Introdução
As concentrações sanguíneas de 25-hidroxicalciferol (25(OH)D3) e 1,25- dihidroxicalciferol (1,25(OH)2D3) em leitões são menores do que aquelas preconizadas para o adequado desenvolvimento ósseo (Flohr et al, 2012). A descoberta de receptores de vitamina D (VDR) em células imunes (macrófagos, células dendríticas e linfócitos B e T) indica que existe uma relação entre os níveis séricos de 1,25(OH)2D3 e a resposta imune inata e adquirida dos animais (Baeke et al. 2010). Como observado por Hewison (2012), as células imunológicas expressam enzimas que convertem 25(OH)D3 a 1,25(OH)2D3. Portanto, os níveis dietéticos de vitamina D podem influenciar a resposta imune dos animais.
Material e Métodos
Foram utilizados 210 leitões machos castrados e fêmeas, híbridos comerciais, com alto potencial genético para a deposição de carne na carcaça e desmamados aos 28 dias de idade. Os animais foram distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, em um arranjo fatorial 3 x 2 + 1 sendo três níveis de cálcio (92, 84 e 76% das recomendações nutricionais contidas em Rostagno et al., 2011 para cada fase avaliada), dois níveis de fósforo digestível (nível fixo de acordo com a exigência nutricional e nível variando mantendo-se a proporção com o cálcio (Ca: Pdig.) dentro de cada fase) e uma ração controle feita com os níveis de cálcio e fósforo digestível preconizados por Rostagno et al. (2011), totalizando sete tratamentos com 10 repetições e três animais por unidade experimental. Os tratamentos foram constituídos da seguinte forma: T1: 2000 UI de vitamina D3, A unidade experimental foi constituída pela gaiola e na formação de blocos foi considerado como critério o peso inicial dos animais. As reduções dos níveis de cálcio (T2 a T4) (na ordem de 8, 16 e 24 %, com alteração da relação Ca: P dig) foram realizadas com a substituição do calcário calcítico pelo inerte, mantendo-se o fósforo digestível fixo. As demais reduções dos níveis de cálcio (T5 a T7) (na ordem de 8, 16 e 24 %, mantendo-se fixa a relação Ca:P dig) foram realizadas com a substituição do calcário calcítico e do fosfato bicálcico pelo inerte. Todas as rações experimentais, com exceção do tratamento controle, que continha 2000 UI de vitamina D3, foram suplementadas com 25(OH)D3 ao nível de 2.000 UI por quilograma de ração, sendo este adicionado ao premix vitamínico. Para avaliar o status imunológico do animal, foram feitas coletas de sangue por punção da veia cava cranial, aos 63 dias de idade e realizadas análises sorológicas de citocinas anti- e pró-inflamatórias: interleucina 10 (IL-10), fator de necrose tumoral (TNF-α) e proteína C reativa (PCR). A mensuração destes parâmetros sanguíneos foi realizada a partir do ensaio imunoenzimático ELISA sanduíche. Os dados obtidos foram submetidos a uma análise de variância ao nível de 5 % de significância, utilizando-se o procedimento GLM do programa SAS (SAS Inst. Inc., Cary, NC). Eventuais diferenças entre os tratamentos foram avaliadas pelo teste de Dunnett, utilizando-se o tratamento 1 (2000 UI de vitamina D3) como controle.
Resultados e Discussão
Os tratamentos não influenciaram (P > 0,05) os níveis plasmáticos da interleucina 10 (IL-10) (Tabela 1). Cantorna (2010) confirmou a presença de receptores de vitamina D (VDR) e da enzima 1-α hidroxilase, que catalisa a conversão do 25(OH)D3 para a forma ativa 1,25 (OH)2D nas células do sistema imune, macrófagos e células dendríticas, e que essa forma ativa da vitamina D tem sido reconhecida como agente imunossupressivo. Considerando que essa citocina (IL- 10) tem reconhecida ação anti-inflamatória (Dillow et al., 2014), o aumento da sua expressão devida a suplementação da 25(OH)D3 pode favorecer a saúde do animal , bem como as estruturas ósseas dos suínos por promover aumento da absorção de cálcio e fósforo no intestino (Sugiyama et al., 2013). Com os resultados, pode-se também deduzir que a redução de 16% ou mais do nível de cálcio na ração pode comprometer os efeitos positivos do 25(OH)D3 na expressão da IL-10. Não se observou variação (P > 0,05) nas concentrações do fator de necrose de tumor alfa (TNF-α) no plasma dos leitões submetidos aos diferentes tratamentos (Tabela 1). Como é do conhecimento que o TNF-α faz parte de um pool de citocinas que possui ação pró-inflamatória (Dillow et al., 2014), a sua baixa concentração no plasma seria indicativo que os animais foram expostos a um ambiente com baixo desafio. De forma coerente com essa hipótese, foi também verificado que os tratamentos não influenciaram (P > 0,05) a concentração da proteína C reativa (PCR) no plasma dos leitões. Isto se fundamenta no fato de que a PCR, que é um indicador sensível de inflamação, se eleva significativamente em casos de desafio imune em que ocorre aumento na concentração de TNF-α. Com base nessas considerações, pode se inferir que os possíveis efeitos imunomodulatórios da vitamina D3 seriam melhores caracterizados se os animais fossem expostos a uma condição de maior desafio. Dados de Ooi et al. (2014) confirmaram que a produção local do 1,25(OH)D3, por células do sistema imune (Células TCD8+), a partir do 25(OH)D3, age modulando a resposta imune, atenuando-a após ativação por antígenos.
Tabela 1 – Valores de interleucina-10 (IL-10), fator de necrose tumoral (TNF-α), e proteína C reativa (PCR) no plasma de leitões aos 63 dias de idade.
*T1: tratamento controle; T2: redução de 8 % da exigência de Ca; T3: redução de 16 % da exigência de Ca; T4: redução de 24 % da exigência de Ca; T5: redução de 8 % da exigência de Ca mantendo-se fixa a relação de Ca:P dig; T6: redução de 16 % da exigência de Ca mantendo-se fixa a relação de Ca:P dig; T7: redução de 24 % da exigência de Ca mantendo-se fixa a relação de Ca:P dig; T2 – T7: suplementados com 2.000 UI de 25- Hidroxicolecalciferol.
Conclusões
Conclui-se que a suplementação de 25(OH)D3 ao nível de 2.000 UI por quilograma, em rações cujos níveis de cálcio e fosforo digestível foram reduzidos em até 24 %, não influenciou a concentração sanguínea de IL-10, de TNF- α e de PCR em leitões dos 28 aos 63 dias de idade.
Referências Bibliográficas
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***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.