É evidente que a climatização é um fator determinante na produção suína, por esse motivo durante muito tempo os esforços para controlar a temperatura, humidade relativa, a ventilação e os possíveis efeitos negativos que a escolha equivocada ou pouco adequada de um determinando sistema poderia provocar, levaram os investigadores a desenvolver vários sistemas, todos eles diferentes e válidos.
Este artigo não pretende ser um tratado sobre como desenvolver o sistema mais adequado, mas sim tenta explicar como o ambiente pode afetar o rendimento dos animais até tal ponto que não venham a superar as expectativas geradas pelo seu potencial genético, bem como provocar um aumento significativo nos custos de alojamento e alimentação.
Fonte: Granja Gerona – Espanha.
Como certamente se terão já apercebido, o sistema produtivo sofre uma verdadeira revolução ética e tecnológica baseada no conceito de “bem-estar animal”.
“Deve ter-se presente que, em condições de confinamento, deve ser o homem a se comprometer a proporcionar as condições ambientais que garantam o bem-estar e o rendimento” Babot y Revuelta (2009).
Necessidades ambientais e de alojamento do porco desmamado
O controlo ambiental dos habitáculos que albergam os leitões de três a quatro semanas (na maioria dos países, os leitões são desmamados entre os dezassete e os 30 dias) são encaminhadas para a melhoria da produtividade e do estado sanitário dos animais. Tendo em conta que o desmame é um momento crucial da produção suína, uma grande parte dos resultados produtivos e económicos posteriores dependerão dos êxitos e fracassos desse período.
• O período de desmame apresenta uma série de dificuldades para os leitões, como as seguintes:
– Vulnerabilidade imunológica.
– Necessidade de uma temperatura ambiental tendencialmente mais alta.
– Mudança importante de alimentação
– Separação da mãe e formação de novos grupos sociais.
Este é um quadro perfeito para sofrer estresse e começar a etapa real de crescimento com muitos problemas.
Sem lugar a dúvidas o controlo ambiental (temperatura, humidade relativa, ventilação, iluminação, clima, densidade, tamanho do grupo, estrutura da instalação) é um pilar indispensável onde devemos incidir para obter os melhores resultados.
Temperatura
“A temperatura ambiente é o componente predominante do ambiente climático. As necessidades de temperatura dependem de vários fatores, entre os quais se destacam, por sua importância quantidade de alimento consumido e o isolamento corporal” J.R. Pluske, J.Le Dividich, M.W.A. Verstegen ( 2007).
A temperatura ótima ao desmame é a que tem por objetivo principal minimizar as perdas de calor para evitar uma redução excessiva de gordura corporal. Como já é conhecido, quando a temperatura ambiente agride o seu organismo o animal põe em marcha mecanismos de regulação de temperatura (alterações de consumo de alimento, alterações na atividade, tiritar, intercâmbio de calor com o meio, etc.). Por esta razão a temperatura torna-se um problema quando provoca um sobre consumo de alimento como resultado de ultrapassar a temperatura crítica inferior (TCI).
Dito de outra forma, quando o leitão tem calor deixa de comer e quando tem frio come em excesso. Que tem isto de mal? Segundo Maenz et al ( 1994), leitões mantidos a 21 ºC durante os primeiros dez pós-desmame crescem cerca de 33% menos e consomem cerca de 53% mais de alimento que os leitões mantidos a 29ºC . Considerando o custo atual do alimento, “ não faz falta dizer nada mais”.
Por outro lado para conseguir que a rentabilidade das explorações não se veja tão afetada pelo custo que supõe “manter uma temperatura ambiental relativamente alta que se considera essencial para uma produtividade ótima” utilizam-se várias estratégias como a criação de um microclima, a presença de cama quente, a redução da temperatura do ar noturno (estratégias para reduzir custos em aquecimento que nem sempre são benéficas para os animais).
Fonte: Exploração em ciclo fechado. Barcelona – Catalunha.
Humidade relativa
A humidade relativa expressa a quantidade de água contida no ar em relação à que poderia conter à mesma temperatura num nível de saturação. Entendendo-se por nível de saturação aquele a que o ar já não pode conter mais vapor de água (a quantidade de vapor de água não pode ser ilimitada). Este parâmetro é muito importante para o bem-estar dos animais, já que uma percentagem entre os 50 e 70% em princípio não provocaria nenhum problema, mas uma percentagem inferior a 40% provoca mucosas secas e tosse irritante, pelo qual o consumo de alimento é muito afetado.
Holmes y Close (1977) concluíram que a uma temperatura de 30 ºC, aumentar em 18% a humidade relativa equivale a um aumento de um grau a temperatura ambiente. Por isto Forcada (1997) recomenda, dentro do intervalo admitido, níveis de 60-65% para os leitões.
Ventilação e velocidade do ar
A ventilação cumpre duas funções importantes, por um lado elimina a humidade e os gases nocivos do ar e por outra controla a temperatura dos alojamentos dos animais.
