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Doença Aujeszky Reprodutores Suínos

Relato Epidemiológico do Vírus da Doença de Aujeszky, Envolvendo o Comércio de Reprodutores Suínos de Reposição

Publicado: 10 de maio de 2012
Por: Nelson Morés; Armando Lopes do Amral; Lauren Ventura; Janice Reis Ciacci Zanella; Ademar Mori; José Anibal Dambrós; Gilberto Provenzano; Ivandro Bisolo

 

Relato Epidemiológico do Vírus da Doença de Aujeszky, Envolvendo o Comércio de Reprodutores Suínos de Reposição - Image 1
Introdução
A doença de Aujeszky (DA) é uma doença infectocontagiosa causada por um herpesvírus de noti?cação o?cial, pertencente ao código zoosanitário internacional da OIE (Of?ce International des Épizooties). A primeira descrição da DA existente no Brasil é de 1912, e em Santa Catarina, de 1984. Os suídeos são considerados reservatórios naturais do Vírus da Doença de Aujeszky (VDA), sofrem infecção latente, e sob certas condições de estresse, este vírus pode ser reativado, resultando em eliminação e transmissão para animais suscetíveis. No Brasil, a comercialização e distribuição de suídeos destinados a reprodução somente é autorizada por Granjas de Reprodutores Suídeos Certi?cadas (GRSC) que são livres de várias doenças, incluindo a DA (Instrução Normativa No19 de 15 de fevereiro de 2002 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA). Para controle e erradicação da doença, são usadas vacinas marcadas mortas ou vivas e deletadas para alguma glicoproteína (gp). No Brasil a utilização de vacina para DA é controlada pelo MAPA e permite apenas o uso de vacinas deletadas para a gE. Em abril de 2001 foi iniciado um programa de erradicação desta doença no Estado de Santa Catarina, baseado na vacinação e despovoamento gradativo nas granjas ou pela vacinação e sorologia diferencial com eliminação dos suínos soropositivos. O objetivo deste trabalho é relatar a disseminação da infecção pelo VDA a partir da comercialização de reprodutores suínos oriundos de duas granjas GRSC que tiveram surto da DA.
 
Estudos realizados
Granja 1: granja GRSC com 140 matrizes que produzia e comercializava fêmeas F1 e machos híbridos para reposição aos rebanhos comerciais. A partir da constatação dos primeiros sinais clínicos da doença em 30/09/01, a granja foi interditada e a venda de animais para reprodução foi suspensa. Em 05/10/01 foi con?rmado o diagnóstico, e em 12/10/01 todos os suínos vendidos no mês de setembro/01 e na última semana de agosto/01 (totalizando 36 rebanhos) foram recolhidos. No mesmo dia foram colhidas amostras de sangue destes animais para realização da sorologia contra o VDA e destinados ao abate. Como os suínos vendidos na última semana de agosto/01 apresentaram resultados sorológicos negativos para o VDA, os animais comercializados anteriormente a esta data não foram investigados. Nos rebanhos que receberam animais soropositivos, foram realizadas duas sorologias para o VDA: a primeira entre 30 a 37 dias após a retirada dos suínos (apenas daqueles das baias vizinhas onde os suínos recolhidos haviam sido alojados) e a segunda entre 4 a 5,5 meses após (em uma amostragem de reprodutores machos e fêmeas da granja calculada considerando a prevalência estimada em 5,0% e nível de con?ança de 95%).
Granja 2: granja GRSC com 280 matrizes que produzia e comercializava fêmeas F1 destinadas a reposição de rebanhos comerciais. A partir da constatação dos primeiros sinais clínicos da doença em 15/06/02, a granja foi interditada. Em 21/06/02 foi con?rmado o diagnóstico de DA e nos dias 23 e 24/06/02 foram recolhidos todos os suínos vendidos em maio/02 e primeira quinzena de junho/02 (45 dias anteriores ao surto), totalizando 16 rebanhos. No mesmo dia foram colhidas amostras de sangue para sorologia contra o VDA e destinados ao abate. Como os suínos vendidos na primeira semana de maio/2002 apresentaram resultados sorológicos negativos para o VDA, aqueles comercializados anteriormente a esta data não foram investigados. Nos rebanhos que receberam suínos soropositivos foi realizada uma sorologia nos animais das baias vizinhas onde eles haviam sido alojados 17 a 18 dias após a retirada dos lotes de suínos recebidos.
Todos os rebanhos que receberam suínos das Granjas 1 e 2 não possuíam instalações de quarentena, por isto os animais de reposição comprados eram alojados diretamente nas instalações de cobertura/gestação, porém em baias separadas dos demais animais da granja.
Exames sorológicos: Os exames sorológicos dos suínos não vacinados foram realizados com um kit de ELISA de triagem e os soros positivos foram submetidos a prova de soroneutralização. O soro de suínos vacinados foram testados com o kit ELISA diferencial gE (HerdChek IdexxR).
Procedimentos adotados nos rebanhos infectados: Nas Granjas 1 e 2, logo após o diagnóstico da doença, foi instituído um programa de vacinação do plantel contra a DA com vacina morta e deletada para gE e, passados os sintomas clínicos, os rebanhos foram despovoados, conforme preconiza o Programa Estadual de Erradicação da DA. Estes procedimentos também foram adotados nos rebanhos destino que manifestaram sinais clínicos da DA ou que apresentaram alta prevalência sorológica (>10%) para o VDA. Os rebanhos que apresentaram prevalência sorológica para o VDA igual ou menor que 10% foram vacinados e incluídos no programa de erradicação da DA por sorologia diferencial e eliminação dos reprodutores soropositivos.
 
