INTRODUÇÃO
Segundo Petryna (2002), o comportamento ingestivo dos animais envolve o consumo de alimentos ou de substâncias nutritivas e que os padrões desse comportamento estão relacionados à anatomia e fisiologia de cada espécie animal de acordo com suas capacidades de organização comportamental. Albright (1993) relatou que o gado leiteiro pode modificar o comportamento de acordo com o tipo, quantidade e acessibilidade ao alimento. Normalmente os alimentos concentrados são comumente utilizados como as principais fontes de energia e proteína associados à volumosos. Contudo, a produção de forragens em quantidade e qualidade no semi-árido de Pernambuco torna-se difícil devido às baixas precipitações, muitas vezes contrastando com as exigências de vacas leiteiras, que requerem elevada concentração de nutrientes na dieta, inviabilizando a utilização de fontes alternativas, como restos de cultura e forragens de baixa qualidade. Porém, levando-se em conta a necessidade de suplementação no período de escassez de forragens, o elevado custo e a baixa disponibilidade de grãos na região que pode inviabilizar a produção de leite. Neste sentido, o caroço de algodão apresenta-se como um alimento bastante equilibrado em nutrientes e que segundo Clark e Armentano (1993), a efetividade da FDN do linter do caroço de algodão é equivalente à efetividade do feno de alfafa; podendo-se inferir que é excelente fonte de fibra para manter a porcentagem da gordura do leite. Um outro ponto favorável à sua utilização é a relativa disponibilidade e custo na região. Sendo assim o objetivo deste trabalho consiste em avaliar o efeito da inclusão do caroço de algodão em substituição parcial à silagem de sorgo e farelo de soja, em dietas à base de palma forrageira, sobre os parâmetros ingestivos de vacas da raça Holandesa em lactação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na Estação Experimental de São Bento do Una-PE, pertencente à Empresa Pernambucana de Pesquisa em Agropecuária - IPA, no período de agosto a novembro de 2002. Foram utilizadas cinco vacas da raça Holandesa em lactação com peso vivo (PV) médio de 645 kg e período de lactação de 50 dias. Os animais foram distribuídos em quadrado latino 5 X 5, sendo 5 animais, 5 níveis de caroço de algodão (0,00; 6,25; 12,50; 18,75; e 25,00% da matéria seca (MS) da dieta) e 5 períodos experimentais. Cada período teve duração de 17 dias, sendo 10 para adaptação às dietas e à iluminação noturna. O arraçoamento foi feito três vezes ao dia ás 6:00; 14:00; e 18:00 horas, na forma de ração completa, permitindo sobras de 5 a 10% do total fornecido. Durante o período de coleta, amostras dos alimentos fornecidos, bem como das sobras, foram recolhidas diariamente pela manhã, pré-secas em estufa de ventilação forçada e armazenadas para posterior processamento. Foram determinadas os teores de MS, proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) segundo Silva & Queiroz (2002). Para determinação das frações fibra em detergente neutro (FDN) utilizou-se metodologia de Van Soest et al. (1991). Para estimativa dos carboidratos-não-fibrosos (CNF), a equação preconizada por Hall et al. (1999) e para estimativa dos NDT1X foram utilizadas as equações do programa computacional do NRC (2001). As vacas foram ordenhadas três vezes ao dia (5:00; 13:00; e as 20:00 horas), sendo as produções registradas individualmente. Os tratamentos experimentais consistiram de níveis crescentes de caroço de algodão em substituição à silagem de sorgo e farelo de soja. As dietas foram formuladas para atender às exigências de produção de 40 kg de leite/dia com 3,5% de gordura, de animais com peso vivo de 650 kg, segundo o NRC (2001). A palma forrageira utilizada foi a Opuntia fícus-indica Mill, cv. gigante, e a silagem de sorgo forrageiro, variedade SF-25 da Empresa Pernambucana de Pesquisa em Agropecuária- IPA. A observação referente ao comportamento animal foi realizada às 18 horas do quinto dia do período de coleta até as 18 horas do dia seguinte através da observação visual a intervalos de 10 minutos. As variáveis observadas e registradas foram: tempo de alimentação (TA), tempo de ruminação (TR) e tempo de ócio (TO), além de calculadas as eficiências de alimentação e ruminação em função do consumo de FDN. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão utilizando-se o sistema de Análise Estatística e Genética SAEG (UFV, 1998).