Historicamente, nesta época do ano, os preços do leite tendem a aumentar, tornando-se interessante o uso de sucedâneos lácteos (substitutos do leite, leite em pó) como alternativa para baratear os custos de criação da bezerra.
Antes de pensarmos em utilizar um bom sucedâneo/substituto lácteo temos que garantir que o bezerro/terneiro esteja com níveis imunológicos adequados. Somente a ingestão de quantidade suficiente de um bom colostro, nas primeiras horas de vida, garantirá a sobrevivência do animal em função da maior resistência que será adquirida a patógenos (principalmente os causadores de diarréia e pneumonia).
Um inadequado nível de imunidade colostral pode causar diversos problemas para animal recém nascido, tais como:
. aumento da probabilidade de morte (2 a 4 vezes)
. diminuição da eficiência da conversão alimentar
. aumento das despesas (medicamentos e mão de obra) com os animais doentes
A correta utilização do colostro é um tema bastante extenso e importante, que vamos descrever em edições futuras.
A utilização de sucedâneos lácteos na alimentação de bezerros iniciou-se na década de 50, com objetivo de substituir o fornecimento do leite in natura. Desta forma, possibilitava-se destinar maior quantidade ao consumo humano e também aproveitava-se os subprodutos das indústrias de laticínios.
Sua utilização deve ser considerada somente quando o seu preço for igual ou inferior ao leite in natura, ou seja, principalmente nas épocas de formação de cota. Entretanto, de uma forma geral o sucedâneo lácteo é mais caro que o leite colostral excedente, que o leite mastítico e também que o leite com resíduo de antibiótico (existem contradições em relação a utilização ou não dos mesmos).
O uso de sucedâneos lácteos apresenta vantagens como: o produto não apresenta (pelo menos não deveria ) flutuação em sua composição nutricional, apresenta facilidade e baixo custo de estocagem e principalmente não representa problema na disseminação de doenças (leucose e paratuberculose entre outras).
A escolha de um sucedâneo lácteo não deve ser baseada somente no seu preço. Deve-se avaliar vários aspectos como: composição (ingredientes), níveis nutricionais (proteína, gordura, açucares, etc), solubilidade e palatabilidade.
A seguir vamos discorrer sobre alguns ítens nutricionais que devem ser considerados na avaliação da qualidade geral de um bom sucedâneo lácteo:
1. PROTEÍNAS: em geral os suscedâneos apresentam entre 18 e 24% de proteína bruta (PB). Os fatores críticos que afetam a utilização das proteínas pelo bezerro jovem são: digestibilidade, balanço de aminoácidos e possível presença de fatores antinutricionais (Tabela 1).
As principais fontes de proteínas para os sucedâneos lácteos são: proteínas lácteas (leite em pó, leite em pó desnatado, soro de leite em pó, concentrado de proteína do soro de leite, soro delactosado, caseinato de sódio) e proteínas não lácteas (protéina da soja, concentrado da proteína da soja, proteína do farelo de soja, proteína de plasma animal e aminoácidos). Geralmente as proteínas não lácteas apresentam digestibilidade muito variável e inferiores as proteínas lácteas, o que obviamente não é interessante do ponto de vista nutricional. A soja é a fonte de proteína de origem vegetal mais utilizada em substituição a proteína de origem láctea, devido a diversos fatores, tais como: alta disponibilidade, baixo custo e é relativamente bem balanceada em aminoácidos. Apesar da soja apresentar fatôres antinutricionais, podemos inativá-los através de processamentos específicos, porém sua inclusão na elaboração de sucedâneos lácteos deve ser moderada.
Tabela 1:Principais fatores antinutricionais encontrados nos grãos de soja e outros grãos de leguminosas
2. CARBOIDRATOS: o intestino dos bezerros tem limitada capacidade de processar carbohidratos em geral, com exceção da lactose. Conseqüentemente, os principais carbohidratos a serem largamente utilizados para bezerros são lactose, glucose e galactose. A lactose presente no soro de leite e seus derivados é a principal fonte de carbohidratos para os sucedâneos lácteos de boa qualidade, devendo perfazer de 25 a 35% da composição final do produto. O amido até pode ser utilizado como fonte de carbohidratos nos sucedâneos lácteos, porém deve ser utilizado com cautela e em baixas inclusões (2 a 3% na matéria seca).
3. LIPÍDIOS: os sucedâneos lácteos geralmente contém de 10 a 20% de gordura, ou seja, nível abaixo do encontrado no leite cru (média de 28% de gordura). Os lipídios são a principal fonte de energia para os bezerros em crescimento. A gordura do leite é altamente digestível para os bezerros (95 a 97%), entretanto é a fonte mais cara de lipídios quando comparamos com o sebo, banha, etc. A maior digestibilidade da gordura do leite em relação ao sebo é devido a maior presença de ácidos graxos de cadeias curtas e médias, quando na formação dos triglicerídios, enquanto o sebo apresenta maior quantidade de ácidos graxos de cadeias longas. Isto se reflete na maior capacidade de emulsificação (facilidade de dissolver) da gordura do leite.
