1 INTRODUÇÃO
À medida que a demanda por alimentos cresce, a produção animal intensiva tem se tornado uma prática comum em muitas partes do mundo. No entanto, essa abordagem não está isenta de preocupações, visto que, do mesmo modo, há uma crescente preocupação em relação à resistência antimicrobiana, havendo constante incentivo de novas pesquisas sobre o tema. O uso generalizado de antimicrobianos na produção animal pode ter implicações significativas na qualidade e segurança dos alimentos que consumimos, levantando questões atuais sobre a saúde pública, o bem-estar animal e a sustentabilidade ambiental (OLIVEIRA, AIRES, 2016).
De maneira crítica e abrangente, viemos, por meio desta revisão, fornecer uma visão analítica dos diversos impactos e consequências relacionadas ao uso inadequado e indiscriminado de antimicrobianos nos produtos destinados à alimentação. Buscamos contribuir com o avanço da ciência e incentivar novas pesquisas, destacando a importância da adoção de uma abordagem mais criteriosa e sustentável no emprego desses fármacos para a saúde humana, animal e ambiental.
2 AGENTES ANTIMICROBIANOS
2.1 DEFINIÇÃO
Agentes antimicrobianos são substâncias que têm a capacidade de inibir o crescimento ou matar microrganismos, como bactérias, vírus, fungos e parasitas. Eles são amplamente utilizados na produção de medicamentos para tratar infecções causadas por esses microrganismos, ajudando a combater a doença e promovendo a recuperação do paciente. Alguns exemplos de agentes antimicrobianos incluem antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários. É importante ressaltar que o uso adequado desses agentes é fundamental para evitar o desenvolvimento de resistência microbiana.
2.2 PRINCIPAIS CLASSES DE ANTIMICROBIANOS
• Antifúngicos: São substâncias utilizadas para tratar infecções fúngicas. Exemplos incluem a classe medicamentosa dos azóis, polienos, equinocandinas, entre outros.
• Antivirais: São substâncias utilizadas para tratar infecções virais. Exemplos incluem a classe medicamentosa dos inibidores de transcriptase reversa, inibidores de protease, inibidores de neuraminidase, entre outros.
• Antiparasitários: São substâncias utilizadas para tratar infecções parasitárias. Exemplos incluem a classe medicamentosa dos antimaláricos, antiprotozoários, antihelmínticos, entre outros.
• Antibióticos: São substâncias que matam bactérias ou que inibem o seu crescimento. Os antibióticos são um dos principais grupos de antimicrobianos e são usados para tratar infecções bacterianas, podendo ser divididos em várias classes, como penicilinas, cefalosporinas, tetraciclinas, macrolídeos e quinolonas. Cada classe de antibiótico tem um mecanismo de ação específico, que interfere na capacidade das bactérias de se multiplicarem ou sobreviverem. A resistência adquirida propriamente dita é resultado do uso indiscriminado dos antibióticos.
2.3 RESISTÊNCIA ADQUIRIDA
A resistência adquirida é um fenômeno em que os microorganismos desenvolvem a capacidade de sobreviver e se multiplicar mesmo na presença de antibióticos. Isso ocorre devido a mutações genéticas ou transferência de genes de resistência entre diferentes espécies bacterianas. A resistência adquirida é um problema sério, pois limita a eficácia dos antibióticos e dificulta o tratamento de infecções. A resistência adquirida se dá, pois pode ser transmitida entre os microrganismos: As bactérias podem transferir genes de resistência para outras bactérias por meio de plasmídeos, pequenos fragmentos de DNA que podem ser transferidos horizontalmente entre as células bacterianas. Isso significa que a resistência pode se espalhar rapidamente entre diferentes espécies bacterianas, tornando-as resistentes a múltiplos antibióticos, tornando disfuncionais os medicamentos que antes eram eficazes no tratamento de várias infecções.
A resistência adquirida é um problema grave de saúde pública, pois limita as opções de tratamento disponíveis e aumenta a morbidade e a mortalidade associadas às infecções. Além disso, a resistência adquirida também pode levar a um aumento nos custos de saúde, devido à necessidade de tratamentos mais longos e complexos.
Infelizmente, a relação entre o uso de agentes antimicrobianos e a resistência adquirida é bastante complexa. O uso excessivo e inadequado de antibióticos, como o uso de tais fármacos pelos produtores sem a devida prescrição de um médico veterinário, como também a prescrição desnecessária dos mesmos favorece o desenvolvimento da resistência. Quando os microrganismos são expostos a doses subterapêuticas dos antibióticos, eles têm a oportunidade de sobreviver e se multiplicar, permitindo que as cepas resistentes se tornem predominantes.
