Introdução
A prática da irrigação de pastagens, capineiras e canaviais tanto na pecuária leiteira como de corte tem intensificado nos últimos 15 anos no Estado de Minas Gerais. Uma pesquisa realizada pela FAEMG e SEBRAE em 2005, de 1.000 propriedades produtoras de leite de Minas Gerais entrevistadas, elas detinham em média a posse de 5,8% de equipamentos de irrigação, sendo que as que produziam na faixa de até 50 l/dia = 2,73%, de 50 a 200 l/dia = 4,80%, de 200 a 500 l/dia = 11,43%, de 500 a 1.000 l/dia = 17,50% e acima de 1.000 l/dia = 30,77% (COUTINHO, 2007). A partir de meados da década de noventa, a irrigação de pastagens começou a ser utilizada por alguns pecuaristas e a chamar a atenção de técnicos e pesquisadores (DRUMOND e AGUIAR, 2005). Essa prática começou a ser utilizada no Estado depois que o Engenheiro Agrônomo Máximo José dos Santos e o Engenheiro Agrícola Carlos Augusto Brasileiro de Alencar “tiraram da gaveta” o projeto de irrigação por aspersão fixa circuito fechado (tubos enterrados) concebido no ano de 1991, pelos Engenheiros Agrônomos Abílio José Antunes e Hugo Mourthé. Brasileiro e Máximo começaram a divulgá-lo e implantá-lo, primeiramente no Vale do Rio Doce e Mucuri em 1997, depois expandindo para outras regiões do Estado. Em 1999 através de iniciativa da CEMIG em parceria com outras entidades foram realizadas na Região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, mais precisamente nas cidades de Uberaba e Ibiá, duas palestras técnicas para divulgar a tecnologia da irrigação de pastagens. O público alvo foi técnicos, lideranças classistas e produtores rurais inovadores. Nesses dois eventos participaram 203 pessoas que tiveram a oportunidade ouvirem do Brasileiro e Máximo, detalhes técnicos do Projeto. Posteriormente foram realizados cursos visando à capacitação de técnicos para elaboração dos projetos de irrigação. O primeiro foi ministrado em 1999 para 24 técnicos dos quais 20 deles pertenciam ao quadro de funcionários da EMATER-MG. Em 2000 e 2001 foram ministrados mais dois cursos com a participação de 31 técnicos (ARRUDA e OUTROS, 2002). Portanto, no final dos anos 90 e início de 2000, esse projeto começou a ser divulgado e implantado, principalmente entre os pequenos produtores de leite, por ser consenso que a sua concepção adequava-se mais ao perfil desse grupo por uma série de particularidades tais como: necessidade de aumentar a produção de leite e renda, porém não dispondo de condições favoráveis, quer financeira, quer de espaço, para ampliação da área de pastagens, capineiras e canaviais; aproveitamento do transformador de energia elétrica já existente, sem necessidade de substituí-lo por outro de potência maior, diminuindo despesas de investimento em infra estrutura; custo de investimento no equipamento de irrigação relativamente baixo; possibilidade de automação do sistema de irrigação permitindo a sua prática no período noturno, das 21:30 horas as 06:00 horas, quando a tarifa de energia elétrica tem um custo menor, 73% de desconto e 0% de ICMS para o Vale do Jequitinhonha e área da ADENE, para as demais regiões do Estado, 67% de desconto e 12% de ICMS, no caso de consumidores rurais irrigantes classificados como do Grupo B ou Secundário; diversificação de atividades em função do melhor aproveitamento das áreas (maior produtividade) e respeito ao Código Florestal, por melhorar a eficiência das áreas cultivadas, “produzindo mais em menos hectares”; em fim, inserir na “cultura” do pequeno produtor de leite a idéia de sustentabilidade! A partir de 2000, o Engenheiro Agrônomo Luis César Dias Drumond e o Zootecnista Adilson de Paula Almeida Aguiar também começaram a divulgação e implementação da prática da irrigação de pastagens, capineiras e canaviais na região do Triângulo Mineiro, demais regiões do Estado e em outros Estado do País, elaborando e prestando consultorias nesse segmento.
