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Efeitos da climatização em sala de espera sobre as variáveis fisiológicas e produtivas de vacas em lactação

Publicado: 1 de novembro de 2012
Por: Irineu Arcaro Junior 2, Juliana Rodrigues Pozzi Arcaro2, Cláudia Rodrigues Pozzi2, Soraia Vanessa Matarazzo3, Helena Fagundes4.
Sumário

RESUMO: Este trabalho teve por objetivos avaliar a climatização da sala de espera e seus reflexos sobre as variáveis fisiológicas (temperatura retal e freqüência respiratória), produção e composição do leite de 15 vacas em lactação, mantidas em sistema de lotação rotacionada, distribuídas em delineamento inteiramente casualizado. O período experimental teve a duração de 40 dias, divididos em quatro sub-períodos de 10 dias. Foram utilizados os seguintes tratamentos: sala de espera sem ventilação ou aspersão (controle); sala de espera com ventilação (V) e sala de espera com ventilação + aspersão (VA). A ordenha foi realizada às 7 e 15 horas e as produções diárias registradas. Amostras de leite foram colhidas para determinação do teor de gordura, densidade e extrato seco total. Antes e depois da aplicação dos tratamentos foram mensuradas a freqüência respiratória e temperatura retal de três animais de cada tratamento. O tratamento VA reduziu a freqüência respiratória dos animais, entretanto, os tratamentos não apresentaram a eficácia esperada em relação à produção e composição do leite, sugerindo que o tempo de permanência dos animais na sala de espera (20 minutos) tenha sido insuficiente para diminuir o estresse térmico.

Palavras-chave: estresse térmico, resfriamento evaporativo, vacas leiteiras.

INTRODUÇÃO.
No Brasil, a exploração leiteira é predominantemente a pasto, onde os animais permanecem expostos diretamente à radiação solar e, conseqüentemente, em condições de desconforto, acarretando mudanças no comportamento e nas respostas fisiológicas. As respostas fisiológicas incluem aumento da freqüência respiratória, redução na ingestão de alimentos e aumento na ingestão de água (TITTO, 1998).
O estresse térmico tem efeitos marcantes sobre o metabolismo da glândula mamária e na composição do leite. Alguns efeitos resultam na redução da síntese, absorção e mobilização dos metabólitos (glicose, ácidos graxos voláteis, lipídeos, aminoácidos, etc.) a partir do trato digestivo, fígado e tecido adiposo, e sua utilização pela glândula mamária (HEAD, 1989).
Uma variedade de métodos de condicionamento ambiental tem sido desenvolvido para modificar o microclima no qual as vacas estão inseridas e assim minimizar os efeitos do estresse térmico. Com o objetivo de reduzir a temperatura do ar ambiente, favorecendo as trocas sensíveis de calor, o sistema de resfriamento evaporativo visa aumentar a dissipação de calor na forma evaporativa e convectiva (MEANS et al. 1992).
De acordo com CHASTAIN et al. (1994) a aspersão de água sobre o animal resfria imediatamente a superfície do corpo em até 4°C e reduz a taxa respiratória a 18 movimentos por minutos. Quando a aspersão é associada a ventilação, ocorre inicialmente o umidecimento do pêlo do animal seguido da remoção da camada de ar da superfície da pele, desta forma, as taxas de evaporação são favorecidas e menores temperaturas de pele e corporal são verificadas (STOWELL, 2000).
Uma vez que a sala de espera apresenta maior possibilidade de controle ambiental quando comparada ao piquete, o trabalho teve por objetivos avaliar a climatização por 20 minutos, e seus reflexos sobre as variáveis fisiológicas (temperatura retal e freqüência respiratória), produção e composição do leite de vacas mantidas em sistema de lotação rotacionada.
 