“ a ventilação determina a velocidade do ar ao nível do porco e como tal desempenha um papel importante no índice de perda de calor ”. Verstegen et al. (1987) concluíram que um aumento da velocidade do ar desde os 8 aos 40 cm/s provoca um aumento de 3,8 ºC na temperatura preferida pelo porco, mas Hacker et al. (1979) afirma que abaixo da TCI, um aumento da velocidade do ar desde 0 (ar imóvel) até 50 cm/s provoca uma redução de 15% no GMD, assim se se aumenta a velocidade do ar e sobre todo quando a temperatura é fria o leitão sofre muito (a maioria dos autores coincidem em que se pode chegar a uma velocidade de 0,5 cm/s para os leitões). Além disso o ar deve ser suficientemente limpo para não afetar nem o bem-estar nem o rendimento dos animais (os gases e partículas em suspensão que podem contaminar o ar e a maneira como podem afetar os animais já foi devidamente analisada no artigo RECOMENDAÇÕES PRÁCTICAS PARA REDUZIR O IMPACTO AMBIENTAL EM EXPLORAÇÕES PORCINAS, A GESTÃO DOS GASES).
Iluminação
O fotoperíodo influencia e muito a produtividade. Bruinix et al. (2002) observaram que o consumo médio de alimento diário (CMAD) aumenta em 16% e 38% durante a 1ª e 2ª semanas pós-desmame respetivamente, em porcos submetidos a um programa de iluminação de 23:1 h em comparação com um programa de 8:16. Também é necessário deixar claro que quantidades extremas de intensidade e duração de iluminação prejudicam o rendimento dos animais. As normas de EU vigentes exigem que os porcos sejam expostos a 8 h de luz/dia e a uma intensidade luminosa de 40 lux (intensidade que permite poder ler em qualquer lugar da instalação). Por outro lado, abaixo dos 20 Lux o animal tem muitas dificuldades para encontrar alimento e água. Evidentemente são necessários mais estudos sobre este tema, já que lhe foi até agora dado muito pouca importância como fator ambiental.
Clima
Quando o porco desmamado tem a capacidade de consumir alimento de forma regular, aumenta de certa forma a sua ingestão de alimento de forma a compensar uma temperatura baixa. No entanto, segundo Collin et al (2001) a capacidade de ingestão máxima é alcançada entre os 18 e os 19 ºC. Assim se explica que uma temperatura mais baixa altere o GMD, diminuindo quase 13 g por cada ºC menos, e que o índice de conversão aumente em 0,04 unidades por ºC de frio ( Le Dividich y Noblet, 1982; Close y Stanier,1984).
Densidade
O número de animais alojados na instalação tem um efeito marcado sobre o seu conforto. Por este motivo em todas as explorações da União Europeia os locais de estabulação são construídos de forma a que os animais tenham a possibilidade de:
a) ter acesso a uma área de repouso, confortável física e térmicamente, com drenagem adequada e limpa (espaço sistémico), que permita que todos os animais se deitem ao mesmo tempo (espaço dinâmico ou ergonómico).
b) descansar e levantar-se normalmente (espaço de conduta).
c) ver outros animais (espaço de conduta).
Na prática o que se tenta sempre atingir é um máximo de superficie útil para os animais com um mínimo de superficie construída (animais de 10 a 20kg de peso, segundo a Lei europeia vigente, necessitam de 0,20 m²/ animal).
Tamanho do grupo
Existem vários estudos e inclusivamente foram desenvolvidas equações de previsão (Kornegay y Notter 1984) para calcular o número adequado de porcos por curral. Mc Connell et al (1987) afirma que durante todo o período pós-desmame, um aumento de 8 a 24 porcos num espaço de superfície constante de 0,21 m2 provoca uma diminuição da CMDA e do GMD em 13% e 12% respetivamente. Por outro lado, Giles et al (2001) y Turner et al (2003) concluem que o tamanho do grupo não tem efeito algum sobre o índice de conversão de alimento nem sobre a variação do GMD dentro do grupo. Duas afirmações completamente diferentes que levaram a supor que há outros fatores que afetam a relação entre o tamanho do grupo e a produtividade, entre os quais se contam o desenho do espaço de alimentação, o fornecimento de água, o peso ao desmame e a mistura de animais, apenas para destacar os mais importantes. Basicamente o problema não é o tamanho do grupo, mas sim como fazer o agrupamento.
Estrutura da instalação
Isolamento
Um bom isolamento permite manter um bom ambiente interior independentemente das condições externas. Pelo contrário, um mau isolamento terá como resultado uma ventilação precária, porque não permitirá um bom controlo do movimento e quantidade do ar que entra no edifício, provocando portanto muitos problemas para conseguir a temperatura necessária.