Para se combater os índices de resistência, é essencialmente necessário o uso racional e responsável dos antibióticos. Isso inclui a prescrição adequada de medicamentos, a adesão às doses e durações recomendadas de tratamento, a prevenção de infecções por meio de medidas de higiene e a promoção do desenvolvimento de novos antimicrobianos. Portanto, é importante investir em pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos e alternativas terapêuticas, como terapias baseadas em bacteriófagos e terapias imunológicas. A conscientização e a educação da população também são fundamentais para promover o uso adequado de antimicrobianos e prevenir a disseminação da resistência.
3 O USO DE ANTIMICROBIANOS NA PRODUÇÃO
De fato, o uso de antimicrobianos na produção animal é uma prática global com múltiplas razões e justificativas. O uso correto em animais de produção como bovinos, suínos e aves previnem e controlam doenças, promovem o crescimento e melhoram a eficiência alimentar. No entanto, o uso excessivo e inadequado dessas substâncias pode levar à resistência antimicrobiana e gerar preocupações de saúde pública. Portanto, é crucial equilibrar os benefícios com os riscos e implementar medidas para limitar o uso desnecessário e abusivo desses medicamentos.
Uma das razões primárias para o uso de antimicrobianos na produção animal é o controle de doenças. Os animais de produção estão suscetíveis a várias doenças infecciosas que podem causar prejuízos econômicos significativos. A administração de antimicrobianos também é utilizada como um método de profilaxia para prevenir doenças em lotes de animais expostos a potenciais patógenos em ambientes hostis, como em superlotações estressantes, bem como para tratar individualmente os animais doentes.
São também empregados para melhorar o desempenho dos animais, pois a administração dessas substâncias pode resultar em aumento na taxa de crescimento e eficiência alimentar dos animais, tornando a produção mais eficaz e muito mais rentável. Os antimicrobianos também são utilizados para promover o crescimento dos animais, objetivando uma melhora na digestão dos alimentos, permitindo maior absorção de nutrientes e, consequentemente, ganho de peso.
No entanto, o uso excessivo e inadequado de antimicrobianos resulta no desenvolvimento de bactérias resistentes, o que pode tornar o tratamento de doenças ineficaz ou, pelo menos, muito mais complexas tanto em humanos quanto em animais. Além disso, podem persistir nos produtos animais em contato com o meio ambiente, gerando preocupações relacionadas à saúde pública no que diz respeito ao impacto ambiental.
Como resposta a essas preocupações, muitos países implementaram restrições ao uso de antimicrobianos na produção animal. Isso inclui a proibição do uso dessas substâncias como promotores de crescimento e a exigência de receitas veterinárias para o uso de antimicrobianos terapêuticos, visando tornar o seu uso, que é necessário, muito mais seguro e eficaz.
4 UTILIZAÇÃO RACIONAL DE ANTIMICROBIANOS
A utilização de antimicrobianos, tanto na medicina humana quanto na medicina veterinária, é uma prática fundamental no tratamento de infecções bacterianas. No entanto, o uso inadequado e indiscriminado desses medicamentos tem levado a preocupações crescentes em relação à resistência antimicrobiana, que representa uma ameaça significativa à saúde pública global. Neste contexto, é crucial adotar abordagens prudentes e éticas para o uso de antimicrobianos, considerando não apenas a eficácia terapêutica, mas também os impactos ambientais e a responsabilidade moral.
A resistência antimicrobiana pode se desenvolver tanto em humanos quanto em animais, e há evidências crescentes de que a utilização de antibióticos em animais de produção pode contribuir para a disseminação de cepas resistentes que afetam a saúde humana.
Estudos como os realizados por Araújo (2010) e Fagundes (2003) destacaram a importância de avaliar a presença de resíduos em produtos de origem animal, como o leite. A detecção desses resíduos em produtos de consumo humano levanta sérias preocupações em relação aos efeitos na saúde pública, uma vez que a ingestão dessas substâncias pode contribuir para a seleção de cepas bacterianas resistentes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu relatório de 2001, enfatizou a necessidade de superar a resistência adquirida e destacou a importância da utilização racional de antimicrobianos tanto em humanos quanto em animais. Isso inclui a posologia adequada, a duração do tratamento e a escolha apropriada do antimicrobiano, levando em consideração a suscetibilidade bacteriana.
