REPORTAGEM DA REVISTA BALDE BRANCO, edição de maio de 2012.
NEEM, uma planta que protege o rebanho.
Propriedades da árvore indiana auxiliam no controle de doenças e parasitas que atacam o rebanho leiteiro.
Especialistas garantem eficácia e rapidez no tratamento.
A competitividade da pecuária leiteira atualmente se baseia principalmente na aplicação de tecnologia, elevação da produtividade e ganhos de eficiência da porteira para dentro.
E isso passa por uma gestão correta dos custos de produção, o que inclui o controle rigoroso de doenças e pragas que afetam a exploração, como vermes, moscas, carrapatos, bernes e bicheiras.
Segundo um estudo que calculou o impacto econômico das principais ectoparasitoses no País, os prejuízos causados podem exceder os US$2 bilhões por ano, sendo as possíveis perdas associadas à diminuição da produção de leite e aos gastos com medicamentos.
O uso indiscriminado de diversos princípios químicos determinou um grave quadro de resistência genética de vários parasitos.
Desde então, vem se abrindo espaço para o uso de métodos alternativos, como a utilização de plantas de potencial fitoterápico com ação repelente e larvicida.
Em geral, são tratamentos simples e de baixo custo.
Além disso, tais substâncias naturais são consideradas menos poluentes, com baixo poder residual, e apresentam menores riscos de intoxicação.
Um dos bons exemplos nessa proposta é a árvore neem, que atua como repelente, inseticida, acaricida, fungicida e nematicida.
A pós-doutora em química orgânica e professora da Ufscar - Universidade Federal de São Carlos, Maria Fátima das Graças Fernandes, aponta que cerca de 400 espécies de insetos foram relatadas em pesquisas como sensíveis a algum tipo de ação do neem.
“Além desse tipo de ação, o neem tem efeitos sobre outros organismos, como nematóides, fungos, vírus e protozoários”, diz, explicando que o produto, que atua como bioinseticida, se revela praticamente inócuo ao ambiente e ao homem, biodegradável e com baixa persistência no ambiente.
Em cinco dias ação direta e indireta - Após a ingestão, o princípio ativo azadiractina passa a circular na corrente sanguínea dos animais e os parasitas que se alimentam do sangue passam a sofrer os efeitos negativos da planta.
Em cinco dias, os carrapatos (Boophilus microplus), as larvas de berne (Dermatobia hominis) e a moscas-do-chifre (Hematobia irritans), por exemplo, morrem no corpo do animal, segundo a professora da Ufscar.
A azadiractina é ainda eliminada nas fezes dos animais, justamente onde as moscas colocam seus ovos.
“Ao entrarem em contato com o princípio ativo do neem, não se desenvolvem e a infestação diminui consideravelmente”, ela completa.
Os resultados dependem do nível de infestação dos animais, do tamanho da área e das condições climáticas.
Normalmente, os efeitos começam a aparecer em torno de 25 dias após o início dos tratamentos, mas em alguns casos, podem levar mais de 70 dias.
Na Zona da Mata mineira, Dauro Francisco Vilella Schettino sempre criou as 600 cabeças de gado leiteiro de sua fazenda de modo convencional. Por muito tempo, enfrentou sérios problemas para eliminar moscas-do-chifre e carrapatos.
O uso dos produtos químicos era caro e trabalhoso, e para driblar a resistência da praga era necessário alternar diferentes formulações, de três em três semanas.
Com isso, a cada banho químico, a produção - de 1.500 litros de leite/dia - apresentava perda entre 10% e 15% nos dois dias seguintes.
A rotina da fazenda mudou quando, no começo de 2010, o proprietário decidiu enfrentar os citados insetos com o uso do pó do neem, na proporção de 1,5kg de pó para cada 100 kg de sal mineral. O produto conseguiu, enfim, interromper o ciclo das pragas no gado e dar sinal verde para a produção orgânica que almejava.