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Silagem .

Publicado: 25 de abril de 2012
Por: João Eustáquio Cabral de Miranda; Humberto Resende; José de Oliveira Valente
Para produzir leite e carne com mais eficiência, torna-se cada vez mais necessário o uso de suplemento volumoso na alimentação das vacas em lactação, principalmente na época seca do ano, e para engorda de bovinos na entressafra da carne.
Vários fatores justificam o uso do milho como a forrageira preferida para produção de silagem:
  • facilidade de cultivo;
  • tecnologia disponível e de amplo conhecimento;
  • grande número de cultivares disponíveis no mercado;
  • bom rendimento de matéria seca;
  • facilidade de fermentação (dispensa o uso de aditivos);
  • volumoso com alto teor de energia, devido ao elevado teor de grãos na massa verde produzida;
  • ótimo consumo voluntário.
A silagem de milho apresenta, entretanto, alguns pontos negativos, tais como os baixos teores de proteína bruta e de cálcio na silagem, o que pode ser facilmente suprido por outras fontes de nutrientes.
Ao optar pelo plantio de milho para silagem, o produtor precisa alcançar quatro metas (M) básicas:
M-1. Quantidade: Adotar tecnologia na lavoura, visando obter produtividade média de massa verde total superior a 50 t/ha. Esse rendimento significa, se a colheita for feita no ponto recomendado (entre 33 e 37% de MS), uma produção acima de 17 t/ha de MS,
M-2. Qualidade: Ter alta qualidade de silagem é fundamental, para a produção de leite e de carne. Quanto à silagem de milho, a qualidade está relacionada com o teor de grãos na forragem ensilada, pois a silagem é um alimento energético e a energia está concentrada nos grãos. Em condições de fazenda, esta qualidade pode ser avaliada pela proporção de espigas, em peso, na massa verde total produzida, devendo ser superior a 40%. Quando feito em relação à matéria seca total, a relação de espigas deverá ser superior a 60%. Ultimamente, os constituintes da parede celular (da fração verde), Fibra Detergente Neutro (FDN) e Fibra Detergente Ácido (FDA), ganham importância na determinação desta qualidade.
M-3. Perdas: Referem-se às perdas que ocorrem durante a colheita, transporte, enchimento do silo, descarga e fornecimento aos animais (perdas no cocho) e, sobretudo, no processo de fermentação no silo. Estas perdas devem ser as menores possíveis. O tipo de silo, a infra-estrutura para ensilagem, o tempo de enchimento e as técnicas utilizadas influem no percentual de perdas. O índice de 15% de perdas é aceitável.
M-4. Custo de Produção: O custo de produção deve ser o menor possível. Diante dos aumentos anuais dos combustíveis, fertilizantes e outros insumos, todo esforço deve ser feito para obter silagem a um custo abaixo de R$ 30,00/t de MV (massa verde) ou abaixo de R$ 90,00 /t de MS.
Normalmente, a fase de lavoura é a mais onerosa, correspondendo a 60 – 65% do custo total de produção, ficando a ensilagem na faixa de 35 a 40%. Estes valores dependem de vários fatores, como tipo e eficiência das máquinas e equipamentos, estado de conservação dos mesmos, habilidade e treinamento dos operadores na fase de ensilagem, formato e topografia do terreno, sistema de produção da silagem (manual, semimecanizado ou mecanizado), entre outros.
O custo de produção é diretamente relacionado com a produtividade da cultura, sendo os itens mais importantes a escolha da cultivar, o preparo do solo, os níveis das adubações, a densidade de plantio adequada e os tratos culturais.
Como obter alta produtividade e qualidade na lavoura e na silagem?
Escolha do terreno
Deve-se iniciar pela escolha de um solo fértil, plano ou levemente inclinado, o mais próximo possível do silo, para evitar muitos gastos no transporte do material a ser ensilado.
Conservação do solo
Trata-se de uma prática da mais alta importância e que, necessariamente, precisa ser feita. As técnicas de conservação a serem adotadas dependem do tipo de solo e da declividade do terreno. Entre as mais usadas citam-se o plantio em curva de nível, cordão em contorno, terraço de base larga ou estreita, adubação verde e orgânica etc. Para isto, é necessário consultar um Engenheiro agrônomo, que irá definir as ações a serem feitas. O retorno na adoção de técnicas conservacionistas são, geralmente, observados a médio e longo prazo. O plantio direto, entretanto, é uma prática que possibilita visualizar rapidamente os benefícios.
