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Produção Suinícola Qualidade

Impacto de Sistemas de produção suinícola na qualidade dos recursos hídricos

Publicado: 12 de janeiro de 2012
Por: Julio Cesar Pascale Palhares (Embrapa – Suínos e Aves ) & Calijuri, M. C. (Depto. Hidráulica e Saneamento - USP/São Carlos), Brasil
INTRODUÇÃO 
A suinocultura constitui-se em uma das cadeias produtivas melhor estruturadas do agronegócio brasileiro compreendendo o terceiro maior rebanho mundial. Este fato traz consigo algumas características intrínsecas à este tipo de estruturação e também ao perfil econômico da economia global que é a tendência de intensificação e concentração da produção em áreas determinadas. 

Estes dois processos possuem vantagens econômicas importantes, principalmente as que afetam a indústria de processamento da matéria prima, mas desvantagens também ocorrem, sendo uma das principais a quantidade de resíduos da produção que é gerado em uma área limitada. 

Como os resíduos devem ser retirados da unidade produtora por questões sanitárias, diversas formas de manejo e sistemas podem ser utilizados, sendo o mais consagrado e utilizado a lavagem das instalações por periodicidades diversas. Com isto, utiliza-se um recurso natural com alta qualidade, pois geralmente a água que abastece os sistemas produtivos provém de nascentes, minas, etc., para carrear matéria orgânica de elevado poder poluente, sendo esta constituída basicamente de fezes, urina e restos de ração. 

Em média um suíno pode produzir 8,6 L/dia/animal de dejetos e consumir 15 L/dia de água. Considerando estes dados, o consumo anual de água pela suinocultura no ano de 2001 no Brasil eqüivaleu a uma população de 2.620.207 pessoas ou 1,5% da população brasileira. Maior que a população de estados como Rondônia, Tocantins, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal. 

Comparando-se o potencial poluidor de um suíno com o de uma pessoa, este animal pode poluir o equivalente a 3,5 pessoas. Assim, o plantel de suínos em 2001 eqüivaleu a uma população de 115.576.296 pessoas, aproximadamente 68% da população nacional. 

Os dados mostram a problemática ambiental que está atividade pode trazer se medidas mitigadoras não forem implementadas no momento para que o desenvolvimento da suinocultura aconteça de forma sustentável. Mas para que estas medidas promovam reais mudanças e se perpetuem no tempo é fundamental se conhecer as características do material que terá que ser manejado, no caso, os efluentes dos sistemas de produção suinícola. 

Somente com a qualificação destes efluentes e que poderá se propor sistemas de tratamento e aproveitamento que sejam viáveis ambientalmente, economicamente e socialmente, promovendo a melhoria da qualidade ambiental e segurança hídrica da região de produção. 

O objetivo deste trabalho foi qualificar o impacto ambiental que os sistemas de produção suinícola promovem nos recursos hídricos por eles utilizados. 

MATERIAL E MÉTODOS 
A pesquisa foi realizada em quatro suinoculturas localizadas no município de Jaboticabal-SP as quais tiveram seus afluentes, considerando estes como a água utilizada para higienização das instalações podendo este ser proveniente de açudes, poços, nascentes, etc.; e efluentes das instalações e dos sistemas de tratamento, quando existentes, analisados por um período de um ano, mensalmente. As amostras de água foram coletadas em duas fazendas por dia no horário das 7:00 às 9:00, quando a lavagem era realizada. 

Para que a comparação dos resultados entre as propriedades fosse possível, somente foram coletados efluentes das baias de crescimento/terminação. 
Todas as suinoculturas monitoradas constituíam-se em sistemas de Ciclo Completo com as seguintes peculiaridades: FS1- o afluente constituiu-se da água proveniente de um açude localizado a montante do galpão e o efluente foi coletado no cano de descarga da instalação no momento da lavagem, assim como para todas as suinoculturas, esta propriedade possuía um sistema de tratamento constituído por uma lagoa a qual estava sem manutenção a aproximadamente 5 anos, apresentando-se totalmente assoreada por dejetos, somente duas coletas foram realizadas pois o proprietário desativou a criação; FS2- o afluente proveio de um poço, sendo as amostras coletadas em uma torneira a qual abastecia a mangueira de lavagem e a propriedade dispunha de um sistema de tratamento com três lagoas em seqüência onde a amostra foi coletada sempre na primeira lagoa; 

FS3- o afluente era captado em um açude que estava povoado com peixes, sendo a amostra coletada em uma caixa d'água e a unidade de tratamento era composta por um peneira para separação da fase sólida da líquida, sendo a amostra constituída da fase líquida; FS4- a amostra de afluente foi coletada em um poço e a propriedade não dispunha de sistema de tratamento, ressalta-se que esta propriedade era a única que aplicava o manejo de lâmina d'água, assim, a amostra de efluente não proveio da piscina, mas aguardava-se o esvaziamento desta e posterior lavagem do piso para realizar a coleta. 

