Explorar
Comunidades em Português
Anuncie na Engormix

DERMATOPATIA ALÉRGICA ASSOCIADA À SERRAGEM DE Pinus elliottii EM UMA PORCA

Publicado: 5 de outubro de 2016
Por: JULIANA S. BRUM1, PEDRO I. TEIDER JUNIOR2, MICHELLE RAIMUNDO2, JULIA DALL’ANESE3, GEÓRGIA C. KARWOWSKI3. 1Laboratório de Diagnóstico das Doenças de Suínos, Hospital Veterinário (HV), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba/PR; 2Graduação em Medicina Veterinária, UFPR, Curitiba/PR; 3Programa de Residência Multiprofissional, HV, UFPR, Curitiba/PR.
Sumário

Cama sobreposta tem sido usada para alojar porcas gestantes em baias coletivas, principalmente para melhorar o bem-estar. Aspectos negativos relacionados à sanidade e que estejam diretamente ligados ao tipo de cama utilizada não foram observados na literatura. Desta maneira, este trabalho tem como objetivo descrever os achados epidemiológicos, clínicos e patológicos observados em um caso de dermatite alérgica associada ao contato com cama de serragem de Pinus elliottii em uma porca. Foram observados todos os aspectos epidemiológicos relacionados com o desenvolvimento de dermatopatia caracterizada por prurido intenso e pápulas na região ventral do suíno. Foi realizada biópsia cutânea, onde se observou dermatite perivascular eosinofílica. As alterações descritas levaram ao diagnóstico de dermatite por contato alérgico após contato com serragem. Apesar de ser uma boa alternativa para compor cama sobreposta de suínos, a serragem de Pinus elliottii pode desencadear possíveis reações cutâneas alérgicas individuais, afetando a saúde, bem-estar e produção dos animais.

 

Palavras-chave: dermatite de contato; dermatopatologia; doenças de suínos.


Introdução
A utilização de cama sobreposta para alojar porcas gestantes em baias coletivas representa melhor bem-estar, maior atividade física e menores taxas de comportamento estereotipado (MELCHIOR, 2012). A serragem utilizada na creche, no crescimento e na terminação demonstra uma maior performance zootécnica e menor produção de amônia, quando comparado com suínos criados em piso ripado. Além disso, proporciona um maior número de animais por lote e um melhor conforto ambiental durante o inverno (COSTA et al., 2006). Até então, não foram encontrados aspectos negativos relativos à sanidade de suínos relacionados diretamente com o tipo de cama utilizada. Reações alérgicas cutâneas em suínos são pouco descritas e acontecem principalmente secundárias à picada de insetos (BARCELLOS et al., 2012). Desta maneira, este trabalho tem como objetivo descrever os achados epidemiológicos, clínicos e patológicos observados em um caso de dermatite alérgica associada ao contato com cama de serragem de Pinus elliottii em uma porca.
 
Material e Métodos
Uma porca (porca 01), seis meses de idade, cruza com Large White, pesando 90 Kg, apresentou problema de pele quatro semanas após ingressar à Clínica de Grandes Animais do HV - UFPR. Foi doada ao hospital aos quatro meses de vida, sem apresentar alterações clínicas, juntamente com outro suíno, fêmea de dois meses, sem raça definida. As duas permaneceram na mesma baia forrada com serragem de Pinus elliottii. Eram alimentadas com ração comercial para suínos em crescimento e recebiam água a vontade. Foi realizado controle parasitário com ivermectina a 1% (0,03 ml/Kg) logo que ingressaram, mesmo após se observar baixa carga parasitária no exame coproparasitológico. No mesmo galpão estavam alojados ovinos e caprinos, e em dois galpões vizinhos equinos e bovinos; todos as baias eram revestidas com a mesma serragem. Na Porca 01 realizou-se exame clínico geral e específico da pele. Foi realizado raspado cutâneo da região abdominal ventral e observado diretamente em microscópio óptico. Tranquilização com azaperone (2,0 mg/Kg), meperidina (3,0 mg/Kg), midazolam (0,5 mg/Kg) e cetamina (8,0 mg/Kg) foi realizada intramuscularmente. Bloqueio anestésico local com cloridrato de lidocaína 2% (0,05 ml/Kg) foi feito na região abdominal ventral entre os penúltimos pares de mamilos. Com o auxílio de um punch (manobra de Whyte e Perry) foi retirado um fragmento de pele lesionada de 6,0 mm de diâmetro. O local da incisão foi higienizado com iodo a 2% e tratado com spray cicatrizante comercial durante sete dias. O fragmento foi fixado em formol tamponado a 10%, processado rotineiramente para histopatologia e corado pela hematoxilina e eosina. Foi retirada a serragem.
 