Análise do solo
Retirar anualmente amostra do solo e enviar a um laboratório credenciado para análise, preferencialmente no final do período chuvoso. Existem técnicas para se fazer a amostragem do solo, caso contrário esta não terá validade ou serventia. A análise de solo apresenta baixo custo, de R$ 8,00 a R$ 12,00 por amostra, e tem muito valor. Guarde os resultados dos anos anteriores para confrontar com as análises futuras. É pela análise do solo que se conhece e monitora o perfil da fertilidade do solo, para se estabelecer, de forma racional, as ações a serem feitas com relação às correções e adubações. A cultura de milho para silagem retira maior quantidade de nutrientes do solo do que milho cultivado para produção de grãos, especialmente nitrogênio e potássio, devido à remoção da planta da área de produção.
Correção do solo
A maioria dos solos brasileiros apresenta problemas de acidez, necessitando correção com calcário. Isto se faz com base nos resultados da análise do solo, considerando-se os teores de alumínio, de cálcio e magnésio, acidez potencial etc. Novamente é necessário consultar um Engenheiro agrônomo, para se definir o corretivo e a quantidade a ser aplicada. De preferência, utilizar calcário dolomítico, com PRNT maior que 90%. O PRNT, Poder Relativo de Neutralização Total, é um dos fatores que define a qualidade do produto e depende da composição e da granulometria do calcário. A calagem deve ser feita 60 a 90 dias antes do plantio, incorporando-se o calcário a 25-30 cm de profundidade, devido à baixa mobilidade do cálcio no solo.
Se necessário, fazer fosfatagem e potassagem na área toda para corrigir os teores de fósforo e potássio, e elevar a saturação de bases (V) no solo. O ideal é que a saturação de bases seja superior a 60%, havendo aqueles que recomendam 70 a 80%.
A correção deve ser definida pela assistência técnica, com base na análise do solo.
Preparo do Solo
Normalmente, uma aração e duas gradagens são suficientes para deixar o solo bem destorroado, proporcionando, assim, um bom ambiente para a germinação das sementes e desenvolvimento das raízes. A técnica de plantio direto vem crescendo muito, dispensando o preparo tradicional do solo, mas exige maior conhecimento técnico e máquinas apropriadas, além da produção anual de massa verde para palhada. O plantio direto na palha facilita muito a conservação do solo, por diminuir em até 70% as perdas de solo por erosão.
Escolha das cultivares.
É muito grande o número de cultivares de milho existentes no mercado. Uma cultivar permanece cinco a seis anos no mercado e só as melhores permanecem por mais de dez anos. Em geral, as empresas produtoras de sementes indicam as cultivares de milho para silagem. Deve-se escolher cultivares adaptadas à região de plantio, com alta produção de grãos, os quais devem ser do tipo dentado (grãos amarelos e macios quando secos), boa produção de massa verde, alta estabilidade, resistência às principais doenças foliares, resistência ao acamamento e com pouco "stay green". Essa última é a característica que mantém a planta verde por mais tempo durante a maturação dos grãos, sendo importante para evitar o acamamento das plantas em culturas para colheita de grãos. O "stay green" (estado verde), quando muito pronunciado, acaba atrapalhando a ensilagem, por reduzir o teor de matéria seca da fração verde, pois quando os grãos estão no ponto ótimo de colheita, a planta estará ainda com o caule verde e com muita umidade. Também está ficando cada vez mais comum indicar cultivares de milho para silagem com base na digestibilidade da fração verde ou da fibra detergente neutro (FDN), que é um dos parâmetros que definem a qualidade da silagem e o consumo voluntário pelos animais.
Atualmente, tem aumentado as pesquisas sobre digestibilidade/ degradabilidade da fração verde e da fibra detergente neutro (FDN). Realmente a digestibilidade do material é muito importante, mas faltam dados conclusivos a respeito dos efeitos da colheita tardia ou antecipada, das ocorrências climáticas como veranicos, da época e do local de plantio, da irrigação, do nível de adubação, principalmente com nitrogênio e potássio, da população e espaçamento etc. sobre a digestibilidade da fração verde e da FDN. Entre cultivares de mesmo padrão de produção de grãos, prefira a que tiver maior digestibilidade/ degradabilidade da fração verde ou da FDN, ou menor FDA, se essas informações forem disponíveis. Menor teor de FDA indica maior digestibilidade da fração verde da silagem e maior teor de Nutrientes Digestiveis Totais (NDT). A FDN tem efeito de enchimento do rúmen, apresentando correlação inversa ao potencial de consumo voluntário da silagem, ou seja, quanto menor a percentagem de FDN maior será o consumo pelo animal.