A escolha das variáveis físico-químicas de qualidade da água considerou a legislação ambiental vigente, desta forma, os resultados obtidos possuem um referencial legal. As seguintes variáveis foram analisadas: Temperatura, pH, Oxigênio Dissolvido (OD), Compostos Nitrogenados (nitrato, nitrito e amônia), Fósforo Total, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Demanda Química de Oxigênio (DQO). 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Nas duas coletas realizadas em FS1 os parâmetros de qualidade da água apresentaram valores impactantes à qualidade deste recurso natural. Destaca-se as concentrações de OD com concentrações entre 7,1 e 8,3 mg/L no afluente e zero em todas as amostras do efluente e tratamento, altos valores de DQO atingindo 9.965 mg/L (efluente), concentrações das formas nitrogenadas muito acima do recomendável, assim como as de fósforo.

Ressalta-se que na primeira coleta, para o nitrito e fósforo, e segunda coleta, para a amônia, as concentrações observadas foram superiores nas águas do tratamento em relação ao efluente, o que justifica a hipótese da baixa eficiência deste devido as suas condições de manejo. Apesar de somente duas coletas terem sido realizadas na FS1, esta apresentou grande poder impactante na qualidade da água utilizada e potencial poder poluente dos corpos d'água receptores do efluente de seu sistema de tratamento. 

Em FS2, durante todo o período de coletas, o pH do afluente apresentou valores ácidos variando de 5,2 a 5,4, no efluente a variação foi de 6,2 a 8,2 e no tratamento de 6,7 a 8,1. A acidez das águas do afluente pode estar relacionada aos tipos de rocha e de solo no qual o poço estava localizado. As concentrações de OD no afluente variaram de 7,3 a 8,5 mg/L sendo que no efluente e tratamento as concentrações foram nulas para todas as coletas. 

Comparando-se os resultados da DBO com os do OD a situação inverteu-se, pois a DBO do afluente foi praticamente nula e as do efluente e tratamento muito elevadas, com variações de 186 a 5.601 mg/L para o efluente e 180 a 5.040 mg/L no tratamento. As concentrações de DQO do efluente demonstram seu alto poder impactante, sendo que mesmo após a passagem do mesmo pela lagoa de tratamento, altas concentrações de DQO ainda foram observadas, o que não permitiria o despejo deste em nenhum corpo d'água. 

A concentração de nitrato no afluente apresentou-se com valores entre 1,4 a 3,4 mg/L, no efluente entre 200 e 1.560 mg/L e no tratamento entre 20 e 370 mg/L. O nitrito variou de 0,0 a 0,9 mg/L no afluente, de 330 a 3.000 mg/L no efluente e de 30 a 630 mg/L no tratamento e a amônia de 0,0 mg/L e 0,02 mg/L no afluente, 60 a 120 mg/L no efluente e 150 a 740 mg/L no tratamento. O fósforo apresentou concentrações mínimas de zero e máxima de 117 mg/L.

Avaliando-se a FS2 como um todo, pôde-se concluir que o impacto nos recursos hídricos por ela utilizados foi muito acentuado, pois a partir de uma água de excelentes características qualitativas gerou-se um efluente e posteriormente uma água de tratamento totalmente descartadas para usos nobres, para os quais este afluente poderia ser utilizado. 

Considerando-se somente as variáveis de temperatura e pH como parâmetros para avaliação do impacto, conclui-se que a FS3 não provocou qualquer impacto, pois ambos os valores mensurados no efluente e tratamento apresentaram-se próximos aos do afluente, com valores de pH próximos da neutralidade. Como verificado nos outros sistemas, o impacto em relação ao OD do afluente foi altíssimo, pois a partir de altas concentrações do gás nesta água obteve-se águas com concentrações nulas, tanto no efluente como no tratamento, esta ausência do gás condiciona elevadas concentrações de DBO e DQO. A variação da DBO foi de 2,0 a 7.448 mg/L e da DQO de 0,0 a 29.300 mg/L. 

