O sistema de alimentação líquida computadorizado para suínos já é utilizado no Brasil a mais de 20 anos por algumas granjas e ao longo destes anos vem apresentando excelentes resultados de conversão alimentar e uniformidade dos animais na venda dos lotes. Por isso, novos projetos estão contemplando a adoção deste sistema como ferramenta para otimizar a produtividade nas fases de terminação, creche, maternidade e gestação.
No entanto, o simples fato de instalar o sistema na granja não garante por si só os resultados esperados. Alguns pontos devem ser observados e trabalhados de forma a obter bons resultados. Estes pontos são tratados a seguir.
Energia elétrica.
A energia elétrica de boa qualidade garante a regularidade do funcionamento do sistema. Assim, a necessidade de gerador de energia a base de diesel ou biogás se torna a cada dia mais importante, por causa do fornecimento irregular de energia ou mesmo pelo preço da energia fornecida pelas concessionárias.
Disponibilidade de água.
Cerca de 75% da necessidade hídrica diária dos animais é fornecida juntamente com a ração através do sistema de alimentação líquida. Por este motivo é importante que se tenha um bom reservatorio exclusivo para o sistema líquido. Além disso, o reservatório garante a otimização do tempo de abastecimento do sistema com água durante a preparação da sopa.
O sistema tem a necessidade física da diluição da ração em água para ser transportada através da tubulação. Esta diluição pode variar entre 2,5kg a 3kg de água para 1 kg de ração nas fases de creche e terminação, e na reprodução esta diluição vai aumentar para 4kg de água para cada 1kg de ração. Esta diluição terá alteração de acordo com os ingredientes da ração, pois é importante salientar que excesso de água poderá limitar cosumo por causa da capacidade dos animais de ingestão de alimento.
Sendo assim, a disponibilidade de água, de acordo com a necessidade de cada granja, é um dos pontos chaves para o bom funcionamento do sistema.
Espaço para alimentação.
O espaço linear por animal deve respeitar o tamanho dos animais, portanto até 25kg necessitam de 17cm, animais até 105kg com 35 cm e acima de 105 kg de peso vivo serão necessários 40 cm em cocho linear por cevado.
O cocho calha é o mais indicado para o sistema líquido, sendo imprescindível que seja totalmente em nível, podendo ser construído de vários materiais como resina, inox, ardósia e alvenaria.
É importante respeitar o espaço linear em cada fase dos animais alojados, para garantir que a sopa seja distribuída de forma uniforme para todos os animais ao longo do cocho. Deve-se ressaltar que algunas matérias primas não são solúveis em água. Desta forma o cocho com comprimento de 6 metros lineares é o mais indicado para diminuir a interferência das matérias primas que decantam mais rápido. Por exemplo, na ração de terminação com inclusões de milho moído acima de 70% da formula, os ingredientes sedimentam muito rápido dentro do cocho, mesmo com peneira mais fina. Já silagem de milho úmido e ração peletizada demoram mais tempo para sedimentar. O sistema de alimentação liquida deve apresentar boa capacidade de fazer a mistura ser homogeia dentro do tanque de mistura e também no transporte desta sopa até o cocho dos animais. Desta forma se torna fundamental que a tubulação tenha uma lingueta interna (Mix Piper) para manter a sopa em movimento dentro da tubulação durante o trato dos animais.
Curva de alimentação.
Curva de alimentação é uma grande ferramenta disponível no sistema de alimentação liquido computadorizado, pois permite se ter curvas especificas para cada faixa de peso a partir da entrada, aumentando diariamente a disponibilidade de alimento para os animais e a possibilidade de se fazer restrição alimentar no final do alojamento de terminação. Esta curva alimentar é construída especificamente para cada granja porque são muitas variáveis que interferem na quantidade de alimento ingerido pelos animais, sendo os principais:
- número de tratos diários;
- temperatura ambiente da instalação;
- ingredientes inclusos na fórmula de ração;
- cruzamento genético;
- gênero (machos castrado, machos imunocastrados, fêmeas);
- subprodutos utilizados; e
- níveis do balanceamento da ração.
Portanto a curva é uma excelente ferramenta para se ter bons resultados. Abaixo temos um gráfico para demonstrar que o sistema permite trabalhar em média com 10 curvas de alimentação.