A Embrapa Milho e Sorgo coordena vários ensaios, em rede nacional, de avaliação de cultivares de milho para produção de grãos, sendo possível consultar esses dados via internet, no site: www.cnpms.embrapa.br, inclusive materiais de ciclos culturais diferentes e para altitudes acima ou abaixo de 700 metros sobre o nível do mar. Muitas das cultivares indicadas para a produção de grãos são também usadas para silagem. A Embrapa Gado de Leite tem feito pesquisas sobre avaliação de cultivares de milho para silagem, por região. Os dados podem ser consultados via internet, no site: www.cnpgl.embrapa.br. Os produtores do Estado de São Paulo podem obter muitas informações sobre plantio de milho no "site" do Instituto Agronômico de Campinas, no endereço eletrônico: www.iac.gov.br. Em lavouras grandes, com mais de 40 ha, recomenda-se usar mais de um material genético, com ciclos culturais diferentes, para escalonar a colheita.
A escolha acertada da cultivar contribui para se conseguir alta produtividade na lavoura e na silagem. Considerando que o produtor efetuará gastos com plantio, colheita e ensilagem, a diferença entre uma silagem de alta qualidade (NDT maior que 68%) e outra de baixa qualidade (NDT menor que 63%) pode estar na escolha da cultivar (variedade, híbrido duplo, híbrido triplo ou híbrido simples) e na adubação de plantio e de cobertura. Muitas vezes a diferença de preço entre sementes de duas cultivares é de 4 a 5% do custo total da lavoura; mas na qualidade da silagem, uma cultivar com maior capacidade produtora de grãos terá reflexo positivo, principalmente aumentando a percentagem de grãos na matéria seca.
Um erro muito comum cometido pelos produtores é plantar uma "variedade de polinização aberta" (milho variedade) para silagem, devido ao baixo preço das sementes. A produção de massa verde de uma variedade é semelhante à dos híbridos duplos e triplos; e superior à dos híbridos simples, o que varia é a percentagem de grãos na matéria seca. Em média, as variedades apresentam de 24 a 30% de grãos na matéria seca (MS), híbridos duplos de 32 a 40% e híbridos triplos de 34 a 44%. Como a energia está concentrada nos grãos, a qualidade da silagem dos híbridos duplos e triplos é superior à das variedades. Híbridos simples produzem silagem com alta percentagem de grãos na matéria seca, variando de 42 a 52%, o que confere alta qualidade à silagem, mas o custo também é maior porque a quantidade de massa verde e de matéria seca produzida (t/ha) é menor, quando comparado aos outros materiais genéticos. Isto mostra que híbridos simples devem ser recomendados apenas para produtores de alto nível tecnológico e animais de alta lactação; ou para produtores que agregam algum valor ao leite, obtendo um preço diferenciado para o seu produto.
É bom frisar que, associado à importância da proporção de grãos na MS, está o tipo de grão (dentado ou semidentado, que são mais macios e com maior digestibilidade) e a qualidade da fração verde da planta de milho
Os produtores que normalmente usam variedades devem substituí-las por híbridos duplos, porque o aumento no custo de produção é pequeno e o incremento na qualidade da silagem é bem significativo, reduzindo a necessidade de concentrado fornecido no cocho, e aumentando a produção de leite com menor custo. O Quadro 1 apresenta os efeitos dos diferentes materiais genéticos de milho sobre a produção de silagem.
Adubação de plantio
A quantidade e o tipo de fertilizante a ser utilizado serão definidos pela análise de solo e pela produtividade que se deseja alcançar. A distribuição do adubo necessita ser bem uniforme e incorporada ao solo. Recomenda-se regular adequadamente a plantadeira/ adubadeira e conferir, com determinada freqüência, para evitar erros na distribuição do fertilizante e das sementes.
A maioria dos solos brasileiros é pobre em fósforo, sendo este normalmente um elemento limitante. Entretanto, na produção de silagem, os elementos mais extraídos do solo e exportados são o nitrogênio e o potássio, devendo-se ter especial atenção com eles. Atualmente, são disponíveis no mercado brasileiro fórmulas mais concentradas em fósforo e potássio, devendo-se evitar o uso da tradicional fórmula 04-14-08 no plantio, ainda muito usada, que atende à produção de milho para grãos, mas deixa muito a desejar quando se trata da produção de milho para silagem. Em solos de baixa fertilidade ou de cerrado é necessário ter cuidado com os microelementos, devendo-se usar fórmulas que contenham, pelo menos, zinco. Pode-se usar também de 30 a 50 kg/ha de FTE, fórmulas popularmente conhecidas como "fritas".