Resultados e comentários
Os resultados do número de rebanhos envolvidos em cada caso epidemiológico estão na Tabela 1. No período investigado, 52 rebanhos compraram suínos das granjas 1 e 2 dos quais 37 (69,8%) receberam pelo menos um animal com sorologia positiva para o VDA. Observou-se que destes 37 rebanhos, 7 (18,9%) foram contaminados e 30 (81,1%) não apresentaram evidência sorológica da infecção, indicando e?ciência das medidas adotadas. Os rebanhos que receberam suínos das granjas 1 e 2 no período estudado, tinham entre 5 a 155 e 18 a 170 matrizes, respectivamente.
Considerando os resultados sorológicos dos suínos comercializados e o início dos sintomas clínicos, provavelmente, a infecção pelo VDA na granja 1 tenha ocorrido na primeira semana de setembro/01 e na granja 2 na segunda semana de maio/02.
A granja 1 vendeu suínos para 36 rebanhos. Destes, 10 receberam apenas animais com sorologia negativa (os quais correspondem aos animais vendidos na última semana de agosto/01) e 26 rebanhos receberam pelo menos 1 animal soropositivo para o VDA. Destes 26 rebanhos, três desenvolveram a doença com con?rmação laboratorial, quatro apresentaram animais soropositivos, mas sem manifestação da doença, e 19 não apresentaram indícios de disseminação do vírus no rebanho, veri?cado tanto na sorologia dos animais das baias vizinhas como na monitoria realizada após seis meses. Ademais, estesrebanhosforamacompanhados por três anos e nenhum deles apresentou indícios da doença. Dos sete rebanhos soropositivos, seis foram despovoados por apresentarem surto de DA ou alta prevalência da infecção (>10%) e, em um deles, com baixa prevalência da infecção (2,4%), o VDA foi erradicado por vacinação e sorologia diferencial.
A granja 2 vendeu lotes de suínos a 16 rebanhos e, destes, 11 receberam pelo menos um animal com sorologia positiva para o VDA. Nenhum deles tornou-se infectado, uma vez que os animais alojados nas baias vizinhas apresentaram sorologia negativa cerca de 18 dias após a retirada dos lotes comprados. Ademais, estes rebanhos foram acompanhados por um período de dois anos e nenhum deles apresentou indícios da doença.
É importante ressaltar o potencial de disseminação do VDA a partir de granjas que comercializam suínos de reposição. Esta é a principal razão para praticar a reposiçãodoplantelapenascomsuínosdegranjascom certi?cação sanitária o?cial em dia. Neste episódio, caso não fossem tomadas medidas de controle e erradicação da infecção, os 36 rebanhos que receberam suínos soropositivos, teriam sido infectados. Com as medidas tomadas, apenas sete rebanhos tornaramse infectados. Embora a introdução de leitões ou reprodutores com estado sanitário desconhecido, sejaa principal origem de focos da DA em rebanhos isolados, vale lembrar que, a curtas distâncias, os vetores clássicos de contaminação como visitas, banhos, caminhões e dejetos, entre outros, representam papel importante na disseminação doVDA. Em regiões de alta densidade de suínos, onde a infecção pelo VDA é elevada, o vento pode também ser o responsável pela transmissão da infecção de um rebanho para outro.
Relato Epidemiológico do Vírus da Doença de Aujeszky, Envolvendo o Comércio de Reprodutores Suínos de Reposição - Image 2
Nos rebanhos que receberam suínos soropositivos para o VDA e a infecção não disseminou-se, dois fatores podem ter contribuído: a) os animais soropositivos adquiridos não estavam eliminando o VDA no período em que permaneceram no interior das instalações; b) os animais soropositivos ?caram alojados em baias separadas dos demais suínos e por um período muito curto, não possibilitando sua disseminação. Provavelmente, a rapidez com que os lotes adquiridos em que haviam suínos soropositivos foram retirados do rebanho destino, foi fundamental para evitar a disseminação da infecção.
O VDA pode estabelecer persistência ou latência por longos períodos nos gânglios nervosos de suínos soropositivos, sem disseminar a infecção. Esta provavelmente é a razão porque muitos rebanhos que receberam suínos soropositivos não apresentaram soroconversão nem desenvolveram a DA. A atitude de retirar imediatamente das granjas destino, todos os suínos comercializados pelas granjas 1 e 2 desde a comprovação da infecção pelo VDA, foi fundamental para evitar a disseminação da enfermidade. Regiões ou mesmo países, com suinocultura avançada e que vislumbrem o mercado exportador, devem montar estratégias para controle e erradicação do VDA que contemplem, principalmente, os rebanhos que distribuem ou comercializam reprodutores.
 
Conclusões e Recomendações.
A ocorrência da DA em granjas GRSC representa um potencial enorme para disseminação do VDA por que elas comercializam suínos para reposição. Em caso de surto, a rastreabilidade dos animais comercializados num período anterior ao diagnóstico da DA, com imediata remoção dos lotes de suínos soropositivos dos rebanhos destino, reduz a disseminação da infecção. A certi?cação sanitária para granjas GRSC emitida pelo MAPA tem validade de seis meses, porém os rebanhos podem se contaminar durante este período, principalmente quando há ocorrência de surto da doença na região como foi o caso das granjas 1 e 2 deste estudo. De qualquer forma é sempre sanitariamente mais seguro para os produtores adquirem suínos de reposição somente de granjas GRSC, ao invés de rebanhos com situação sanitária desconhecida.
 
Referências Bibliográ?cas.
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Autores:
Nelson Morés
Embrapa Suínos e Aves
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Masaio Mizuno Ishizuka
USP -Universidade de São Paulo
31 de agosto de 2015
Dr. Nelson Morés. Parabéns pela sua contínua atuação na Educação Continuada. Tema atual e de vital importância para as áreas erradicadas para DA. Orgulho da nossa suinocultura. Masaio Mizuno
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