Introdução
A presente pesquisa teve como objetivo geral realizar um levantamento da qualidade do sêmen utilizado na inseminação artificial em propriedades leiteiras da região de Cruz Alta – RS/Brasil, e detectar causas de infertilidade no rebanho inerentes ao macho. Para tal foram avaliadas amostras de sêmen quanto à motilidade e vigor, concentração espermática, morfologia dos espermatozóides e TTR.
Com esse propósito a pesquisa teve como justificativa verificar se a qualidade e quantidade seminal afeta o índice de fertilidade na reprodução de um rebanho leiteiro e interferindo diretamente na produção de leite. Quanto maior o índice de retorno ao cio das vacas maior será o intervalo entre partos e conseqüentemente menor será a produção de terneiras e leite. A taxa de não retorno ao cio é uma medida indireta de fertilidade, definida especificamente por Rycroft em 1992 "como a porcentagem de vacas que não são novamente cobertas em um período de tempo específico após a inseminação, geralmente de 60 a 90 dias".
As causas que podem afetar a fertilidade e viabilidade dos espermatozóides, são variadas começando pelo manejo inadequado do botijão de sêmen, erros no processamento de congelação, touros cujo sêmen não congelam bem e até descongelação mal executada. Há trabalhos mostrando que pode haver lesão aos espermatozóides (avaliada através da motilidade espermática) já a temperaturas tão baixas quanto -790C (Etgen et al., 1957; Bean et al., 1963; DeJarnette, 1999). Mais ainda, essa lesão não pode ser revertida pelo retorno do sêmen ao nitrogênio líquido (Berndtson et al., 1976; Saacke et al., 1978). A inseminação artificial em tempo inadequado e também fertilidade variável entre touros doadores de sêmen, podem afetar as taxas de prenhês. Sullivan e Elliot (1968) relataram que o número mínimo de espermatozóides móveis necessários para a fertilidade máxima variava entre os touros, enquanto den Daas et al. (1998) relataram que os touros diferiam em sua taxa máxima de não retorno ao cio, e também na taxa na qual menos aproximavam deste máximo quando o número de espermatozóides por dose era aumentado.
Avaliação da qualidade do sêmen utilizado na propriedade é o ponto de partida para o diagnóstico das causas de retorno ao estro das vacas leiteiras. Como temática de pesquisa, através deste projeto utilizou-se a avaliação laboratorial da fertilidade do sêmen e com isto concluir-se sobre a viabilidade do seu uso na inseminação artificial.
Material e Métodos
Foram avaliados 13 (treze) amostras de sêmen congelado de diferentes touros de raças leiteiras (holandesa e jersey). Os testes de avaliação de qualidade compreenderam os de motilidade, vigor, concentração, morfologia e teste de termo-resistência rápida (TTR); segundo a metodologia descrita por Fonseca et al. (1992). Para o teste de motilidade e vigor, as amostras foram descongelados em banho-maria com temperatura controlada de 37°C por trinta segundos e colocados sobre lâmina pré-aquecida também a 37°C. Imediatamente foram avaliados em microscópio óptico com 200x aumento. Para exame de concentração foi usada contagem através da utilização da câmara de Neubauer e analisados em 200x aumento. Já para o TTR, as amostras foram descongeladas e submetidas ao teste de termo-resistência rápido (46°/30 minutos). Para o teste de morfologia foram contados 100 células espermáticas utilizando microscópio de contraste de fase e classificando-os em normais, com defeitos maiores ou menores.
Resultados e Discussão
A qualidade final do sêmen usado a campo é influenciada por vários fatores, entre os quais podemos destacar os relacionados ao manejo do botijão, métodos de descongelação e das características do material coletado e congelado pelas centrais de sêmen. Com relação à qualidade do sêmen, Pace et al. (1981) relataram que a fertilidade aumenta com aumento no número de espermatozóides estruturalmente intactos e móveis.
Os resultados obtidos na avaliação estão na Tabela1 a seguir:
Tabela 1 – Espermiograma de amostras de sêmen congelado utilizado na bacia leiteira de Cruz Alta – RS
A motilidade espermática é definida como o percentual de movimento retilíneo e progressivo e não deve ser inferior a 30% no exame direto, e de termo-resistência o mínimo de 15% (FONSECA et al, 1992). Porém, no exame direto, um touro (7,69%) foi reprovado no teste, apresentando 20% de motilidade, sendo que no teste de termo-resistência foram reprovados sete touros (53,84%).
Segundo FONSECA, et al. (1992) no sêmen descongelado a 37º C por 30 segundos o vigor mínimo aceitável é de 3, ou seja quando a maioria dos espermatozóides apresenta movimentos progressivos. Sendo que, o vigor, é classificado de 0 a 5 segundo a intensidade de movimentação retilínea dos espermatozóides. No estudo, dois touros (15.38%) apresentaram valores abaixo das referencias, ao exame direto. No entanto, na análise do (TTR) esse número subiu para oito touros representando (65,53%) das amostras.
A avaliação do sêmen através do exame morfológico dos espermatozóides é uma ferramenta importante que norteia a "condição fisiológica do sêmen". Ainda hoje, é utilizada como parâmetro a classificação de Blom (1972) em defeitos primários ou maiores e secundários ou menores. As primeiras se verificam durante o processo espermatogênico e as segundas afetam os espermatozóides, subseqüente a sua formação. Segundo Fonseca et al. (1992) o máximo de defeitos maiores e menores não podem ultrapassar o total de 20 % cada um. Admitindo-se um total geral máximo de 30% somados os defeitos menores e maiores. Portanto, nesta pesquisa (Tabela 1) todas as amostras passaram no teste.
Quanto à concentração de espermatozóides, o Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA) estabelece um mínimo de 10 milhões de espermatozóides viáveis por dose de sêmen congelado para sêmen nacional e de 6 milhões para sêmen importado. Já o estudo realizado mostra uma dispersão entre os valores máximos e mínimos de espermatozóides encontrados por mm3 de sêmen, como mostra a Tabela1.
Estudos realizados indicam que para a avaliação da fertilidade do sêmen, não sejam usados os resultados das análises individualmente, e sim a associação entre os mesmos. Desta forma, o número de amostras que não alcançou a taxa mínima de avaliação foi de oito amostras, representando (61,53%) do total, sendo os resultados do TTR o mais significativo.
Conclusão
No presente trabalho abordou-se algumas causas relacionadas à qualidade do sêmen o qual revelou alguns resultados preocupantes, sugerindo novos trabalhos com número maior de amostras. O estudo revelou a possibilidade de que existam fatores inerentes ao sêmen como causa de baixa fertilidade nos rebanhos leiteiros.
Referências
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