Introdução
A vitamina D3, por controlar o metabolismo do cálcio e do fósforo no organismo, influencia na mineralização óssea, tendo assim papel importante no desenvolvimento do esqueleto. A sua deficiência induz ao raquitismo e a outras desordens ósseas, como a osteomalácia e osteocondrose (Flohr et al.,2013). Assim, rações contendo níveis subótimos de vitamina D3 podem gerar alterações metabólicas e retardar o crescimento ósseo de leitões no período pós-desmame. Logo, tem-se a demanda por alternativas para a suplementação de vitamina D3, o que propiciaria um melhor desenvolvimento ósseo. Isto acarretaria em uma melhora no desempenho no período pós-desmame.
Material e Métodos
Foram utilizados 210 leitões machos castrados e fêmeas, híbridos comerciais, desmamados aos 28 dias de idade. Os animais foram distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, em um arranjo fatorial 3 x 2 + 1 sendo três níveis de cálcio (92, 84 e 76% das recomendações nutricionais contidas em Rostagno et al., 2011 para cada fase avaliada), dois níveis de fósforo digestível (nível fixo de acordo com a exigência nutricional e nível variando mantendo-se a proporção com o cálcio (Ca: Pdig.) dentro de cada fase) e uma ração controle feita com os níveis de cálcio e fósforo digestível preconizados por Rostagno et al. (2011), totalizando sete tratamentos com 10 repetições e três animais por unidade experimental. A unidade experimental foi constituída pela gaiola e na formação de blocos foi considerado como critério o peso inicial dos animais. As reduções dos níveis de cálcio (T2 a T4) (na ordem de 8, 16 e 24 %, com alteração da relação Ca: P dig) foram realizadas com a substituição do calcário calcítico pelo inerte, mantendo-se o fósforo digestível fixo. As demais reduções dos níveis de cálcio (T5 a T7) (na ordem de 8, 16 e 24 %, mantendo-se fixa a relação Ca:P dig) foram realizadas com a substituição do calcário calcítico e do fosfato bicálcico pelo inerte. Todas as rações experimentais, com exceção do tratamento controle, que continha 2000 UI de vitamina D3, foram suplementadas com 25(OH)D3 ao nível de 2.000 UI por quilograma de ração, sendo este adicionado ao premix vitamínico. Os tratamentos ficaram assim constituídos: T1: tratamento controle; T2: redução de 8 % da exigência de Ca; T3: redução de 16 % da exigência de Ca; T4: redução de 24 % da exigência de Ca; T5: redução de 8 % da exigência de Ca mantendo-se fixa a relação de Ca:P dig; T6: redução de 16 % da exigência de Ca mantendo-se fixa a relação de Ca:P dig; T7: redução de 24 % da exigência de Ca mantendo-se fixa a relação de Ca:P dig; T2 – T7: suplementados com 2.000 UI de 25- Hidroxicolecalciferol. Com o objetivo de avaliar o metabolismo ósseo dos animais, foram mensurados os teores de matéria seca (MS), cinzas (C), fósforo (P) e cálcio (Ca) nos ossos, assim como foram avaliadas as dosagens dos seguintes metabólitos no soro sanguíneo: fosfatase alcalina total (FA), paratormônio (PTH) e fator de crescimento de fibroblasto (FGF-23). Os dados obtidos foram submetidos a uma análise de variância ao nível de 5 % de significância, utilizando-se o programa SAS. Eventuais diferenças entre os tratamentos foram avaliadas pelo teste de Dunnett, utilizando-se o tratamento 1 (2000 UI de vitamina D3) como controle.
Resultados e Discussão
Não foi verificado efeito (P > 0,05) dos tratamentos sobre as concentrações do Ca e P no soro dos leitões aos 63 dias de idade (Tabela 1). Estes resultados indicam os possíveis efeitos positivos da suplementação de 25(OH)D3 sobre a absorção intestinal de Ca e de P (Flohr et al., 2014).