Considerando-se que a legislação ambiental estabelece um limite máximo nos corpos hídricos de nitrato de 10 mg/L, nitrito de 1 mg/L, amônia de 0,02 mg/L e fósforo de 0,025 mg/L e analisando-se as concentrações destes elementos no afluente, nota-se que para o nitrato os valores mantiveram-se dentro do limite, 0,1 a 1,1 mg/L, mas as de nitrito e amônia em quatro coletas, atingiram o nível de 1,5 mg/L e 0,1 mg/L, respectivamente, sendo que as de fósforo em três coletas ultrapassaram o limite, tendo um valor máximo de 0,03 mg/L. 

Este poder poluente do afluente deveu-se a este ser originário de uma água residuária, onde ocorreu o aporte de matéria orgânica, seja através dos dejetos dos peixes e/ou restos de ração. O nitrato no efluente variou de 80 a 870 mg/L e no tratamento de 80 a 1.210 mg/L, sendo que o nitrito apresentou valores de 90 a 1.440 mg/L no efluente e 104 a 1.200 mg/L no tratamento. A amônia apresentou-se com um valor mínimo de 60 mg/L no efluente e 130 mg/L no tratamento e máximo de 760 mg/L no efluente e 720 mg/L no tratamento. 

A concentração de fósforo variou de 17 a 173 mg/L no efluente e de 8 a 92 mg/L no tratamento. Assim, apesar do afluente da FS3 já ser proveniente de um uso zootécnico, a suinocultura causou impacto na qualidade da água utilizada para a higienização das instalações. Todas as variáveis analisadas, com exceção da temperatura e pH, mantiveram-se sempre além dos limites recomendáveis pela legislação para uma perfeita qualidade dos recursos hídricos. 

O pH na FS4 manteve-se próximo a neutralidade durante todo o período experimental com uma variação de 6,8 a 8,6. Somente em duas coletas o OD esteve presente nas águas do efluente com concentrações de 1,8 e 4,7 mg/L, sendo que no restante, bem como nas outras suinoculturas analisadas, a concentração foi sempre nula. A razão para a presença do gás pode ser devida ao fato de, especificamente nestas coletas, o efluente estava mais diluído, aumentando com isto a possibilidade da presença do oxigênio na amostra. 

Durante o período de estudo a concentração de DBO variou de 408 a 3.660 mg/L. A DQO máxima foi de 9.800 mg/L e a mínima de 899 mg/L. As diferenças nas concentrações de DBO e DQO da FS4, em relação a FS2 e FS3, são decorrência da diferença nos sistemas de lavagem das baias. As concentrações de nitrato no efluente variaram de 18 a 560 mg/l e as de nitrito, de 36 a 930 mg/L, sendo a variação da amônia de 80 a 440 mg/L. O fósforo no afluente apresentou-se com concentrações de 0,0 a 0,1 mg/L e no efluente entre 11 a 81 mg/L. 

As menores concentrações em FS4 avaliadas para todas as variáveis comparando-se esta com a FS2 e FS3, não devem ser motivo para concluir que esta foi menos impactante que as outras duas, pois estas baixas concentrações foram resultado da coleta de um efluente diferenciado. Caso opte-se por coletar a primeira água da FS4, ou seja, aquela proveniente da piscina, certamente as concentrações poderiam ser iguais ou maiores que as encontradas para as outras duas criações. 

CONCLUSÕES 
As suinocultura constituí-se em uma grande depreciadora da qualidade dos recursos hídricos por ela utilizados, pois os valores das variáveis mantiveram-se muito acima daqueles considerados ideais pela legislação e manutenção de uma qualidade ambiental. 

Considerando-se a diminuição dos problemas ambientais que esta espécie pode causar nos recursos hídricos, não há uma variável que possa ser destacada como a mais problemática pois todas apresentaram concentrações muito superiores aquelas consideradas ideais, ressaltando-se que as variáveis temperatura e pH não podem ser consideradas como propícias para o monitoramento do impacto causado pela prática de lavagem de baias de suínos.
 
 
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