Introdução
A alta produtividade de matrizes suínas tem levado a uma maior necessidade nutricional, maior variabilidade do peso médio dos leitões ao nascimento, maior taxa de mortalidade pré-natal e pré-desmame e maior desgaste metabólico das matrizes (ABREU et al., 2014). INNIS (1991) já demonstrava o potencial efeito do uso de ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) durante a gestação e lactação sobre o crescimento e desenvolvimento fetal. Fisiologicamente, os PUFA de cadeia longa mais importantes são o ácido araquidônico (C20:4n-6, ARA), ácido eicosapentaenoico (C20:5n-3, EPA) e o ácido docosahexaenoico (C22:6n-3, DHA) (KURLAK & STEPHENSON, 1999). Diversos trabalhos avaliaram os efeitos de ARA e EPA na suplementação de animais (SMITS et al., 2011; GULLIVER et al., 2012;), porém os mecanismos envolvidos no efeito da suplementação com DHA não estão completamente compreendidos. O presente trabalho tem como objetivo avaliar o efeito de dietas suplementadas com diferentes níveis de inclusão de ômega-3 (DHA) em matrizes suínas durante o terço final da gestação, lactação e intervalo desmame-estro (IDE) sobre o IDE e número de leitões natimortos durante o período de suplementação e número de leitões natimortos no parto subsequente.
Material e Métodos
Foram utilizadas 720 matrizes suínas prenhas da linhagem Camborough provenientes de uma granja do estado de Santa Catarina. Foi realizada a suplementação diária das fêmeas com PUFA, especialmente o ácido docosahexaenoico (C22:6n-3, DHA). O DHA foi fornecido à dieta nos últimos 30 dias de gestação, durante a lactação (20-23 dias) e no intervalo desmame-estro (IDE; 4 a 7 dias), totalizando aproximadamente 60 dias de tratamento. A fonte de DHA fornecido era um produto farináceo derivado da Schizochytium sp., uma micro-alga marinha desenvolvida para fins comerciais (Ratledge et al., 2004). As fêmeas foram divididas em 5 tratamentos com 144 animais em cada grupo. Os tratamentos constituíam: Controle/TRAT1 (0,0g DHA/dia); TRAT2 (3,5g DHA/dia); TRAT3 (7,0g DHA/dia); TRAT4 (14,0g DHA/dia) e TRAT5 (28,0g DHA/dia). Após o nascimento das leitegadas do parto subsequente à suplementação, foram registrados os dados onde se buscou avaliar total de natimortos no parto suplementado e subsequente e IDE durante o período de suplementação. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística utilizando-se teste de comparação de médias (Tukey) ao nível de 5% de probabilidade através do software Statistix® 10 (2013).
Resultados e Discussão
De acordo com WATHES et al. (2007) os PUFAs podem influenciar os processos reprodutivos porque fornecem os precursores para a síntese de prostaglandinas e estão envolvidos no metabolismo de esteroides e outros hormônios da reprodução, desta forma a suplementação com este componente pode interferir no IDE e no número de natimortos. Para a avaliação do efeito da suplementação de DHA no intervalo de desmame-estro os resultados obtidos apesar de demonstrarem diferença significativa entre os níveis de suplementação não apresentaram correlação com os níveis crescentes de DHA. O TRAT 1 e o TRAT3 de DHA apresentaram diferença significativa (p<0,05), porém não diferiram dos demais tratamentos de DHA (Tabela 1).
Tabela 1 - Efeito da suplementação com diferentes níveis de DHA no intervalo desmame-estro de fêmeas suínas.
Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (p<0,05).