Tabela 1 – Concentrações cálcio, fósforo e fosfatase alcalina total no soro e fator de crescimento de fibroblasto 23 (FGF-23), paratormônio (PTH) no plasma em leitões aos 63 dias de idade em função dos tratamentos.
Também não foi constatado efeito (P > 0,05) dos tratamentos sobre a concentração sérica da FA (Tabela 1). Segundo Demay (1995), a concentração da FA varia em relação inversa com a concentração de 25(OH)D3 no soro.
Portanto, pode-se inferir que o nível sérico desse metabólito de vitamina D tendeu a aumentar em função de sua suplementação na ração, o que pode ter favorecido a absorção do Ca e P e a consequentemente manutenção de suas concentrações no soro dos animais. Não foi observada variação significativa (P > 0,05) das concentrações sanguíneas de PTH e do FGF- 23 de leitões submetidos aos diferentes tratamentos (Tabela 1). Considerando que a redução da concentração plasmática de FGF-23 resulta em aumento da reabsorção do P pelos rins (Crenshaw et al. 2011), conclui-se que a manutenção do nível de P no soro dos leitões pode ter sido resultado de uma menor perda de P na urina. Por outro lado, como a concentração de PTH varia inversamente proporcional com a de Ca, aumentando em caso de deficiência (Crenshaw et al.,2011), o padrão de sua variação ocorrida neste estudo sugere que os níveis de Ca não foram limitantes nas rações. Com relação aos parâmetros ósseos, não foi observada variação (P > 0,05) nos valores de matéria seca e cinzas ósseas e nas concentrações de Ca e P nas cinzas ósseas dos leitões entre os diversos tratamentos (Tabela 2). Rortvedt & Crenshaw (2010) relataram que a concentração de cinzas nos ossos constitui um bom indicador de mineralização, sendo comprometida somente se ocorrer deficiência de Ca e P ou de vitamina D3 na ração. Flohr et al. (2014) verificaram que a suplementação de 25(OH)D3 garantiu a homeostase do Ca e P e adequado desenvolvimento ósseo de suínos.
Tabela 2 – Teores médios de matéria seca óssea (MSO), cinzas ósseas (CO), cálcio (Ca) e fósforo (P) nas cinzas ósseas de suínos aos 63 dias de idade de acordo com os tratamentos.
Conclusões
A suplementação de 25(OH)D3 ao nível de 2.000 UI por quilograma, em rações cujo os níveis de cálcio e fósforo digestível foram reduzidos em até 24 %, não compromete a estrutura óssea (Ca, P e cinzas ósseas) e os parâmetros séricos (Ca, P, fosfatase alcalina, FGF23 e PTH) referentes à homeostase de cálcio e de fósforo corporal em leitões dos 28 aos 63 dias de idade.
Referências Bibliográficas
1. CRENSHAW, T. D.; RORTVEDT, L. A.; HASSEN, Z.; 2011. A novel pathway for vitamin Dmediated phosphate homeostasis: Implications for skeleton growth and mineralization. Journal of Animal Science, (89):1957-1964.
2. DEMAY, M. B.; 1995. Hereditary defects in vitamin D metabolism and vitamin D receptor defects. In. Endocrinology, 3rd ed. W. B. Saunders Co. Philadelphia, PA, (2):1173-1178.
3. FLOHR, J.R.; TOKACH, M.D.; DRITZ, S.S. et al, 2013. The effects of orally supplemented vitamin D3 on serum 25(OH)D3 concentrations and growth of pre-weaning and nursery pigs. Nursery
4. ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; OLIVEIRA, R. F.; LOPES, D. C.; FERREIRA, A. S.; BARRETO, S. L. T; 2011. Tabelas brasileiras para aves e suínos; composição de alimentos e exigências nutricionais. 3ª ed. Viçosa: UFV, Imprensa Universitária.
5. RORTVEDT, L. A.; ZAPPITELLI, J. A.; REICHCRT, J.L.; BOOTH, J. R.; CRENSHAW, T. D.;2010. Expression of kyphosis in young pigs is altered by carryover effects of sow vitamin D status.
6. Journal of Animal Science, (88):665.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.