Ruído
Segundo a legislação europeia na parte do edifício em que se encontram os porcos terão de ser evitados níveis de ruído contínuo superiores a 85dB, assim como ruídos repentinos e duradouros. Quando os porcos guincham chegam a frequências de 100 a 110 dB, que podem ser prejudiciais para o ouvido humano durante períodos superiores a uma hora, bem como aos animais (fazem falta mais estudos).
Solos
Os solos devem ser lisos, mas não escorregadios, e devem ser desenhados, construídos e mantidos de forma a evitar danos ou sofrimento aos animais. Devem ser adequados ao tamanho e peso dos animais, e se não se equipam com camas de palha, devem formar uma superficie rígida, plana e estável. Uma parte da superficie total do solo, suficiente para permitir que todos animais estejam deitados ao mesmo tempo, deverá ser sólida ou estar revestida ou estar coberta com uma capa de palha ou qualquer outro material adequado (a palha deteriora-se mais com altas densidades).
Depois de analisar estes temas, que para muitos não serão desconhecidos é lógico que se proponha, como em todos os artigos, uma possível solução para estes “problemas”. Pelo que me vou permitir analisar o sistema ROTISUIT, contando para tal com a benevolência e colaboração dos técnicos de AEROSYSTEM ROTI.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
“AEROSYSTEM ROTI desenvolveu o habitáculo que reúne todas as necessidades ambientais e de conforto que os leitões precisam, aplicando soluções para cada um dos detalhes e minimizando o gasto energético, investigação que deu lugar ao sistema de desmame ROTISUIT” J. Roca. Aerosystem roti , 2007.
Características técnico – sanitárias
Ventilação
Optou-se pela ventilação positiva (impulsores) e lugar da negativa (extratores) para evitar que os gases produzidos na fossa tenham que passar pelos animais para serem expulsos para o exterior.
A ventilação neste sistema é positiva, periódica e eletrónica, mediante um sistema especial (patenteado) que funciona da seguinte forma: o ar é injetado no habitáculo pela parte superior através de uma conduta, repartido por uns orifícios calculados de forma a que a sua entrada se dê a uma velocidade muito baixa, para não incomodar nem criar qualquer turbulência. O ar é obrigado a sair do habitáculo por uns coletores
Situados por baixo do gradeamento ( slat). Desta maneira o ar passa através dos animais quando ainda está limpo, arrastando, ao sair, os gases nocivos (NH3, CO2, SH2, CH4), de tal maneira que os animais respirem sempre ar novo.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Além disso um mecanismo pneumático assegura a ventilação de emergência em caso de interrupção do fluxo elétrico ou qualquer anomalia, com retorno automático a uma situação normal.
Temperatura
É estável e pode ser controlada pelos funcionários em função das necessidades dos animais, e o mais importante é que não requer aquecimento adicional, aproveitando que cada animal é como uma pequena estufa.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Humidade relativa
É autocontrolada e em percentagem adequada, completamente estável para a comodidade dos leitões. Isto é conseguido pela utilização do calor gerado pelos próprios animais e mediante a adaptação de coolings (cortinas de água).
Assiduamente são colocadas sondas eletrónicas de controlo de temperatura e humidade dentro e fora das unidades ROTISUIT. Estas sondas estão programadas para realizar uma leitura simultânea de temperatura (linhas verdes) e humidade relativa (linhas vermelhas).
O seguinte gráfico corresponde a um período em que as condições externas foram muito variáveis (linhas finas). Observe-se o perfeito controlo e estabilidade constante do ambiente interior (linhas grossas).
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Um exemplo dos resultados práticos conseguidos
Durante um ano foi selecionado um leitão de cada grupo de desmame na exploração experimental da AEROSYSTEM ROTI ( Mas Serí). Foi pesado diariamente, à mesma hora durante os primeiros 15 dias depois do desmame. Cada curva corresponde a um leitão. Observe-se que em todos os casos estudados o leitão apresenta ganho de peso desde o primeiro dia.
Fonte: AEROSYSTEM ROTI
Depois de tudo o que foi comentado apenas me resta dizer que, em 19 anos de visitas a explorações em diferentes países, francamente pensava que encontrar um sistema de alojamento que cumprisse as regras para este tipo de animais com a filosofia real do bem-estar animal era muito difícil; ainda bem que estava equivocado, tinha-o muito perto da minha casa.
Bibliografía:
Barceló. J , Curso Bienestar Animal, Sus Escrofa – Fundación Barceló, escuela porcina, 2006.
Collell. J , Curso Bienestar Animal, Colegio Oficial de Veterinarios de Barcelona, Consejo General de Colegios Veterinarios de España, 2009.
Forcada. F , D. Babot. D , Vidal. A, Buxadé. C . Ganado Porcino, Diseño de alojamientos e instalaciones. Servet, 2009.
Pluske J.R. , Le Dividich. J, Verstegen M.W.A. El destete en el ganado porcino, servet, edición en español, 2007.
Roca. J. Aerosystemroti , 2007.