O método de incorporação da gordura no sucedâneos é o principal fator que afeta a digestibilidade dos lipídios. Adequada dispersão da gordura é essencial para sua solubilização em água e conseqüentemente na sua digestão. A homogenização da gordura ou a utilização de emulsificantes (monoglicerídios, diglicerídios e lecitina) aumenta a digestibilidade das gorduras adicionadas nos sucedâneos láctos.
Os óleos vegetais apresentam baixa digestibilidade para os bezerros e sua utilização pode causar diarréias, deficiência de ácidos graxos essenciais e baixa performance de ganho de pêso.
4. MINERAIS E VITAMINAS: geralmente presentes nos sucedâneos em quantidades similares ou maiores do que as encontradas no leite in natura, com exceção do cálcio e magnésio, que devem apresentar-se em maior concentração, por ligarem-se com as gorduras com conseqüente formação de sabões. A presença de vitamina E em maior quantidade nos sucedâneos lácteos é utilizada para prevenir problemas de oxidações e rancidez.
5. MEDICAMENTOS: a presença dos antibióticos é facultativa e pode ser interessante nos casos onde as propriedades apresentam condições sanitárias pouco favoráveis para os bezerros. Existe uma grande variação nos tipos de antibióticos utilizados.
6. ACIDIFICANTES: o interesse na acidificação dos sucedâneos tem aumentado por causa de resultados obtidos no sentido de proporcionar aumento no consumo e na digestibilidade dos alimentos, além de melhorar a sanidade geral dos bezerros devido a diminuição da incidência de diarréias. O leite reconstituído acidificado deve apresentar-se com pH variando de 5,4 a 5,6. Os ácidos orgânicos mais utilizados para este propósito são: cítrico, fórmico e o propiônico.
Escolha de bom sucedâneo de leite
Existe uma variedade muito grande de sucedâneos lácteos disponíveis no mercado. Estes produtos apresentam variação muito grande em relação aos níveis de proteína, gordura e lactose, bem como nos tipos e nas proporções de ingredientes utilizados (origem lácteas e vegetais). Estas diferenças determinam a qualidade e preço dos sucedâneos.
Na escolha de um sucedâneo lácteo deve-se levar em conta o tipo de bezerro que dispomos e o crescimento e desempenho que esperamos deste animal. Muitos problemas relativos a baixa taxa de crescimento dos bezerros deve-se a qualidade inferior do sucedâneo lácteo utilizado (é importante observar o custo/benefício !!!!). A barganha por preços na aquisição dos sucedâneos lácteos tem que ser vista com cautela. Preços muito baixos geralmente indicam a presença de ingredientes de baixa qualidade ou produtos pouco beneficiados.
A qualidade poderá ser analisada de forma grosseira através da inspeção do produto ainda sêco, assim como da aparência após diluição em água. Na forma sêca ele deve apresentar coloração cremosa à levemente amarelado e não apresentar aglomerados e outras partículas. Após a diluição com água o produto deve ser rápidamente dissolvido, não apresentando aglomerados que ficam suspensos ou mesmo partículas que sedimentam. Quanto maior a proporção de material sedimentado, maior a presença de ingredientes não lácteos.
Mistura com Água
A mistura dos sucedâneos com a água deve seguir as recomendações do fabricante ou do nutricionista de seus animais. Lembre-se de que o leite in natura apresenta aproximadamente 12% de matéria seca. Portanto, o sucedâneo lácteo, após ser diluído em água, deve apresentar basicamente o mesmo valor. Para tanto, a proporção mais indicada é de 1,0 kg (mínimo) a 1,2 kg (ideal) do pó para cada 9 litros de água, perfazendo 10 litros de sucedâneo lácteo.
Recomenda-se utilizar água na temperatura de 38 a 50 C, dependendo das recomendações contidas no rótulo. Misturar até que o produto tenha se dissolvido na sua totalidade, evitando a formações de aglomerados. Devemos evitar temperaturas da água muito altas (acima de 60 C) que podem comprometer a digestibilidade do produto. A qualidade da água utilizada é também de fundamental importância.
Esquema de alimentação e desmame
Os bezerros devem receber colostro e leite colostral nos primeiros 3 dias de vida. A partir daí, podemos iniciar a alimentação com sucedâneos lácteos. Recomenda-se fornecer quantidade de sucedâneo lácteo equivalnte a 10% do peso vivo do bezerro. Ex: nasceu com 40 kg de peso vivo, fornecer 4 litros de sucedâneo por dia, divididos em no mínimo 2 tratos.