A utilização de antimicrobianos em animais de produção, como destacado por Guardabassi e Kruse (2010), deve ser pautada por princípios éticos que garantam o bem-estar dos animais, a saúde humana e a preservação do meio ambiente. Isso envolve a responsabilidade dos profissionais de saúde e dos produtores em garantir o tratamento adequado dos animais e a conformidade com regulamentos e diretrizes.
Além disso, substâncias antimicrobianas podem ser excretadas pelos animais tratados e entrar nos ecossistemas aquáticos e terrestres. Isso pode contribuir para a disseminação de resistência no meio ambiente, afetando não apenas a saúde humana, mas também a biodiversidade.
Portanto, é fundamental adotar uma abordagem integrada que leve em consideração não apenas a eficácia terapêutica, mas também os aspectos éticos, morais e ambientais relacionados à utilização de antimicrobianos em animais. A pesquisa contínua é essencial para entender os impactos da resistência antimicrobiana em populações animais e sua conexão com a saúde pública.
5 IMPACTOS E CONSEQUÊNCIAS
5.1 IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA
Importante destacar os perigos associados à resistência antimicrobiana que ocorre quando os microrganismos se tornam resistentes a essas substâncias, tornando os tratamentos ineficazes. Isso ocorre devido à transferência horizontal de genes de resistência entre diferentes espécies bacterianas e é uma preocupação crescente em saúde pública, uma vez que pode levar a infecções persistentes dificultando o tratamento.
A susceptibilidade a doenças também é afetada pelo uso irracional de antimicrobianos. Estudos genéticos identificaram que a exposição excessiva a essas substâncias pode alterar a microbiota humana, afetando a resposta imunológica do organismo a patógenos. Isso pode aumentar o risco de doenças infecciosas e comprometer a eficácia dos tratamentos.
A questão da saúde pública está intrinsecamente ligada ao uso de antimicrobianos. A disseminação da resistência antimicrobiana pode resultar em infecções mais graves e dificilmente tratáveis em seres humanos, levando a complicações e aumento dos custos de assistência médica. Organizações de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), classificaram a resistência antimicrobiana como uma das maiores ameaças à saúde global.
5.2 IMPACTOS AMBIENTAIS
Os impactos ambientais não podem ser ignorados. O uso indiscriminado de antibióticos na pecuária, por exemplo, pode resultar na presença desses compostos em produtos de origem animal, como carne e leite. Essa contaminação ambiental pode ter efeitos negativos na cadeia alimentar e contribuir para a disseminação da resistência na população humana e animal.
Para lidar com essas questões, é crucial adotar abordagens multidisciplinares que envolvam a medicina humana, veterinária e ambiental. É fundamental promover o uso racional de antimicrobianos em todas as áreas, seguindo diretrizes específicas de dosagem e administração. Além disso, a conscientização pública sobre a importância de utilizar esses medicamentos com responsabilidade desempenha um papel crucial na prevenção da resistência.
A pesquisa contínua é essencial para a descoberta de novas formas de tratamento e melhores estratégias para mitigar os riscos à saúde humana e ao meio ambiente. A colaboração entre governos, profissionais de saúde, veterinários e cientistas é essencial para enfrentar esses desafios de forma cada vez mais eficaz.
5.3 A ÁGUA E A SAÚDE ÚNICA
A presença de antimicrobianos na água representa um desafio crescente para a saúde única, uma vez que a exposição a essas substâncias pode levar ao desenvolvimento de resistência em humanos, animais e na microbiota ambiental. Portanto, abordagens integradas que consideram a saúde de todos os componentes do ecossistema são essenciais para atenuar esses riscos e garantir a segurança da água e a saúde global.
5.4 PROBLEMAS INERENTES À SAÚDE GLOBAL
• Resistência antimicrobiana: O uso indiscriminado de antimicrobianos em animais pode levar ao desenvolvimento e disseminação da resistência antimicrobiana propriamente dita em microrganismos presentes no ambiente. Isso ocorre devido à pressão seletiva exercida pelos antibióticos, que favorece o crescimento de microrganismos resistentes em certas circunstâncias. Esses microrganismos podem ser transportados pelo escoamento de água, resíduos animais e poeira para o ambiente circundante, onde podem entrar em contato com microrganismos selvagens, contribuindo para a disseminação da resistência. Isso representa uma ameaça à saúde humana, pois as infecções por microrganismos resistentes a antibióticos podem ser mais difíceis de tratar, aumentando os riscos à saúde pública.
