A criação de novilhas leiteiras em sistemas intensivos de produção a pasto é uma das alternativas para aumentar a competitividade frente a outras atividades, como por exemplo, produção de cana-de-açúcar, soja, milho, dentre outras.
Na pecuária leiteira a especialização dos produtores com a incorporação de tecnologias adaptativas e/ou inovadoras permitindo a intensificação da produção em todas as fases da criação é um processo fundamental para se atingir o sucesso na atividade.
No caso da recria de novilhas leiteiras fica evidente a importância da implantação dessas tecnologias, pois é necessário ter no rebanho animais para reposição e, ainda a possibilidade de ter animais excedentes para serem comercializadas o que representa fração expressiva na receita da atividade leiteira (ZOOCAL et al., 2008).
A fase de recria inicia-se da desmama e vai até a primeira cobertura ou inseminação artificial representando uma etapa extremamente importante nos sistemas de produção.
Deste modo, esta fase deve ser realizada da melhor maneira possível, sempre buscando índices zootécnicos superiores com custos compatíveis ao mercado.
Neste sentido, um das melhores opções é a recria a pasto, pois no Brasil existe diversidade de espécies de gramíneas tropicais com grande potencial de produção associado ao uso de tecnologias relacionadas ao manejo da pastagem, capaz de garantir uma melhor qualidade da forragem, possibilitando redução dos custos de produção. (DA SILVA & NASCIMENTO Jr., 2007).
No planejamento do sistema de recria a pasto, primeiramente devemos conhecer as exigências nutricionais dos animais e determinar qual o ganho de peso diário que os animais precisam atingir, dependendo da raça (pequeno, médio ou grande porte) e idade que o animal estará apto a reprodução (CAMPOS et al., 2005).
Por exemplo, novilhas mestiças Holandês-Zebu, o peso ao nascimento é, em média, de 30 kg e o peso a cobertura ou inseminação é de 330 kg, se for planejado que este animal entre em reprodução com idade de 18 meses e o parto ao redor de 27 meses, a dieta balanceada deve permitir, em média, ganho diário de aproximadamente 600 gramas durante as épocas das águas e seca do ano.
Com a redução da idade ao primeiro parto, além do produtor ter maior número de vacas em lactação e, consequentemente, maior volume de leite, ele também poderá obter maior receita com a comercialização de animais descarte e de novilhas excedentes com elevado valor de mercado.
Na época das águas, com a utilização de sistema de pastejo rotacionado, com taxa de lotação variável, dependendo da forrageira implantada, da oferta de forragem e com aplicação de fertilizantes, conforme determinado pela análise de fertilidade do solo, utilizando somente a suplementação mineral adequada para a categoria animal, tem-se conseguido desempenho satisfatório dos animais, conforme apresentado na tabela abaixo:
Tabela 1. Ganho de peso de novilhas mestiças Holandês-Zebu conforme gramínea forrageira
Por outro lado, na época da seca, a escassez de forragem reduz drasticamente o consumo de pasto e consequentemente o ganho de peso o que exige adoção de estratégias de suplementação. Informações na literatura sobre o desempenho de animais recriados a pasto revelaram reduções de 60 e 80% no ganho de peso corporal, durante a época da seca do ano, em comparação a época das águas (EUCLIDES et al., 1999).
Uma das alternativas é o diferimento da pastagem, que é a estratégia de manejo de fácil realização, baixo custo e que garante estoque de forragem durante a época de escassez. Dentre as espécies forrageiras tropicais a Brachiaria brizantha cv. Marandu é a mais apropriada para o diferimento, pois possui entre outras características, colmo fino e boa produção durante o outono (SANTOS et al., 2009).
No entanto, o desempenho animal em pastagens diferidas não é satisfatório e, deste modo, é necessário o fornecimento de suplementos concentrados, considerando sempre o ponto de vista técnico-econômico. O uso de suplementos pode favorecer o ganho de peso e o aumento da taxa de lotação ou uso de menor oferta de forragem, permitindo que, simultaneamente maior número de fêmeas esteja pronto para o acasalamento (PÖTTER et al., 2010).
Desta maneira, na época da seca do ano, a suplementação dos animais é realizada com intuito de suprir as deficiências basais da forragem através da associação de fontes de nitrogênio solúvel (não protéico) como a uréia, macro e microelementos minerais e fontes naturais de proteína e energia objetivando proporcionar aumento no desempenho animal através de mudanças na digestibilidade ou na eficiência de utilização dos nutrientes (SAMPAIO et al., 2009), permitindo assim, a redução no ciclo de produção, principalmente, a idade ao primeiro parto de novilhas leiteiras.
No entanto, a quantidade ideal de suplemento a ser usado em um sistema de produção de bovinos leiteiros em crescimento é altamente variável e depende de muitos fatores, especialmente o preço do suplemento (FIGUEIREDO et al., 2007).
Na Tabela 2, são disponibilizadas as informações sobre experimentos realizados recentemente com suplementação protéica ou protéica e energética na recria de novilhas leiteiras durante a época seca do ano.
Tabela 2. Desempenho de novilhas mestiças Holandês-Zebu conforme nível de suplementação e espécie forrageira
Verifica-se na tabela acima que o desempenho de novilhas leiteiras é muito variável, pois é dependente, principalmente, da raça, idade e peso dos animais, da oferta de forragem e de suplemento e da composição química dos alimentos fornecidos.
Deste modo, é importante verificar que na fase de recria quando o intuito é antecipar ao máximo a idade ao primeiro parto, o fornecimento de suplementos deve ser adequado a oferta e qualidade da forragem.
Considerações finais
A suplementação em pastagens deve ser utilizada como forma de suprir as deficiências qualitativas e quantitativas da forragem disponível, e deve sempre evitar ou minimizar a substituição do consumo da forragem pelo consumo do suplemento.
A suplementação permite que os animais ganhem peso durante todo ciclo de crescimento, possibilitando retornos econômicos ao produtor em menor espaço de tempo.
Referências
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**O trabalho foi originalmente publicado pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.