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Instituto de Zootecnia, localizado no município de Nova Odessa, SP o qual encontra-se latitude 22°42' S, longitude 47°18' O e altitude 550 m. O clima da região é do tipo Cwa da classificação Köppen, ou seja, quente e úmido com estação chuvosa no verão e seco no inverno.
Foram utilizadas 15 vacas em lactação, com peso médio de 600 kg, produção média de 30 kg de leite por dia, entre 100 dias de lactação. O período experimental teve a duração de 40 dias durante os meses de janeiro a março de 2000, divididos em quatro subperíodos de 10 dias cada. As vacas foram manejadas em sistema de lotação rotacionada com capim Panicum máximum cv. Tanzânia, livre acesso a área de sombreamento natural, recebendo suplementação com concentrado (28% de proteína bruta) composto de milho triturado e farelo de soja, além da mistura mineral.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, sendo os animais distribuídos nos seguintes tratamentos: sala de espera sem ventilação ou aspersão (controle); sala de espera com ventilação (V); sala de espera com ventilação + aspersão (VA). A análise estatística dos dados foi realizada no programa estatístico SAS (1990).
As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia (7 e 15 horas) e as produções diárias registradas. Amostragem de leite de duas ordenhas consecutivas foram realizadas, para determinação dos teores de gordura (Método de Gerber), densidade (Termo-lactodensímetro) e extrato seco total (Disco de Ackermann).
Diariamente, foram mensuradas a freqüência respiratória e temperatura retal de três animais de cada tratamento. Essas medidas eram realizadas antes e após a aplicação de cada tratamentos nas ordenhas da manhã e tarde.
Os equipamentos da sala de espera foram acionados após a ordenha dos animais do grupo controle, sendo que os animais do grupo B permaneceram 20 minutos na sala de espera, com o sistema de ventilação ligado, antes de serem ordenhados e os animais do grupo C permaneceram 20 minutos na sala de espera, com sistema de ventilação e aspersão acionado.
Foram utilizados dois ventiladores da marca CASP® tipo VA 92 plus, equipado com motor de ½ CV, vazão de 300m3, 495 RPM, com capacidade de produzir movimentação de ar de até 5m s-1. Para a realização da ventilação e aspersão foram utilizados dois umidificadores centrífugos industriais da marca DIDE® com capacidade de umidificação de 450m3, consumo de água de 30 L h-1, equipado com motor trifásico de 0,75 CV.
Para registro de temperatura e umidade relativa do ar foram utilizados sensores higrotérmicos (psicrômetros) instalados dentro da sala de espera. Uma estação meteorológica foi colocada no piquete onde os animais permaneceram entre as ordenhas e registrados dados de temperaturas de bulbo seco, globo negro e umidade relativa do ar. A partir desses dados foram calculados os índices de conforto térmico BGHI (índice de globo negro e umidade) desenvolvido por BUFFINGTON et al. (1981) e THI (índice de temperatura e umidade) descrito por JOHNSON (1980).
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados médios dos índices de conforto térmico THI e BGHI obtidos nos horários avaliados no piquete e na sala de espera antes que os equipamentos de climatização fossem acionados são apresentados no Quadro 1.
Quadro 1. Índice de temperatura e umidade (THI) e índice de globo negro e umidade (BGHI) obtidos na sala de espera e piquete
Efeitos da climatização em sala de espera sobre as variáveis fisiológicas e produtivas de vacas em lactação - Image 1
Os valores encontrados para o THI indicaram diferenças (P<0,01) entre os ambientes avaliados. O piquete apresentou índices superiores (79,9; 79,9; 80,7 e 78,3 respectivamente, para os horários das 8; 11; 14 e 17 horas) quando comparado com a sala de espera (74,0; 74,9; 77,7 e 76,2 respectivamente, para os horários das 8; 11; 14 e 17 horas). O BGHI apresentou o mesmo comportamento, sendo os valores encontrados 85,0; 85,3; 87,7 e 81,8 respectivamente, para os horários das 8; 11; 14 e 17 horas no piquete e 74,9;74,9; 76,9 e 75,9 respectivamente, para os horários das 8; 11; 14 e 17 horas na sala de espera.
De acordo com HAHN (1985) um THI igual ou inferior a 70 caracteriza uma condição normal; um valor entre 71 e 78 torna-se crítico; entre 79 e 83 a situação é de perigo e acima deste, uma situação de emergência está presente.
Sendo assim, os valores encontrados para os índices de conforto térmico em ambos ambientes permaneceram acima dos valores adequados recomendados pela literatura; daí então, a necessidade de adotar estratégias de manejo ambiental para modificar o microclima da sala de espera a fim de proporcionar condições adequadas de conforto térmico para as vacas em lactação.
No Quadro 2 são apresentados os valores médios diários da produção e composição do leite.
Não foram observadas diferenças (P>0,01) entre os tratamentos para a produção de leite. Os valores encontrados foram 18,9; 18,0 e 18,1, respectivamente para os tratamentos controle, V e VA. Esses resultados concordam com PINHEIROet al. (2000) que trabalharam com sala de espera resfriada com ventiladores e chuveiros para animais da raça jersey. Já HERNANDEZ e CATELLANOS (1983) que mantiveram vacas holandesas e pardo-suíças com aspersão de água em ambiente sombreado verificaram um aumento de 7% na produção de leite em relação aos animais que não receberam esse tratamento.
Quanto aos dados relativos aos constituintes do leite, não foram verificadas diferenças (P>0,01) para os teores de gordura (4,2; 4,2 e 4,0%), densidade (31,7; 31,2 e 31,5%) e sólidos totais (13,4; 13,2 e 12,9%) respectivamente para os tratamentos controle, V e VA. Entretanto, os resultados encontrados por HEAD (1989) apontaram que o estresse térmico diminuiu a produção de leite e o teor de seus constituintes. RODRIGUEZ et al. (1985) verificaram que com a elevação da temperatura os teores de gordura e proteína diminuíram 0,54% (3,85 vs 3,31) e 0,44% (3,42 vs 2,98) respectivamente, para os animais mantidos a altas temperaturas. Os valores médios da temperatura retal (TR) e freqüência respiratória (FC) dos animais submetidos aos diferentes tratamentos encontram-se no Quadro 3.
Não houve diferença significativa (P>0,01) entre os tratamentos com o acionamento dos sistemas de climatização para a TR. Os animais que receberam o tratamento VA apresentaram redução na FR (16 vs. 12 mov 15 s-1, respectivamente, antes e depois do acionamento da climatização). Resultados semelhantes foram encontraram por FRAZZI et al. (1997) que verificaram apenas diminuição da freqüência respiratória quando se utilizou VA, mas sem alteração na temperatura retal.
Quadro 2. Valores médios diários e erro padrão da produção e composição do leite
Efeitos da climatização em sala de espera sobre as variáveis fisiológicas e produtivas de vacas em lactação - Image 2
Quadro 3. Valores médios de temperatura retal (TR) e freqüência respiratória (FR) verificados antes e depois da aplicação dos tratamentos
Efeitos da climatização em sala de espera sobre as variáveis fisiológicas e produtivas de vacas em lactação - Image 3
 