Para se obter alta produtividade de milho, é necessário colocar no plantio de 30 a 40 kg/ha de Nitrogênio (N), mas isto vai depender da quantidade total de adubo a ser utilizado e do tipo de solo. Em solos argilosos não há muito problema em se colocar 30 kg/ha de N no plantio.
Adubação orgânica.
A adubação orgânica com esterco curtido de animais, esterco líquido ou uso de composto orgânico, é uma prática que jamais deve ser esquecida. Além de melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo, ela fornece macro e micronutrientes, que são importantes para aumentar a produtividade e a qualidade da silagem. A adubação orgânica é muito importante principalmente quando se utiliza a mesma área por vários anos seguidos para a produção de silagem.
Dosagens adequadas de adubo orgânico estabilizado ou curtido mantêm um solo produtivo e equilibrado, fator essencial na prática de uma agricultura sustentável. Entretanto, não se dispõem de pesquisas sobre a quantidade de esterco a ser aplicado ao solo para produção de milho para silagem, mas dosagem de até 50 t/ha de esterco bovino ou 10 t/ha de cama de aves é aceitável.
Época de plantio
Pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, mostram que a melhor época para se plantar milho vai da segunda quinzena de setembro até o final da primeira quinzena de novembro (15/09 até 15/11), sendo a melhor época em 15 de outubro. Como o clima tem mudado muito nos últimos anos, fica difícil plantar antes do início de outubro, a menos que se disponha de irrigação. Quanto mais tarde plantar, após 15 de outubro, mais perde-se em produção de grãos, e, portanto, menor será a qualidade da silagem. Em média, cada dia que atrasar o plantio após 15 de outubro, perde-se cerca de 30 kg/ha de grãos. Também, em plantios mais tardios, a planta cresce muito, ficando com o colmo fino, sendo mais susceptível ao acamamento, além de aumentar a proporção de colmo na massa verde, prejudicando a qualidade da silagem. Para aqueles produtores que fazem dois plantios na mesma área, é preferível plantar logo após 15 de setembro, procedendo de três a quatro irrigações, colher mais cedo e plantar a segunda lavoura em janeiro ou início de fevereiro. Assim, aproveita-se o período quente e chuvoso para um melhor crescimento das plantas, com maior produção de massa verde e de grãos. Quando o milho é plantado no período de temperaturas baixas, o seu ciclo aumenta muito, como acontece após o início de abril no Centro-Sul do País.
Tratamento de sementes.
Para combater as pragas de solo e as iniciais da lavoura, é sempre vantajoso proceder a algum tratamento das sementes com inseticidas específicos, definidos pela assistência técnica. Deve-se tratar as sementes no dia do plantio, utilizando um produto à base de Thiodicarb, Carbofuran ou Carbosulfan.
Densidade de plantio
População ou densidade de plantio refere-se ao número de plantas por unidade de área (hectare), na época da colheita. Normalmente, as empresas produtoras de sementes indicam a densidade adequada para produção de grãos. Para silagem pode-se usar uma densidade 10% maior, sem prejuízos na produção de grãos e com maior produção de massa verde, variando de 55.000 a 65.000 plantas/ha, na maioria das cultivares, das quais as de menor porte suportam densidades mais altas, exceto se houver indicação expressa por parte da empresa produtora da cultivar.
Os espaçamentos mais recomendados para silagem ficam entre 70 e 90 cm entre linhas. Para cultivares de menor porte, pode-se usar espaçamento menor (entre 70 e 80 cm) e para aquelas de maior porte ou mais tardias, deve-se adotar espaçamentos mais largos (90 cm)
Em solos muito pesados (argilosos), pode-se adotar espaçamentos maiores, para qualquer cultivar (ex: 100 cm entre linhas) para minimizar o trânsito de máquinas durante os cultivos e a colheita, diminuindo a compactação do solo. Neste caso, deve-se aumentar o número de sementes no plantio, distribuindo-se 7-8 sementes por metro de sulco. Na prática, para se obter um bom estande final, recomenda-se regular a plantadeira de modo a semear cerca de 20% de sementes a mais, com relação ao número de plantas que se deseja na colheita. Entretanto, o mais importante é manter a densidade de plantio, conjugando espaçamento e número de sementes por metro linear de sulco. Também é muito importante, na hora de definir o espaçamento entre as linhas, considerar as máquinas e equipamentos que serão utilizados na colheita.
Adubação de cobertura.
Nas culturas de milho para silagem, recomenda-se utilizar Nitrogênio e Potássio em cobertura, sendo a quantidade dependente da análise do solo e da produtividade que se deseja alcançar.
Adubação nitrogenada.