Vários trabalhos vêem sendo publicados ultimamente, inclusive livros editados sobre os resultados obtidos com a prática da irrigação de pastagens, capineiras e canaviais tanto na pecuária leiteira como de corte. A evolução no número de trabalhos sobre irrigação de pastagens apresentados nas reuniões anuais da Sociedade Brasileira de Zootecnia (SBZ) demonstra a renovação de interesse da comunidade científica sobre o assunto. O número de trabalhos publicados até o ano de 2000 foi muito pequeno. Porém entre 2000 e 2002 houve mais de 20 trabalhos publicados nos anais da SBZ sobre o assunto (DRUMOND e AGUIAR, 2005). Todos os trabalhos publicados até hoje sobre irrigação de pastagens para produção de leite deixam sempre uma lacuna relativa a consumos e custos, principalmente de energia elétrica em pequenas áreas irrigadas. Os produtores de leite, mais precisamente os pequenos incentivados a adotar essa nova prática, tinham e ainda têm uma grande dúvida e preocupação com relação ao “gasto de energia elétrica e o valor da conta no final do mês ou período de irrigação”! Sob essa percepção e verificando que através das Unidades de Demonstração instaladas nas propriedades produtoras de leite não se conseguia monitorar todas as variáveis implícitas na determinação dos consumos específicos de energia elétrica e água, além do acompanhamento diário de todas as etapas da prática do manejo da irrigação, do manejo e adubação de pastagens, ajustes da carga animal, pesagem periódica do leite, alimentação suplementar, etc., uma parceria foi feita entre a CEMIG, IFETTM, EPAMIG e a EMATER-MG. Essa parceria possibilitou a instalação a Unidade de Experimentação e Demonstração de Irrigação de Uberaba – UEDI/Uberaba, contemplando várias atividades produtivas tais como: Fruticultura, Olericultura e Pecuária Leiteira, cujo investimento total na época foi de R$120.624,00. No Projeto Pastagem Irrigada a CEMIG investiu R$25.480,00 (79%) e o IFETTM R$6.773,00 (21%), totalizando R$32.253,00. Do total investido no Projeto Pastagens, 73% foram gastos no período de setembro de 1999 a março de 2000, pois na época a idéia era testar duas gramíneas sob irrigação, Brachiaria brizantha cv Marandu e Panicum máximum cv Mombaça na produção de leite, submetidas ao pastejo rotacionado. A área total bruta destinada ao experimento era de 6,00 ha e irrigada (líquida) de 5,20 ha. O sistema de irrigação adotado foi o de aspersão fixa, circuitos fechados ou anéis, com tubos enterrados. O custo do equipamento de irrigação ficou na época (1999) em R$5.409,00, correspondendo a um custo médio de R$1.040,00 por ha. O sistema de irrigação por aspersão em circuito fechado e tubos enterrados, é uma opção para o produtor de leite, principalmente o pequeno, pois entre as várias vantagens apresentadas, o custo de investimento no equipamento de irrigação está entre R$1.800,00 a R$2.500,00 por ha (COUTINHO, 2007). O projeto de irrigação foi elaborado pelo Brasileiro e a instalação, operação, manutenção e manejo da irrigação pelos professores Barreto e Othon, contando com a colaboração de estagiários graduandos no Curso de Tecnologia em Irrigação e Drenagem do IFETTM.
Em 2005 o Projeto de Pesquisa Pastagem Irrigada foi modificado e em decorrência disso foi necessário um aporte de capital na ordem de R$8.798,00 para investimento, correspondendo a 27% do total gasto até março de 2000. Esse aporte de capital foi utilizado na formação de 5,28 ha de pastagem de Tifton 85 irrigado, no local que originalmente existia uma pastagem constituída pelas gramíneas Brachiaria brizantha cv. Marandu e Panicum máximum cv. Mombaça e formação de mais 5,28 ha de pastagem também de Tifton 85, que seria utilizada sob regime de sequeiro (Testemunha), construção de cercas eletrificadas e áreas de lazer. A área total destinada ao experimento passou para 10,56 ha.
Em 2008, mais precisamente no mês de agosto, foi iniciada a avaliação de desempenho da gramínea Tifton 85 em regime irrigado e de sequeiro sob pastejo rotacionado para produção de leite. Também foram medidos os consumos de energia elétrica e água no processo, para se calcular os respectivos consumos específicos, bem como levantar a participação da energia elétrica no custo de produção do leite em sistema de pastejo rotacionado irrigado.
