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Aditivos antibiótico, probiótico e prebiótico em rações para leitões desmamados precocemente

Publicado: 19 de maio de 2022
Por: Marcio Gilberto Zangeronimo, Asdrubal Viana Santos, Elias Tadeu Fialho, Vinícius de Souza Cantarelli, Tiago da Silva Teofilo, Juliano Pelição Molino
Introdução
É crescente a preocupação da comunidade científica mundial com a segurança alimentar, especialmente no que se refere ao uso de medicamentos antibióticos em rações para animais. A possibilidade do surgimento de cepas bacterianas resistentes(1) devido ao mal uso dos antimicrobianos, assim como a ocorrência de resíduos de medicamentos na carne suína(2) têm motivado a pesquisa por aditivos de rações que possibilitem a manutenção da saúde dos animais sem que o desempenho zootécnico ou a salubridade do alimento sejam comprometidos. Neste contexto, o uso de probióticos e prebióticos como alimentos funcionais, entre outros aditivos, tem sido uma alternativa bastante utilizada, visando à produção de alimentos mais saudáveis e isentos de resíduos de antibióticos(3).
O conceito de alimentos funcionais passou a concentrar-se de maneira intensiva nos aditivos alimentares que podem exercer efeito benéfico sobre a composição da microbiota intestinal, além dos benefícios nutricionais(4). Os probióticos podem ser definidos como sendo microrganismos vivos não patogênicos que afetam positivamente hospedeiros humanos ou animais(5,6) e seus possíveis mecanismos de ação no controle da microbiota intestinal incluem a produção de substâncias antimicrobianas, exclusão competitiva de patógenos por sítios de ligação na mucosa intestinal, competição por nutrientes e modulação do sistema imune(7). Os prebióticos, por sua vez, são definidos como carboidratos fermentáveis capazes de alterar a composição e atividade da microbiota gastrointestinal, conferindo benefícios à saúde do hospedeiro(8), tendo seus efeitos atribuídos à função de substrato, estimulando o crescimento e estabilização das populações microbianas benéficas, em detrimento às demais(9).
Uma série de artigos de investigações científicas em que os antibióticos promotores de crescimento foram substituídos por compostos probióticos e/ou prebióticos, no período correspondente à desmama dos suínos, foram produzidos(10-15). Este período é considerado crítico na vida dos leitões e são inúmeros os fatores que contribuem para o estresse pós-desmame, os quais, comumente, resultam em diarreia e queda no desempenho(16). Isto pode estar relacionado à queda na imunidade dos leitões e susceptibilidade à ação de microrganismo patogênicos, caracterizando o ambiente pós-desmame como de desafio sanitário elevado(17, 18).
Há uma tendência para o banimento do uso de antibióticos em rações e a manipulação da dieta dos leitões no período que sucede a desmama pode ser uma ferramenta funcional e benéfica para a sua saúde(19, 20). Considerando tais fatores, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar o desempenho, a consistência fecal e os parâmetros sanguíneos de suínos na fase de creche, suplementados com prebiótico, probiótico e antibiótico.
Material e Métodos
Os procedimentos envolvendo animais foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade Federal de Lavras, Protocolo nº 018/2010.
O experimento foi conduzido em galpão de creche, em 20 baias suspensas (2,0 x 1,5 m). Utilizaram-se 80 leitões (Danbred X Agroceres), selecionados de um total de 2.000 animais, oriundos de uma granja comercial da região Sul de Minas Gerais. Foram utilizados 40 machos e 40 fêmeas, desmamados aos 22 dias de idade, com peso inicial de 7,1±0,017 kg.
O delineamento utilizado foi blocos ao acaso, sendo quatro tratamentos e cinco repetições. Os animais foram pesados individualmente e distribuídos nos blocos em função do peso. As dietas experimentais (Tabela 1) foram formuladas de forma a atender as exigências mínimas nutricionais dos leitões, durante o período de creche, ou seja, dos 22 aos 60 dias de idade, segundo o NRC(21). Os tratamentos foram: 1 – dieta basal, 2 – dieta basal + prebiótico 0,2% (mananooligossacarídeo), 3 – dieta basal + probiótico (Bacillus subtilis 30g/tonelada) e 4 – dieta basal + antibiótico (bacitracina de zinco 125 g/tonelada). A composição, em microrganismos, do probiótico adicionado às dietas dos leitões e o número de unidades formadoras de colônias (UFC) por grama de produto (Calsporin®) foi de 1 x 1010 UFC/g.
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As variáveis de desempenho analisadas foram o ganho de peso diário (GPD), o consumo de ração diário (CRD) e a conversão alimentar (CA). O desempenho foi obtido após a pesagem dos animais, medindo-se o fornecimento e as sobras de ração. As sobras foram coletadas, secadas, pesadas e descontadas do total fornecido para a determinação do consumo real. A conversão alimentar foi obtida pela relação consumo/ganho de peso no período.
