Introdução
A exposição ao novo alojamento, patógenos e alimento desencadeiam uma resposta imunológica que afeta os processos metabólicos dos leitões. Assim, devido à imaturidade fisiológica, ocorrem desordens nutricionais em leitões desmamados e durante os primeiros dias de creche. Uma das formas de controlar esse quadro é através da adição de acidificantes à dieta. Os acidificantes são capazes de reduzir o pH gástrico, promovendo um ambiente mais adequado para a ação das enzimas digestivas, reduzindo a proliferação de microrganismos patogênicos, com consequente melhora no aproveitamento dos nutrientes, e indiretamente, no desempenho dos animais (BRAZ, 2007). O ácido fumárico é considerado um antimicrobiano ativo que pode reduzir bactérias indesejáveis no trato gastrointestinal como a Escheria coli e melhorar a taxa de crescimento com inclusões de até 4% na dieta para suínos e aves (GOMES et al., 2007). Entretanto, as diferentes formas de uso e níveis aplicados em ensaios in vivo são variáveis e até contraditórias. Diante dessa problemática, este estudo tem o objetivo de estudar, através da meta-análise, o uso do ácido fumárico na alimentação de leitões sobre o desempenho pós desmame e em creche.
Material e Métodos
O estudo foi realizado no Departamento de Zootecnia na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Os principais critérios para a seleção das publicações foram: apresentar resultados zootécnicos de experimentos com leitões em fase de desmame e creche; alimentados com dietas contendo diferentes níveis do ácido fumárico. A base de dados foi desenvolvida a partir de 15 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, totalizando 1191 animais distribuídos em 130 tratamentos. O período experimental médio foi de 19,9 dias com variação de 7 a 48 dias. O peso médio inicial e final nos estudos foram 7,37 ±1,95kg (variação de 3,8 a 17,7 kg) e 13,7 ±5,66kg (4,68 a 39,9 kg). A definição das variáveis dependentes e independentes e a codificação dos dados, de maneira a permitir a análise dos efeitos inter e intraexperimentos, foram realizadas segundo LOVATTO et al. (2007) e SAUVANT et al. (2008). A meta-análise foi realizada por análise gráfica (para observar a coerência biológica dos dados), de correlação e de variância-covariância. As comparações entre os dados foram feitas ao nível de 5% de significância. Equações de regressão foram obtidas através da covariância contínua nos modelos de ANOVA. As análises estatísticas serão realizadas através do programa MINITAB 16 (Minitab Inc., State College, USA).
Resultados e Discussão
Os valores nutricionais calculados das dietas foram em média de 3356 kcal/kg EM (var. 3191 a 3523; CV= 3%), 20,81% de PB (var. 17 a 23; CV= 5,5%), 1,42% de lisina digestível (var. 1,20 a 1,93; CV= 14,5%), 0,50% de metionina digestível (var. 0,37 a 0,69; CV= 24,1%), 0,76 % de Ca (var. 0,28 a 1,20; CV= 25,9%), 0,55% de fósforo disponível (var. 0,39 a 0,80; CV=9,9%). Estes valores corroboram com os apresentados por ROSTAGNO et al. 2011 em suas recomendações propostas para leitões de 5 a 15 kg de peso vivo. Além disso, houve pequena variação (CV) observada na composição nutricional das dietas, o que indica ajuste nutricional independente de fonte energética e proteica adotada no experimento.
Como verificado na figura 1, o consumo de ração aumentou em função do peso vivo dos leitões e o nível de ácido fumárico na dieta. O peso vivo é o principal fator que interfere no consumo de ração. Para leitões em creche, as exigências nutricionais dependem diretamente do peso vivo e podem ser atendidas pelo consumo adequado de nutrientes. Entretanto, os fatores estressantes após o desmame podem comprometer o consumo e o aproveitamento dos nutrientes. Assim, o consumo de dietas com ácido fumárico pode estimular o consumo de ração, e indiretamente o ganho de peso dos leitões através dos efeitos benéficos em nível intestinal (LAWLOR et al., 2005).
Figura 1 - Consumo observado (pontos) e estimado (linha contínua) para leitões alimentados com dietas contendo ácido Fumárico
O ganho de peso observado de leitões alimentados com dietas contendo ácido fumárico é maior nos primeiras semanas de creche (Figura 2). As melhores respostas com a adição de acidificantes ocorrem nas semanas iniciais quando o trato gastrintestinal do leitão está mais susceptível a desordens intestinais. A acidificação do conteúdo gastrintestinal acarreta aumento na atividade da pepsina, melhorando a digestibilidade proteica, podendo reduzir a taxa de passagem do alimento. A acidificação influencia o aumento da secreção enzimática pelo pâncreas, resultando no aumento da digestibilidade das dietas, assim como da digestibilidade ileal verdadeira dos aminoácidos (PARTANEN,2001). Já a redução do pH da dieta proporciona maior aproveitamento dos nutrientes, que influencia na capacidade de absorção e digestão dos componentes energéticos e proteicos contidos na dieta. Com o aumento do consumo de ração e a eventual redução do pH no trato gastrointestinal, o crescimento microbiano fica limitado, aumentando a oferta de nutrientes ao animal e não aos microrganismos patogênicos no trato digestivo. Esse quadro favorável permite ao animal um maior ganho de peso associado a menor conversão alimentar.
Figura 2 - Ganho de peso observado (pontos) e estimado (linha contínua) para leitões alimentados com dietas contendo ácido fumárico.
Conclusões
O uso do ácido fumárico nas dietas de leitões nas fases pós-desmame e em creche melhora o consumo de ração e o ganho de peso dos leitões.
Referências Bibliográficas
1. BRAZ, D.B. Acidificantes como alternativas aos antimicrobianos melhoradores do desempenho de leitões na fase de creche. Dissertação de mestrado. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, São Paulo, 2007, 78p.
2. GOMES, F.E. et al. Ácido fumárico e sua combinação com os ácidos butírico ou fórmico em dietas de leitões recém-desmamados. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.5, p.1270-1277, 2007
3. LAWLOR, P.G. et al. Effect of creep feeding, dietary fumaric acid and level of dairy product in the diet on post-weaning pig performance. Irish Journal of Agricultural and Food Research, v. 44, p. 45–55, 2005.
4. LOVATTO, P. A. et al. Meta-análise em pesquisas científicas: enfoque em metodologias. Revista Brasileira de Zootecnia, Brasília, v. 36, p.285-294. 2007.
5. MINITAB. Minitab Inc. Versão 15. 15.1. 2007.
6. ROSTAGNO, H. S. (Ed.). Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 3. ed. Viçosa: UFV / DZO, 2011 PARTANEN, K. et al. Organic acids - their efficacy and modes of action in pigs. (Ed.). Gut Environment of pigs. Nottingham: Nottingham University Press, 2001. p. 201-217
7. SAUVANT, D. et al. Meta-analyses of experimental data in animal nutrition. Animal, Cambridge, v. 2, p.1203-1214. 2008.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.