Infra Estrutura, Materiais e Métodos
O projeto de pesquisa foi conduzido na Fazenda Santa Rosa de propriedade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – IFETTM- Campus Uberaba-MG, sob a coordenação do Pesquisador da EPAMIG Leonardo, com a colaboração dos Professores Diogo, Barreto e Othon, a supervisão do Engº Agrº da CEMIG Distribuição S/A Coutinho. Os trabalhos de campo foram executados pelos estagiários Hebert Borges Araujo (2007), Michael Baptista de Rezende (2008) e Renato Alves Cavalcanti (2009), graduandos do Curso de Tecnologia em Irrigação e Drenagem. A Fazenda Santa Rosa está localizada nas coordenadas, 19º 39’ 17” Latitude S e 47º 57’ 41” Longitude W e numa altitude de 825 m. O clima da região é classificado como Aw, tropical quente, segundo Köppen, apresentando inverno frio e seco. O solo foi classificado como Latossolo Vermelho distrófico de textura franco argilo arenosa, relevo suave ondulado, apresentando na camada de 00 a 20 cm 180 g kg¹ (18%) de argila, 770 g kg¹ (77%) de areia e 50 g kg¹ (5%) de silte.
- Infra estrutura – Transformador monofásico de 10 kVA; rede elétrica de baixa tensão protegida por pára-raios nas duas fases que alimentam o motor elétrico; abastecimento de água para o sistema de irrigação da pastagem através de um reservatório descentralizado com capacidade para 300 m³, que recebe água bombeada de uma adutora cuja moto-bomba tem uma vazão total de 120 m³/h e está instalada em um dos córregos da fazenda, sendo que o bombeamento é feito sempre no período das 21:30 as 06:00 horas, quando o preço da tarifa de energia elétrica tem um desconto de 67% e ICMS de 12%, para a região do Triângulo Mineiro, onde se localiza a Fazenda Santa Rosa; 5,28 ha de pastagem irrigada de Tifton 85 dividida em 3 blocos sub-divididos em 8 piquetes cada, totalizando 24 piquetes cuja área média de cada piquete é de 0,22 ha; 5,28 ha de pastagem de sequeiro (Testemunha) de Tifton 85, também dividida em 3 blocos sub-divididos identicamente ao tratamento anterior; cercas eletrificadas alimentadas por eletrificador de cercas a energia solar. As análises bromatológicas da forrageira foram realizadas no Laboratório da UNESP em Jaboticabal. As análises de solo foram realizadas no Laboratório da EPAMIG em Uberaba.
- Materiais - Equipamento de irrigação por aspersão fixa circuito fechado com tubos enterrados (malha ou anéis), composto por um conjunto moto-bomba monofásico de 7,5 cv, devidamente aterrado com proteção de flanges contra acidentes, com vazão total projetada de 21,6 m³/h, altura manométrica de 48 mca, 10 circuitos, 10 aspersores em funcionamento por vez, espaçados entre si de 21 x 21 m, cobrindo uma área de 441 m², com vazão projetada de 2.160 l/h e precipitação projetada de 4,9 mm/h, tempo de funcionamento por posição projetado de 6 h, lâmina bruta projetada por posição de 29,4 mm, período de irrigação projetado de 6 dias (de 2ª a sábado), turno de rega de 7 dias e tempo total projetado de funcionamento de 12 h por dia; Proteção do motor elétrico através de chave termo-magnética e disjuntor; Programador de irrigação e automatizador de escorva de bomba hidráulica; Equipamentos de medição de consumo de energia elétrica (medidor de kWh), de consumo de água (hidrômetro) e de tempo de funcionamento do conjunto moto-bomba (horímetro); Vatímetro e Voltímetro; Estação meteorológica automática; Balança para pesar os animais; Balança para pesar o leite; Material de laboratório como estufa, moinho estacionário, etc.
