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Aspectos relevantes na preparação de matrizes de alta produtividade
Estratégias de planejamento e manejo necessárias para a obtenção de um bom resultado na reprodução

Publicado: 1 de janeiro de 2002
Por: José Henrique Piva - Médico Veterinário - Diretor de Serviços Técnicos PIC-USA
O mercado de suínos atual nos força a produzir, em curto espaço de tempo, mais quilo de carne de boa qualidade, a um custo mais baixo por unidade de produção instalada, sempre respeitando as normas ambientais e de bem estar animal. Esta realidade exige a busca de um melhor entendimento dos fatores sociais, técnicos, científicos, biológicos, sanitários, econômicos e financeiros, pois, assim é possível criarmos um balanço entre todos estes fatores e definir a prioridade na preparação de leitoas, a fim de obter o melhor retorno. O objetivo aqui é abordar claramente a importância e a necessidade de um programa consistente e dirigido para a preparação de leitoas, para atender as demandas e a dinâmica do sistema de produção.
Deficiências na preparação de leitoas podem representar frustrações, com impacto direto na moral da equipe; elevação dos custos de produção; falta de previsibilidade; performance zootécnica e sanitária dos animais; produtividade e eficiência do sistema.
A introdução de leitoas de alto valor genético no rebanho, sem uma preparação adequada, tem um custo anual estimado de 400 kg de ração por matriz instalada. Este custo é um reflexo do alto índice de substituição de leitoas não produtivas ou que não sobreviveram aos desafios da granja; do baixo número de nascidos vivos durante o primeiro parto e subseqüentes; do baixo potencial reprodutivo, após o primeiro parto; da baixa maturidade do rebanho devido à alta renovação de leitoas; da baixa produtividade total, devido ao alto percentual de partos de leitoas, produzindo assim um baixo número de leitões nascidos vivos; da baixa imunidade do plantel com conseqüente aumento da mortalidade pré e pós desmama; e do elevado índice de mortalidade e substituição de matrizes.

Durante as duas últimas décadas, produtores independentes com baixo número de matrizes foram substituídos por produtores com um maior número de matrizes e/ou por produtores integrados, seguindo protocolos de produção desenhados para atender aos novos padrões de gerenciamento. Associado à outras mudanças, esta nova realidade tem gerado novos desafios, os quais nos forçaram a buscar novas técnicas e métodos de produção, principalmente ligados à área de planejamento. A negligência ou a falta de planejamento adequado tem criado frustrações para as empresas que adotam a prática de cobrir fêmeas a qualquer custo, para se obter o alvo de coberturas semanais independente da condição física ou sanitária.

Para todo o sistema de produção, atingir as metas do número de montas semanal é um fator essencial para a base do negócio, sempre quando, a estrutura de disponibilidade de leitoas é também parte integrante desta filosofia. Respeitar os princípios biológicos e também a matemática é uma necessidade para se obter sucesso nas projeções feitas. Quando as decisões levam em consideração somente a matemática a médio e longo prazo, as projeções perdem a credibilidade devido às falhas na disponibilidade de leitoas. Um plano abrangente de ações tomando em conta alvos mensuráveis dos requisitos físicos, ambientais, sanitários, nutricionais e biológicos é relevante para que qualquer projeção seja realizada. Esta recomendação pode ser resumida em uma frase: Não maneje a leitoa de reposição como um cevado (suíno de engorda) e defina como leitoa de reposição, toda a fêmea desde o nascimento até a entrada da segunda gestação.


Planejamento das necessidades de leitoas

É importante levar em consideração os objetivos de produção de cada granja para se projetar os requerimentos futuros, incluindo a expansão, como também possíveis necessidades emergenciais a fim de cobrir demandas adicionais ou perdas de lotes de animais. A necessidade de atingir os alvos de cobertura semanais, num sistema com deficiente número de leitoas, tem forçado a muitas empresas ou granjas a utilizar leitoas e porcas com condição física (qualidade peso, idade e conformação) abaixo do desejado. Esta prática tem causado frustrações em todos os níveis, inclusive financeiro e da própria sociedade ligada ao bem estar animal.

