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LEITÕES DE BAIXO DESEMPENHO NA FASE DE TERMINAÇÃO: PROBLEMA OU OPORTUNIDADE PARA AGREGAR VALOR?

Publicado: 3 de outubro de 2017
Por: Ricardo Tesche Lippke - Médico Veterinário, M. Sc. Supervisor Técnico de Suínos na Boehringer Ingelheim Brasil
Introdução:
Durante o período que compreende a fase de terminação (63 a 170 dias de vida), sempre há leitões que apresentam um baixo desempenho (reduzido ganho de peso diário) quando comparado aos companheiros do mesmo lote. Essa redução no crescimento leva inevitavelmente a um aumento na variação do peso de abate, dificuldade no manejo e resulta muitas vezes em penalizações ou “não bonificações” aplicadas pelos abatedouros.
As principais causas do baixo desempenho determinadas antes do alojamento de leitões na fase de terminação são diversas e podem ser divididas em:
1 – Peso baixo ao nascimento e peso baixo ao desmame
A literatura demonstra que existe uma clara correlação entre os leitões que apresentam baixo peso ao nascer, com o desenvolvimento retardado nas fases subsequentes. Esse déficit inicial é frequentemente exacerbado pelo acesso às tetas inferiores da matriz, estresse no desmame e uma maior competição na leitegada. Essa categoria animal apresenta também uma maior mortalidade e uma pior qualidade de carcaça ao abate (Douglas et al., 2014). Contudo, o peso no momento do desmame é considerado por vários autores como o melhor determinante do desempenho futuro do animal quando comparado ao peso ao nascimento (Smith et al., 2007). Uma das principais causas que gera um maior número de leitões com baixo peso ao nascer é o aumento do número de leitões nascidos totais por leitegada como consequência da alta prolificidade das fêmeas suínas nos últimos anos. Bergstron et al. (2005) demonstraram que em leitegadas com mais de 15 leitões nascidos totais a % de leitões com menos de 1Kg ao nascer foi 2,7 vezes maior quando comparado à leitegadas com menos de 11 leitões nascidos totais (p< 0,001). Schinckel et al. (2004) demonstrou que os 20% de leitões menores ao nascimento tiveram crescimento retardado não apenas no período até o desmame, mas também nos períodos de creche e terminação. Em resumo a maioria dos leitões que tem baixo peso ao nascer e no desmame estão condenados a ter um crescimento retardado ao longo de sua vida produtiva.
Uma das práticas observadas em sistemas totalmente verticalizados com o objetivo de “tentar” amenizar esse problema, é o alojamento em um sistema paralelo que recebe apenas animais com baixo peso (5 a 25% dos leitões dependendo do sistema) baseando-se na premissa que todo animal desmamado ou descrechado devem ser carregado e alojados em outra instalação que compreende a fase de terminação. O resultado econômico é bastante variado dependendo de como o sistema foi projetado, pois muitas vezes é de fluxo contínuo o que gera uma maior pressão de infecção nos lotes e um aumento do coeficiente de variação no peso de abate (Schinckle et al., 2002). Além disso, os gastos com medicamentos e “rações especiais” e preço diferenciado na venda dessa categoria de animal devem ser computados e feito uma criteriosa análise de custo benefício. O desempenho desse sistema em paralelo deve ser incluído no resultado mensal da produção com objetivo de evitar que o mesmo se torne uma maneira de esconder resultados de leitões com baixo peso.
2 – Idade ao desmame baixa
A idade ao desmame impacta o desempenho subsequente do leitão de duas formas (Main et al.,2004):
  • A – a variação no peso de abate aumenta com a redução da idade do desmame
  • B – leitões desmamados mais novos crescem mais lentamente quando comparados a leitões mais velhos.
Desmamar leitões pesados com idade precoce também contribui fortemente para o aumento da variação de peso ao abate.