- Métodos – Foram utilizadas 22 vacas mestiças, Holandês x Gir, com peso vivo médio de 530 kg (1,18 UA) e potencial de produção média de 4.200 l/lactação. Levou-se em consideração para alocação dos animais nos tratamentos o grau de sangue, produção de leite, ordem de parição e período de lactação, tanto para o sistema irrigado como para o de sequeiro, repetindo-se esse procedimento até a alocação de 11 animais em cada tratamento. As pastagens foram manejadas em condições de lotação rotacionada, recebendo adubação para permitir uma taxa de lotação de 7,0 UA/ha durante o período das águas (TEIXEIRA e OUTROS, 2010). Segundo recomendações do Zootecnista Leonardo de Oliveira Fernandes, Pesquisador da EPAMIG e Coordenador do Projeto de Pesquisa, com base nos resultados de análises de solo, foram aplicados no mês de outubro de 2008 nas áreas dos dois tratamentos (irrigado e sequeiro) 52 kg de super fosfato simples/piquete e 14 kg de FTE BR12/piquete. A adubação nitrogenada foi parcelada, sendo que no período das águas aplicou-se 27 kg de uréia/piquete, após a saída dos animais. Essa adubação foi realizada de novembro de 2008 a maio de 2009 em sete aplicações. No período da seca, foram aplicados 26 kg uréia/piquete, também após a saída dos animais. Essa adubação foi realizada no período de junho a outubro de 2009 em três aplicações. A adubação nitrogenada só foi realizada no tratamento irrigado no período da seca. Sempre que os animais desocupavam os piquetes fazia-se a adubação nitrogenada em cobertura e a lanço, para logo em seguida proceder à irrigação. O tempo de irrigação por posição era de aproximadamente duas vezes o tempo normal, pois de acordo com os dados de Umidade de Solo, cujas amostras eram coletadas um dia antes da adubação nos respectivos piquetes e o valor da Capacidade de Campo de 0,21 g.g¹, esse tempo de irrigação por posição era em torno de 12 horas. Já, a adubação potássica, foi realizada nos 2 tratamentos da seguinte maneira: no irrigado, foram aplicados em cada adubação 43 kg de cloreto de potássio/piquete durante os meses de novembro de 2008, janeiro e março de 2009. Quanto ao tratamento de sequeiro foram aplicados em cada adubação 54 kg de cloreto de potássio/piquete nos meses de novembro de 2008, janeiro e março de 2009. O manejo das pastagens foi feito com 3 dias de ocupação, sob uma pressão de pastejo de 6% em intervalos de 21 dias de descanso. Considerando que o clima seco impede a taxa de crescimento das gramíneas, o intervalo variou no decorrer do período, atingindo no máximo cinco dias de ocupação por piquete sob uma pressão de pastejo de 7% em intervalos de 35 dias de descanso. Para ajuste da taxa de lotação, realizava-se a pesagem dos animais quinzenalmente. Em cada sistema manteve-se um lote fixo de 11 vacas em lactação para efeito de avaliação do desempenho animal. Foram utilizados animais extras para ajustar a oferta de forragem, de modo a se obter uma oferta de matéria seca de 5 a 7% do peso vivo médio, no período das águas e da seca, respectivamente. A forragem disponível era estimada considerando-se a quantidade de forragem cortada a altura do ponto de crescimento da gramínea (meristema apical) antes da entrada dos animais, recolhida no interior de um “quadrado latino” feito de material metálico (vergalhão de ferro de construção), que era lançado aleatoriamente por quatro vezes em cada piquete. Após o corte, as amostras eram homogeneizadas e pesadas, sendo obtida a massa de forragem verde. Dessas amostras eram retiradas subamostras pesando aproximadamente 300 g, para determinação da matéria pré-seca em estufa de ventilação forçada a uma temperatura de 55º C por 72 horas. Posteriormente, as amostras eram moídas em moinho estacionário do tipo Willey utilizando-se peneira de 1 mm e armazenadas em recipientes de polietileno com tampa. Eram feitas análises em duplicatas de Matéria Seca (MS) em estufa a 105º C. A massa de forragem em kg/ha de MS foi determinada pela multiplicação da biomassa de matéria verde pelo teor de MS da amostra. A massa de forragem disponível/ha em cada ciclo de pastejo, período necessário para cada grupo de vacas pastejarem os 8 piquetes, foi calculada pela média da biomassa da forragem obtida em cada grupo de piquetes (de 1 a 8), naquele ciclo