Introdução:
Utilizar subprodutos agroindústrias na alimentação de ruminantes surge como alternativa viável, tanto econômica como nutricional, por auxiliar na redução dos custos de produção. Estima-se que aproximadamente 3,0 milhões de toneladas de resíduo úmido de cervejaria (RUC) foram produzidos no Brasil em 2005 (GERON, 2006). De acordo com Silveira et al. (2002), a indústria tem, como problema, a dificuldade de escoamento de resíduos, que são responsáveis, em parte, pela contaminação ambiental. O RUC tem alta qualidade nutricional e por isso utilizá-lo na alimentação de vacas leiteiras pode ser uma forma racional de destiná-lo, além de possibilitar reduzir custos na produção do leite, mas são necessários mais estudos sobre o potencial do RUC como substituto do farelo de soja (FS). O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da utilização do resíduo úmido de cervejaria sobre o consumo de matéria seca (CMS), produção de leite e eficiência alimentar.
Material e Métodos:
O experimento foi realizado na Estação Experimental Dr. Antônio Carlos dos Santos Pessoa, pertencente à Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Foram utilizadas quatro vacas multíparas da raça Holandesa aos 200 ± 15 dias de lactação e o delineamento experimental utilizado foi o quadrado latino (4 x 4), com rações contendo 0; 25; 50 e 75% de RUC em substituição ao FS. Cada período teve duração de 17 dias, sendo dez para adaptação dos animais às dietas e sete para a coleta de dados e amostras. A dieta (feno de Tifton 85, milho, FS, mistura mineral, uréia e RUC) foi formulada para ser isonitrogenada com 14% de PB de forma a atender as exigências dos animais. Esta foi fornecida duas vezes ao dia e as sobras foram pesadas diariamente para manter 5 a 10% do total oferecido. As ordenhas e respectivos registros individuais foram realizados duas vezes ao dia, do 11º ao 17º dia de cada período experimental com correção da gordura para 3,5% e cálculo da eficiência alimentar de cada vaca. Os resultados obtidos foram avaliados mediante análises de variância e de regressão (SAEG, 2000), a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão:
Houve redução no CMS com o incremento de RUC na dieta, traduzindo-se numa relação linear negativa, a qual proporcionou redução no consumo na ordem de 8,2 g de matéria seca a cada 1% de substituição do FS pelo resíduo (Figura 1). O CMS máximo foi de 15,00 kg, obtido no tratamento sem inclusão de RUC, e o mínimo foi de 14,38 kg de matéria seca, obtido no tratamento com substituição de 75% do FS pelo RUC.
Alterações significativas no consumo de dietas com inclusão de RUC estão relacionadas ao teor de água, ao teor de nitrogênio insolúvel em detergente neutro e/ou ao conteúdo de nitrogênio solúvel no rúmen associado à redução da disponibilidade de carboidratos.West et al. (1994) sugeriram que a diminuição no CMS de vacas lactantes poderia estar relacionada ao menor teor de matéria seca da ração com RUC em relação à ração sem este alimento, fato que pode também ter alterado o CMS no presente experimento, o qual possuiu dietas com 0,00; 9,35; 17,5 e 25,0% de RUC, respectivamente, nos tratamentos sem inclusão do suplemento e com inclusão de 25; 50 e 75%.
Como pode ser observado na Tabela 1, a utilização do RUC em substituição ao FS não teve efeito sobre a produção de leite e a eficiência alimentar e são resultados semelhantes aos observados por Johnson et al. (1987) e West et al. (1994) ao fornecerem RUC a vacas lactantes. A ausência de efeitos da substituição do FS pelo RUC sobre a eficiência alimentar reflete a viabilidade de substituição do grão de soja, que possui alto custo de aquisição, pelo resíduo da agroindústria. Para se inferir sobre esses resultados, torna-se necessária a análise econômica, ponderando-se os custos com aquisição do resíduo de cervejaria acrescido de uréia.
Conclusões:.
A substituição de até 75% do FS pelo RUC levou a redução no CMS. A utilização do RUC em substituição ao FS não teve efeito sobre a produção de leite e a eficiência alimentar. Níveis de substituição acima de 75% precisam ser testados para sabermos qual nível máximo pode ser utilizado sem prejuízo à produção de leite.
Referências Bibliográficas.
GERON, L.J.V. Caracterização química, digestibilidade, fermentação ruminal e produção de leite em vacas alimentadas com resíduo de cervejaria nas rações. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2006, 98p. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual de Maringá, 2006.
JOHNSON, R.R.. Influence of carbohydrate solubility on non protein nitrogen utilization in the ruminant. Journal Animal Science, v. 43, n.1, p.184-191, 1976.
SILVEIRA, O. F. M. da. et. al. Dinâmica Morfológica na Foz do rio Amazonas através de Análises Multitemporais de Imagens de Satélite. In: Workshop ECOLAB, 6., 2002, Belém. Resumos… Belém: IRD/UFPA/MPEG/IEPA, 2002. p. 1-10.
WEST, J.W.; ELY, L.O.; MARTIN, S.A. Wet brewers grain for lactating dairy cows during hot, umid weather. Journal of Dairy Science, v.77, p.196-204, 1994.