canadá: 2011.
8. ZURBRIGG, K.; DREUMEL, T. V. Broken hearted about in-transit losses? Your pigs may be. Captor Animal Health News. v. 21. Ontario: p. 21-23, 2013.
9. ZURBRIGG, K.; DREUMEL, T.V. Cause of death for hogs that die during transport to an abattoir. American Association of Swine Veterinarians. 45th. United States: p. 455, 2014.
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
Tópicos relacionados:
Autores:
LUCIANE M. JÜHLICH
David Driemeier
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
David E. Barcellos
Universidad Federal Do Rio Grande do Sul UFRGS
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