Em função do manejo alimentar e do crescimento esperado dos bezerros, podemos aumentar (a partir de 15 dias de idade) o fornecimento de sucedâneos até 5 a 6 litros/animal/dia. Nestes casos, a qualidade do sucedâneo é fundamental para não haver problemas com diarréias.
O desmame pode ser iniciado assim que o bezerro estiver consumindo mais que 750g/dia de ração concentrada.
Vantagens do sucedâneo de qualidade
Abordaremos alguns parâmetros importantes a serem avaliados na escolha do sucedâneo lácteo a ser utilizado, sendo que a escolha não deve ser baseada somente no preço do produto.
A utilização de sucedâneos lácteos apresenta como principais vantagens: composição nutricional constante e balanceada, melhora a cota ou bônus por quantidade de leite entregue, separa o trabalho de ordenha e de alimentação de bezerras, estimula o consumo de concentrado (favorecendo o desmame precoce) e, por ser pasteurizado, previne problemas relativos a disseminação de doenças transmissíveis pelo leite (tuberculose, leucose, entre outras).
A composição de um bom substituto do leite deve possuir como fontes protéicas preferencialmente as de origem láctea (leite em pó, soro de leite em pó, etc.), evitando-se a inclusão elevada de subprodutos vegetais como por exemplos os derivados da soja, os quais apresentam digestibilidade menor e variável, bem como fatores antinutricionais, indesejáveis na fase inicial de vida da bezerra.
A lactose é a principal fonte de carboidratos de um sucedâneo de boa qualidade, devendo perfazer de 25 a 36% da composição final do produto. O teor de lactose nem sempre consta do rótulo dos produtos, mas se constitui num indicador indireto do teor de ingredientes lácteos.
Os níveis de gordura dos sucedâneos encontrados no mercado variam de 10 a 20 %. No entanto o teor de gordura pura e simplesmente não tem grande significado, visto que as diversas fontes de gordura possuem digestibilidades diferentes. De uma forma geral, devemos preferir fontes de gordura com perfil de ácidos graxos de cadeias curtas e médias, as quais apresentam maior capacidade de emulsificação da gordura do leite, aumentando a digestibilidade. As fontes de lipídeos de maior digestibilidade são o óleo de palma e o óleo de coco, devendo ser evitado os óleos vegetais altamente insaturados (óleo de soja, óleo de milho e óleo de girassol).
Outro ponto fundamental a ser avaliado é o teor de fibra bruta do sucedâneo lácteo. Quanto mais fibra, maior a quantidade de ingredientes vegetais e consequentemente pior a qualidade do sucedâneo lácteo. O ideal é que o teor de fibra não ultrapasse 0,5%, sendo que produtos com mais de 1,5% devem ser evitados.
Devemos também ter preferência por produtos pré-acidificados, os quais facilitam a digestão no abomaso e auxiliam no controle de doenças das bezerras. A utilização de promotores de crescimento é uma opção interessante, indicada principalmente em situações com maior desafio sanitário.
A qualidade do sucedâneo também pode ser avaliada grosseiramente através da coloração e textura do produto ainda na forma seca, devendo este ter cor clara (creme ou ligeiramente amarelada), bem como não apresentar aglomerados ou outras partículas grosseiras.
Entretanto, o teste mais rápido e objetivo para avaliar a qualidade de um sucedâneo lácteo é a chamada prova da diluição com a água. Um bom produto deve ser rapidamente dissolvido, sem apresentar pelotes que ficam suspensos ou mesmo partículas que sedimentam. Portanto, quanto mais rapidamente se consegue dissolver o produto na água morna (38 - 39 o C), melhor é a sua qualidade. Em seguida a diluição total do produto na água, devemos observar se há ou não sedimentação do produto no fundo do recipiente e em caso positivo, qual a proporção que sedimenta. Quanto maior a proporção de material sedimentado, maior a presença de ingredientes não lácteos e consequentemente pior a qualidade do produto.
Em nosso país temos diversas opções de sucedâneos lácteos. Infelizmente a grande maioria utiliza proporções exageradas de ingredientes vegetais, resultando em produtos pouco indicados para uso. O produtor deve estar consciente que os produtos cujos preços são muito inferiores aos de outros sucedâneos de boa reputação, são na realidade misturas que contém pouco ou quase nenhum ingrediente lácteo, sendo constituído basicamente de produtos de origem vegetal (farelos protéicos e cereais finamente moídos).
No intuito de atender as exigências e necessidades do produtor de leite, bem como atingir todos os nichos de mercado, a Nutron disponibiliza atualmente três sucedâneos lácteos no mercado, com qualidades diferenciadas, elaborados segundo modernos conceitos de nutrição: Lactal, Milk Sweet e Bovilac.