de pastejo. Nos dois sistemas (irrigado e sequeiro) as vacas produzindo acima de 10 kg de leite.dia¹ recebiam no período das águas uma suplementação com concentrado na quantidade de 1 kg de concentrado para cada 2,5 kg de leite produzido acima de 10 kg de leite.dia¹. O concentrado era composto por 51% de milho grão moído, 44% de farelo de soja e 5% de núcleo mineral, com composição química média de 26% de proteína bruta (PB) e 81% de nutrientes digestíveis totais (NDT). Já no período da seca, para o lote apascentado na pastagem irrigada, a quantidade de concentrado foi alterada para 1 kg para cada 3,6 kg de leite produzido. O lote apascentado na pastagem de sequeiro sofreu uma alteração, sendo que as matrizes em lactação foram confinadas por apresentarem queda brusca na produção de leite e perda de peso. Elas passaram a receber alimentação volumosa (silagem de milho) e ração concentrada. No sistema de sequeiro permaneceram apenas as vacas “secas”. Os controles leiteiros foram realizados a cada 14 dias bem como a determinação de produção de leite diária por vaca. O valor da produção de leite por área representou a média das produções diárias obtidas durante cada ciclo de pastejo multiplicada pela taxa de lotação. Para a produção diária de leite por vaca foi utilizado o delineamento fatorial 2 x 10 (tratamentos x épocas), inteiramente ao acaso com onze repetições (vacas em lactação). Para a biomassa de forragem, taxa de lotação e produção de leite por área, utilizou-se o delineamento fatorial (2 x 10) em blocos casualizados. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância sendo utilizado para isso o pacote estatístico software SAS e as médias comparadas pelo teste Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade (p<0,05) (TEIXEIRA e OUTROS, 2010). Para o manejo da irrigação foram determinadas as condições atuais do solo como: Capacidade de Campo – 18,5%; Umidade do Ponto de Murcha – 7,04%; Densidade Aparente – 1,55 g/cm³; Profundidade do Sistema Radicular – 25 cm; Fator de Disponibilidade de Água no Solo – 0,5 e Disponibilidade Real de Água no Solo – 21,7 mm. Foi realizada também a avaliação da uniformidade de aplicação da lâmina d’água, utilizando-se o Coeficiente de CHRISTIANSEN. Em função de alguns problemas ocorridos durante a avaliação, o resultado de (CUC = 53,30%) foi desprezado e considerado para efeito prático o CUC de 80%. Durante o período de condução do experimento o equipamento de irrigação foi avaliado e comparado com as especificações técnicas de projeto. Foram encontrados os seguintes dados: vazão total do conjunto moto bomba – 19,51 m³/h contra 21,60 m³/h projetados (9,7% a menos); vazão do aspersor – 1.951 l/h contra 2.160 l/h projetados (9,7% a menos) e lâmina bruta aplicada – 4,4 mm/h contra 4,9 mm/h projetados (10,2% a menos) Tabela 1. Também foi determinado o rendimento do motor elétrico monofásico de 7,5 cv que aciona a bomba hidráulica através dos dados monitorados de consumo total de energia, tempo de funcionamento e das potências projetadas e demandadas, obtendo-se o resultado de 88%. A estratégia de manejo da irrigação adotado durante a condução das avaliações foi o de turno de rega constante, sendo este turno de 7 dias. Para a determinação da lâmina de reposição de água, acompanhou-se a evaporação num tanque classe A circundado por grama batatais e estimava-se a evapotranspiração da gramínea Tifton 85, a qual era reposta via irrigação. Quanto às medições de consumo de energia elétrica e água foram criadas planilhas para leitura diária do medidor de consumo de energia elétrica (kWh), do horímetro (tempo de funcionamento do conjunto moto bomba – h:m) e do hidrômetro (consumo de água – m³). As leituras diárias tornam-se necessárias, pois caso alguns dos equipamentos de medição sofram alguma pane no seu funcionamento, pode-se detectar mais rápido, sem prejuízo para a avaliação!
Tabela 1 – Projetado x Realizado
Resultados e Discussão
Quando se pensa na prática da irrigação de pastagens pressupõe-se que irá conseguir durante o ano todo, independente de que estação, uma planta forrageira com alta produtividade com níveis de nutrientes capazes de suprir as necessidades de mantença e produção dos animais, independente de serem explorados para carne ou leite.