Estrutura de partos

Em um sistema estável de produção, devemos ter aproximadamente 62 a 65% das matrizes entre o segundo e o quinto parto. Em contrapartida, granjas com alta porcentagem de porcas entre o primeiro e terceiro partos, podem significar um descarte acentuado de porcas em idade precoce. Uma estrutura ideal de partos é fundamental para manter consistência em termos de produção. Ajustar a estrutura de partos em um sistema de produção pode levar cerca de 6 a 12 meses e isto tem sido um grande desafio devido às limitações na disponibilidade de fêmeas, restrições sanitárias, limitações no fluxo e espaço disponível.

Esta realidade se torna mais visível em sistemas que possuem espaço limitado de quarentena ou mesmo sistemas que adotam o processo de produção segregada para porcas de primeiro parto. A médio e longo prazo, sistemas de produção desenhados dentro de princípios de produção intensiva, devem planejar entre 45 a 55% de reposição anual, associado a uma taxa de aproveitamento do número de leitoas, não superior a 55% do número de leitoinhas desmamadas. Matematicamente, um sistema de produção pode funcionar com 8% do rebanho de avós, porém, visando aspectos biológicos, os sistemas de produção fechados, adotam manter um rebanho de multiplicação entre 10 a 12% do inventário comercial de fêmeas. É esperado um mínimo de 85% das leitoas selecionadas chegarem ao primeiro parto, sendo o ideal acima de 90%.

Manejo das futuras matrizes

Quando não produzidas internamente, todas as leitoas devem passar por um período de quarentena e aclimatização antes de serem expostas ao sistema de reprodução. Em geral, o período de quarentena e aclimatização é variável, dependendo dos problemas e das necessidades de cada sistema. Um mínimo de 4 semanas de quarentena faz-se necessário para o monitoramento do “status sanitário” dos animais.

Estimulação da puberdade

Puberdade precoce tem sido um fator benéfico à produção, principalmente para fêmeas com alto valor genético e grande potencial de ganho de peso. Para isto, é importante iniciar a exposição das leitoas a machos entre 145 a 155 dias de idade, quando todos os requisitos biológicos e físicos são atendidos. Devemos observar mais de 85% das leitoas atingindo puberdade antes dos 195 dias de idade. Leitoas que não respondem prontamente à exposição ao macho (dentro de 40/45 dias em média), têm vida reprodutiva limitada quando comparadas à leitoas que apresentaram cio durante a fase de exposição. Dependendo das expectativas e das metas de cada sistema de produção, não é recomendado manter leitoas no sistema, se estas não apresentarem cio dentro de 40/45 dias após a exposição diária a diferentes machos com boa libido.

Metas de cobertura

O genótipo das fêmeas disponíveis no mercado atual é diferente daquelas disponíveis há 10 ou 20 anos atrás. Em geral, são fêmeas selecionadas para alta prolificidade, excelente habilidade materna, boa resposta de retorno ao cio após o desmame e produção de proles com alta eficiência de ganho, ou seja, uma fêmea desenhada para produção eficiente tanto em nível de granja, como de indústria. Para atingir o potencial genético de uma vida reprodutiva e produtiva longa, a leitoa deve chegar ao primeiro serviço e ao primeiro parto com certas características fenotípicas. Dados de produção mostram que peso e o número de cios são duas características relevantes a serem consideradas como fatores determinantes do momento adequado para a primeira cobrição da leitoa. O mínimo de dois cios e peso de 140 kg são parâmetros relevantes para se definir o momento adequado ou ideal da primeira cobertura.

Gestação

Em média, é esperado que cada leitoa ganhe entre 35 a 38 kg de peso durante a fase de gestação. De preferência, aloje as leitoas próximas entre elas e evite alojar as leitoas em gaiolas entre porcas adultas.

