POR QUE CONTROLAR A MASTITE
A mastite é uma inflamação da glândula mamária, causada pela por diversos tipos de microrganismos, principalmente, bactérias. É uma doença multifatorial, sendo o resultado da interação dos agentes infecciosos, do animal e do ambiente. Incluem, por exemplo, as instalações, o homem, o manejo da ordenha e o manejo dos animais. O objetivo do diagnóstico microbiológico da mastite é o oferecimento de resultados rápidos e seguros para o diagnóstico preciso da infecção, identificação do agente etiológico e, consequentemente, direcionar o tratamento e determinar as práticas de controle eficazes.
O controle dessa doença se fez prioritário devido aos novos parâmetros de qualidade para a produção de leite, estabelecidos na Instrução Normativa 51 (IN 51 de 18/09/2002) do Ministério da Agricultura, cujo objetivo é padronizar a produção leiteira brasileira estabelecendo um padrão de excelência e baixos índices de contaminação.
A mastite é a doença que mais causa prejuízos à indústria leiteira, afetando diretamente os produtos, a indústria processadora e o consumidor final. Estima-se que cada quarto infectado produza em média 35% a menos que um quarto normal, ocorrendo uma perda de produção entre 12 e 15%, o que significa bilhões de litros de leite por ano. Sendo assim, manter a doença sobre controle, além de atender a legislação, é a opção mais barata.
PROGRAMAS DE CONTROLE
Um dos fundamentos dos programas de controle da mastite é a identificação dos fatores necessários para a ocorrência de infecções da glândula mamária. De posse dessa informação, pode-se prevenir as infecções, por meio de intervenções estratégicas que impedem, tanto a sua instalação (ou introdução) quanto a sua disseminação entre os animais. O conjunto dessas intervenções, conhecido originalmente como o plano dos cinco pontos, tem sido ampliado e reiteradamente comprovado como sendo eficiente para o controle da mastite causada por patógenos contagiosos.
Em qualquer programa de controle, atenção especial deve ser dada ao treinamento e capacitação da mão-de-obra. As recomendações contidas nos programas são geralmente reunidas sob títulos como "procedimentos adequados de ordenha" ou "boas práticas agropecuárias", que abrangem cuidados que vão além dos procedimentos comuns de ordenha. Um programa de prevenção e controle da mastite deve incluir pelo menos os seguintes itens:
Adequação do ambiente: cuidados com o ambiente em que as vacas são alojadas (especialmente onde elas deitam e o local do parto) e com a pastagem. Como regra, a vaca deve permanecer em ambiente limpo e seco.
Manejo de dejetos: cuidados com o destino dos dejetos (para evitar poluição ambiental e proliferação de moscas que podem transmitir patógenos entre animais).
Detecção de mastite: a ordenha deve ser iniciada com o exame dos primeiros jatos de leite de todos os quartos mamários, em um recipiente de fundo escuro (teste da caneca telada).
Anti-sepsia de tetas antes da ordenha ("pré-dipping"): O procedimento envolve: lavar as tetas com água e usar um antisséptico adequado para este fim. Um contato de 30 segundos do antisséptico com as tetas deve ser observado, para permitir a sua atuação. Em seguida, as tetas são secadas cuidadosamente com papel-toalha, para evitar a contaminação do leite com resíduos do antisséptico.
Ordenha: No caso de ordenha mecânica devem ser observados os cuidados de higiene e manutenção do equipamento, de acordo com as recomendações do fabricante e as exigências regulamentares. Atenção especial deve ser dada à saúde e hábitos higiênicos dos ordenhadores.
Anti-sepsia de tetas pós-ordenha ("pós-dipping"): O antisséptico deve ser aplicado imediatamente após a ordenha, em todas as tetas do animal. Ele é usado para remover os resíduos de leite deixados nas extremidades das tetas (que servem de alimento para as bactérias) e inativar as bactérias. O produto deve cobrir as tetas completamente, deixando-se que o antisséptico permaneça sobre a pele da teta até a próxima ordenha.
Manutenção dos animais de pé após a ordenha: procedimento recomendado para evitar a penetração de bactérias pelo canal da teta, que permanece aberto por um período variável entre 30 e 120 minutos, após a ordenha. Para manter os animais de pé, sugere-se o fornecimento de ração no cocho na saída do local de ordenha.
Terapia da vaca seca: O tratamento de todas as vacas ao final da lactação é um dos procedimentos mais eficientes para o controle da mastite subclínica e tem os objetivos curar as infecções subclínicas pré-existentes e prevenir as infecções de ocorrência comum no início do período seco.