A produção total de MS do Tifton 85 no sistema irrigado durante os 10 ciclos (13 meses) foi de 186.290 kg ou 186,29 t, apresentando uma produtividade média de 3.528,2 kg/ha.
A Produção total de MS do Tifton 85 no sistema sequeiro durante os 10 ciclos (13 meses) foi de 135.659 kg ou 135,66 t, apresentando uma produtividade média de 2.569,3 kg/ha.
A produção total de MS no sistema irrigado foi 37,32% maior do que no sistema sequeiro.
Os dados comparativos referentes à produção de MS nas pastagens de Tifton 85 sistema irrigado x sequeiro, encontram-se na Tabela 2.
Tabela 2 – Produção e desempenho de pastagens de Tifton 85 manejadas em condições de irrigação e sequeiro
Obs:
- Apenas as pesagens de leite realizadas a partir do mês de fevereiro de 2009, foram utilizadas, no trabalho por questões de delineamento compatível, com as análises estatísticas adotadas.
- Nos ciclos 8, 9 e 10 não foi possível manter as matrizes em lactação no sistema de sequeiro, devido a perda de peso e queda na produção de leite em função da baixa qualidade do pasto. Em virtude disso as matrizes foram confinadas!
A produtividade média de leite obtida na pastagem de Tifton 85 do sistema irrigado foi de 18.639 kg/ha/ano para uma produtividade média dos amimais nela apascentados de 4.052 kg/vaca/ano.
A produtividade média de leite obtida na pastagem de Tifton 85 do sistema sequeiro foi de 9.557 kg/ha/ano para uma produtividade média dos animais nela apascentados de 4.344 kg/vaca/ano.
A capacidade suporte média da pastagem de Tifton 85 do sistema irrigado foi de 4,6 vacas/ha. Na pastagem de Tifton 85 do sistema sequeiro a capacidade suporte foi de 2,2 vacas/ha, ou seja, na pastagem de Tifton 85 irrigado, 2,09 vezes maior.
A produtividade média de leite obtida na pastagem de Tifton 85 sistema irrigado foi 95% superior produtividade média obtida na pastagem de Tifton 85 sistema sequeiro, ou seja, 1,95 vezes maior, embora a produtividade média dos animais apascentados nessa pastagem tenha sido 7,2% superior (11,9 kg de leite/vaca/dia) a produtividade média dos animais apascentados na pastagem de Tifton 85 sistema irrigado (11,1 kg de leite/vaca/dia), ou seja, 0,93 vezes menor. O fator determinante da maior produtividade média de leite obtido na pastagem de Tifton 85 do sistema irrigado foi que a capacidade suporte média dela foi de 109% superior a pastagem de Tifton 85 do sistema sequeiro, refletindo diretamente na produção de leite em função do maior número de vacas apascentadas numa mesma área.
A produção total de leite obtida na pastagem de Tifton 85 do sistema irrigado foi de 57.870 kg, para uma produtividade média de 51,7 kg/ha/dia apascentadas em 5,28 ha por um período de 212 dias, ou seja, cinco ciclos do trabalho correspondendo a sete meses. Fazendas comerciais tecnificadas e produtoras de leite que utilizam o sistema pastagem sequeiro ou irrigado comparadas entre si têm aumentado a capacidade suporte de 4,9 UA/ha para 8,0 UA/ha, ou seja, 1,63 vezes mais, a produtividade média animal de 12,0 l/vaca dia para 14,0 l/vaca dia, ou seja, 1,17 vezes mais e a produtividade média por área de 12.000 l/ha/ano para 24.000 l/ha/ano, ou seja, duas vezes mais (DRUMOND e AGUIAR, 2005).
Os dados referentes às médias obtidas no experimento comparativo Tifton 85 sistema irrigado x sistema sequeiro, como Capacidade Suporte, Produtividade de Leite por Animal e Produtividade de Leite por Área, encontram-se também na Tabela 2.
Para se conhecer os consumos específicos de energia elétrica e água, os resultados do monitoramento do equipamento de irrigação, quanto ao tempo de funcionamento, consumo de energia elétrica e consumo de água são apresentados na Tabela 3, onde foi feito um resumo das anotações diárias, condensando-as em 2 períodos: agosto de 2008 a agosto de 2009, para avaliação dos consumos de energia elétrica e água na produção de MS e fevereiro a agosto de 2009, para avaliação dos consumos de energia elétrica e água na produção de leite.