A questão é qual a melhor forma de reduzir a variação e aumentar a idade dos leitões no desmame. A resposta mais óbvia seria o aumento do número de celas parideiras com o aumento do número de dias de desmame na semana. A outra forma seria a redução do número de dias que as matrizes ficam na maternidade antes do parto e o investimento em ferramentas e máquinas que acelerem a operação de limpeza e desinfecção da maternidade (TOKASH, 2004).
Tabela 1 – Influência da idade ao desmame no peso e variação no peso do suíno.
LEITÕES DE BAIXO DESEMPENHO NA FASE DE TERMINAÇÃO: PROBLEMA OU OPORTUNIDADE PARA AGREGAR VALOR? - Image 1
Adaptado de Main et al. (2004)
3 – Leitões filhos de matrizes de primeiro parto (leitoas)
É sabido que essa categoria de leitões apresenta um desenvolvimento reduzido até o abate quando comparado aos leitões filhos de matrizes com ordem de parto (OP) igual ou superior a 2. Essa diferença pode chegar a quase 5% do peso vivo com 150 dias de vida. Quando comparado o desenvolvimento de leitões filhos de matrizes entre as OP2 até OP6 a diferença não é relevante (Tabela 2) (Shinckel et al., 2010).
Tabela 2 – Efeito da ordem de parto e total de leitões nascidos no peso aos 150 dias de vida.
LEITÕES DE BAIXO DESEMPENHO NA FASE DE TERMINAÇÃO: PROBLEMA OU OPORTUNIDADE PARA AGREGAR VALOR? - Image 2
Adaptado de Schinckle et al. (2010)
O principal motivo dessa diferença é que os leitões filhos de fêmeas com OP1 são mais suscetíveis às enfermidades, principalmente quando misturados a leitões oriundos de fêmeas com OP acima de 2, independente do número de origens. Uma forma de amenizar essa variação é a organização do sistema de produção afim de, alojar leitões filhos de leitoas separados de outras ordens de parto tanto na fase de creche como na fase de terminação. Todavia o ideal é que a origem seja única e não haja aumento do número de origens de leitões.
Apesar das causas que foram citadas anteriormente terem uma correlação direta com o aumento do número de leitões com baixo desenvolvimento no período de terminação, muitas vezes são fatores que não estão nas mãos de quem compra ou recebe leitões provenientes de crechários ou granjas produtoras de leitões. Na maioria das vezes as únicas informações sabidas sobre os leitões alojados são a sua origem e o peso médio do alojamento.
A principal causa do baixo desempenho após o alojamento de leitões na fase de terminação é de ordem sanitária, tanto na forma clínica quanto na forma subclínica.
4 –Enfermidades na forma clínica e subclínica
Com relação a enfermidades na forma subclínica, destaca-se a Enteropatia Proliferativa Suína. Na prática os animais não apresentam nenhum sinal clínico, apenas retardo no crescimento além do aumento da variação no peso no momento do abate. O impacto é direto no ganho de peso diário que apresenta redução média de 36 gramas e a piora na conversão alimentar pode chegar a 70 gramas (Paradis et al., 2012). A principal ação utilizada para minimizar esse problema é a utilização de medicações intermitentes com antimicrobianos, todavia na maioria das vezes o problema é parcialmente resolvido e outras ações são necessárias como a vacinação.
Com relação às enfermidades respiratórias uma ferramenta eficaz para reduzir o impacto dessas enfermidades foi o descrito por Ramirez et al. (2015) que usou a medicação na forma metafilática em animais com baixo desenvolvimento. No estudo, os animais não apresentavam nenhum sinal clínico relevante e as granjas estudadas eram negativas para o vírus da PRRS e positivas para o Mycoplasma hyopneumoniae e vírus da Influenza A na forma endêmica. O resultado foi um ganho de peso de 1,5 Kg a mais para o grupo que utilizou a metafilaxia no período de 110 a 121 dias de vida quando comparado ao grupo de animais não medicados. Esse resultado positivo foi observado apenas nos animais que apresentavam baixo desenvolvimento. Quando a mesma medicação foi realizada em animais considerados com desenvolvimento normal, não houve diferença de peso entre os animais medicados e não medicados. Esses resultados confirmam o fato de que grande parte dos leitões com baixo desenvolvimento na fase de terminação é devido aos problemas sanitários e a medicação metafilática pode ser utilizada como ferramenta eficaz.