• Contaminação de água e solo: A administração de antimicrobianos aos animais resulta na excreção de resíduos farmacêuticos, metabólitos e microrganismos resistentes por meio de fezes e urina. Esses resíduos podem contaminar a água superficial e subterrânea, bem como o solo circundante, comprometendo a qualidade dos recursos hídricos e a fertilidade do solo. A presença de antimicrobianos em sistemas aquáticos pode afetar negativamente a microbiota aquática e causar desequilíbrios no ecossistema aquático.
• Tratamento de rede de esgoto: Um dos papéis fundamentais na promoção da saúde única é o tratamento de esgoto, integrando abordagens de saúde humana, animal e ambiental. Os processos de tratamento de esgoto visam eliminar patógenos e reduzir a carga orgânica, contribuindo para a qualidade da água potável e para a prevenção da disseminação de doenças transmitidas pela água. O tratamento da rede de esgoto envolve uma série de processos, como pré-tratamento, tratamento primário, secundário e, em algumas instalações, tratamento terciário. Esses estágios visam remover sólidos, matéria orgânica e poluentes específicos, garantindo que a água devolvida ao meio ambiente esteja segura e limpa. Enquanto isso, a detecção e remoção de antimicrobianos na água tornaram-se uma preocupação importante devido aos riscos potenciais para a saúde pública e o ambiente, exigindo monitoramento e tecnologias avançadas de tratamento de água para mitigar esses contaminantes.
• Efeitos sobre microorganismos benéficos: Além de promover a resistência antimicrobiana, tais medicamentos podem afetar negativamente os microorganismos benéficos no solo e no trato gastrointestinal dos animais. Isso pode ter impactos adversos na decomposição de matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes e na qualidade do solo, levando a uma diminuição na capacidade do solo de sustentar culturas agrícolas.
• Eutrofização: A lixiviação de nutrientes dos resíduos de antimicrobianos como nitrogênio e fósforo, pode contribuir para a eutrofização de corpos d'água. Isso ocorre quando esses nutrientes em excesso entram em rios e lagos, estimulando o crescimento excessivo de algas. O aumento das algas pode resultar em flor de algas tóxicas, esgotamento de oxigênio e morte de organismos aquáticos, prejudicando ecossistemas aquáticos.
Sendo assim, é essencial adotar práticas mais responsáveis na administração de antimicrobianos na produção animal, como o uso criterioso, a monitorização e a adoção de alternativas, a fim de minimizar os impactos adversos sobre o meio ambiente. A redução do índice de resistência e a preservação dos ecossistemas naturais são objetivos cruciais para garantir uma produção animal mais sustentável e segura para a saúde humana, animal e ambiental.
6 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO
O preocupante aumento da resistência aos antibióticos pode ter implicações significativas para a saúde humana, conforme apontado por Hopkins (2014). Essas questões ressaltam a influência substancial que o uso desses antimicrobianos na produção animal pode ter nos produtos derivados destinados à alimentação humana e animal.
Esse tema tem sido alvo de várias pesquisas e estudos científicos ao longo dos anos. Diversas estratégias têm sido adotadas para abordar essa questão complexa e garantir a segurança alimentar e a saúde dos consumidores, como por exemplo:
• Programas de regulamentação e acesso à informação: uma estratégia amplamente adotada é a implementação de programas de redução e controle do uso de antimicrobianos na produção animal. Isso envolve a criação de diretrizes e regulamentações, informações científicas repassadas através de campanhas publicitárias nas mídias sociais juntamente com órgãos nacionais como MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) ou órgãos mundiais como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) para orientar os grandes e pequenos produtores sobre o uso apropriado e consciente dessas substâncias, limitando sua utilização apenas quando estritamente necessário. Além disso, são estabelecidos limites máximos de resíduos de antimicrobianos nos produtos derivados, a fim de garantir que estejam dentro de níveis seguros para o consumo humano e animal.
• Boas práticas: “[…] O aumento no tamanho dos grupos produzidos, o reagrupamento de leitões privilegiando questões de logística e a maximização no uso das instalações em detrimento de práticas adequadas de manejo, como ausência ou redução do período adequado de vazio sanitário das instalações, possibilitam maior contato entre suínos susceptíveis e infectados e, inevitavelmente, leva a maior infecção no rebanho […]” (HOLLENBACH; SILVA, 2020). Como descrito e muito bem evidenciado no trecho anteriormente, a promoção de boas práticas de manejo sanitário é outra estratégia essencialmente a ser adotada. Isso inclui o treinamento adequado dos grandes e pequenos produtores em relação à higiene e ao manejo dos animais, bem como a melhoria das condições de alojamento e a implementação de medidas preventivas para reduzir a incidência de doenças. Ao fortalecer essas práticas, é possível reduzir a necessidade de uso de antimicrobianos e minimizar os riscos associados e ainda também, reduzir o impacto negativo na economia nacional.