No 1º período ou período integral o equipamento de irrigação funcionou um total de 1.009 h: 55min, o consumo de energia elétrica de 6.302 kWh de energia elétrica e bombeou 19.810 m³ de água, para uma produção total de 186,29 t de MS em 5,28 ha de pastagem irrigada de Tifton 85.
No 2º período ou período parcial o equipamento de irrigação funcionou um total de 495 h: 09 min, o consumo de energia elétrica foi de 3.379 kWh e bombeou 11.070 m³ de água, para uma produção total de leite de 57.870 kg, também em 5,28 ha de pastagem de Tifton 85 irrigado.
Tabela 3 - Resumo do monitoramento do equipamento de irrigação
Obtidos esses dados através de medições e procedimentos criteriosos, tornou-se possível estabelecer os vários consumos específicos tais com:
- Energia elétrica por MS produzida: 6.302 kWh : 186,29 t = 33,83 kWh/t MS;
- Água de irrigação por MS produzida: 19.810 m³ : 186,29 t = 106,34 m³/t MS;
- Energia elétrica por área irrigada por ano: 6.302 kWh : 5,28 ha : 13 meses x 12 meses = 1.102 kWh/ha/ano;
- Água de irrigação por área irrigada por ano: 19.810 m³ : 5,28 ha : 13 meses x 12 meses = 3.463 m³/ha/ano;
- Energia elétrica por leite produzido = 3.379 kWh : 57.870 kg de leite x 1.000 = 58,39 kWh/1.000 kg;
- Água de irrigação por leite produzido = 11.070 m³ : 57.870 kg de leite x 1.000 = 191,29 m³/1.000 kg.
Através dos consumos específicos determinados nesse experimento foi possível levantar o custo da energia elétrica na produção de leite em sistema de pastejo rotacionado irrigado de Tifton 85. O preço da tarifa de energia elétrica praticada no cálculo é a cobrada do Consumidor Rural do Grupo B ou Secundário pela CEMIG, com base na Resolução Normativa ANEEL nº 207 de 09/01/2006 e homologadas pela ANEEL conforme a Resolução 1127 de 05/04/2011, ou seja, R$0,242804 mais 18% de ICMS, totalizando R$0,300356/kWh para irrigação diurna (06:00 horas as 21:30 horas) e R$0,080126/kWh mais 12% de ICMS, totalizando R$0,092360/kWh para irrigação noturna (21:30 horas as 06:00 horas), destinada a Classe Rural Irrigante e Aqüicultor, localizada nas demais Regiões do Estado, que não nas áreas abrangidas pela ADENE (Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha).
Na produção de 57.870 kg de leite num período de 212 dias ou 7 meses, o equipamento de irrigação funcionou durante 495 horas e 09 minutos, bombeou 11.070 m³ de água e consumiu 3.379 kWh de energia elétrica que custaram ao produtor de leite o equivalente a R$1.014,90, correspondendo a R$17,54 para cada 1.000 l de leite produzidos. Como no mês de fevereiro de 2011 o preço pago pelo litro de leite ao IFETTM pela COPERVALE-Uberaba é de R$0,67/l para cada 1.000 kg de leite produzidos o IFETM gastou com o pagamento da conta de energia elétrica o correspondente a 26,18 l de leite. Para uma receita bruta estimada com a venda de leite no período no valor de R$38.772,90, as despesas com a conta de energia elétrica na irrigação representaram 2,62%. O cálculo do custo da energia elétrica foi feito exclusivamente com base no preço da tarifa diurna em vigor a partir de 05/04/2011, pois na Fazenda Santa Rosa, local onde foi conduzido o experimento, não se irrigou no período noturno (das 21:30 horas as 06:00 horas).
Os dados levantados e medidos no trabalho possibilitam também de forma didática mostrar ao produtor de leite o custo da energia nas várias etapas do processo de irrigação de pastagens como: por água bombeada = R$0,10/m³; por área irrigada = R$330,92/ha/ano e por produção de MS = R$10,16/t.