Fatores de risco como grande amplitude térmica diária, excesso de gás e poeira, falta de higiene na limpeza das baias são também exemplos de como aumentar o impacto dos leitões de baixo desenvolvimento nas fases de terminação (Michiels et.al., 2015; Renaudeau,D., 2009).
Animais doentes tem a redução do consumo de ração e água (Pijpers et al., 1990) principalmente em enfermidades respiratórias, impactando diretamente o ganho de peso diário e conversão alimentar sem muitas vezes causar aumento da mortalidade. Baseando-se nessas informações a medicação terapêutica de animais enfermos na maioria das vezes deve ser injetável com preferência para produtos de dose única com o objetivo de facilitar o manejo e reduzir possíveis erros de processo. (Lippke, 2016).
A separação do animal doente em baias enfermaria muitas vezes é melhor do que deixa-lo na baia original. O objetivo principal desse manejo é acompanhar o animal de uma forma mais intensiva aumentando sua taxa de recuperação. Foi demonstrado que leitões com quadro crônico de doença respiratório no período de terminação apresentaram 45 gramas (p=0,05) a mais de ganho de peso diário e 6% menos repetição do tratamento injetável (p<0,05) quando retirados de suas baias originais e colocados em baias enfermarias em comparação a deixá-los nas baias de origem (Onken et al., 2015).
Independente se as ações para minimizar o impacto dos leitões com baixo desenvolvimento na fase de terminação foram feitas corretamente, sempre haverá uma variação de peso dos animais seguindo uma distribuição normal. Segue abaixo alguns manejos que visam reduzir a variabilidade do peso do momento do abate.
Abate parcelado:
Compreende o retirada parcelada dos animais do lote iniciando pelos mais pesados. Alguns dias depois (7 a 10 dias) realiza-se a retirada do restante dos animais. O objetivo principal é entregar a faixa de peso mais desejável para o abatedouro além de fornecer a chance para os animais com menor desenvolvimento se recuperarem pela menor lotação na baia. Potter et al. (2010) demonstraram que após a retirada parcelada, os animais remanescentes apresentam melhor ingestão de ração e maior ganho de peso diário com uma relação direta com o espaço fornecido a eles.
Todavia para um melhor aproveitamento desse manejo é necessário que os leitões não sejam uniformizados no momento do seu alojamento no período de terminação. Dessa forma a retirada dos animais maiores ocorre em todas as baias ao invés de apenas nas baias de leitões maiores previamente uniformizados.
O’Quinn et al. (2010) demonstraram claramente que não é necessário a uniformização por peso no momento do alojamento dos leitões no período de terminação. Além disso, as baias pertencentes a leitões não uniformizados tiverem um ganho de peso diário igual à baia uniformizada com os animais maiores. Uma possível explicação para esse achado é o fato de que ocorrem menos brigas em baias com uma maior variação de peso entre os indivíduos. A hierarquia social de baias contendo leitões grandes, médios e pequenos se estabelece instantaneamente, em contrapartida em baias com peso uniforme no alojamento, principalmente de animais médios e grandes, demora-se semanas para o seu estabelecimento. O coeficiente de variação foi semelhante no momento do abate demonstrando que o alojamento uniformizando os animais em baias de pequeno, médios e grandes não influencia na diminuição do coeficiente de variação do peso de abate do lote. Os autores concluem que a uniformização só é necessária se algum manejo específico é fornecido para a baia dos animais mais leves.