O número de adubações depende da quantidade de adubo e da estrutura do solo, e podem ser: a) Aplicação única: para quantidades recomendadas de até 100 kg N/ha. Neste caso, adubar quando a planta estiver com 6-7 folhas totalmente desenvolvidas ( abertas) ou 30 a 35 dias após a germinação das sementes; b) Duas aplicações: para quantidades de nitrogênio acima de 100 kg/ha ou quando o solo for arenoso, e, principalmente, em ano muito chuvoso. Neste caso, aplicar 50% da dosagem quando as plantas estiverem com 4-5 folhas desenvolvidas ou 20 dias de idade (máximo de 25 dias) e os 50% restantes com 7-8 folhas, ou até 40 a 45 dias.
 Adubação com potássio
Em solo arenoso, ou quando a adubação recomendada exceder a 80 kg/ha de K2O, deve-se aplicar parte do potássio em cobertura, descontando-se o que já foi colocado no plantio.
Quando houver necessidade de aplicar potássio em cobertura, recomenda-se parcelar a adubação nitrogenada em duas aplicações, qualquer que seja a dose de nitrogênio a ser aplicada, para evitar excesso de adubo salino de uma só vez.
Na primeira aplicação deve-se colocar todo o potássio e metade da dose de nitrogênio, quando as plantas tiverem 15 a 20 dias de idade (plantas com 4 a 5 folhas totalmente desdobradas) e o restante do nitrogênio aos 40 a 45 dias (plantas com 7-8 folhas) após a germinação das sementes.
A explicação para se colocar o potássio apenas na primeira cobertura é que até 50 dias a planta absorve 80% do total do potássio a ser absorvido durante todo o seu ciclo, enquanto para N (nitrogênio), a planta só vai atingir 80% da absorção total aos 80 dias. Também, aos 15 a 20 dias após germinação, as raízes já têm grande número de pêlos absorventes, e a aplicação de N no solo irá provocar grande desenvolvimento da parte aérea. Nesta época, estão sendo iniciados os processos de diferenciação floral, que darão origem às espigas, definindo assim o potencial de produção de grãos. Daí a grande importância da disponibilidade de N no solo, sob pena de se limitar a produtividade de massa verde e de grãos. Em geral, cada quilo de N colocado na cultura do milho resulta em 50 kg/ha de grãos ou 100 a 120 kg/ha de matéria seca, considerando a planta toda. Quando se usar no plantio fórmulas de adubo mais concentradas e que não contenham enxofre nos componentes de sua formulação, uma das coberturas com N é necessário que seja feita com sulfato de amônio, para evitar deficiência de enxofre nas plantas.
Se usar uréia em cobertura, deve-se incorporar a 5-10 cm de profundidade, porque mesmo quando colocado com o solo úmido perde-se, por volatilização, até 40% do N aplicado.
Para produção de 15 a 16 t/ha de matéria seca, a cultura do milho extrai cerca de 181 a 202 kg/ha de nitrogênio e de 167 a 213 kg/ha de potássio do solo, devendo estes elementos estarem disponíveis no solo, sob pena de se limitar a produtividade da cultura .
Tratos culturais.
A cultura do milho é muito afetada pela concorrência de ervas-daninhas até aos 50 dias após plantio. Durante este período, recomenda-se manter a cultura no limpo. No mercado existem inúmeros herbicidas de pré e pós-emergência. Observar o tipo de erva-daninha que prevalece no terreno para escolher adequadamente os herbicidas a serem aplicados, bem como o modo de aplicação.
Controle de pragas e doenças.
Com o aumento da área cultivada e com o uso contínuo do solo pela mesma cultura, a tendência é a ocorrência cada vez maior de pragas e doenças. Pragas de solo, como as lagartas rosca e elasmo, são bem controladas com o tratamento das sementes, utilizando um inseticida específico. Pragas da parte aérea, como lagarta- do-cartucho e lagarta-militar, são controladas quando aparece o dano, podendo-se aplicar inseticidas biológicos (baculovírus) ou com o uso de inimigos naturais (trichograma). Na Embrapa Milho e Sorgo, existem inúmeras pesquisas sobre controle biológico e já existem empresas que comercializam insetos para este tipo de controle.
Rotação de culturas.