Este gráfico exemplifica cinco curvas alimentares de uma granja que aloja os animais com 42 dias de idade no sistema liquido, respeitando o fator peso idade para definir as quantidades fornecidas de ração diariamente e aumento gradativo. Outro ponto importante é que esta granja tem uma realidade de disponibilidade de boca de cocho para todos os animais, para viabilizar a restrição alimentar, pois esta curva terá um teto máximo na disponibilidade de ração.
Mão de obra.
A mão de obra que vai operar o sistema liquida deve ser bem treinada, pois este colaborador terá a responsabilidade de fazer a ligação entre o equipamento e a resposta diária dos animais. Mesmo que o sistema líquido tenha flexibilidade em mudar fórmulas e alterar quantidades fornecidas aos animais diariamente, é importante considerar que o suíno é bem sensível a mudanças de ingredientes, volumes e horário de fornecimento de ração diariamente. Também é importante salientar que o suíno não tem ganho compensatório, ou seja, quando os animais ficam um período grande sem se alimentar e é fornecido grande volume de alimento na sequencia, este alimento em excesso será jogado fora, por isso a interferência do colaborador é fundamental para o desempenho dos suínos no sistema líquido.
Manutenção.
Manutenção do sistema feito preventivo é sempre o mais recomendável, porque será mais eficiente e eficaz no ponto de vista de funcionamento e também no ponto de vista econômico, pois evita parar o sistema no período que deveria estar realizando a distribuição da ração. Atualmente o software permite intervenções da assistência técnica via internet, evitando a necessidade da visita em loco em mais de 90% das ocorrências, gerando economia ao produtor.
Oportunidades do sistema líquido no Brasil.
A utilização de subprodutos no sistema líquido é uma grande oportunidade para diminuir custos de alimentação, mas no Brasil existe um desafio na logística, pois a maioria das granjas estão distantes das indústrias fornecedoras de subprodutos, necessitando avaliar o custo-beneficio de se utilizar subprodutos na dieta dos animais. Os principais subprodutos utilizados em granjas no Brasil são: soro de leite, resíduo da produção de pão, leveduras, pizzas e massas...
A silagem de grão úmido de milho é uma matéria prima que funciona muito bem no sistema líquido e que permite a utilização em grandes unidades de terminação, creche, maternidade e gestação, pois permite o preparo diário da ração sem necessitar grande número de mão de obra para fazer o transporte desta ração. Nos últimos cinco anos tenho acompanhado alguns suinocultores que produzem seu próprio milho para alimentação dos suínos. Adotar esta técnica de ensilar o milho úmido, e ter a disponibilidade do sistema líquido, tem apresentados excelentes resultados.
As informações obtidas através do sistema computadorizado permite aos veterinários e nutricionistas uma avaliação mais rápida e objetiva dos resultados dos animais, propiciando tomada de decisão em mais curto espaço de tempo, pois se tem a possibilidade de intervenção na mudança de fórmula imediatamente a tomada de decisão. No sistema convencional com ração seca em cocho cônico tem que limpar silo, rosca e reservatório do cocho, fato que não ocorre no sistema liquido, que permite intervenção imediata.
Resultados.
Segue abaixo alguns comparativos em propriedades que adotam tanto sistema liquido como sistema com ração seca, ou seja, os níveis são mantidos iguais em ambas as duas situações para permitir uma avaliação mais próximas.
** silagem de grão úmido de milho sem fazer correção de umidade.
Importante avaliar entre linhas, pois cada coluna apresenta realidades diferentes em inclusão de ingredientes, níveis, genética e clima. Sendo assim, estes comparativos mostram que em todas as realidades apresentadas tiveram melhora na conversão alimentar. O impacto positivo na conversão tem como base:
- curva de alimentação adequada com o peso e idade dos animais;
- serviço de verificação dos cochos periodicamente para evitar que sobre ração entre tratos;
- Restrição alimentar em granjas com abates de animais mais pesados.
Considerações finais.
Alimentação líquida no Brasil tem grande potencial para otimizar recursos e mão de obra, pois evita trabalhos repetitivos e diminui o esforço físico dentro da produção resultando em melhora no ambiente de trabalho. Também permite melhorar resultados de conversão alimentar, ponto muito importante diante da oscilação e valorização do farelo de soja, milho e demais ingredientes que impactam diretamente no custo de produção. Desta forma, a utilização do sistema de alimentação vem crescendo. Em 2010 representava abaixo de 3% e no final de 2015 deve passar de 5,5% das granjas de terminação que já utilizam o sistema de alimentação liquida. Isso comprova os bons resultados zootécnicos e econômicos.