Fatores relacionados aos equipamentos de ordenha: a higienização inadequada, a falta de manutenção e o mau funcionamento da ordenhadeira mecânica podem propiciar o aumento de novas infecções e os casos de mastite no rebanho.
Aquisição de novos animais: Deve-se considerar a possibilidade de qualquer animal adquirido estar, potencialmente, infectado e ser capaz de introduzir um novo patógeno no rebanho. Por isso, deve-se obter o histórico desses animais antes de introduzi-los no rebanho. O ideal é realizar a cultura do leite dos animais antes de sua introdução no rebanho.
Monitoramento da mastite no rebanho. O monitoramento pode ser feito por meio de anotação de todos os casos clínicos, acompanhamento mensal por meio de CMT ou CCS da mastite subclínica; exame microbiológico do leite dos animais com mastite clínica; exame microbiológico do leite do tanque (leite total do rebanho) para isolamento de S. aureus e/ou S. agalactiae; exame microbiológico de uma amostra ou de todos os animais do rebanho a intervalos regulares. Essas informações podem ser usadas para definir opções de descarte, definir linha de ordenha, prevenir surtos e orientar esquemas de tratamento.
(adaptado de: CONTROLE DA MASTITE – OU COMO REDUZIR A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS DO REBANHO BOVINO LEITEIRO, José R. Brito, Maria A. Brito e Edna F. Arcuri, Embrapa Gado de Leite)
COLETA DE AMOSTRAS DE LEITE PARA EXAME MICROBIOLÓGICO
Devido à grande variedade de patógenos que podem causar a mastite, é essencial, para um diagnóstico seguro e correto, que todas as amostras submetidas para exame laboratorial sejam coletadas assepticamente, em frascos estéreis. Geralmente, as amostras são coletadas imediatamente antes da ordenha. Pode-se coletar também depois da ordenha, mas sempre antes do animal receber medicação.
PASSO A PASSO DA COLETA
1- Preparo do animal:
Preparar as tetas limpando-as, antes da coleta, com uma solução antisséptica à base de iodoflor (1%) ou hipoclorito de sódio (4%) através da imersão das mesmas. A extremidade da teta deve ser limpa com o uso de um algodão embebido em álcool a 70% (um chumaço de algodão para cada teta). Vinte a trinta segundos depois, remover o excesso de antisséptico com papel toalha. As tetas devem estar bem secas. Começa-se sempre limpando as tetas mais distantes da pessoa primeiro e depois as mais próximas.
Figura 1: Caso o úbere esteja sujo de barro ou esterco, lave somente os tetos antes de imergi-las na solução antisséptica. Fonte: Manual do Produtor - Itambé
Figura 2: Imersão dos tetos em solução antisséptica e remoção do excesso com papel toalha. Fonte: Manual do Produtor - Itambé
2- Preparo do coletor:
O ordenhador deve lavar e fazer a anti-sepsia das mãos antes do procedimento de coleta.
3- Desprezar os dois ou três primeiros jatos de leite de cada teta:
Figura 4: Os dois ou três primeiros jatos de leite podem ser desprezados em uma caneca de fundo preto. Caso o leite apresente grumos de pus ou qualquer outro componente diferente significa que a vaca apresenta mastite (figura da direita). Fonte: Manual do Produtor - Itambé e Rehagro
4- Coleta:
Utilizando frasco estéril (para coleta de urina, por exemplo), abrir o mesmo apenas no momento da coleta e coletar primeiro das tetas mais próximas. Não é necessário encher o frasco, bastam 10 a 15 ml. Após coletar, fechar imediatamente o frasco. Não deixar o frasco encostar nas tetas ou em qualquer outra superfície.
No momento da coleta o frasco deve ser mantido na posição horizontal. A tampa do frasco não deve encostar em nenhuma superfície. Segure-a com a abertura para baixo.
Coleta de amostra individual de leite para análise microbiológica. Fonte: Rehagro
5- Identificação:
Faça a completa identificação do animal, incluindo a identificação do quarto coletado. Na ficha de solicitação de exame – que poderá ser obtida pela Internet no site do TECSA – colocar dados do animal, especificando se trata de mastite clínica ou subclínica, se houve uso de algum tratamento, se os sintomas são agudos ou crônicos, etc. O importante é enviar ao TECSA todas as informações relevantes para que o diagnóstico seja bem assertivo.
Ficha de solicitação de exame e frascos com identificação dos animais e quartos
6- Envio:
Após a coleta os frascos devem ser mantidos sob refrigeração; assim que possível, colocar em caixa de isopor com gelo e remeter ao TECSA. Caso não seja possível enviar no mesmo dia, congele os frascos com a as amostras. Este congelamento pode ser feito por até 6 semanas.