Uso de rações “especiais”:
Quanto da variação do peso de abate pode ser reduzida, fornecendo dietas específicas para leitões com baixo desenvolvimento?? Um dos únicos ingredientes efetivos e economicamente viável para esse fim é a energia. Se uma dieta com alta energia é fornecida a leitões com baixo desempenho ele irá ter seu ganho de peso melhorado (desde que sua genética permita). Tokasch (2004) comenta que se dietas com alta energia forem fornecidas à leitões com baixo desenvolvimento ao longo do período de terminação, o peso de abate pode aumentar de 3 a 5 Kg. Todavia essa dieta deve ser fornecida ao longo de todo o período e não apenas na sua fase inicial. Além disso, o custo benefício varia em cada sistema e a logística de distribuição desse tipo de ração dentro das instalações deve ser avaliada.
Considerações finais:
- O problema dos leitões de baixo desenvolvimento na fase de terminação se torna uma oportunidade dependendo da forma com que cada sistema maneja essa variabilidade de peso no momento do carregamento para o abate.
- O abate parcelado e um bom manejo sanitário são as formas mais eficazes na redução da variabilidade do peso do lote de terminação.
- Uma alternativa eficaz para essa categoria de animal é a venda de animais mais leves para abatedouros “alternativos” que muitas vezes tem interesse em carcaças com peso reduzido.
- Todas as ações a serem implantadas com objetivo de reduzir o impacto dos leitões com baixo desenvolvimento devem apresentar um estudo de custo benefício. O que muitas vezes é rentável em um sistema deixa de ser em outro.
Referências:
DOUGLAS, S.L. et al. Identification of risk factors associated with poor lifetime growth performance in pigs. Journal of Animal Science, 91; p. 4123 – 4132, 2013.
SMITH, A.L. et al. Effect of piglet birth weight on weights at weaning and 42 days post weaning. Journal of Swine Health and Production, 15; p. 213 – 118, 2007.
BERGSTRON, J.R. et al. Effect of piglet birth weight and litter size on the preweaning growth performance of pigs on a commercial farm. Swine Day, p. 1 – 7, 2005.
SCHINCKEL, A.P. et al. Analysis of pig growth from birth to sixty days of age. The Professional Animal Scientist, 20(1); p. 79 – 86, 2004 .
SCHINCKEL, A.P. et al. Evaluation of alternative nonlinear mixed effects model of swine growth. The Profissional Animal Scientist, 18; p. 219 – 226, 2002.
TOKACH, M. Dealing with variation in market weight. Advances in Pork Production, v 15; p. 281 – 290, 2004.
MAIN, R.G. et al. Increasing weaning age improves pig performance in a multi-site production system, Journal of Animal Science, 82(5); p. 1499 – 1507, 2004.
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PIJPERS, A. et al. Feed and Water consumption in pigs following A. pleuropneumoniae challenge. 11th IPVS, Anais, Lausanne, p.39, 1990.
LIPPKE, R.T. Uso prudente de terapêuticos na suincultura: Uma visão prática. IX Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, Anais, p.84 – 90, 2016.
ONKEN, C. et al. Individual Pig Care: Determining the best management practice for the B-pig, AASV annual meeting, Anais, p. 267 – 268, 2015.
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RAMIREZ, C.R. Limited efficacy of antimicrobial metaphylaxis in finishing pigs. A randomized clinical trial. Preventive Veterinary Medicine, 121; p. 176 – 178, 2015.
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RENAUDEAU,D. Effect of housing conditions (clean vs. dirty) on growth performance and feeding behavior in growing pigs in a tropical climate. Tropical Animal Health and Production, 41(4); p.559 – 563, 2009.
POTTER, M. et al. Effect of stocking density on lightweight pig performance prior to market. Swine day, p. 262 – 265, 2010.
O’QUINN, P.R. et al. Sorting growing-finishing pigs by weight fails to improve growth performance or weight variation. Journal of Swine Health and Production, 9(1); p. 11 – 16, 2001.
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