O rebanho bovino do Brasil é estimado em cerca de 202 milhões de cabeças de gado ocupando pouco mais de 172 milhões de hectares. Diante desses números, a pecuária tem sido apontada como uma das atividades que mais prejudicam o meio ambiente. Os impactos negativos causados pela bovinocultura estão relacionados com o principal meio de produção adotado no Brasil, o sistema extensivo (ZEN et al., 2008).
Visando elevar a produtividade de suas atividades e de reduzir custos com mão-de-obra contratada, o produtor rural aumenta o emprego de máquinas agrícolas, de irrigação e de insumos sintéticos para o aumento da produção: fertilizantes, defensivos, corretivos de acidez do solo, engenharia genética, vacinações além da energia elétrica. Observa-se, entretanto, que cada um desses fatores de produção na pecuária provoca impactos sobre o ambiente, tais como desmatamento e queimadas em pastagens e florestas, poluição por dejetos animais e agrotóxicos, erosão, degradação e compactação do solo e contaminação das águas. E as conseqüências desses impactos são as reduções da população animal, extinções de espécies, diminuição da diversidade biológica e perda de variedades, entre outros.
No Brasil, a prática de queimada na agropecuária é responsável pela emissão de grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2), por meio da queima de árvores ou de revolvimento do solo com oxidação da matéria orgânica, em especial quando se utiliza calcário que pode acelerar a decomposição da matéria orgânica, além de ser ele próprio fonte direta de CO2 – carbono fóssil, cujos depósitos são maiores que os do petróleo ou do carvão mineral. A eliminação de queimadas e a introdução de práticas agrícolas que revolvam menos o solo são soluções altamente benéficas ao ambiente, à produção agrícola e ao bem-estar da população. Além disso, práticas de cobertura do solo e uso de componentes arbóreos (na forma de quebra-ventos, de bosques de sombra e de umidificadores ambientais) favorecem a conservação da água no solo e promovem a atenuação térmica do solo e do ar, em benefício da produção agrícola e animal.
As causas dos impactos da agropecuária sobre o ambiente têm origem na demanda de mercado, e suas consequências implicam em custos ambientais e ecológicos de difícil mensuração. Por isso a pecuária sempre gerou grande preocupação entre os ambientalistas, pois as emissões globais de metano, geradas a partir dos processos entéricos, são estimadas em 80 milhões de toneladas por ano (USEPA, 2000), correspondendo a cerca de 22% das emissões totais de metano geradas por fontes antrópicas (Figura 1), o que representa 3,3% do total dos gases de efeito estufa.
O uso indiscriminado de insumos (herbicidas, inseticidas, adubos químicos), provocando a contaminação do solo, lagos e rios pelos resíduos animais, a infiltração de águas residuais no lençol freático e o desenvolvimento de moscas e gases mal cheirosos são alguns problemas de poluição ambiental causados pelos dejetos animais. Dentre eles, podemos destacar as emissões do gás metano. Segundo IPCC (1995), as emissões globais de metano proveniente dos dejetos de bovinos são estimadas em cerca de 25 milhões de toneladas por ano correspondendo a 7% das emissões totais de metano. Os prejuízos ambientais são ainda maiores quando esses resíduos orgânicos são arrastados para os cursos d'água, pois possuem alta DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), reduzindo o teor de oxigênio da água.
Dessa forma, o Brasil, por participar do compromisso com a redução dos gases de efeito estufa, junto ao Protocolo de Kyoto, deve tomar decisões urgentes no sentido de conter ações de impactos que venham comprometer o funcionamento do planeta, bem como as gerações atuais e do futuro.
**O artigo foi originalmente publicado pelo Centro de Inteligência do Leite (CILEite), coordenado pela Embrapa Gado de Leite.