CONCLUSÃO
O emprego da VA reduziu a freqüência respiratória das vacas em lactação, entretanto, os tratamentos aplicados não apresentaram a eficácia esperada quanto a redução dos índices de conforto térmico, produção e composição do leite.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BUFFINGTON, D.E., COLLAZO-AROCHO, A., CANTON, G. H. et al. Black globe-humidity index (BGHI) as comfort equation for dairy cows. Trans. ASAE, St. Joseph, v.24, p.711-714, 1981.
CHASTAIN, J. P., TURNER, L. W. Practical results of a model of direct evaporative cooling of dairy cows. In: INTERNATIONAL DAIRY HOUSING CONFERENCE, Orlando, Florida, 1994. Dairy systems for 21st century. Orlando:ASAE, 1994. p.337-352.
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HEAD, H.H. The strategic use of the physiological potential of the dairy cow. In: SIMPÓSIO LEITE NOS TRÓPICOS: NOVAS ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO. Botucatu, 1989. Anais ... Botucatu :UNESP, 1989. p.38- 89.
HERNANDEZ, J. F., CASTELLANOS, A. Influencia de los banõs refrescantes sobre el comportamiento productivo e reproductivo re razas especializadas y cruzadas en el trópico subhumedo AW(o). Vet. Méx., v.14, n.1, p.6-11, 1983
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PINHEIRO, M. G., ROMA JÚNIOR, L. C., LIMA, P. M. L. et al. Efeito do ambiente da sala de espera sobre a temperatura da pele de vacas da raça Jersey. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 37., Viçosa, MG, 2000. Anais... Viçosa, MG:Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2000. v.1, p.2000
RODRIGUEZ, L.A., MCKONNEN, G., WILCOX, C.J. et al. Effects of relative humidity, maximum and minimum temperature, pregnancy and stage of lactation milk composition and yield. J. Dairy Sci., Champaign, v.68, p. 973-78, 1985.
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TITTO, E. A. L. Clima: Influência na Produção de Leite. IN: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AMBIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE LEITE, 1, Piracicaba, 1998. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1998. p.10-23.
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Autores:
Irineu Arcaro Junior
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
IZ - Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento
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