Após jejum de 8 horas, realizou-se a eutanásia de um animal por parcela, aos 29, 36 e 54 dias de idade, para coleta das amostras de sangue. Amostras de sangue contendo 10 mL foram coletadas em tubo de ensaio, uma contendo anticoagulante EDTA. As análises de leucócitos totais foram realizadas por meio de citometria de fluxo, estabelecendo-se as quantidades de leucócitos totais, eosinófilos, monócitos, basófilos e linfócitos por mm³ de sangue.
Para a análise da consistência fecal, as fezes foram classificadas diariamente nas baias, em uma escala de 0 a 3, em que 0 e 1 foi adotado para fezes normais, 2 para pastosas e 3 para aquosas. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o PROC GLM do pacote estatístico SAS (Statistical Analysis System Institute - SAS INSTITUTE, 2001)(22). Utilizou-se o teste de Lilliefors para a verificação da normalidade da distribuição dos dados que foram, posteriormente, submetidos à análise de variância global com todos os tratamentos, para obtenção do quadrado médio do resíduo. Para as variáveis de desempenho, aplicou-se o teste de Tukey, a 5%. Para as variáveis sanguíneas (leucócitos totais) foi utilizada a opção de transformação raiz quadrada de x+0,5. A consistência fecal foi submetida à análise não paramétrica (qui quadrado), sendo as médias comparadas pelo teste Kruskal-Walis.
Resultados e Discussão
Não se observou efeito (P> 0,05) da adição de probiótico, prebiótico ou antibiótico no GPD dos animais (P> 0,05); no entanto, o maior CRD (P< 0,05) foi observado para os animais alimentados com rações contendo prebiótico e a menor CA (P< 0,05) foi verificada para os animais alimentados com a ração controle. Como relatou Saad(4), a ingestão de ração com adição de prebióticos exerce efeito de aumento de volume da digesta como consequência do aumento da biomassa microbiana, que pode resultar em aumento da frequência de evacuações, confirmando sua ação semelhante à fibra dietética e subsidiando o resultado de aumento no CRD observado. Resultados semelhantes foram encontrados por Utiyama et al.(23), que verificaram aumento do CRD dos animais em função da adição de prebiótico nas rações dos leitões.
O uso de Bacillus toyoi como probiótico em detrimento do uso de antimicrobiano foi testado por Fedalto et al.(24), que não observaram efeito para o desempenho de leitões no período pós-desmama, o que está de acordo os resultados obtidos neste experimento. Resultados semelhantes para GPD e CA também foram obtidos por Santos et al.(25), que utilizaram níveis de manose de 0% a 0,2%.
A utilização de probióticos e prebióticos não afetou o desempenho de leitões no período pós-desmama, como verificado por Sanches et al.(26), que utilizaram probiótico, prebiótico e simbiótico na dieta pósdesmama e verificaram que o grupo controle e o que estava recebendo antibiótico apresentaram o mesmo desempenho. Por sua vez, Mikkelsen et al.(27) não observaram diferenças no desempenho de leitões desmamados ao compararem a utilização de dois prebióticos distintos na dieta.
Não foi observada diferença (P> 0,05) no desempenho dos animais submetidos às dietas testadas no período de 22 a 54 dias de idade (Tabela 3). Os resultados encontrados na literatura em que ingredientes funcionais foram avaliados são coerentes com a observação do status sanitário do local experimental. Muitos autores não verificaram efeito dos ingredientes potencialmente melhoradores da saúde, como probióticos(28,29), prebióticos(25), glutamina e ácido glutâmico(30), lactose(31), quando comparados às dietas controle, o que pode estar relacionado à ausência de desafio sanitário. No entanto, outros autores que comprovaram que, com o desafio sanitário, induzido ou naturalmente proporcionado pelas instalações, houve efeito positivo da inclusão dos ingredientes funcionais na dieta, como Estiene et al.(32), que trabalharam com probióticos.
A importância do desafio sanitário para leitões na fase de desmame também foi estudada por Cromwell et al.(18), que demonstraram a importância do manejo sanitário das granjas para o desempenho e a saúde dos leitões. Além disso, o núcleo utilizado nas dietas basais continha fontes de lactose que, de acordo com Molino et al.(31), promove melhoria da saúde intestinal pelo aumento da população microbiana benéfica, tais como Lactobacillus spp.
Um dos problemas atribuídos à desmama precoce dos suínos é a redução do consumo de ração principalmente na primeira semana pós-desmame, que resulta em atrofia das vilosidades intestinais e queda na capacidade de aproveitamento dos nutrientes da ração, como relatado por Molino e Balbino(33). Portanto, ainda que não tenha sido verificado efeito significativo da adição de prebiótico, probiótico ou antibiótico sobre o desempenho dos animais dos 22 aos 54 dias, o maior CRD observado (P< 0,05) nos animais dos 22 aos 43 dias de idade alimentados com ração contendo prebiótico pode ser visto como aspecto positivo da inclusão deste ingrediente, já que uma das dificuldades para este período é a manutenção do consumo de ração.