Resultados e Discussão
De todos os animais alojados na Clínica de Grandes Animais do HV-UFPR, a Porca 01 foi o único a apresentar alterações clínicas relativas à pele. A dermatite, desencadeada após quatro semanas, caracterizava-se por prurido intenso com automutilação. Animais com dermatite pruriginosa podem apresentar alterações comportamentais, tais como: agitação, irritabilidade, automutilação, dificuldade para conciliar o sono e diminuição da interação com tratadores e outros animais, além da diminuição da produção (YAZBEK, 2010). Macroscopicamente as lesões eran observadas na região ventral, acentuadamente na região axilar, inguinal e face medial dos membros posteriores. Eram caracterizadas por grande quantidade de pápulas, com até 0,5 cm de diâmetro, marcadamente hiperêmicas. Pápulas são lesões macroscópicas vistas em reações de hipersensibilidade e o prurido é o principal sinal clínico dessas alterações. As áreas afetadas são as comumente descritas para alergia de contato, pois na maioria das vezes surgem no local de relação direta com o alérgeno e também por apresentarem uma menor quantidade de pelos (SCOTT et al., 2001a). O raspado cutáneo foi negativo para presença de ectoparasitas. A partir do fragmento de pele retirado, histológicamente observou-se infiltrado inflamatório perivascular difuso e acentuado, constituído basicamente de eosinófilos e uma menor quantidade de linfócitos. É sabido que dermatite puramente perivascular, sem reações epidérmicas, tem como principais causas as reações de hipersensibilidade, incluindo dermatite por contato alérgico. Na maioria das reações o infiltrado predominante é linfocítico ou neutrofílico, porém há descrições de infiltrado eosinofílico nas alergias de cães, gatos e equinos, principalmente a endo e ectoparasitas (SCOTT et al., 2001a). Sabe-se que suínos apresentam comumente grande quantidade de eosinófilos em reações inflamatórias e, no caso aqui descrito, os exames para detecção de parasitas resultaram negativos, descartando hipersensibilidade parasitária. Após a retirada da serragem, o prurido sessou e em cinco dias as lesões começaram a regredir. Após 30 dias, a serragem foi novamente colocada na baia e em duas horas constatou-se o desenvolvimento dos mesmos sinais clínicos, com diminuição após a retirada. A cama foi substituída por palha, sem desenvolver alterações clínicas no suíno. O diagnóstico foi baseado nos dados epidemiológicos, clínicos, macro e microscópicos, de acordo com o que sugere a literatura (SCOTT et al., 2001a). Para o controle adequado da doença é de suma importância evitar o contato do paciente com o alérgeno (MARSELLA; SOUSA, 2001). Reações de hipersensibilidade desencadeadas pelo contato com serragem têm sido descritas no homem, comumente com sinais respiratórios, em pequenos roedores de estimação e em animais de laboratório (SCOTT et al., 2001b).
 
Conclusões
A serragem de Pinus elliottii é uma boa alternativa para compor cama sobreposta de suínos, pois nos locais onde a matéria-prima é abundante, o custo do produto é relativamente baixo. Porém, apesar de ocasionais, possíveis reações cutâneas alérgicas individuais podem ocorrer, resultando em perdas na saúde, bem-estar e produção dos animais.
 
Referências Bibliográficas
1. BARCELLOS, D.; ALBERTON, G.C; SOBESTIANSKY, J; DONIN, D.G; CARVALHO, L.F.O.S. & MORÉS, N. 2012. Doenças da Pele, p.467-505. In: Sobestiansky J., Barcellos D. (Eds.), Doenças dos Suínos. 2ª ed. Cânone Editorial, Goiânia.
2. COSTA, O. A. D.; OLIVEIRA, P. A. V.; HOLDEFER, C.; LOPES, E. J. C.; SANGOI, V. 2006.  Sistema Alternativo de Criação de Suínos em Cama Sobreposta para Agricultura Familiar. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, Comunicado Técnico: 419, 7 p.
3. MARSELLA, R.; SOUSA, C. A. 2001.The ACVD task force on canine atopic dermatitis (XIII): threshold phenomenon and summation of effects. Veterinary Immunology and Immunopathology, (81):251-253.
4. MELCHIOR, R. 2012. Produtividade e bem-estar de porcas gestantes alojadas em baias coletivas com piso de concreto ou cama sobreposta. 80 f. Dissertação (Mestrado em zootecnia) – Programa de pós-graduação em zootecnia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
5. SCOTT, D.W.; MILLER, W. & GRIFFIN, C.E. (Eds.) 2001a. Dermatoses of pet rodents, rabbits, and ferrets. In:_____ Muller & Kirk’s small animal dermatology. 6th. Philadelphia, PA: Saunders, p.1415-1458.
6. SCOTT, D.W.; MILLER, W. & GRIFFIN, C.E. (Eds.) 2001b. Diagnostic Methods. In:_____ Muller & Kirk’s small animal dermatology. 6th. Philadelphia, PA: Saunders, p.71-206.
7. YAZBEK, A.V.B. 2010. Avaliação da eficácia, de ocorrência de efeitos adversos e da qualidade de vida de cães atópicos tratados com ciclosporina. 177 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Departamento de Clínica Médica, Universidade de São Paulo, São Paulo.
 
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
Autores:
Juliana S. Brum
Universidade Federal do Paraná - UFPR
Recomendar
Comentário
Compartilhar
Profile picture
Quer comentar sobre outro tema? Crie uma nova publicação para dialogar com especialistas da comunidade.
Junte-se à Engormix e faça parte da maior rede social agrícola do mundo.