Nas áreas cultivadas por vários anos seguidos para produção de silagem, esta prática é necessária para ajudar no controle de pragas, doenças e ervas- daninhas, além de aumentar o teor de matéria orgânica, reciclar nutrientes e auxiliar na conservação do solo etc. Recomenda-se uma rotação, pelo menos a cada três anos, ou pode-se rotacionar 30% da área por ano, com uma leguminosa para adubação verde, como soja anual, mucuna, guandu, crotalária etc. No Sudeste e Centro-Oeste do Brasil é muito difícil fazer plantios de inverno sem dispor de irrigação, mas pode-se plantar uma leguminosa logo após a colheita do milho para silagem, em janeiro até início de fevereiro, com sucesso. Para isso, é necessário apenas escolher adequadamente uma cultivar de milho cujo ciclo permita colheita em janeiro até meados de fevereiro.
Ensilagem.
Os pontos a seguir referem-se à ensilagem, fase que vai da colheita até o fechamento e a proteção do silo.
Ponto de colheita.
Obtida boa produtividade de grãos e de massa verde na fase de lavoura, o outro fator importante para se ter silagem de alta qualidade é a correta determinação do ponto de corte ou colheita. No caso do milho, o recomendado é colher quando a lavoura estiver com MS entre 33 e 37%. Nesse estádio os grãos estarão farináceos ou farináceos-duros, (consistência) obtendo-se:
  • maior produção de MS por ha;
  • maior percentual de grãos na MS;
  • maior digestibilidade da matéria seca total;
  • maior densidade energética;
  • teor adequado de açúcares solúveis, para a fermentação, no silo;
  • boa consistência do material para ser picado;
  • menor perda de efluentes (chorume) no silo;
  • facilidade de compactação no silo;
  • maior consumo de MS pelos animais;
  • maior produção de leite e carne;
É muito comum entre os técnicos do setor indicar o ponto de colheita quando a "linha de leite" (linha que divide a parte leitosa do grão com a parte farinácea/dura) estiver na metade até dois terços do grão, com a parte superior farináceo-duro e a parte inferior leitosa, pois o grão de milho começa a amadurecer da parte superior para a inferior do grão (parte que fica presa ao sabugo) na espiga. Deve-se observar várias espigas, em locais diferentes da lavoura. Em áreas muito extensas pode-se iniciar a colheita com a linha do leite em um terço (1/3) do grão, cerca de 30% de MS. Na prática, cerca de 40 dias após o florescimento feminino ("espiga soltar cabelo"), deve-se começar a analisar as espigas para se determinar o ponto de corte. É bom ressaltar que existe variação entre as cultivares quanto à linha do leite, assim o melhor é analisar o teor de matéria seca da planta toda.
Alguns produtores ainda colhem milho para silagem com os grãos leitosos, no "ponto de pamonha", que está muito abaixo (menos de 25% de MS) do ponto ótimo para colheita. Ao ensilar neste estágio, principalmente abaixo de 30% de matéria seca, pode ocorrer:
  • perda de produção de MS, pois a planta ainda encontrava-se em fase de crescimento.
  • maior perda de efluentes, perdendo-se energia e valor nutritivo, pois os nutrientes altamente digestíveis vão ser perdidos por lixiviação, como açúcares solúveis, proteínas, minerais e ácidos orgânicos;
  • aumento no teor dos ácidos lático e acético, porque com baixo teor de matéria seca é necessário menor pH para estabilizar a silagem;
  • risco de se ter fermentação indesejável (fermentação por bactéria do gênero Clostridium);
  • queda no consumo voluntário de silagem pelos animais;
Se ensilar acima do ponto ótimo para corte, ou seja, mais de 37% de matéria seca:
  • dependendo do tipo de grão e do tamanho das partículas, aumenta a perda de grãos nas fezes;
  • maior perda de folhas por doenças e menor digestibilidade da fração verde e dos grãos;
  • dificuldades em se compactar a massa (forragem ensilada), sendo difícil retirar o ar, caindo o valor nutritivo e aumentando as perdas de forragem;
  • dificuldade para picar, além de que grande parte dos grãos não serão atingidos pelas lâminas;
  • baixo rendimento da picadeira e exige maior freqüência para afiar as facas;
  • presença de pedaços grandes na massa ensilada (sabugos, caules e colmos) que predispõe a seleção e acumula as sobras no cocho.
Tamanho das partículas.
Antes do início da colheita, recomenda-se uma revisão criteriosa nas máquinas e nos equipamentos para evitar contratempos. As facas (navalhas) da ensiladeira ou picadeira devem estar bem afiadas e reguladas para proporcionar corte uniforme. O tamanho das partículas deve ser entre 8 e 15 mm para favorecer a compactação da massa verde no silo e proporcionar boa fermentação. Assim, haverá menores perdas, o consumo voluntário de silagem e o desempenho dos animais são maiores. Quando as plantas estiverem mais secas, deve-se regular o corte para cerca de 5 a 8 mm, a fim de facilitar a compactação e a retirada do ar da massa verde no silo.