Nesse trabalho por alguns problemas de causas contábeis, não foi possível calcular o custo do leite produzido nos dois sistemas, nem determinar a participação da energia elétrica no custo total do leite produzido no sistema irrigado.
O custo total de produção do leite aumentou em 18% no período da seca nas áreas não irrigadas, devido à introdução de mais alimentos concentrados e de cana com uréia, que são mais caros que a pastagem. Só o custo da alimentação aumentou em 46%. A introdução do sistema de irrigação possibilitou manter praticamente o mesmo custo de produção do leite no período da seca, com um pequeno aumento de 3% e reduziu em 18% o custo total do leite. Os custos variáveis com as vacas diminuíram em 28,5%. O retorno sobre o capital investido, sem incluir a terra, foi de 12% e, incluindo a terra, foi de 11%, o que demonstra a viabilidade da atividade leiteira no Brasil quando conduzida com índices de produção adequados. No sistema com irrigação, a margem líquida (receita menos custo variável e menos custo fixo) foi de 16% maior (DRUMOND e AGUIAR, 2005).
Conclusões
Quanto ao leite o experimento provou que a pastagem irrigada de Tifton 85 é capaz de aumentar a produtividade média por área apascentada em 95% quando comparada com a produtividade média da pastagem de Tifton 85 no sistema de sequeiro.
Quanto à MS o experimento provou que a pastagem irrigada de Tifton 85 é capaz de aumentar a produtividade média por área apascentada em 37% quando comparada com a produtividade média da pastagem de Tifton 85 no sistema sequeiro.
Quanto à Capacidade Suporte o experimento provou que a pastagem irrigada de Tifton 85 é capaz de aumentá-la em média 109%, quando comparada com a Capacidade Suporte da pastagem de Tifton 85 no sistema sequeiro.
A produtividade média diária de leite por vaca apascentada na pastagem irrigada de Tifton 85, embora menor 6,7% comparativamente com a produtividade média diária por vaca apascentada na pastagem de Tifton 85 no sistema sequeiro, foi compensada em termos de produção total de leite, 49% a mais, devido à maior produção de MS e conseqüentemente aumento da Capacidade Suporte e taxa de lotação.
Quanto ao consumo de energia elétrica e água na irrigação de pastagem de Tifton 85, bem como a determinação dos seus respectivos consumos específicos e custo do energético, o experimento forneceu sem sombra de dúvidas subsídios e parâmetros para que o “Tripé” ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃO, forme, questione, procure, descubra, aprimore, divulgue e ensine a “cultura” da eficiência energética na irrigação, como um dos quesitos básicos para a sustentabilidade do setor, que desperdiça de 23% a 28% de energia elétrica nessa atividade.
Que a eficiência energética na irrigação não deva ser “buscada” isoladamente, mas sim “atrelada” aos demais componentes do processo produtivo como, adubação, manejo, padrão racial, alimentação suplementar, sanidade, escrituração zootécnica, gestão da atividade, etc.
Infelizmente não conseguimos determinar no experimento os custos comparativos do leite produzido nos sistemas sequeiro x irrigado e conseqüentemente a participação da energia elétrica no custo final do leite produzido em pastagem irrigada de Tifton 85.
Agradecimentos
À FAPEMIG pelo apoio financeiro, aos parceiros pela dedicação, compromisso e responsabilidade com que assumiram o projeto de pesquisa e à RAYTEC Lacerda Indústria e Comércio Ltda. pela assistência técnica no tocante as cercas eletrificadas.
Referências
COUTINHO, A. C.; Uso Eficiente da Energia Elétrica na Produção de Leite. In: Manual CEMIG Distribuição S/A, 2007. 32 p.
DRUMOND, L. C. D.; AGUIAR, A. P. A.; Irrigação de Pastagem. Uberaba, 2005. 210 p.
ARRUDA, M. L. R.; CRUZ, O. C.; BARRETO, A. C.; COUTINHO, A. C.; Gestão estratégica para o desenvolvimento da pecuária leiteira na Região Campo das Vertentes. In: Estratégia de irrigação de pastagem para aumento da produção de forragem e leite; São João Del Rei, 2002. Anais. São João Del Rei: UFSJ, EMATER-MG, CEMIG, EMBRAPA, 2003. 195 p. p. 83-97.