Lactação

O genótipo das leitoas é desenvolvido para produzir e desmamar leitegadas grandes e pesadas. Portanto, é fundamental maximizar a quantidade de nutrientes consumidos e minimizar a perda da condição corporal. Em um sistema em que a desmama ocorre aos 21 de idade, a grande demanda dos leitões se dá nos últimos 10/12 dias de lactação. O baixo nível de ingestão de água, muitas vezes causado pela pressão excessiva das chupetas (acima de 20 psi), ou mesmo a temperatura elevada da água, limita o consumo de água e em conseqüência o consumo de ração e a capacidade de produção de leite. Uma boa opção é manter todas as leitoas próximas, na mesma linha na maternidade, para que no momento do parto ou mesmo na alimentação, estes animais sejam manejados e observados de forma diferenciada das porcas adultas. Outro beneficio deste manejo é que facilita o alojamento posterior das leitoas, quando forem desmamadas.

Desmame

Embora, na prática, alguns sistemas preferem alimentar as porcas desmamadas de forma controlada, observa-se o melhor desempenho reprodutivo nas granjas ou sistemas que adotam alimentação à vontade, desde o dia zero. Evite alojar leitoas desmamadas entre porcas adultas. Intensifique o uso de machos a partir do desmame – dia zero. De preferência, usar machos adultos com boa libido. Evite desmamar porcas ou leitoas em baias, mesmo que seja por um período de tempo limitado.

Conclusões

• Planeje as necessidades de leitoas e considere ter mais leitoas disponíveis que o mínimo necessário para manter o fluxo de produção. Tome em consideração a biologia, fisiologia e a matemática;

• Maneje como leitoa toda porca, até que ela chegue pelo menos ao início da segunda gestação. Evite tratar a leitoa como matriz adulta logo após a primeira cobertura;

• Os benefícios econômicos e os custos de se utilizar leitoas mais pesadas/adultas no momento da cobertura, devem ser determinados levando em consideração as particularidades de cada sistema de produção;

• Leitoas normalmente devem ganhar entre 35 a 38 kg de peso durante a primeira gestação e devem parir com peso aproximado de 175 a 180 kg. Para estas fêmeas, a perda de peso deve ser inferior a 9% do peso corporal e a perda de gordura deve ser inferior a 1.5 mm. Sempre que a perda corporal for superior aos números acima, existe um comprometimento na performance reprodutiva, principalmente na redução do peso da leitegada ao desmame e na redução da porcentagem de folículos maiores de 4mm, impactando negativamente no próximo ciclo reprodutivo;

• Durante a lactação, procure sempre oferecer ração de lactação desenhada para leitoas, a todas as fêmeas de primeiro parto. Primíparas algumas vezes tem dificuldades para identificar a fonte de água, para isto observe o comportamento de cada leitoa nos primeiros 7 dias na maternidade;

• Leitoas com peso superior a 180 kg após o parto, estão mais protegidas contra possíveis perdas de peso durante a lactação. Isto ocorre porque leitoas com peso superior a 180 kg têm mais gordura e reservas protéicas para manter a produção de leite quando as condições ambientais não estão adequadas, porém leitoas que têm alta reserva de gordura ao parto tem maiores dificuldades para consumir alta quantidade de alimento na fase de lactação;

• É importante que as leitoas sejam cobertas com peso definido por cada programa genético e pelo menos no segundo cio (maior maturidade sexual) e que tenham uma capa de gordura adequada, que pode variar de acordo com o genótipo de cada animal;

• Respeite os princípios biológicos de cada lote mas busque estimular a fisiologia de forma que toda a leitoa ou grupo possa expressar o seu potencial genético e produzir proles com o melhor nível de imunidade que o sistema necessita;

• Leitoas submetidas na fase de desenvolvimento ou durante a fase de puberdade a desafios sanitários diversos tem a performance reprodutiva e a vida útil comprometida. Esta situação nos leva a buscar manter as leitoas com um “status sanitário” bom e superior ao das granjas comerciais.

Fonte; Pg Improvement Company – technical services
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