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Não se observou efeito significativo na avaliação da consistência fecal (Tabela 4) para as dietas testadas nos animais. As condições sanitárias das instalações e dos animais podem ter sido determinantes para a não apresentação de um quadro de diarreia, não permitindo, assim, observar ação dos aditivos utilizados. A não observação de efeito das dietas sobre a consistência fecal dos leitões (Tabela 4) pode dar sustentação à suposição de que não houve desafio sanitário suficiente para comprometer a saúde dos leitões. Estes resultados estão de acordo com os resultados observados por Morais et al.(29), que utilizaram probióticos combinados com Bacillus subtilis na dieta de leitões na fase de creche e não encontraram efeitos para desempenho e diarreia.
Por outro lado, Taras et al.(34) afirmaram que os probióticos usados em dietas para suínos e aves têm efeito positivo na consistência das fezes e que os efeitos positivos no uso de probióticos são mais bem evidenciados quando os animais apresentam diarreia. O NRC(21) sugere que a espécie de microrganismo utilizada como probiótico, os históricos de doenças, a condição sanitária e a temperatura das instalações podem interferir na ação dos promotores de crescimento.
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Os valores encontrados para leucócitos totais apresentaram-se dentro da normalidade para a espécie e a idade, de acordo com os dados apresentados por Eze et al.(35). Observou-se maior resposta (P< 0,05) para leucócitos, nos tratamentos que receberam prebióticos e probióticos, seguidos dos tratamentos contendo antibiótico e controle, aos 54 dias de idade dos animais.
As principais células de defesa do organismo são representadas pelos leucócitos, incluindo linfócitos, monócitos, neutrófilos e eosinófilos, e são fortemente influenciadas pela nutrição, estresse ou desordens clínicas(15). Robles-Huaynate et al.(15) relataram aumento na contagem de leucócitos em função da desmama dos leitões e sua diminuição em função da adição de probióticos nas rações.
O efeito imunoestimulante em animais pode estar relacionado à capacidade de os microrganismos com características probióticas interagirem com as placas de Peyer e as células epiteliais intestinais, estimulando as células B produtoras de IgA e a migração de células T do intestino(36). Também tem sido demonstrado que os probióticos favorecem a atividade fagocítica inespecífica dos macrófagos alveolares, sugerindo uma ação sistêmica por secreção de mediadores que estimulariam o sistema imune(37). Chiquiere et al.(38) obtiveram maior número de leucócitos na dieta controle em relação às demais rações contendo promotores de crescimento, justificando que há uma menor resposta do sistema imune quando não há tratamentos com promotores de crescimento.
A dieta contendo prebiótico apresentou maior estímulo para contagem de monócitos em comparação com as demais rações. Monócitos são células de resposta imune inata, portanto, já presentes antes de estímulos específicos(39). Verificou-se que, com o avançar da idade dos animais, naturalmente, eles apresentaram elevação nas concentrações (Tabela 5). Esse maior estímulo observado ao longo do período experimental pode estar relacionado à imunidade adaptativa e esses resultados podem ser devido à exposição natural a antígenos, ao ambiente ou até mesmo à alimentação e, possivelmente, não apresentam relação direta com o desempenho dos animais no período experimental de 32 dias. Os animais submetidos à dieta contendo prebiótico apresentaram valores de contagem de eosinófilos mais elevados em relação aos animais das demais dietas (Tabela 5). Possivelmente, essa resposta é positiva para os animais aos 14 dias. Segundo Lima et al.(40), os eosinófilos têm participação em reações alérgicas e na resposta aguda inflamatória, podendo induzir dano tecidual (eosinofilia). Estas células migram da circulação para os locais de infecção e inflamação, onde são importantes contra infecções por parasitas e/ou alergenos. Kita(41) sugere que a regulação da produção e ativação dos eosinófilos ocorre por propriedades únicas e, talvez, não específicas destas células, como pela ação de enzimas proteolíticas produzidas por microrganismos e outras moléculas biológicas. Mesmo que os eosinófilos possam permanecer até duas semanas nos tecidos sob a influência das citocinas, permanecem apenas algumas horas no sangue(42).
De acordo com os resultados encontrados para a contagem de basófilos, a dieta contendo prebiótico apresentou menor resposta em relação às demais rações. O tratamento positivo contendo antibiótico apresentou maior resposta para basófilos.
Não foram encontradas diferenças para contagem de linfócitos, para as dietas avaliadas nos períodos testados, provavelmente porque não houve desafio e não ocorreu estímulo para a resposta imune adaptativa.
Considerando-se somente os períodos, verificou-se que houve efeito (P< 0,05) para os períodos avaliados com maior estímulo ao sistema imune. Esta maior ativação do sistema imune pode estar relacionada com o desenvolvimento da imunidade adaptativa dos animais.
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Conclusões
Não houve efeito dos aditivos testados para suínos na fase pós-desmama, provavelmente em virtude da ausência de desafio sanitário.
Esse artigo foi originalmente publicado em Cienc. anim. bras., Goiânia, v.17, n.1, p. 1-10 jan./mar. 2016 Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

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MARCIO GILBERTO ZANGERONIMO
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