Desta forma não houve uma relação entre nível de suplementação e IDE visto que estatisticamente somente o tratamento controle (0 g) diferiu do tratamento com 7 g de DHA e os demais níveis apresentaram-se semelhantes entre si. Corroborando com os achados de MATEO et al. (2009) o qual também não encontrou diferença entre o IDE em porcas durante seu primeiro ciclo reprodutivo quando suplementadas com n-3 (O3FA). HIDALGO et al. (2014) avaliaram o efeito da duração da lactação e da administração de gonadotrofinas durante o período de desmame sobre o IDE, onde verificaram que tanto as gonadotrofinas quanto o prolongamento da lactação diminuíram o IDE. Os resultados da avaliação da interferência da suplementação com DHA no total de leitões natimortos no parto suplementado e parto subsequente à suplementação encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2 - Efeito da suplementação com DHA no número de leitões natimortos durante o parto suplementado e parto subsequente à suplementação
Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (p<0,05).
Os dados obtidos no período de suplementação do primeiro parto não apresentaram diferença (p>0,05) entre os tratamentos para a média de natimortos. Estes resultados estão de acordo com os reportados por MATEO et al. (2009), o qual também não observou diferença entre os tratamentos para o número de leitões natimortos no primeiro parto com suplementação O3FA. Nossos resultados referentes ao parto subsequente à suplementação também não apresentaram diferença significativa entre os níveis de suplementação. MATEO et al. (2009) encontrou resultados diferentes, visto que após dieta contendo O3FA durante o período da primeira gestação e no parto subsequente o número de leitões nascidos vivos apresentaram uma tendência a serem maiores no grupo de animais que recebeu a suplementação quando comparado ao grupo controle. Para maiores esclarecimentos dos efeitos dos PUFAs sobre a reprodução são necessários mais estudos em diferentes categorias e maior número de fêmeas suínas para os diferentes tratamentos.
Conclusões
Conforme os resultados obtidos neste estudo conclui-se que a suplementação com ômega-3 para matrizes suínas nas condições em que foi conduzido o experimento não influenciou o IDE e o número de leitões natimortos tanto no parto suplementado quanto no parto subsequente à suplementação.
Referências Bibliográficas
1. ABREU, M. L. T.; SARAIVA, A.; LANFERDINI, E.; et al., 2014. Aditivos para matrizes suínas em produção. VI CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE NUTRIÇÃO ANIMAL – SALA SUÍNOS, (6) Campinas, 2014. CBNA, Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal.
2. GULLIVER, C. E.; FRIEND, M. A.; KING, B. J.; et al., 2012. The role of Ômega-3 polyunsaturated fatty acids in reproduction of sheep and cattle. Animal Reproduction Science, (131): 9-22.
3. HIDALGO, D.M.; FRIENDSHIP, R.M.; GREINER, L.; et al., 2014. Influence of lactation length and gonadotrophins administered at weaning on fertility of primiparous sows. Animal Reproduction Science, (149): 245-248.
4. INNIS, S. M.; 1991. Essential fatty acids in growth and development. Progress in Lipid Research, (30): 39–103.
5. KURLAK, L. O.; STEPHENSON, T. J.; 1999. Plausible explanations for effects of long chain polyunsaturated fatty acids (LCPUFA) on neonates. Archives of Disease in Childhood. Fetal andNeonatal Edition, (80): 148–154.
6. MATEO, R. D.; CARROLL, J. A.; HYUN, Y.; et al., 2009. Effect of dietary supplementation of n- 3 fatty acids and elevated concentrations of dietary protein on the performance of sows. Journal of Animal Science, (87): 948-959.
7. RATLEDGE, C.; 2004. Fatty acid biosynthesis in microorganisms being used for single cell oil production. Biochimie, (86): 807–815.
8. SMITS, R. J.; LUXFORD, B. G.; MITCHELL, M.; et al., 2011. Sow litter size is increased in the subsequent parity when lactating sows are fed diets containing n-3 fatty acids from fish oil. Journal of Animal Science, (89): 2731-2738.
9. STATISTIX®. 2013. Statistix® 10 analytical software. Tallahassee, FL, EUA.
10. WATHES, D.C.; ABAYASEKARA, D.R.E.; AITKEN, R.J., 2007. Polyunsaturated fatty acids in male and female reproduction. Biology of reproduction, (77): 190-201.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.