Menor tamanho da partícula, principalmente abaixo de 5 mm, prejudica a ruminação dos animais, reduz o consumo voluntário de silagem, a digestão da fibra é menor (o alimento passa mais rápido no intestino do animal), a produção de leite e de carne será menor, tem risco de ocorrer laminite e acidose e cai o teor de gordura do leite.
Com partículas muito grandes: dificulta a compactação da massa ensilada, devido à retenção de oxigênio no interior do silo, o que aumenta o tempo de respiração celular, com perda de carboidratos solúveis, de energia e de MS; aumenta o teor de FDN, ocorrendo queda na qualidade da silagem, com aumento de perdas no cocho pelo refugo do alimento pelos animais.
Compactação do silo
A compactação do silo tem por objetivo retirar a maior quantidade possível de ar do interior da massa verde que está sendo ensilada, de maneira rápida. Na ausência de oxigênio (ambiente anaeróbio) vai ocorrer a fermentação desejada, que é a fermentação anaeróbia, responsável por uma boa silagem. As bactérias responsáveis pela fermentação (bactérias láticas) já existem na planta do milho, não sendo necessário adicionar qualquer aditivo ou inoculante biológico para melhorar a fermentação. Quando a ensilagem for em silo de superfície ou trincheira, recomenda-se utilizar um trator mais pesado, e com rodas estreitas, para executar a operação de compactação do silo.
Quando a lavoura for colhida no ponto ótimo de corte, com 33 a 37% de matéria seca, uma compactação bem feita proporciona elevada densidade de silagem, entre 650 a 750 kg/m3. Em silos com maior densidade de silagem, quando abertos, a entrada de ar na massa ensilada é dificultada, lenta, evitando perda do produto por aquecimento.
Tempo de enchimento do silo
Enquanto tiver oxigênio (ar) no interior da massa ensilada no silo, as células das plantas continuam respirando, consumindo energia, ocasionando perdas de nutrientes.
Desse modo, quanto mais rápido encher o silo, melhor. O ideal seria o enchimento em um único dia, mas até três dias é aceitável. Tempo maior que este já causa perdas significativas. A rapidez no enchimento do silo aumenta a eficiência na preservação do material ensilado.
No planejamento de construção de silos, é preferível ter uma bateria de silos menores, que possam ser enchidos rapidamente, que silos enormes.
Um silo grande proporciona economia na sua construção e no gasto com lona plástica. O que se gasta a mais com lona e na construção de vários silos menores será economicamente compensado no futuro, pela facilidade no manejo de silos menores. Por exemplo, se sobrar silagem em um ano, o silo não precisa ser aberto, podendo ficar armazenada para o ano seguinte.
Vedação do silo
Muito embora pareçam operações simples o enchimento rápido do silo, uma boa compactação da massa ensilada e a vedação completa são pontos importantes para se ter silagem de qualidade. Se o silo não for bem vedado, pode entrar ar ou água causando perda de silagem. Pode-se usar lona de dupla face, com a face mais clara (branca ou amarela) voltada para a parte externa, por refletir mais os raios solares e reduzir o aquecimento da silagem. Também, pode-se usar duas lonas pretas simples, de 100 a 200 micras de espessura. Sobre a lona plástica cogloca-se uma camada de areia ou terra ou ainda pneus cortados ao meio (para evitar acúmulo de água), com a finalidade de protegê-la e de garantir sua aderência à massa ensilada, evitando-se bolsões de ar e as variações de temperaturas diurnas/noturnas, diminuindo a condensação de umidade no interior do silo, e a conseqüente perda de silagem. A colocação de capim seco sobre a lona não é recomendada por atrair roedores, os quais podem furar a lona.
Proteção do silo
Após executar corretamente todas as etapas de condução da lavoura e de enchimento do silo, não se pode correr o menor risco de entrada de animais sobre a área do silo, o que poderá furar a lona, permitindo a entrada de ar e/ou água de chuva, ocasionando perda de silagem. Isto mostra que cercar o silo, ou colocar outra forma de proteção, é muito importante, para evitar prejuízos futuros.
Abertura do silo
Silos bem feitos podem ser abertos 21 dias após o fechamento. Entretanto, aconselha-se esperar pelo menos 30 dias. Três a quatro dias após a abertura do silo, quando já se gastou a silagem da "boca do silo", que é mais úmida, recomenda-se retirar uma amostra e enviar a um laboratório para análise de matéria seca, proteína bruta, FDN, FDA, extrato etéreo, pH, nitrogênio amoniacal etc. Com os dados da análise e as informações sobre os demais alimentos disponíveis na fazenda, um especialista em nutrição animal poderá balancear a dieta total dos animais da propriedade, de modo a maximizar a produção de leite ou de carne.