• Inspeção e monitoramento: A implementação de programas de monitoramento e controle de resíduos de antimicrobianos nos produtos derivados também é fundamental. Isso envolve a realização regular de testes para detectar a presença dessas substâncias nos alimentos de origem animal, como carne, leite e ovos. Esses testes permitem identificar qualquer contaminação e tomar medidas corretivas adequadas para garantir a segurança dos produtos. No entanto, em território nacional, o CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) fiscaliza, orienta, supervisiona e disciplina o exercício profissional de médicos veterinários e zootecnistas, sendo assim, podendo reforçar o monitoramento no controle de resíduos produzidos nas empresas.
• Pesquisas: A busca por novos antibióticos e terapias alternativas torna-se um desafio crescente para os pesquisadores (HALUCH et al., 2020). Investir em pesquisa e desenvolvimento de alternativas aos antimicrobianos na produção animal é um dos fatores de maior importância como estratégia. Por essa razão, esforços internacionais estão sendo direcionados aos estudos fitoterápicos e de tecnologias alternativas, incluindo o desenvolvimento de vacinas mais eficazes para prevenir doenças, o uso de herbais, óleos essenciais, probióticos e prebióticos para fortalecer o sistema imunológico dos animais e o estudo de novas abordagens que possam substituir ou reduzir a dependência dos antimicrobianos.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso irracional de antimicrobianos na pecuária e o desenvolvimento de resistência antimicrobiana representam um risco sanitário real devido aos diversos impactos à saúde humana e animal. Faz-se necessária uma abordagem multidisciplinar e coordenada para lidar com a questão do uso de antimicrobianos na produção animal. A proteção da saúde humana, a segurança alimentar e a preservação da eficácia dos antimicrobianos requerem esforços contínuos de todas as partes envolvidas, desde os produtores, veterinários, médicos, pesquisadores e organizações internacionais. A utilização racional e consciente de antimicrobianos na produção animal é fundamental para mitigar tal risco.
Apesar de organizações internacionais como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) a WOAN (Organização Mundial da Saúde Animal) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) estarem desempenhando um papel eficaz na promoção de diretrizes e regulamentos para garantir a utilização racional de antimicrobianos na produção animal, muitos são os desafios que a utilização indiscriminada de antimicrobianos traz à medicina humana e veterinária. É necessário ainda mais iniciativas que visem melhorar a coordenação global, o monitoramento e a conscientização sobre os riscos associados ao uso inadequado de tais medicamentos, bem como o incentivo para ainda mais pesquisas como esta revisão narrativa da literatura.
Conclui-se, então, através desta revisão narrativa da literatura sobre os diversos impactos do uso de antimicrobianos na produção animal, que virtudes como a educação e a conscientização da população e dos produtores rurais sobre o uso responsável dos antimicrobianos, a implementação de estratégias de gestão, como a redução do uso preventivo de antibióticos, a promoção de práticas de higiene adequadas nas fazendas e a valorização da profilaxia desempenham um papel de extrema importância nesse contexto e são cruciais para diminuir a pressão seletiva que impulsiona o desenvolvimento de resistência antimicrobiana em animais e, posteriormente, em humanos. Portanto, a adoção de boas práticas e a promoção do conhecimento são essenciais para enfrentar os desafios complexos e crescentes que são inerentes à relação entre seres humanos e animais na sociedade, tendo em vista que a compreensão dos esforços necessários, da prudência, dos impactos e das consequências podem auxiliar a sociedade e a academia a dar um passo contrário ao rumo que estamos tomando em direção à uma crise sanitária global onde a resistência antimicrobiana ultrapassa limites irreversíveis.
Contudo, é de extrema necessidade que haja maior investimento e incentivo para pesquisas acerca de novos métodos que venham substituir o uso de antimicrobianos na produção animal, devido ao crescente desenvolvimento de resistência antimicrobiana e à escassez de literatura disponível para revisão. Portanto, um dos aspectos mais importantes para uma futura investigação com uma abordagem mais detalhada sobre o tema, sem dúvidas, inclui novos métodos alternativos aos antimicrobianos, como extratos vegetais, probióticos e prebióticos, buscando meios mais eficazes para refrear a resistência antimicrobiana e reduzir os diversos impactos sanitários.