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 2 são apresentados o tempo de alimentação (TA), ruminação (TR), ócio (TO) e tempo de mastigação total (TMT) em minutos por dia, consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) e eficiência de alimentação (EAL) e ruminação (ERU) em relação ao CFDN, em função dos níveis de caroço de algodão (CA). Os tempos de alimentação e ruminação, em minutos por dia, não foram influenciados (P>0,05) pela inclusão do caroço de algodão (CA) na ração dos animais da raça Holandesa em lactação. Esta ausência de significância poderá ser explicada, pela efetividade da fibra advinda do linter do caroço de algodão que segundo Clark e Armentano (1993), apresenta uma efetividade equivalente à efetividade da fibra do feno de alfafa; mantendo o tempo de ruminação constante e por conseqüente a produção de saliva e tamponamento do rúmen. Observase ainda que o tempo de mastigação total não foi influenciado (P>0,05) pelos níveis de inclusão do CA na ração, fato este esperado uma vez que, esta variável deriva do tempo de alimentação e ruminação. Esta ausência de significância poderá ser explicada pelo teor de fibra em detergente neutro (FDN) das rações experimentais (Tabela 1), que apresentam teores próximos entre se, e acima da quantidade mínima sugerida pelo NRC (2001), para manter as condições normais da câmera fermentativa, e conseqüentemente o crescimento microbiano. Estes valores sugeridos pelo NRC (2001), para rações com teores de carboidratos não-fibrosos entre 40 e 42%, é que esta ração apresente um mínimo de FDN de 28%, e por sua vez, 17,5% da FDN da ração seja oriunda da forragem. Podemos observar que o tratamento 0% de CA (Tabela 1) apresenta valores de FDN e FDN da forragem superiores ao mínimo sugerido pelo referido conselho, o mesmo acontecendo para os demais tratamentos com relação a FDN da ração, e quanto a FDN da forragem vem sendo substituída pela FDN da fonte de fibra não-forragem, a fibra do CA, na mesma proporção, o que parece apresentar a mesma efetividade da fibra da silagem de sorgo, tomando como parâmetro o tempo de alimentação, ruminação e mastigação total. O tempo gasto em ócio, em minutos por dia, também não foi influenciado (P>0,05) pela inclusão do caroço de algodão na ração. Observação esta já esperada, pois o tempo gasto em ócio e mastigação total, são grandezas inversamente proporcionais, à medida que uma aumenta a outra diminui. Assim como as demais variáveis, o consumo de FDN não foi influenciado (P>0,05) pela inclusão do CA na ração, conseqüentemente, as eficiências de alimentação e ruminação em função do CFDN também não foram influenciadas (P>0,05) pela inclusão do CA, uma vez que, estas eficiências derivam do CFDN e tempo de ruminação, e ambas não foram afetadas pela substituição da fonte de fibra da silagem pela fibra do CA. Portanto, o CA poderá ser utilizado como fonte de fibra efetiva em dietas para vacas da raça Holandesa em lactação, com inclusão de até 25% da MS da ração, substituindo 55% da silagem de sorgo e concomitantemente 45% do farelo de soja.
CONCLUSÕES
A inclusão do caroço de algodão nas dietas de vacas da raça Holandesas em lactação não influencia os parâmetros ingestivos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 ALBRIGHT, J. L. Nutrition, feeding and calves: feeding behaviour of dairy cattle. Journal of Dairy Science, West Lafayette, v.76, n.2, p.485-498, 1993.
2 CLARK, P. W.; ARMENTANO, L. E. Effectiveness of neutral detergent fiber in whole cottonseed and dried distillers grains compared with alfalfa haylage. Journal of Animal Science. Champaign, v.76, n.10, p.2644-2650, 1993.
3 HALL, M. B. et al. A method for partitioning neutral detergent soluble carbohydrates. J. Sci. Food Agriculture, London, v. 79, n. 9 p.2079-2086, 1999.
4 NATIONAL RESEARCH COUNCIL- NRC. Nutrient requirements of the dairy cattle. 7. ed. Washington: D.C. 363p. 2001.
5 PETRYNA, A. Curso de Introducción a la Producción Animal y Producción Animal 1. República da Argentina, Província de Córdoba. Faculdad de Agronomia e Veterinária, Universidade Nacional Del Rio Cuarto, 2002, cap. 11. Disponível em: <http://www.produccionbovina.com/informaciontecnica/etologia/07-etologia.htm> Acesso em: 23 de mar. 2004..
6 SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análise de alimentos: Métodos químicos e biológicos. 3 (ed), Viçosa: UFV, p.253, 2002.
7 UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA- UFV. SAEG- Sistema de análise estatística e genética, versão 8.0. Viçosa (manual do usuário). 150p. 1998.
8 VAN SOEST, P. J. et al. Methods for extraction fiber, neutral detergent fiber and nonstarch polysaccharides en relacition to animal nutrition. J. Dairy Sci., Champaign, V. 74, n. 10, p. 3383-3597, 1991.
Tabela 1. Teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro da dieta (FDNcp), do caroço de algodão (FDNca) e da silagem (FDNs), carboidratos não-fibrosos (CNF) e nutrientes digestíveis totais (NDT*) das dietas experimentais, em função dos níveis de caroço de algodão (CA)
Tabela 2. Médias e coeficientes de variação (CV) ao tempo de ócio, ruminação e alimentação e eficiência de alimetação e ruminação em função do consumo de fibra em detergente neutro (CFDN) e o tempo de mastigação total (TMT), significância para o modelo linear, em função dos níveis de caroço de algodão (CA)