A digestibilidade da silagem pode ser estimada pelo seu teor de FDA: quanto menor esse valor, maior será a digestibilidade da silagem e o seu valor energético (NDT).
Para evitar perdas de silagem deve-se, após abertura do silo, retirar uma camada diária de pelo menos 15 cm, de alto a baixo, sem degraus. Com isto minimiza-se a penetração de ar na silagem e as perdas decorrentes das fermentações indesejáveis.
Aditivos
Em forrageiras de alta qualidade, como é o caso do milho e do sorgo, não é necessário o uso de qualquer tipo de aditivo químico ou absorvente na silagem (fubá de milho, polpa cítrica), ou mesmo estimulantes bacterianos para acelerar a fermentação. Isso eleva os custos e não traz, em geral, benefícios na fermentação da silagem.
Caso se deseje melhorar o valor protéico da silagem, pode-se adicionar 0,5% (5 kg/t de silagem) de uréia. Ela deve ser colocada na massa verde, durante o processo de ensilagem, com distribuição uniforme, antes da compactação. Isto elimina o sabor amargo da uréia e melhora o tempo de conservação da silagem após a abertura do silo. A adição de 0,5% de uréia aumenta o teor de proteína da silagem em 1,4%.
Perdas.
Uma das metas do produtor é buscar perda inferior a 15%. Contudo, a pesquisa tem encontrado informações bem superior, com perdas variando de 20 a 30% e até mesmo 40%, da colheita até o cocho, dependendo do tipo de silo. As perdas que ocorrem da abertura do silo até o fornecimento aos animais, principalmente perda no cocho, tem contribuído de forma significativa para o aumento do custo da dieta efetivamente consumida. Sobras no cocho entre 3 até 5% da forragem ofertada podem ser toleradas, para evitar falta de comida aos animais. É importante administrar e monitorar bem o uso deste volumoso de alta qualidade.
Custo de produção
É muito importante conhecer este custo, por dois motivos principais:
  • sua importância na formação do custo de produção de leite ou carne;
  • análise, visando a correções nos anos seguintes.
Atualmente, com o uso de planilhas computadorizadas, é relativamente fácil calcular o custo de produção de volumoso e de outros itens, bastando para isto anotar criteriosamente os gastos efetuados com insumos, máquinas e equipamentos, mão- de-obra etc., além de se avaliar o rendimento da cultura.
Literatura Consultada:.
Corrêa, L. A. coord. Ensaios nacionais de cultivares de milho; normal, 1999/2000. Sete Lagoas: Embrapa – CNPMS, 2000. 61p. (Embrapa – CNPMS,6)
Corrêa, L. A. coord. Ensaios nacionais de cultivares de milho; precoce, 1999/2000. Sete Lagoas: Embrapa – CNPMS, 2000. 61p. (Embrapa – CNPMS,7)
Corrêa, L. A. coord. Ensaios nacionais de cultivares de milho; super precoce, 1999/2000. Sete Lagoas: Embrapa – CNPMS, 2000. 58p. (Embrapa – CNPMS,8)
Oliveira, J. S. e. Produção e Utilização de Silagem de Milho e Sorgo. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 34 p. (Embrapa Gado de Leite. Circular Técnica, 47).
Resende, H. Cultura do Milho e do Sorgo para Produção de Silagem. Coronel Pacheco: Embrapa – CNPGL, 1991. 110p. (Embrapa – CNPGL. Documento, 51).
Büll, L. T.; Cantarella, H. (ed.) Cultura do Milho: fatores que afetam a produtividade. Piracicaba: Potafós, 1993, 301 p.
Silagem de qualidade. In Súmula Técnica: Informativo Técnico da Pionner Sementes Ltda., n.2, p 1 – 20, 1996.
Valente, J. de O. Silagem de Milho. In: Encontro Regional sobre Confinamento/Produção de Novilhos Precoces. Matosinhos: Fazenda Cauaia, Setembro de 1997;
Coelho, A. M.; França, G. E. Seja o doutor do seu milho. Piracicaba: Potafós 1995, 24 p. ( Potafós. Arquivo do Agrônomo, 2).
Silva, L. F. P. e; Machado, P. F. Os Segredos da boa Silagem de Milho. In: Anuário Milkbizz – Produtores de Leite, 1998/1999. São Paulo: Ed. Milkbizz, 1998. p 32 - 51.
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Autores:
João Eustáquio Cabral de Miranda
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